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História Questão de Conveniência - Capítulo 02.


Escrita por: akichii

Notas do Autor


Olá, leitores!

Antes de qualquer coisa, queria agradecer a todos que leram, favoritaram ou comentaram a história. Sério, muito obrigada de coração a todos vocês que deram uma chance à minha fanfic.
Esse cap deveria ter saído no sábado, dia 7. Porém, acabei tendo um bloqueio narrativo e não conseguia finalizar de modo algum! Mas aqui estou eu, uma semana depois do que esperava.


Estou muito ansiosa para saber o que vão achar desse capítulo. Sinceramente, ele meio que saiu de controle - tanto em acontecimentos quanto na quantidade de palavras, haha ~ Mas espero que, ainda sim, não esteja cansativo demais!

Bom... Volto para conversar com vocês nas notas finais, sim?

Boa leitura!

Capítulo 2 - Capítulo 02.


Fanfic / Fanfiction Questão de Conveniência - Capítulo 02.

Soltava a fumaça do cigarro enquanto ouvia o toque insistente de seu celular; Pompom ronronando alto ao se enroscar em suas pernas, pedindo por carinho.

 

Estava sozinho no pequeno apartamento que dividia com Kenma enquanto este foi pego com algumas horas extras no último instante que o fariam ir pra casa mais tarde que de costume. O que era bom porque, do contrário, Kozume já teria ralhado consigo por não tirar o volume do celular ou por manter a gata tão próxima de um cigarro. De todo modo, Keiji queria um tempo sozinho com o próprio pensamento. Voltou a tragar, sorrindo ao ver Pompom rolar em frente ao seu pé, expondo a barriguinha fofa.

O celular voltou a apitar, indicando a chegada de uma nova mensagem. Keiji revirou os olhos ao ler pela aba de notificações, soltando a fumaça e apagando o cigarro ainda na metade antes de voltar para dentro; o aparelho ficando largado no pequeno sofá da sacada. Colocou comida para a gata antes de seguir rumo ao banheiro, desejando se desfazer junto à espuma do banho no momento que os músculos pareceram relaxar ao submergir na água quente. 

 

“Quero te ver”

“Me atende” 

“Vamos resolver isso, Keiji”

 

As mensagens pareciam grudar em sua mente, deixando-o atordoado. Não queria pensar naquilo, mesmo sabendo que seria inevitável caso quisesse colocar os pensamentos no lugar certo. Só que… Não queria pensar em Osamu.

Ele e o Miya podiam fingir que não, mas no fundo, sabiam que aquilo que tinham era, sim, alguma coisa. Não namoravam, claro. Sequer havia espaço para algo romântico, visto que o Miya não parecia disposto a superar o ex-namorado, enquanto Akaashi só não tinha tempo e disposição para fazer outra coisa além de cuidar da própria vida. Ficar com Osamu era fácil justamente porque ele não cobrava nada além do que estava disposto a dar.

 

Ainda sim, haviam discutido.

 

Tanto Keiji quanto Osamu eram pessoas bastante tranquilas. Claro que isso não significava que eram imunes a qualquer tipo de desavença, uma vez que o ex do Miya, vez ou outra, parecia surgir do inferno para lhe tirar a paz – fazendo Akaashi discutir com o parceiro. Entretanto, dessa vez, havia sido diferente. Havia certa cobrança por atenção e acusações sem sentido. Havia Keiji tentando acertar Osamu com algo momentos antes de dar às costas ao parceiro e ir embora. 

Os gritos da discussão emaranhavam em sua mente, não permitindo-o pensar em outra coisa. Merda. Deveriam ter se resolvido; conversado. Não queria que ficassem em uma situação estranha. Akaashi gostava de Osamu – não do jeito intenso e transparente que o Miya gostava do ex; nem do jeito instável e febril que seu amigo de faculdade gostava do outro Miya. Akaashi apenas gostava a ponto de querer desculpar-se pela exaltação. Eram bons amigos, afinal. 

Sentia-se meio estranho, fazendo tudo no automático. Mal percebeu o momento que vestiu seu pijama ou quando sentou-se na sala para assistir um programa de multas de trânsito enquanto comia bolinhas de queijo frias – simplesmente porque não estava disposto o suficiente para esquentá-las. Sequer teve coragem de ir pegar um papel-toalha ou guardanapo para limpar o óleo dos dedos, mesmo odiando a sensação pegajosa em suas pontas. Com a cabeça concentrada em tentar achar um pedido de desculpas decente, acabou por cochilar, sendo a própria imagem da derrota adormecido frente à TV ligada, só percebendo sua condição ao acordar com a voz de Kenma cumprimentando Pompom – feliz o suficiente para falar alto com a gata. Precisou esfregar os olhos ao senti-los doer quando Kenma, sem aviso prévio, acendeu a luz da sala, entrando em seu campo de visão com a gata nos braços.

—Você e essa mania bizarra de ficar no breu.

—Olha quem fala… – foi a única coisa que conseguiu resmungar antes de fixar o olhar na figura parada bons passos atrás de seu amigo.

O quão irônica era a vida para fazer com que Kozume Kenma, o cara que odiava ter que lidar com qualquer tipo de pessoa, levar Miya Osamu para dentro do apartamento?

Aliás, o que ele estava fazendo ali?!

—O Miya pensou que você estivesse na faculdade. Então o convidei para esperar aqui dentro, já que também pensei que você estivesse na aula.

Era estranho ver Osamu parado em meio à sua sala – tão bonito que poderia ter arrancado-lhe um suspiro caso não estivesse tenso. A figura do Miya, sempre tão elegante, divergia de todo o cômodo abarrotado de livro e papel em quase todas as superfícies. Ficou ali, sentado meio torto no sofá e encarando-o até mesmo após Kenma ir para o próprio quarto com a desculpa de estar com sono. Uma baita mentira, claro. A última coisa que Kozume fazia na vida era dormir.

—Eu nunca te vi tão bagunçado na vida.  – ali estava o sorrisinho discreto e de canto que, em qualquer outro momento, poderia ter tirado Akaashi do próprio juízo. —Tá parecendo até o Tsumu depois de dois dias brigado com o Sakusa.

—Eu nunca recebi uma ofensa tão grande vinda de você. – pôde ouvir o risinho de Osamu enquanto ia até a cozinha, colocando o recipiente que comeu as bolinhas de queijo dentro da pia; aproveitando para lavar as próprias mãos. Encostou-se no balcão enquanto enxugava as mãos no pano de prato, encarando o homem que ainda mantinha-se no meio da sala. —Mas então… O que faz aqui?

—Vim conversar. Mandei mensagens avisando que viria, mas não foram visualizadas. Fiquei preocupado. – Akaashi abaixou a cabeça, encarando os próprios pés. Droga. Pensou tanto naquele assunto e ainda sim, não havia tido tempo o bastante para organizar as próprias ideias. Agora que tinha a chance de se resolver com o homem à sua frente, simplesmente não sabia o que dizer, porque sequer esperava ver Osamu tão cedo. —Ei, Keiji. – assustou-se ao ver a mão do Miya envolvendo-lhe o pulso quase em uma carícia, não conseguindo evitar de fitar-lhe os olhos. 

 

Olhos cinzas e escuros; frios e intensos durante a noite. De brilho apático. O completo oposto de Koutarou, com seus lindos olhos dourados, sempre vívidos e intensos durante o dia. 

 

Keiji franziu o cenho, confuso com a própria linha de raciocínio. Que merda era aquela de comparar Koutarou com Osamu? Sequer fazia sentido! Bokuto não passava de um conhecido de trabalho, enquanto o Miya era, antes de tudo e acima de qualquer coisa, seu amigo de anos. Akaashi sabia exatamente onde estava se metendo quando deixou-se envolver com Osamu, concordando em ser um caso de várias noites justamente por saber que jamais gostariam um do outro de forma romântica. O coração de Osamu já tinha dono e Keiji não se importava em tentar preencher o vazio que Rintarou deixou na vida do amigo – mesmo que fosse somente com sexo quente.

—Está tudo bem? – assentiu, voltando a desviar o olhar. Soltou um suspiro, cansado de pensar. —Ei, o que foi? – a carícia deixada em seu rosto foi gostosa o suficiente para fazer nosso protagonista fechar os olhos, um pequeno bico formando-se em seus lábios enquanto tomava coragem porque, bem… Precisava falar algo.

—Me desculpe, Osamu. – a voz saiu baixa enquanto direcionava a mão até um dos braços do parceiro, acariciando-o. —Eu não queria dizer aquelas coisas…

—Queria sim, Keiji. Mas está tudo bem. Não é como se você não tivesse a intenção de tocar na minha ferida sempre que menciona Rintarou.

Finalmente abriu os olhos, voltando a encarar o Miya. Sentia-se incomodado com a forma que ele simplesmente sabia que realmente tinha a intenção de machucar sempre que citava o nome de Suna em meio a uma discussão. Akaashi tinha aquele péssimo hábito de magoar as pessoas quando lhe tiravam de sua paz. Porém, de modo infeliz, aquele era seu mecanismo de defesa; uma reação que adquiriu após ouvir tantas coisas ruins até aquele ponto da vida.

Suspirou uma vez mais.

—Tem razão. Mas não quero brigar, ‘Samu. Você veio aqui para ajeitarmos as coisas, não? – viu o homem à sua frente assentir, o sorriso pequeno tão característico enfeitando a boca bonita. —Só… Me desculpe por jogar coisas em você.

O Miya aproximou o rosto do seu, o nariz roçando em sua bochecha. Akaashi fechou os olhos, ciente do que certamente aconteceria. Osamu sabia o quão bonito era e não poupava esforços em envolvê-lo naquela aura sensual que parecia tão natural; tão dele. E Keiji, apesar de saber que não era o momento adequado de deixar-se envolver daquele modo, sentia-se cansado demais para tentar resolver aquela briga com palavras.

—Nunca entendi o porquê de nunca termos funcionado bem juntos. – sentiu as mãos grandes apertando-lhe a cintura, numa pressão gostosa que fazia Keiji manter os olhos fechados enquanto roçava o rosto no do Miya, sorrindo —Deve ser algum problema comigo... 

—Não sei se está se declarando ou terminando comigo.

