Yeongnam, Busan
1965
— Você fez o que? - olhei incrédula para o acastanhado a minha frente.
— Foi o que você ouviu, S/N! Eu briguei com o Jungkook! - Taehyung respondeu como se não fosse nada. Já bastava saber que o meu irmão era líder de uma gangue, mas brigar com outra? Eu não admito.
— Por que você fez isso, seu idiota? E se você fosse preso, uh? Todos já olham torto para você na escola, você sabe que muitos não gostam dessa ideia de motos. E você ainda arruma uma briga? Com uma gangue rival? - falei, furiosa, dando um tapa no braço do mesmo.
— Não enche, ok? Não é como se eu tivesse morrido. Além do mais, o Jungkook mereceu. Ele estava falando de você e isso não me agrada, S/N! Sou o seu irmão mais velho. Eu que cuido de você. Eu e a vovó - tirou a compressa de gelo da testa enquanto terminava de falar, olhando para mim.
Porém, algo me intrigava. O que Jeon Jungkook o líder dos "Gorillaz" estava falando de mim?
Eu sei que não sou como as outras garotas. Elas querem ficar aqui, nessa cidadezinha, com uma casa cheia de crianças e um marido medíocre que provavelmente irá trair. Sem expectativa de vida nenhuma.
Além de que, eu não costumo usar esses vestidos. Gosto muito de customizar, pelo menos uma coisa eu gosto: aulas de costura. Eu lembro que minha avó sempre insistiu para que eu aprendesse a costurar, achava meio sem graça mas depois que descobri o meu dom, passei a "consertar" e deixar as velhas ou quase nunca usadas, roupas, do meu irmão, em peças maravilhosas!
Transformei várias calças dele em uma calça menor. Eu não sei que nome poderia dar a isso, porém essa peça é bem mais curta que uma calça normal e bem acima dos joelhos. Muitas senhoras olham estranho para mim quando passo por elas, porém eu não ligo. Eu me sinto muito mais confortável assim.
— O que ele estava falando de mim, Taehyung? - perguntei por fim, vendo Taehyung fechar a cara.
— Nada! Ele é um idiota, não merece ser citado. E chega desse assunto, S/N!
— Não, Taehyung. Ele falou de mim e eu tenho o direito de saber!
Vi Taehyung respirar fundo, parecia pensativo, frustrado, triste e por fim irritado. Completamente puto.
— Ele não falou diretamente para mim. Falou para os amigos dele.
— Taehyung, desembucha logo! - falei, claramente irritada.
— Tá legal, ele falou sobre as suas pernas! Sobre seu corpo! Disse que ele era lindo - praticamente gritou.
— E qual é o problema? - afinal, não tinha problema. Era um elogio não?
— O problema é que eu conheço o Jungkook, S/N. E ele não presta! Ele não pode falar da minha irmã assim - deu uma pausa, mas logo olhou para mim - Na verdade isso é culpa sua! - soltou a bomba, de uma vez.
— Minha culpa? Como minha culpa? - perguntei, incrédula.
— Você com essas... E-essas roupas! Mostram suas pernas e... Isso não está certo, S/N!
Fiquei sem chão. Como o meu próprio irmão tinha coragem de falar aquilo para mim? Por que a culpa era minha? Por que a culpa sempre é das mulheres?
É o meu corpo. As minhas pernas. É meu!
— Se o Jungkook pensa desse jeito, Taehyung, é problema é dele, ok? Eu não fiz nada! Eu visto o que eu quiser. Afinal, se eu usasse um daqueles vestidos iria mostrar o meu corpo de qualquer jeito. Não é como se eu estivesse nua! - gritei, irritada.
Na verdade eu não sabia de onde vinha aquela raiva quando alguém me diminuia. Isso não se faz, com ninguém.
— Irmã, eu... Por favor, me perdoe - se aproximou, me puxando para um abraço. Retribuí.
— Está tudo bem, Tae. Mas por favor, não fale isso de novo.
— Tudo bem. Quer ir à lanchonete mais tarde? - deu um sorriso quadrado. Típico do meu irmão.
— Claro! Mas antes eu irei passar na casa Joohyun, tudo bem? - perguntei ao acastanhado, vendo-o concordar e subir para o quarto.
Na verdade eu não iria ver a minha melhor amiga. Eu iria ver, ou melhor, confrontar outra pessoa.
{...}
Chegando próxima da praça da cidade, ele estava lá. Encostado na moto, com a típica jaqueta de couro com o "logo" da gangue, de braços cruzados, olhava para o nada.
Me aproximei devagar, por incrível que pareça, ele estava sozinho. Não estava com nenhum de seus amigos ou companheiros de gangue.
Assim que me viu aproximando, franziu o cenho, mas deu um sorriso ladino.
— Ora, ora, ora, Kim S/N? Está fazendo o que a essa hora na rua? - perguntou, em um tom cínico.
— São 18:00 da tarde, Jeon. Não temos toque de recolher, eu posso ficar aqui para sempre, se eu quiser - respondi um pouco séria.
— Ah, é? E se acontecer alguma coisa? - ergueu uma sobrancelha.
— Eu sei me virar, obrigada.
— Você é diferente, S/N. Diferente de qualquer garota que eu já conheci. Chama muito a minha atenção - sussurrou a última parte para que eu não ouvisse, porém é claro que ouvi. Mas decidi ignorar.
— Eu já sei disso - cruzei os braços - mas não é sobre isso que vim falar com você.
— E o que é? Sobre seu irmão? - soltou uma risada debochada.
— Sim. Você acha que foi certo o que você fez? Sabia que eu posso chamar a polícia?
— Qual é, S/N! Não foi nada demais. Não é como se eu tivesse matado seu irmão, uh? - ah, homens. Tão previsíveis.
— Não matou, mas o machucou. Continua sendo errado. Mas o que mais me deixa irritada é saber que foi por minha causa. Por que você falou o que não devia sobre mim. Irá negar?
— Eu não falei o que não devia. Eu fiz apenas um comentário. E não foi nada demais, mas acredito que você já saiba...
— É. Eu sei.
— Então?
— Olha Jungkook, eu entendo esse lance de gangue de vocês. Mas eu não quero o meu irmão ferido por minha causa, então se você tiver algo para falar de mim, você fala para mim, entendeu? - falei rápido, me aproximando dele, erguendo o dedo para o pequeno corte abaixo da sobrancelha - Por que se você não quiser ter esse corte de novo, não deixe o Taehyung ouvir.
Assim que me afastei, vi Jungkook sorrir bobo rapidamente, logo voltando a uma face séria mas com o mesmo sorrisinho de canto que estava quando cheguei aqui.
Ele apenas concordou com a cabeça e eu saí. Porém, quando já estava a uma certa distância, o ouvi gritar.
— S/N!
Virei e vi que ele sorria. O que ele estava tramando? Porém antes que eu pudesse pensar em algo ele gritou novamente.
— Eu vou casar com você!
Louco.
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