—Não seja bobo. – sentiu um beijo longo ser depositado em sua bochecha, fazendo-o suspirar. —É impossível terminar algo que nem começamos. Você sabe disso…

Apesar de serem palavras duras, Keiji sabia que aquela era a verdade. Ainda sim, o tom usado foi de pesar, como se pedisse desculpas por algo que ambos eram culpados. Osamu por querer se envolver com alguém mesmo gostando de outro; e Keiji por aproveitar-se da vulnerabilidade do amigo. Abraçou, então, Osamu, sentindo os olhos enchendo-se de lágrimas enquanto alegava que ele tinha razão, sentindo-se estranho ao perceber pela primeira vez em muito tempo que, apesar do conforto que encontrava nos braços de Osamu, não conseguia sentir a agitação que aquilo deveria provocar em si. Apesar do prazer que encontrava em seus toques e beijos, Keiji não sentia o coração palpitar em expectativa.

 

Pela primeira vez, Keiji sentia que precisava de algo além daquela relação morna e sem qualquer tipo de reciprocidade.

 

༻♡⋅⋅⋅

 

    Quatro e dezesseis da manhã.

 

    Foi o horário que Akaashi viu no despertador eletrônico ao perder o sono. O quarto em breu total, podia ouvir o ressonar baixo de Osamu e sentir o peso de seu braço ao enlaçar seu corpo. Tateou o criado mudo, afim de pegar seu celular, os olhos doendo com a luminosidade da tela – dando de cara com uma imagem de Osamu com o irmão, sorridentes e bonitos como poucas pessoas tinham o direito de ser. Ok. Aquele não era o seu celular. Lembrou-se, então, que o aparelho estava abandonado na sacada. Precisou usar a luz parca do aparelho do Miya para encontrar suas roupas espalhadas pelo chão, tomando todo o cuidado do mundo para não acordá-lo ao vestir-se e sair do quarto.

    O feixe de luz que saía por baixo da porta de Kozume indicava que ainda estava acordado, sorrindo ao imaginar o tipo de coisa que precisaria escutar do amigo por fazer muito barulho enquanto dava o rabo. Arrastava os pés de forma preguiçosa, colocando ração para Pompom e deixando água aquecendo na cafeteira elétrica para só então ir até a sacada, deitando-se no pequeno sofá enquanto desbloqueava o celular – o vento frio da madrugada incomodando menos do que esperava. Uma enxurrada de notificações surgiram na tela, mostrando as ligações não atendidas e mensagens não lidas do homem adormecido em seu quarto. Havia também algumas mensagens do grupo da faculdade e exatas quatro mensagens de Bokuto Koutarou. O coração falhou uma batida, sequer conseguindo pensar em algo enquanto abria a janela de conversa.

 

[BOKUTO K.] : heey Akaashi! (๑˃ᴗ˂) ﻭ

[BOKUTO K.] : amanhã é dia de fazer inventário!

[BOKUTO K.] : Kuroo disse que é você quem cuida disso e pediu para te ajudar! ☆ *: .。. o (≧ ▽ ≦) o .。.: * ☆

[BOKUTO K.] : também disse para que eu não te incomode demais! ( ̄︿ ̄)

 

Akaashi sorriu, sendo capaz de imaginar Bokuto falando aquilo para si; os braços gesticulando; os olhos brilhantes e o sorriso largo.

Fazia pouco mais de um mês que Koutarou entrara em sua vida e, desde então, fez-se presente em todas as oportunidades possíveis, fazendo Keiji conhecer alguém em velocidade recorde. Bokuto, de modo surpreendente, ia todos os sábados trabalhar na conveniência, chegando sempre poucos momentos depois do turno de Akaashi e Sugawara começar. Acabavam por almoçar juntos nesses dias, sendo provavelmente o momento mais divertido da semana de nosso protagonista. Ao decorrer da semana, Bokuto ia na loja ao menos três dias esporádicos no horário de seu turno com a desculpa de tomar café da manhã antes de sua aula – o que podia ser facilmente considerado uma mentira. Koutarou tinha o hábito de coçar a nuca quando ficava sem jeito.

 

[AKAASHI K.] : bom dia, Bokuto-san!

[AKAASHI K.] : fique tranquilo. Sua companhia é sempre bem vinda.

[AKAASHI K.] : mas fazer inventário é trabalhoso e demorado.

 

    Trocar mensagens de texto com Bokuto acabou tornando-se um hábito – apesar de ter dúvidas se era algo bom ou ruim. Não tinha a intenção de aproximar-se daquela forma, mas Koutarou sempre fazia uma bagunça em sua cabeça com aquele sorriso bonito e agitação atípica; tão característicos dele. De todo modo, Bokuto parecia constantemente feliz e enviava mensagens a todo momento. E fotos o suficiente para competir em quantidade com as de Pompom. Koutarou enviava fotos durante a aula junto ao famoso Konoha, imagens entediado no estágio e até pequenos vídeos gritando seu nome quando ficava preso no trânsito. Era tudo tão adorável que Keiji sequer acreditava que aquele homem era mais velho que si.

 

[BOKUTO K.] : bom dia, Akaashi!(♥→o←♥)

[BOKUTO K.] : acordou cedo! 

 

[AKAASHI K.] : digo o mesmo de você, Bokuto-san.

 

[BOKUTO K.] : estou indo para a academia ╭( ・ㅂ・)و

 

Foi inevitável o mordiscar no lábio inferior ao pensar que fazia total sentido Koutarou ter aquele corpo infernal. Era a primeira pessoa que conhecia além de Sakusa que acordava tão cedo para se exercitar. Devia ser algum tipo de dádiva dada a quem era mais gostoso que a média.

 

[BOKUTO K.]  : a gente devia sair para correr qualquer manhã dessas.

 

    Oh.

 

    Não sabia ao certo o que responder. Sabia que, caso aceitasse aquele convite, Koutarou daria um jeito de tornar aquilo como algo fixo e, sinceramente, não sabia se estava pronto para deixá-lo fazer parte de sua vida em algo que não envolvesse trabalho – por mais que tivesse plena consciência que trocar mensagens de texto o dia inteiro com o rapaz e almoçarem juntos todos os sábados fossem motivos o suficiente para alegar que aquela convivência sequer teve chance de ser estritamente profissional. Ainda sim, Keiji não tinha força ou disposição para ir contra à vontade alheia. Principalmente depois de Koutarou enviar uma foto em frente ao grande espelho da academia, exibindo em seu corpo um shorts curto e uma camiseta preta justíssima naquele peitoral largo, com os fios descoloridos meio baixos e todo sorridente. Meu Deus. 

    —O que tá fazendo aqui fora?

    O susto que levou o fez se sentir novamente com 15 anos, quando trocava flertes escondido dos pais através de mensagens. Até a reação de esconder a tela do celular contra o peito foi igual, encarando Osamu parado na porta da sacada com a cara ainda amassada de sono e sem camisa. Apesar de Osamu ser gostoso como o inferno, a exposição de pele que antes lhe deixava eufórico não causou efeito algum em si. Franziu o cenho antes de agitar a cabeça em negação, confuso.

—Vim buscar meu celular. Acabei me distraindo nas redes sociais.

—Hm… – era certo que ele não havia comprado aquela desculpa. Tudo bem. Havia sido péssima mesmo. Por sorte, Osamu apenas deu de ombros, parecendo realmente não se importar com o que Akaashi fazia. —Vem, entra. Vou preparar um café da manhã para nós. Eu te deixo no trabalho.

Keiji apenas assentiu, levantando-se para poder ajudar o Miya a achar os ingredientes. Porém, antes mesmo de passar pela porta da sacada, acabou recebendo uma nova foto que o fez passar a mão pelo próprio cabelo, esforçando-se para segurar o palavrão na garganta. Era uma selfie, dessa vez. Bokuto estava um pouco corado, com algumas mechas brancas caindo-lhe sobre a testa; o sorriso largo parecendo brigar por espaço com os olhos de âmbar que exalavam empolgação, ambos querendo preencher toda a imagem.

 

Nossa… Caramba!

 

༻♡⋅⋅⋅

 

    Fazer o inventário da loja levou mais tempo do que esperava. Acabou ficando uma hora a mais no trabalho devido o atraso de Kuroo – por mais que o inventário fosse função do gerente, para começo de conversa. Koutarou havia achado aquilo uma grande chatice, chamando-o em um choramingo sempre que possível e distraindo-se vez ou outra com coisas bobas como doces dentro de embalagens plásticas em formato de animais. Por sorte, Tetsurou decidiu finalizar a tarefa, castigando Tsukishima ao pedir para que lhe ajudasse com aquilo e liberando, então, Akaashi e Bokuto.

    Ao saírem da loja, Koutarou quis ir comer no quiosque de uma praça grande que ficava a bons minutos de distância, insistindo para Akaashi acompanhá-lo no lanche da tarde. E ali estava Keiji, sem ao menos conseguir recusar o convite ao ver Bokuto sorrindo tão bonito que lhe provocava uma estranha agitação ao pensar na ideia de passarem um tempo a mais juntos. Sorte a dele Koushi ter ido embora a tempos porque, do contrário, era certo que precisaria explicar-se ao colega. Como de costume, com a velha desculpa de ser convidado, foi impedido de pagar o que consumiu e, enquanto caminhavam pelo parque tomando um sorvete de potinho, viu Bokuto ainda mais feliz, parando vez ou outra para olhar e – às vezes – acariciar os gatos que viviam no local.

    —Você parece gostar de animais, Koutarou-san. – declarou, aproveitando a sombra de uma árvore grande, sentado em um banco de pedra. Bokuto sorriu largo, acariciando atrás da orelha de um gato rajado que fechava os olhinhos para apreciar o carinho.

—Venho sempre aqui, então acabei me voluntariando como cuidador! – havia um orgulho explícito em revelar aquilo. —Ajudo a abastecer os pontos de refeição e a limpar os abrigos. Você deveria vir comigo qualquer dia desses! O cheiro é péssimo, mas é divertido e muito gratificante.

Bokuto Koutarou deveria ter vindo diretamente do céu, porque não havia explicação lógica para alguém ser tão incrível. Sentia-se completamente envolvido por ele – como se ouvisse o canto da sereia que arrastava os homens para as profundezas. Mas, diferente do breu que certamente encontraria no fundo de um oceano, Akaashi via-se indo para o mais belo céu ao observar o sol quente na pele pálida de Bokuto, deixando seus ombros largos avermelhados e os olhos, ah, os olhos… Pareciam ouro líquido; perfeitos. Seu coração palpitava diante todo deslumbramento, não conseguindo evitar de sorrir enquanto observava Koutarou.

Se qualquer pessoa perguntasse a Akaashi o que estava acontecendo consigo, certamente não saberia explicar. Afinal, horas antes estava em dúvidas sobre aquele tipo de proximidade, alegando que não queria envolver Bokuto em seu dia a dia para agora encontrar-se sentado em meio a um local que era claramente parte da vida dele, achando-o o ser humano mais fantástico que existia. Sentia-se patético por estar tendo as ideias manipuladas por alguém que sequer tinha a intenção. De dar pena, sinceramente.

 

Bem, não é como se tivesse qualquer tipo de auto-respeito.

 

E mesmo que possuísse algum tipo de consideração pelas próprias opiniões, Keiji conhecia bem o seu fraco por homens bonitos como Koutarou. A única coisa que não sabia até então era a facilidade com a qual podia ser convencido apenas porque aquele homem em específico sorria de um jeito incrível. Céus, começava a sentir vergonha em pensar no modo como Bokuto o fazia querer viver em momentos. Sequer tinha a capacidade de encontrar uma explicação lógica para aquele sentimento. Poderia até ser porque, como Kuroo costumava dizer, sempre tocou a vida sem qualquer tipo de emoção, de um jeitinho bem mais ou menos. Mas também, como poderia ter qualquer tipo de perspectiva quando gente como ele precisava manter os dois pés muito bem cravados no chão?! Não podia se dar ao luxo de acreditar que o mundo havia sido feito pra ele; Keiji era apenas mais um que fazia as coisas funcionarem do fundo do palco. Nunca no centro deste. Era quem aplaudia os personagens centrais; um coadjuvante.

—Akaashi? Tá tudo bem?

 

Droga. Não percebeu que estava afundando-se em pensamentos.

 

Fitou Bokuto, que estava ajoelhado à sua frente, com os lindos olhos de âmbar transbordando preocupação; a destra tocando-lhe o joelho. O coração de Keiji parecia bater mais forte ao encarar aquele rosto tão bonito e sincero com os próprios sentimentos. Sorriu pequeno, numa tentativa de passar tranquilidade, mesmo com toda a bagunça dentro da própria cabeça. Céus, não estava acostumado com aquele tipo de expressão.

—Não se preocupe. Só me distraí pensando na faculdade. Tenho algumas atividades para entregar e os dias têm sido corridos…

—Quer que eu te deixe na faculdade?

—Hm? – piscou algumas vezes, processando a pergunta; os olhos de Koutarou agora transbordavam toda a expectativa na resposta que aguardava; a destra ainda em seu joelho. Negou com um aceno de cabeça, sorrindo pequeno. —Não é preciso, Bokuto-san. Minhas coisas estão todas em casa e gosto de tomar banho antes de ir à aula. Se me deixar em casa, posso me organizar e ir de metrô.

—Vamos, Akaashi! Não precisa de tanta formalidade! Somos amigos, afinal! – Keiji precisou curvar-se um pouco para trás quando o homem apoiou-se em seus joelhos com ambas as mãos, curvando o próprio corpo em sua direção. Nossa. Sequer conseguiu esconder sua surpresa porque, bem… Não era acostumado com aquele tipo de aproximação. —Eu espero você se arrumar e te deixo na faculdade, sem problema algum!

De fato, não tinha como escapar de Koutarou. Apesar do pouco tempo de convivência, sabia que caso insistisse na recusa, teria que lidar com um homem triste e dramático. Não porque Koutarou não entendia o significado de “não”, mas sim porque era intenso demais para lidar com as próprias expectativas e sentimentos. Já havia presenciado uma daquelas inconstâncias de humor e, sinceramente, tinha sido um inferno convencê-lo que o problema não era nada demais e que estava, sim, tudo bem. Se fosse sincero consigo mesmo, tinha receio de precisar lidar com um Bokuto triste novamente – e foi essa a desculpa que usou para si ao aceitar novamente uma carona do filho de seu chefe.

Durante todo o trajeto, Bokuto cantava as músicas tocadas na rádio, feliz demais ao bater no volante sempre que parava no sinal fechado. Akaashi até pegou-se batucando junto vez ou outra, fazendo o sorriso do homem ao lado aumentar ainda mais. Mantiveram-se nessa energia boa a todo momento; e Keiji começava a desconfiar que não existiam momentos ruins com Koutarou. Ainda sorria quando o carro foi estacionado em frente ao pequeno prédio que morava, a face bonita de nosso protagonista adquirindo uma expressão de dúvida ao encarar a fachada no local que morava. Será que deveria convidar Koutarou para entrar? Afinal, o rapaz havia se disposto a esperar e ainda deixá-lo na universidade, então nada mais justo que deixá-lo ao menos assistir televisão e beber um copo d’água enquanto se arrumava para a própria aula. Por mais que isso significasse que deixaria Koutarou adentrar mais um ponto proibido em sua vida.

 

Mas, bem… Quem está na chuva, é para se molhar, certo?

 

—Koutarou-san… – sentiu vontade de socar-se por seu coração ter batido mais forte ao ser encarado pelo homem, os lindos olhos brilhando de um jeito infantil. —Gostaria de entrar? – de repente, não tinha coragem de encarar Bokuto. Não enquanto o sorriso dele aumentava a cada palavra proferida. —Você já está sendo gentil em esperar e querer me deixar na faculdade e, mesmo seu carro sendo bom, tenho um sofá bem confortável e-

—Eu adoraria entrar e conhecer a Pompom, Akaashi! – foi a resposta que recebeu; acompanhada de uma risada que preencheu todo o carro.

Céus. Keiji sentia que poderia morrer com a própria falta de jeito – mesmo que, por fora, mantivesse a expressão neutra. Como não havia elevador onde morava, precisariam subir degrau por degrau até o 334 no terceiro andar. Bokuto falava em tom alto, alegando que não entendia a lógica de numeração de apartamentos – visto que certamente não haviam 300 quartos naquele local –, subindo de dois em dois degraus. Keiji precisou acelerar a própria subida para acompanhá-lo. Foi impossível não sorrir quando o homem começou a falar de Pompom, a gata, e do quanto estava feliz por finalmente conhecê-la. Precisou alertá-lo de não correr para cima de Pompom ao vê-la, pois ela era um pouco temperamental; e somente quando Koutarou prometeu de mãos juntas que não iria gritar ao vê-la que Akaashi abriu, de fato, a porta de casa.

Assim que adentrou o apartamento, percebeu que Kenma já havia voltado dos próprios afazeres – uma vez que os tênis pequeninos estavam dispostos no cantinho esquerdo do hall e, como de costume, havia largado as pantufas por lá também. Kenma gostava de andar de meias pela casa. Akaashi estalou a língua, rezando para que o colega ficasse no quarto até o momento de sair e, mesmo sabendo que era impossível, rezou também para que Bokuto falasse baixo. Entregou um par de chinelo ao rapaz, uma estranha sensação parecendo remexer seu estômago ao lembrar que Osamu estava usando-os ainda cedo.

—Acho que Pompom está no quarto de Kenma… – afirmou ao notar que a gata não estava por ali e nem veio ao seu encontro como de costume. Fitou Bokuto, os olhos dourados observando cada cantinho do cômodo onde estavam com uma curiosidade que somente ele poderia portar. As bochechas de Keiji aqueceram. —Desculpe a bagunça, Bokuto-san. Eu tento arrumar, mas volta e meia acabo espalhando tudo novamente.

—Por que está se desculpando, Akaashi? – piscou algumas vezes, sem entender ao certo. Koutarou coçou a nuca, desviando o olhar para os chinelos que usava. Oh. Keiji finalmente entendeu. Ambos estavam sem jeito. —Tudo aqui combina demais com você. ‘Pra ser sincero, não consigo imaginar você morando num lugar diferente.

Keiji só soube assentir, murmurando um agradecimento a Koutarou antes de ligar a TV e entregar-lhe o controle, pedindo para que ficasse à vontade; que pegaria uma bebida e algo para que ele pudesse “beliscar” enquanto se arrumava. Porém, não foi surpresa alguma notar Bokuto seguindo-o de um lado para o outro, com aquela típica carinha pidona. Ele fazia muito esse negócio de segui-lo quando estava na loja, sempre chamando-o de modo manhoso, fazendo Keiji sorrir pequeno. Dessa vez, não foi diferente.

—O que foi, Bokuto-san?

—Você não quer comer algo comigo enquanto assistimos TV? Posso ajudar a preparar…

 

Oh.

 

Ok.

 

Akaashi Keiji não sabia qual era o protocolo social para reagir e lidar com Bokuto Koutarou. Sentia-se idiota por ficar sem jeito com um pedido tão simples porque, meu Deus, não era a primeira pessoa a convidá-lo para algo tão trivial. Céus, já havia feito refeições com outras pessoas antes – incluindo Bokuto –, então qual era o problema, exatamente? O próprio Kenma, apesar de prestar mais atenção no próprio celular do que em qualquer outra coisa, sempre lhe acompanhava em refeições frente à TV; enquanto Osamu preferia arrumar a mesa para o jantar, com o jogo de mesa sempre completo para a refeição.

 

Osamu.

 

A lembrança do Miya provocava uma sensação amarga na garganta; como se estivesse fazendo algo errado. Nunca havia comentado sobre sua convivência com Koutarou para o parceiro e, se fosse sincero consigo mesmo, não achava pertinente falar sobre o assunto, simplesmente porque não desejava partilhar daquela parte feliz de sua vida com Osamu – ao menos, não enquanto ele se mostrava tão desconfiado e acusador. Como se Keiji estivesse escondendo algo. Como se devesse qualquer tipo de satisfação a ele quando na verdade, não tinham nada além daquela amizade meio torta.

 

—Akaashi? Está tudo bem? Está sentindo dor de cabeça de novo?

 

Acordou, então, de seu transe em um susto. As costas mão de Koutarou, quente e acolhedora, tocava-lhe a testa de modo quase imperceptível. Estava virando um hábito do mais velho tocar-lhe de modo sutil. Face, joelhos, ombros. E não havia uma vez sequer na qual Keiji não sentia a pele aquecer, uma agitação atípica surgindo no peito com aquele gesto simples. Claro que gostava de contato físico, mas não era acostumado aos de tipo sutil e corriqueiro, como se fossem um simples cumprimento. Aquilo só servia para confundir sua cabeça. E claro que a confusão piorava quando encara o rosto de Koutarou tão próximo; tão bonito, mesmo com aquela expressão preocupada. Sorriu, meneando a cabeça em negação. Aquilo estava tornando-se um hábito – sorrir e negar.

—Está tudo bem. Só me distraí pensando em algo.

—Hm… – Bokuto afastou-se, sorrindo de um jeito sapeca que Keiji sabia que era para implicar. —Pensando em algo ou alguém? – bingo!

Voltou a negar com um aceno de cabeça.

—Não seja bobo. Minha cabeça pode pensar em diversas coisas, mas não em relacionamentos. – às vezes, meio em desagrado com a situação, Bokuto acabava fazendo um biquinho – exatamente como naquele momento ao ouvir a resposta meio mentirosa de Keiji, que sorria pequeno ao homem. —Vamos, Bokuto-san. Precisamos fazer alguns sanduíches para assistirmos TV.

O bico contrariado sumiu tão rápido quanto chegou; dando espaço a um daqueles sorrisos largos e típicos de Koutarou.

Pegou tudo o que seria necessário para o preparo dos lanches, fatiando o que era preciso e deixando – depois de um pouco de insistência – que Bokuto montasse e temperasse os sanduíches. Aqueceu também alguns onigiris e teve o mínimo de educação para perguntar se Koutarou preferia chá ou suco. Por sorte, ele escolheu suco; então Keiji pegou o melhor suco de caixinha que tinha na geladeira. 100% suco, nada de suco de maçã misturado, nem açúcares ou conservantes e, acredite, ele havia se dado ao trabalho de pesquisar sobre aquilo. Porém, ao ver Bokuto emplastar um dos lados do pão de forma com cream cheese, não conseguiu evitar de chamá-lo em tom alto como nunca antes, precisando explicar que ele estragaria os lanches por acabarem ficando impregnados com um sabor único. Bokuto ria da situação enquanto tentavam salvar os pães, retirando boa parte dos excessos com algumas lamúrias, ouvindo o pedido de desculpas risonho do rapaz enquanto este cutucava-lhe ora o ombro, ora a bochecha. Sempre tocando-o; sempre rindo. Keiji, concentrado como estava em sorrir enquanto raspava a pequena espátula no pote de cream cheese, sequer notou a espátula de Bokuto em direção ao seu rosto, deixando-o desconcertado porque, bem… A última vez que haviam sujado seu rosto com comida foi em sua festa de 16 anos.

Não tinha a menor intenção de iniciar uma guerra de comida – uma vez que tudo aquilo custava dinheiro. Mas também não pretendia deixar barato. Então, encarou Bokuto, que parecia ansioso por alguma reação, e não exitou um momento sequer em pegar um pano de prato, começando a enrolá-lo daquele jeito que, se acertasse Koutarou, certamente doeria um pouco. Só um pouco mesmo, porque jamais teria coragem de acertá-lo com força. Mas Bokuto, percebendo as intenções de nosso protagonista no momento que este mordeu o lábio inferior, acabou por sair correndo por todo aquele cômodo do apartamento e, então, só restou a Akaashi persegui-lo, tentando acertá-lo. A gritaria foi certa, e Keiji sequer conseguiu segurar a risada alta sempre que acertava Bokuto nas costelas ou pernas. Era divertido demais os berros de Koutarou sempre que o chamava daquele jeito esganiçado, pronunciando seu sobrenome errado enquanto ria, meio sem ar, implorando por misericórdia até o momento que resolveu envolver Keiji em um abraço que poderia facilmente quebrá-lo ao meio ou simplesmente matá-lo de vergonha porque, por Deus, o que Koutarou estava pensando ao agarrá-lo daquele jeito? De todo modo, Akaashi foi jogado contra o sofá da sala e torturado sem o mínimo de piedade com cócegas. 

Isso mesmo, cócegas.

Não achava que Bokuto pudesse jogar tão baixo; fazendo-o gritar entre risos ao pedir para que parasse enquanto contorcia-se no sofá; as pernas balançando para cima e para baixo, com pequenas lágrimas acumulavam-se no cantinho dos olhos e um riso fácil que saía de sua boca enquanto tentava – sem sucesso – segurar ou empurrar Koutarou. Qualquer coisa que o fizesse parar.

—Sinceramente, Akaashi, você não cansa de ser tão barulhen- 

 

Oh, merda.

Havia esquecido completamente que Kenma estava em casa – agora, parado em frente ao acesso dos quartos, com uma tigela grande em mãos e encarando a cena do sofá; os fios compridos presos de qualquer jeito. Keiji estava mortificado com o próprio constrangimento. Sequer conseguia se mexer; o rosto bonito ficando avermelhado, como se sua própria mãe o tivesse visto aos amassos com alguém e, se fosse sincero com os próprios sentimentos, realmente preferia que fosse sua mãe parada ali.

—Kenma! – conseguiu se afastar e, então, levantar-se, meio ofegante e sorridente. Bokuto o imitou, também sorridente. —Desculpe o barulho. Esse é Bokuto Koutarou, do meu trabalho. – apontou para o homem ao lado, tentando manter o olhar entediado de sempre mesmo com o sorriso pequeno que teimava em manter-se presente. —Bokuto-san, este é Kozume Kenma, o amigo com quem divido o apartamento.

—Oi, Kenma! – acenou, frenético e sorridente. —Apesar da formalidade, também sou amigo do ‘Kaashi!

Pôde ver o exato momento que Kozume arqueou as sobrancelhas, com um breve “hm” saindo do fundo da garganta. Obvio que, esperto como era, jamais acreditaria naquilo – apesar de ser a pura e sincera verdade. Aquilo fazia Keiji querer bater no próprio rosto, tamanho o constrangimento porque, porra… Pior que isso, somente dois disso.

—Hm.. Bokuto-san! Que tal escolher o que vamos assistir enquanto me troco para a faculdade? Prometo não demorar. – Koutarou concordou, enérgico como sempre, chegando a convidar Kenma para assistir algo com eles. Felizmente, o amigo recusou; o pretexto de estar fazendo atividades da faculdade deslizando fácil pela língua. Graças aos céus.

Porém, não foi no próprio quarto que Kozume entrou quando seguiram em direção aos aposentos. Keiji sequer teve a chance de ficar sozinho pois, assim que adentrou o próprio quarto, Kenma o impediu de fechar a porta, a expressão séria nos olhos inteligentes indicando que Akaashi tinha algumas explicações para dar. Sentiu-se cansado de repente, suspirando ao largar a porta; procurando alguma roupa decente para ir à aula.

—Sei que você sempre foi meio fora da curva, mas, pelos céus, Keiji! Você pirou de vez? – Akaashi soltou uma exclamação contente ao achar a camiseta que queria limpa e passada dentro do guarda-roupas; como se Kenma não estivesse falando consigo. —Meu Deus, Keiji… E se Osamu aparece aqui de repente de novo, como é que você explica que o bonitão na sala é só seu amigo?

—Não tenho nada a explicar para Osamu, Kenma, justamente porque não temos nada sério.

—Qual é, Keiji! Acha que me engana? Faz um ano que vocês  transam regularmente. Alguma coisa vocês tem, com certeza. – deu de ombros, sem real energia para continuar aquele assunto. Ouviu o amigo bufar alto, soltando um palavrão enquanto fechava a porta; os pézinhos de Kenma arrastando-se no chão. —Mas me fala, – ouviu o corpo delgado de Kozume chocando-se contra o colchão fofo, indicando que havia pulado ali. —Bokuto Koutarou, hm?

—O que tem ele? – perguntou sem demonstrar o real interesse que tinha no assunto.

—Digo… Você tem um tipo, né? Homens altos e bonitos, com cabelo descolorido… Capaz de te matar com um sorriso. – sorriu pequeno, achando graça naquele comentário porque, bem… Era verdade. Tanto Bokuto quanto Miya tinham sorrisos estonteantes; capazes de arrancar o que quisessem e de quem quisessem. —Então admite que tem interesse em Bokuto?

—Não. – evitou encarar Kenma, pois sabia que ele estaria com aquela cara de quem não acredita no que ouviu. Respirou fundo, sentindo-se estranho sem ao menos saber o motivo. —Ele é bonito, sim. Isso é inegável. Mas não é como se eu quisesse me envolver com Koutarou.

—Deveria ter pensado nisso antes de enfiá-lo dentro de casa. – Keiji parou de vestir-se apenas para encarar Kozume, completamente desacreditado no que ouvira. Realmente, aquele merdinha não tinha qualquer tipo de filtro na língua. Inferno. —Akaashi, é sério. O que você pensa que tá fazendo? – apesar do tom baixo, era nítido que Kenma estava exaltado; tentando colocar algum juízo na cabeça do amigo. —Presta atenção em você! Até passou perfume e está se arrumando como se fosse a um encontro. Está tentando enganar quem, exatamente, ao dizer que não tem interesse nele?!

Era verdade. Sequer havia percebido que escolhera roupas melhores que de costume e até poderia dizer que estava passando perfume por não ter tempo de tomar banho. Mas seria mentira. Porém, não poderia dizer ao amigo que Bokuto lhe deixava com uma sensação boa e que aquele surto de vaidade foi completamente sem querer; sem perceber. Só estava agindo no automático enquanto ouvia Kozume falar e, agora, encontrava-se numa verdadeira saia justa. O coração batia rápido e chegava a sentir a ponta dos dedos gelar – num claro sinal de nervosismo. Queria escapar de Kenma o quanto antes e ir até o homem que deixara na sala, afinal, ele estava aguardando-o para comer e assistir algo na TV.

—Você está vendo coisas onde não tem. 

Por algum motivo, Kenma apenas fez uma cara de desagrado; as sobrancelhas quase grudando uma na outra de tão franzido que seu cenho estava. Levantou-se, então, indo em direção à porta a passos duros. Ele estava bravo. Certamente porque Keiji era cabeça dura demais para ouvi-lo. Mas não fazia sentido ao rapaz ouvir Kenma, visto que ele estava insinuando coisas absurdas, certo?

 

Certo?

 

—Só mais uma coisa, Keiji. Seja sincero com quem parece gostar tanto de você. Conte a ele sobre Osamu.

 

Kenma disse aquilo sem ao menos olhá-lo nos olhos e então, saiu.

 

Sentiu vontade de gritar. Queria quebrar alguma coisa na parede ou jogar algo no chão. Precisava de um cigarro. Terminou de arrumar-se, conferindo o material na bolsa que levava para a universidade – agora levava apenas uma prancheta com um bloco de folhas, deixando para passar tudo a limpo e revisar o conteúdo em seu tempo livre. Verificou se tinha guarda-chuva e pegou seu casaco, pensando três vezes se levaria a jaqueta preta e provavelmente a peça mais bonita de seu guarda-roupa ou aquele sobretudo em tom cáqui que já estava bem surrado, coitado. Indo contra a ideia de estar arrumado demais para a faculdade, optou pelo velho e bom sobretudo caqui. Ao sair de seu quarto com cigarro e isqueiro muito bem colocados no bolso da calça, notou que a porta de Kenma estava fechada novamente, franzindo o cenho ao lembrar-se do que o amigo disse antes de sair de seu aposento. 

Caminhava a passos duros, os pés finos fazendo um barulho abafado com os chinelos fofos que usava. Estava planejando uma desculpa caso Bokuto desaprovasse muito cigarros quando ouviu o homem falando alto e em uma vozinha diferente; sendo inevitável sorrir ao ver Koutarou entretido e encantado com Pompom, que enroscava-se nas pernas do homem, certamente ronronando. Keiji sentiu o coração aquecer com a cena fantástica que presenciava.

—Começo a me perguntar se existe algum ser na terra que não caia em seus encantos, Bokuto-san.

A frase saiu em tom divertido; como uma tiração de sarro. Sem qualquer segunda ou terceira intenção. Mas quando Koutarou lhe fitou, sorridente e animado, ao invés de ouvir um “Akaashi” alto e meio esganiçado, o que recebeu foi um olhar surpreso seguido de um “Nossa” completamente estupefato. Sentiu-se meio feliz e sem jeito, como se estivesse, de fato, num encontro. Era uma sensação estranha, que trazia lembranças de quando apaixonou-se pela primeira vez ainda adolescente, com todo aquele turbilhão de sentimentos que desconhecia. Keiji não gostava do desconhecido, porque geralmente lhe trazia coisas ruins e, mesmo assim, sentia vontade de não pensar muito no assunto ao encarar aqueles olhos âmbares tão lindos, quentes e acolhedores.

De repente, Koutarou riu de um jeito diferente ao desviar o olhar, colocando uma das mãos no próprio rosto enquanto balançava a cabeça em negação.

—Não é justo que você pareça um supermodelo até mesmo indo para a faculdade. – foi inevitável o mordiscar no cantinho do lábio inferior porque, nossa, aquilo foi como um sopro na autoestima. E enquanto pensava em algo para dizer, Bokuto pareceu recuperar sua aura alegre e barulhenta, balançando o controle da TV. —Ah, escolhi um programa de culinária qualquer para assistirmos. Os episódios são mais curtos, então vamos conseguir assistir um ou dois antes de te levar para a aula.

Estaria mentindo se dissesse que aquilo não o deixou meio balançado. Estava tão acostumado em ser o segundo plano que ver alguém pensando em seus horários e obrigações faziam-no querer abraçar Koutarou. Foi preciso um esforço imenso para apenas aproximar-se do homem, um sorrisinho acanhado teimando em manter-se fixo nos lábios e, ao parar em frente a Koutarou, sorriu largo o suficiente para que seus olhos se fechassem, a destra arrumando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

—Você é muito gentil, Koutarou-san!

—Meu Deus, Akaashi… – aquilo era para ter sido um sussurro. Mas, uma vez que estavam sozinhos no cômodo e com a atenção fixa um no outro, foi inevitável que Keiji escutasse – sua única reação sendo um pender de cabeça, confuso, enquanto soltava um “hm?” baixo. Bokuto passou ambas as mãos pelos fios brancos e arrepiados, bagunçando-os um pouco. —Sei que você não faz de propósito, mas às vezes eu sinto que você vai roubar meu coração apenas por ser bonito em tudo o que faz.

Aquela frase, junto à expressão dramática que Bokuto fazia, provocou uma risada alta e sincera em Keiji. Ainda odiava, sim, quando insinuavam que poderia ter o que quisesse sem muitos esforços – quem dera, inclusive – apenas por ser bonito. Mas, naquela situação, era diferente. Não era Osamu dizendo o quanto era lindo enquanto lhe prensava em qualquer canto, nem Kuroo fazendo daquilo um deboche. Sequer era como sua professora que adorava falar que poderia trabalhar como modelo ou a senhora da frutaria da esquina que vivia perguntando como um rapaz tão bonito não tinha namorada. Naquele momento, era apenas Bokuto Koutarou, o homem mais deslumbrante que conhecia, elogiando-o de modo sincero; sem qualquer tipo de malícia. Sequer lembrava-se da última vez que sentiu algo tão bom a ponto de deixá-lo tão leve.

A sensação gostosa provocada pelo elogio gentil deixou Akaashi sorridente e falante, comentando animado sobre qualquer coisa que acontecia no programa de culinária enquanto comiam seus lanches, chegando a tirar sarro de Koutarou ao dizer que seria eliminado no primeiro episódio por colocar muito cream cheese num simples sanduíche. O clima divertido manteve-se mesmo no trajeto até a faculdade e nem o pequeno trânsito desanimou os rapazes – fazendo Keiji suspeitar que cantar com Bokuto dentro do carro poderia tornar-se um hábito agradável com mais facilidade do que gostaria, por mais desafinados que fossem.

Uma pena o clima bom se dissipar com o estacionar do carro em frente ao prédio que Keiji estudava; dando lugar a uma sensação esquisita e à incômoda falta de jeito em lidar com a despedida. Começou a brincar com o botão de seu casaco, tentando achar as palavras certas para agradecer e dar tchau afinal, como se despedia mesmo?!

—Kaashi… – sentiu um forte arrepio eriçar-lhe até os fios da nuca; o rosto virando lentamente na direção de Koutarou. Céus, por qual motivo ele estava tão próximo?! E por que ele tinha que ser tão bonito, tão… Ele?! Queria afastar-se, despedir-se e fingir que jamais havia ficado tão perto daquele homem infernal. O problema eram aqueles olhos que lhe fitavam-lhe com atenção; com aquele pinta tão clarinha na pálpebra esquerda e a pequena cicatriz no queixo. Ah, lembrava-se da história que Koutarou contou a respeito dela! 

Sorriu enquanto encarava a marca quase imperceptível no rosto alheio – o simples ato perecendo ligar algo em Bokuto, que afastou-se um pouco com um suspiro, deixando Keiji meio atônito. Queria entender o porquê daquele homem lhe deixar com os pensamentos tão fora de ordem; o coração parecendo querer lhe matar a cada batida errada. E em um súbito momento de loucura, levantou uma das mãos para tocar-lhe os fios brancos. 

 

Mas como a vida gostava de pregar peças em Akaashi – conhecido como o ser humano mais azarado que já pisou em Terra –, as batidinhas no vidro fizeram-no virar assustado, dando de cara com um Sugawara sorridente do lado de fora, acenando para ambos. Oh, merda. Bokuto abaixou o vidro, cumprimentando-o em voz alta enquanto Akaashi sentia-se ferver em vergonha. Retirou o cinto de segurança com toda a falta de jeito que sentia, agradecendo a carona sem ao menos olhar para Koutarou; pedindo para Koushi dar licença, afinal, queria sair. Suga afastou-se, porém, antes que conseguir levar a mão para abrir a porta, um carinho suave em seu pulso fez seu coração acelerar. Encarou Koutarou de imediato; o rosto ainda quente. Por Deus, aquele homem não facilitava sua vida ao encará-lo com aquela expressão diferente. Novamente, Keiji não conseguiu decifrá-lo.

—Quer que eu venha buscá-lo? Você sai tarde e hoje o dia foi meio cheio… Deve estar cansado.

Negou, sorrindo.

—O dia foi ótimo, Bokuto-san. Obrigado.

—Bom… Boa aula, ‘Kaashi. – sorriu meio triste, fazendo Keiji franzir o cenho, confuso. Logo, olhou para fora, sorrindo e acenando com a mão que não segurava-lhe o pulso. —Boa aula, Suga-san!

E então, Akaashi puxou com cuidado o pulso, soltando-se de Koutarou enquanto acenava para ele ao descer do carro. Esperou o carro de Bokuto sumir de sua vista antes de seguir seu caminho faculdade adentro. O sorriso teimoso mantinha-se em sua boca enquanto caminhava para o prédio que teria aula; Sugawara ao lado. Keiji revirou os olhos no momento que ouviu o colega começar a falar; o tom divertido sendo perceptível.

—E então, “Kaashi”... Agora estão de apelidinho um com o outro?

—Não é nada disso que está pensando.

—E o que eu estou pensando? – o sorrisinho de quem queria ver o mundo explodir estava bem ali, fazendo Keiji sentir vontade de socar os dentes do colega. Entraram na sala e sentaram-se em um dos cantos; Sugawara, meio de lado, indicando que não tinha intenção alguma de prestar atenção na aula, apoiou o queixo na própria mochila, encarando Keiji meio de baixo. —Brincadeiras à parte, acho que Bokuto realmente gosta de você. E não tô falando isso pra te irritar, Keiji.

—Você tá vendo coisa onde não tem. – a mesma frase que usara com Kenma. Mas, diferente de Kozume, o colega não desistiu do assunto; apenas endireitou um pouco a postura, sorrindo pequeno enquanto balançava a cabeça em negativo.

—Os olhos de Bokuto brilham de um jeito incrível quando está com você. Kuroo-san também percebeu. Você deve ter notado algo também e eu, no seu lugar, pensaria com carinho no assunto. Bokuto é um cara legal.

 

A única coisa que passava por sua cabeça no momento era que os olhos de Koutarou realmente brilhavam de um jeito incrível. Mas aquilo era devido à sua personalidade envolvente, certo? Não poderia ser por sua causa…

 

Poderia?

 

Como um sinal divino – ou um mau agouro –, seu celular vibrou. Duas mensagens; duas conversas. Miya Osamu e Bokuto Koutarou haviam lhe enviado mensagem ao mesmo tempo. O Miya, convidando-o para passarem a noite juntos novamente; dessa vez na própria casa. Bokuto reforçando a proposta de buscá-lo na faculdade caso chovesse e convidando-o para saírem para correr pela manhã; resgatando a conversa da madrugada, quando Osamu ainda mantinha-se deitado em sua cama. Ah, aquela sensação no estômago… Era péssima.

 

Só não era pior do que o problemão que Keiji percebeu ter arrumado quando, após uma recusa de convite, um sorrisinho nos lábios e o coração agitado, abriu o chat para conversar com Koutarou.

 

༻♡⋅⋅⋅

    

Aquela noite de sábado havia se transformado em uma receita para o completo caos.

 

Havia aceitado sair com os gêmeos Miya apenas porque fazia uma vida que não via Kiyoomi. E Deus era testemunha do quanto sentia saudade daquele maluco. Infelizmente, seu amor pelo amigo não parecia ser o suficiente para lidar com o rumo que as coisas estavam tomando. Primeiro porque Sakusa e Atsumu já chegaram meio brigados – algo relacionado com o ex de Kiyoomi estar curtindo um happy hour justo naquele bar e o cumprimentado com um “oi” caloroso o suficiente para jogar toda a confiança e bom humor do Miya no lixo.

Como se não bastasse Atsumu azedo, ainda tinha o outro Miya. Desde que chegara no local com Osamu, o homem parecia estranhamente agitado, mal conversando consigo enquanto os olhos cinzas percorriam toda a movimentação do bar – o que fazia Keiji estreitar o olhar sempre que se encaravam, incomodado com a forma que o parceiro o evitava, meio acanhado. Osamu havia aprontado algo, tinha certeza disso.

—Ah, fala sério. – foi o que Sakusa, ao seu lado, exclamou ao ver o próprio namorado choramingando sozinho; o rosto  encostado na mesa, meio bêbado. —Atsumu, tira o rosto dessa mesa suja! – quando o loiro endireitou-se, em um timing maldito, Osamu esbarrou o braço na própria bebida, derrubando-a no chão. Kiyoomi virou-se para Keiji, sendo fácil ler a indignação em seu rosto. —Como foi que acabamos juntos com esses idiotas?

Deu de ombros, encarando o amigo com a cara de nada de sempre antes de puxar o celular do bolso.

—Eu não tinha nada melhor para fazer e, bem… Osamu é gostoso. – Kiyoomi concordou com um “justo” em tom baixo. Desbloqueou o celular e, de modo automático, abriu o chat com Bokuto. —Já o seu caso, tento entender até hoje como um imbecil como Atsumu conseguiu te conquistar.

—Às vezes, também não faço ideia de como aconteceu...

—Ele vomitou em você e depois ficou te perseguindo para pedir desculpas e seu número de telefone. – falava no automático; beirando o entediado. Sentiu o cenho franzir ao ver que sua última mensagem não havia sido respondida e Koutarou havia entrado pela última vez a quase quatro horas atrás. Suspirou, bloqueando o celular e guardando-o antes de voltar a encarar o amigo; o cenho ainda franzido. —Meio que te achou gostoso, não?

—Isso aí. – Kiyoomi sorria pequeno com a lembrança. Atsumu gritava um “Omi-kun” meio manhoso e sem motivo algum; a cabeça tombada na mesa novamente. Sakusa não era de demonstrar afeto em público, então sempre que o fazia, era contido. Mas, uma vez que já havia consumido um pouco de álcool, não se importou em levar uma das mãos até os fios descoloridos do namorado, roçando as pontas dos dedos ali; a aliança brilhando no anelar de Kiyoomi.

Keiji gostava demais do amigo. Ele tinha uma personalidade ímpar e era o cara mais chato e cheio de manias que conhecia. Talvez fosse esse o motivo que fazia Akaashi não entender como o relacionamento de Sakusa com um dos Miya durava a tanto tempo – uma vez que convivia com Atsumu o suficiente para saber que não se assemelhava em nada com o namorado. Sakusa era o cara que organizava livros por ordem de tamanho e as tampas de suas canetas ficavam viradas para o mesmo lado; assim como a asa das canecas dentro dos armários da cozinha. Já Atsumu era uma pessoa que embolava roupas atrás da porta do quarto e sempre era possível achar uma meia perdida e sem par no meio da casa. E, de algum modo, ainda faziam sentido juntos.

Encarou Osamu, que pedia uma nova rodada de bebidas e outra porção de carne. Keiji o encarava; a camiseta preta combinando tão bem com aquele blazer grafite. Com o rosto apoiado na própria mão, perguntou-se como seria amar um Miya de modo tão intenso quanto Kiyoomi – porém, ao pensar nisso, sua cabeça ligou um alarme no qual piscava um grande “não” em caixa alta. Seu coração sequer se abalava com a possibilidade justamente porque entendia que não passaria daquilo. Suspirou, conformado. Precisava de um cigarro.

—Bom… Vou ir procurar um canto para fumar. – Sakusa o encarou com aquela expressão típica de quem parecia dizer “sério mesmo?”. Keiji deu de ombros. —Quer me acompanhar?

Viu o amigo falar algo a Atsumu, que pareceu meio bravo, antes de seguir Keiji até a área de fumantes em uma das laterais do bar; a própria garrafa de cerveja sendo levada. Enquanto caminhavam, notou que Sakusa era um cara que realmente atraía olhares. A pele pálida era um contraste sensacional com as roupas de tons neutros totalmente alinhadas e o cabelo negro que caía em cachos abertos, dando um aspecto sensual ao rosto sempre sério de Kiyoomi. Chegava a ser fácil entender o ciúmes de Atsumu com o namorado.

Era impressionante como a área de fumante era sempre uma droga. Sempre tinha gente se agarrando no canto; sempre tinha alguém passando mal. Toda vez que encontrava-se num local daqueles, o questionamento de valer ou não à pena continuar com o vício surgia em mente – mesmo que soubesse que, não, não valia à pena. Chegou a considerar voltar para a mesa mas, ao lembrar-se de Osamu e seus olhos agitados, desistiu, puxando um cigarro do maço e acendendo-o.

—Está tudo bem, Keiji? – a pergunta soou estranha para Akaashi. Encarou Kiyoomi; a fumaça presa na garganta. —Você e Osamu sequer conversaram desde que chegaram e, bem… Atsumu me contou que vocês brigaram feio esses dias atrás.

Ah, isso… – soltou a fumaça, sorrindo pequeno. —Rintarou foi o problema. Como sempre.

—Hm… – Sakusa deu um longo gole na própria cerveja; aproveitou para tragar novamente. —Achei que, só dessa vez, havia sido o talzinho com quem vem trocando mensagens. – Keiji engasgou com fumaça e ele sabia que, se existia algum jeito de Deus mostrar que queria te punir por seus atos, era daquele modo. Kiyoomi, meio rindo de sua desgraça, ofereceu-lhe a garrafa de cerveja e, uma vez que Sakusa não partilhava bebidas nem com o namorado, Akaashi soube que precisaria lidar com duas garrafas de cerveja, visto que a própria jazia esquecida na mesa do bar. —Desculpe.

—Sakusa, eu não tô saindo com ninguém além do Osamu.

—Akaashi, eu não poderia me importar menos com isso. – a resposta grosseira fez Keiji arregalar os olhos, meio chocado. Às vezes esquecia o quão direto Kiyoomi poderia ser. —Sendo sincero, você e Osamu não deveriam ter passado do primeiro mês. – não queria ter aquela conversa. Não naquele dia, nem naquele momento. Mas, Kiyoomi era mais insistente que Kenma, então apenas voltou a tragar o cigarro. —Você merece alguém que goste de você, Keiji. Goste de verdade. Você é bom demais para viver de migalhas. E se esse cara – apontou para o local onde guardara seu celular. —Está disposto a lhe oferecer mais, talvez esteja na hora de você colocar um ponto final no que tem com Osamu.

 

Ah, maldito Sakusa Kiyoomi, gênio da turma de literatura, que sempre sabia o que dizer.

 

Não tinha o que falar a respeito, então terminou seu cigarro em silêncio; pensativo. Kiyoomi era a terceira pessoa que dizia a mesma coisa para si em menos de um mês – e ele sequer estava a par da situação. Apagou a bituca na parede, caminhando de modo calmo até a mesa. Atsumu estava sozinho, com cara de poucos amigos. Pareceu ficar ainda mais bravo quando fixou o olhar em ambos; as bochechas coradas dando certo charme junto à gola alta que usava. 

—Onde vocês estavam?  

—Akaashi precisava diminuir o tempo de vida dele. Te avisei que iria acompanhá-lo. Também pedi que não bebesse mais. – O Miya deu de ombros, virando o copo, sorvendo todo o líquido colorido. Os olhos do loiro pareciam pesados e sonolentos quando encarou o namorado, ainda meio emburrado.

—Seu ex veio aqui, Omi-kun. Perguntou todo sério onde você estava e depois ficou me encarando como se tivesse pena de mim. – o Miya sorriu de lado; tão igual ao que o irmão fazia. —Foi ele quem te perdeu e ainda sim, age como se tivesse o mundo em mãos, aquele idiota. Fica te rodeando como se fosse um abutre. Tenho certeza que ele só veio aqui porque ‘Samu me deixou sozinho para correr atrás de Rintarou porque, do contrário, continuaria naquela mesa chique com os amigos ricos dele.

 

Oh… O que?!

 

Keiji encarou Atsumu, que pegava a garrafinha de água que Kiyoomi oferecia a ele, pedindo para que tomasse. Sentiu o cenho franzir, como se processasse o absurdo de informação havia recebido porque, porra, fazia todo o sentido Osamu estar tão agitado e evitando-o! Uma vez que o próprio quem havia marcado de se encontrarem naquele bar, certamente já havia planos de ver o ex no local. Keiji riu por sentir-se um idiota. Osamu sequer teve a decência de encontrar Suna num  outro dia; sequer pensou em respeitá-lo ou respeitar ao irmão e cunhado, que também estavam presentes. Um sentimento ruim parecia grudar no interior de Akaashi. Poxa… Era para ser uma noite legal, certo?

—Você está bem? – novamente, Kiyoomi lhe fazia aquela pergunta. Novamente, relacionado à mesma pessoa. Akaashi apenas assentiu e mesmo que aquilo não convencesse o amigo, Sakusa parecia cansado, suspirando ao colocar uma das mãos em seu ombro. —Vou enviar mensagem àquele idiota. Vamos nos encontrar lá fora porque, como dá para notar, aquele ali passou do limite. –ambos riram ao olhar para Atsumu, que mexia a cabeça no ritmo da música. —Quer dormir em casa hoje? Atsumu vai dar trabalho, mas acho que vai capotar assim que ficar um pouco mais sóbrio.

—Agradeço, Kiyoomi-san, mas a última coisa que quero no momento é ficar preso em um táxi com Osamu. – conseguia ler todo o pensamento de Sakusa apenas pela expressão que lhe lançava. Sorriu, tentando passar algum tipo de conforto. —Está tudo bem. Vou terminar essas garrafas e já vou para casa, também. – Sakusa parecia contrariado, mas não disse mais nada. Apenas passou a mão nos fios negros, indo ajudar Atsumu a levantar-se.

—Me ligue assim que estiver saindo. E quando chegar em casa, também.

—Kiyoomi! – os orbes negros de Sakusa lhe fitaram, brilhantes e intensos. Keiji sorriu. —Diga a Osamu que ele também não pode viver de migalhas.

Recebeu apenas um sorriso antes de ver Kiyoomi levando o namorado para a saída; sendo engraçado ver como Atsumu, bêbado e enciumado, estava praticamente pendurado no pescoço de Sakusa. Pegou ambas as garrafas de cerveja e seguiu para uma das mesas altas e sem cadeiras mais próximas ao bar; o som do violão quase abafado pelo burburinho do local. Ficou vendo a mocinha que dedilhava as cordas do instrumento, a voz aguda e melodiosa cantando qualquer coisa de amor e despedida. Sorriu pequeno antes de virar a bebida, pensando no quão irônico aquilo poderia ser.

Ficou ali, apenas bebendo e observando a movimentação do lugar, chegando a pedir uma nova garrafa de cerveja enquanto aproveitava o próprio sossego. Era bonito e agradável, com mesas muito bem distribuídas para que não ficassem aglomerados num mesmo canto a ponto de inviabilizar a passagem. Tinha muita gente jovem ali. Grupos de amigos barulhentos, casais que conversavam na parte mais reservada do bar, pessoas que estavam ali apenas para relaxar após um longo expediente… E havia aqueles fios brancos e espetados passando em meio a um grupo de pessoas.

Akaashi achou que estivesse delirando. Coçou os olhos, apenas para fixá-los novamente na figura que encostava-se no bar, pedindo algo no tom alto e animado de sempre, real o suficiente para fazer o coração de Keiji acelerar.

Bokuto Koutarou estava ali, como se fosse uma miragem, trajando uma regata preta que expunha tudo o que não deveria – a não ser que a intenção fosse deixar algumas pessoas malucas ao exibir aquele par de braços incríveis. Akaashi riu, achando absurda a forma como as divindades brincavam consigo ao empurrar aquele homem infernal em qualquer oportunidade desde o dia que o conhecera. De todo modo, agradeceu por estar longe da vista de Osamu porque, depois da quantidade de álcool que havia ingerido, a única coisa que não saberia disfarçar era a atenção que Koutarou conseguia roubar de si.

Aproximou-se do bar; os olhos fixos nas costas largas de Bokuto. Espalmou ambas as mãos no balcão, pedindo em voz alta por uma garrafa d’água e sentindo todo o prazer que a situação permitia por ver Koutarou lhe encarar de olhos arregalados, bastante surpreso. Sorriu largo ao homem – o que pareceu piorar a situação dele –, sentindo o cinismo correr-lhe as veias junto ao álcool, encostando-se no balcão de modo a ficar de frente a Bokuto.

—Koutarou-san! Que surpresa encontrá-lo aqui! – piscou lento enquanto passava a ponta da língua no lábio inferior, sorrindo de um jeitinho que poderia interpretado como provocação. —Não sabia que frequentava bares de terceira categoria.

—É o que acontece quando se convive com Kuroo. – Koutarou estava sem jeito; a destra passando na nuca mostrando o claro nervosismo diante si. Keiji chegou a mordiscar o cantinho da boca ao ver o braço pálido parecer ainda maior enquanto flexionado. Talvez Keiji estivesse bêbado o suficiente, porque podia jurar que o rosto de Bokuto estava ficando meio avermelhado, os olhos dourados olhando para o balcão do bar. —Você… Está acompanhado? – A resposta veio com um aceno de cabeça em negativo, que serviu tanto para responder o homem quanto para tentar espantar o pensamento indecente que passou pela cabeça. Agradeceu ao barman ao pegar sua água, entregando sua comanda. —Gostaria de nos acompanhar? Estou com Kuroo e Konoha, mas eles meio que estão atrás de algumas garotas e-

—Adoraria te fazer companhia, Koutarou.

 

Ok. Talvez a bebida tenha o deixado desinibido. Nunca que usaria frases com sentido tão ambíguo em seu dia a dia. Principalmente com Bokuto, que era sempre tão gentil e inocente. Mas, mesmo que negasse ou tentasse colocar a culpa na bebida, sabia que seu comportamento era devido à chateação que sentia com o Miya, que parecia considerá-lo pouco o suficiente para ir atrás do que julgava ser melhor. E, bem… Se Osamu podia deixá-lo a ver navios enquanto ia atrás de quem deixava-o mexido, Akaashi também poderia aproveitar seu tempo com quem fazia seu coração acelerar – mesmo sabendo que se arrependeria no dia seguinte.

Koutarou andava um pouco à frente com uma bebida colorida em mãos. Keiji olhava fixo para as costas de Bokuto; os fios brancos colando-se no suor da nuca; o flexionar das escápulas sendo bastante visíveis sempre que movimentava os ombros. Logo, encontraram-se com Kuroo em uma das mesas que ficavam na lateral do pequeno palco onde a artista bonita estava performando; Kuroo, que mexia no celular com uma das mãos enquanto a outra segurava uma única batatinha, teve a atenção roubada com o chamado alto de Bokuto, sendo possível ver que estava prestes a debochar do amigo quando os olhos afiados fixaram-se em si. Uma onda de desentendimento passou no rosto do mais alto, como se perguntasse em alto e bom som o que é que Keiji fazia com Bokuto.

—Kuroo! Olha só quem eu encontrei no bar! – apesar do rubor ser nítido no rosto pálido de Koutarou, o homem abraçou Akaashi de lado com certa força; um sorriso largo estampado no rosto.

—Boa noite, Kuroo-san. Espero que não se incomode em beber com um funcionário. – curvou-se um pouco, naquela formalidade tão típica de si; mesmo que estivesse um pouco bêbado. Tetsurou apenas balançou a mão, como se quisesse que Akaashi parasse com tanta formalidade.

—Até onde sei, nosso contato profissional dura apenas oito horas por dia. Nesse momento, você é apenas um conhecido. – apontou com a cabeça em uma direção atrás de si quando Koutarou perguntou sobre Konoha, guardando o celular no bolso da jaqueta que usava assim que o amigo foi buscar o último integrante do grupo. —Mas me diz, o que faz perdido por aqui?

Deu de ombros, sem a real intenção de respondê-lo. A verdade é que, uma vez que Kuroo era uma das pessoas mais inteligentes que conhecia, dificilmente acreditaria em qualquer meia explicação que viesse a dar. Porém, não poderia simplesmente dizer que seus amigos haviam ido embora ou qualquer coisa do tipo. Tetsurou percebeu que não receberia uma resposta, afundando a batatinha no ketchup disposto no canto da travessa. 

—Estou impressionado por Koutarou ter te convidado. – aquilo foi dito naquele tom irritante de quem apenas tinha a intenção de provocar. —Ele nunca foi o tipo de cara que busca por muitas aventuras amorosas. Ele costuma gostar das pessoas, mas não a ponto de criar um real interesse.

—Você pode ir direto ao ponto, Tetsurou? – recebeu um olhar com olhos arregalados junto a um sorriso. Akaashi revirou os olhos, encarando-o com o cenho franzido. —Não vejo motivos para insinuar que Bokuto-san me convidou.

—Não está óbvio? Ele tem interesse em você. – Oh. —Sério mesmo que não percebeu que tem Bokuto Koutarou na palma de sua mão? – Keiji continuou encarando-o, mas a expressão de poucos amigos foi dando lugar para um olhar desconfiado. Sinceramente, não sabia se Kuroo estava bêbado ou se era somente louco. Tetsurou soltou um riso anasalado, meneando a cabeça. —Certo… Se precisar quebrar as expectativas dele, saiba que agora é a hora.

E então, Kuroo saiu sem ao menos esperar por uma resposta. Akaashi, bêbado e confuso, percebeu que o mais velho havia juntado-se com Bokuto e outro rapaz que certamente era Konoha. Os três conversaram pouco e, quando deu por si, Bokuto vinha em sua direção enquanto os outros dois iam para sabe-se lá onde. Keiji sentiu o sangue correr rápido pelo corpo, as palavras de Kuroo ainda rodando em sua mente, trazendo uma sensação de sorte em sua vida pela primeira vez em muito tempo.

 

Bokuto Koutarou tinha interesse em si.

 

Parecia até piada porque, porra, o que um homem daqueles via num fodido como ele?!

 

—Ah, não acredito que Kuroo deixou as batatinhas! – o lamento na voz de Koutarou foi sincero. Akaashi riu.  —Você quer comê-las, Akaashi? – negou com um aceno de cabeça lento, parecendo deixar o homem ainda mais para baixo com aquela resposta. —Uma pena. Eu não como fritura por imersão, então acho que elas vão para o lixo.

Keiji sequer entendia aquilo de fritura por imersão, mas achava fofo o modo como ele conseguia tagarelar sobre qualquer coisa. Apoiou o queixo sobre a mão, chamando o garçom em um dos pequenos momentos que desviou o olhar de Koutarou, que continuava falando sobre bem-estar – em um daqueles assuntos que o faria revirar os olhos de tédio se fosse qualquer outra pessoa falando. Como quando Osamu resolvia falar sobre refeições balanceadas. Ugh, tédio!

—Seus amigos foram embora?! 

—Kuroo disse que ele e Konoha iriam atrás de alguma companhia. Espero que não se importe de ter somente eu como companhia.

—Gosto da sua companhia, Bokuto-san. Para ser sincero, estava indo para casa quando esbarrei em você.

 

A poucos metros de onde estava, Akaashi fixava a visão na figura de Suna com a mão muito bem encaixada na cintura daquele que deveria ser a sua companhia naquela noite. Parecia que a cena passava em câmera lenta diante seus olhos; sabia que Bokuto ainda falava, mas não conseguia ouvir o que dizia. Rintarou tinha um case de violão nas costas – o que indicava que provavelmente performaria no local naquela noite – e sorria de um jeito bonito sempre que aproximava a boca do rosto de Osamu; fosse para conversar ou para beijar-lhe o topo da cabeça. Já o Miya, aquele idiota, olhava para o ex com todo o amor que era possível transbordar das írias cinzentas. Akaashi sentiu aquela coisa ruim grudando em si novamente, parecendo rastejar em seu interior enquanto pensava se deveria ou não intervir naquela situação como já fizera antes.

 

—Akaashi.  – as orbes douradas entraram em seu campo de visão, fazendo todos os sentidos de Keiji ligarem e se direcionarem para Koutarou no momento que sentiu a mão do homem à sua frente tocar-lhe o rosto; uma carícia gentil sendo deixada ali. —Está tudo bem? Quer que eu te deixe em casa? 

Piscou lento e, assim como na noite que fora deixado em frente à universidade, pôde ver os pequenos detalhes do rosto bonito do homem à sua frente. Mas além da pinta discreta na pálpebra esquerda e a charmosa cicatriz no queixo, voltou a reparar em como Bokuto tinha os olhos meio saltados e a mandíbula quadrada; bem demarcada. Lindo o suficiente para fazer Keiji não se afastar.

—Desculpe, Bokuto-san, mas… Não saí na véspera de minha folga com a intenção de voltar para casa.

Eh. – a expressão de Bokuto beirava o ingênuo, com os olhos grandes piscando. —Quer que eu te leve para algum lugar? 

 

“Você e Osamu não deveriam ter passado do primeiro mês”

 

A voz de Kiyoomi surgiu na cabeça no momento que decidiu tocar em Bokuto, deixando-o meio atordoado pelo contato. Totalmente compreensível, visto que Akaashi, até aquele momento, nunca havia tocado em Koutarou a não ser no dia que ele o atacou com cócegas. Sempre era o contrário. Os dedos de Keiji roçaram no ombro grande de Bokuto, sentindo a firmeza de pele e musculatura; a sensação quente parecendo impregnar em si. Sorriu, olhando para a própria mão que deslizava pelo braço pálido, gostando da forma como aquilo parecia tão certo.

 

“Você merece alguém que goste de você, Keiji”

 

—Que tal você me levar para sua casa?

 

Bokuto entreabriu a boca em claro sinal de surpresa; o olhar que não soube decifrar dias antes estava ali novamente – porém, dessa vez, Keiji entendeu aquele sinal. Era desejo o que brilhava nos olhos de Koutarou. Sentiu a boca secar. Queria agarrar-se naqueles braços e sentir Bokuto lhe apertar contra o próprio corpo. Queria beijá-lo de um jeito que chegava a ser cruel.

—Meu Deus, Akaashi… – o ar que Bokuto soltou pela boca foi perceptível; pesado e audível. A mão, sempre tão gentil, agora pressionava os dedos em sua nuca, atiçando todos os sentidos de Keiji. Bokuto sorriu largo, daquele jeito sapeca que sempre fazia quando queria encher o saco. —Tô começando a achar que você faz isso de propósito. Sua intenção é me seduzir?!

—Depende muito, Bokuto-san. – seria mentira se dissesse que não era divertido fazer um homem daquele tamanho, gostoso daquele jeito, ficar desesperado com a proximidade de alguém que estava claramente dando mole. Bokuto claramente não sabia reagir a flertes e por isso seus olhos pareciam perdidos no rosto bonito de Keiji, como se buscasse algum tipo de resposta nos olhos de tom turquesa.

—A-achei que queria manter nossa relação profissional dentro do trabalho. 

—E quero. Mas, como Kuroo disse, meu expediente acabou a tempos. Nesse momento, sou apenas um cara meio bêbado que está dando mole para o cara mais bonito desse bar. – o sorriso de lado que servia como provocação no rosto de Akaashi diminuiu conforme o cenho ia franzindo, começando a pensar em algo que, caso estivesse sóbrio, certamente já haveria considerado. —Mas se não tiver interesse em homens, então tenho a obrigação de me desculpar por entender tudo errado. E pedir para que, por favor, não me demita.

Akaashi até tentou afastar-se. Mas Bokuto ainda segurava seu pescoço de modo firme e a situação pareceu piorar quando a outra mão foi até seu rosto. O olhar que Koutarou lançava para sua boca era insano; como se estivesse hipnotizado por aquela região. Keiji, que nunca pensou que poderia arder em tesão com tão pouco, arfou alto, o corpo aquecendo de modo que sequer conseguia acompanhar, os dedos longos pressionando na pele pálida dos braços expostos de Bokuto. 

—O que você quer de mim, Akaashi?

—Qualquer coisa que queira me oferecer, Koutarou.

Aquilo pareceu ser o combustível que precisava para fazer Bokuto acordar de seu transe e entender todas as intenções ruins que Keiji tinha naquele momento. Porém, o choque de nosso protagonista foi perceber que as intenções do outro não eram tão ingênuas no momento que este lhe conduziu à saída com a mão muito bem colocada em seu quadril. Como de costume, Koutarou pagou ambas as comandas antes de saírem em direção ao estacionamento; toda a vergonha de Bokuto parecendo evaporar no momento que prensou Keiji contra a lataria do carro. O beijo de Koutarou era longo e intenso; cheio de mordidas e saliva. As mãos, possessivas. E ainda sim, tinha um cuidado que nunca havia recebido antes. Haviam sorrisos entre os beijos e até uma recusa em transar no carro seguida por um pedido de perdão porque, segundo Koutarou, Akaashi merecia toda a atenção e cuidado do mundo. Mesmo dentro do carro, Keiji não conseguia se afastar – bêbado e excitado demais para evitar chupões e mordidas por toda a pele exposta que conseguia alcançar; Bokuto pedindo para que fosse um pouquinho mais paciente entre ofegos e choramingos sempre que a língua de Keiji deslizava na pele quente.

O carro foi estacionado dentro de uma área coberta e, então, Akaashi percebeu que daquele ponto adiante, não haveria volta. Desceu do carro, caminhando meio ansioso ao lado de Bokuto, sentindo a mão alheia buscar a ponta de seus dedos para depositar uma carícia ali; como se o confortasse. Koutarou perguntou se tinha certeza de realmente querer aquilo  – o coração de Akaashi parecendo querer sair pela boca somente por ter Bokuto roçando a ponta do nariz atrás de sua orelha. Piscou lento, afastando apenas o suficiente para encará-lo nos olhos, sentindo todo o desejo de Koutarou lhe incendiar. Aquilo pareceu ser o suficiente para Keiji assentir, empurrando o homem para dentro do elevador e tomando-lhe a boca em um beijo ávido, estremecendo por inteiro quando Bokuto gemeu contra sua boca; o som abafado reverberando por todo o espaço do elevador.

Riu próximo ao ouvido de Koutarou ao perceber que este tremia ao digitar a senha do apartamento. Só não sabia se era ansiedade ou tesão que provocava aquilo no homem. Foi puxado para dentro e prensado contra a porta sem sequer ter a oportunidade de olhar em volta, apenas para ter a boca invadida pela língua de Bokuto em um beijo longo e cheio de mordidas enquanto a mão grande invadia por debaixo de sua camisa. E enquanto enroscava os dedos nos fios brancos, apertando aquele rosto lindo contra o seu, Keiji sentiu pela segunda vez que queria mais do que uma relação morna. Queria dar e oferecer mais – viver algo que lhe preenchesse a ponto de transbordar qualquer fosse o sentimento. E aceitar que precisava de mais que migalhas que recebia fez Keiji chegar a um único pensamento.

 

Aquele era o início de um ponto final em sua relação com Osamu.

 


Notas Finais


Antes de qualquer coisa, queria deixar claro que não apoio nem incentivo o uso de cigarros. Mas é um vício do personagem - o qual não deve servir de exemplo porque cigarro só traz coisa ruim para nossa vida.

Ufa!

Aconteceu muita coisa por aqui, não é?
Admito que ainda não gosto desse final, mas foi o melhor que consegui çç'
Bom... O que posso dizer a vocês?
Não sei se ficou muito confuso, mas vou deixar aqui algumas explicações e curiosidades.

Akaashi é formado em letras e estudos literários. Foi nesse curso que ele conheceu Sakusa e eles são amigos desde então. Conhece os Miya dessa época também!

O Akaashi também é alguém muito sozinho e inseguro, então acaba se contradizendo muito, como devem ter percebido nas ações e comportamentos dele.

Bom... Acho que é isso v: Desculpa esse monte de personagem que eu enfiei na última parte, mas é porque ficaria muito complicado inseri-los no capítulo seguinte.

Sinta-se à vontade para avisar sobre erros ortográficos, por favor!
E, caso tenha um tempinho e disposição, conta pra mim o que achou do capítulo! Adoro saber teoria e opiniões dos leitores.

Novamente, muito obrigada a todos que continuam acompanhando a história e àqueles que são novos, sejam bem vindos e obrigada, de verdade, pela oportunidade! <3
Até a próxima!


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