1. Spirit Fanfics >
  2. Quimera >
  3. Histórias mirabolantes

História Quimera - Histórias mirabolantes


Escrita por: polypop

Capítulo 9 - Histórias mirabolantes


Durante o resto da semana eu consegui estabelecer uma rotina de estudos, estava começando bem, estudava todas as tardes e noites e nem me envolvi mais nos problemas sentimentais do Theo, acho que ele conseguiu assistir aos filmes e não teve maiores complicações com a questão festival de cinema.
No fim da semana minha mãe passou a deixar comida pronta para mim na geladeira, isso significava que eu não veria mais Anna na hora do almoço diariamente.
Andei tão preso nos meus pensamentos que até me assustei na semana seguinte com Theo me abordando na academia.
“Will é hoje!” ele chegou falando animado.
“O que?” perguntei.
“O festival de cinema, Will!”
“Ahhh… nem estava me lembrando mais… e ai? Fez a lição de casa direitinho?”
“Sim, nem achei tão ruim assim” ele disse sorrindo.
Apenas sorri e pisquei em aprovação, não podia comentar muita coisa, pois Douglas chegou logo em seguida contando que o pai tinha herdado uma fazenda na Inglaterra e provavelmente eles iriam se mudar em breve.
Naquela manhã o tempo estava bom e voltei da academia correndo com Theo, que disse que ligaria à noite para contar como foi o passeio a Bordeaux. Sinceramente eu não estava interessado em saber, mas eu me fingia de interessado para não desapontá-lo.
Passei o restante do dia estudando, concentrado nas matérias que não gostava e me envolvi tanto nos estudos que a tarde passou rapidamente e logo anoiteceu. Só guardei os livros e papéis para jantar com meus pais, que estavam bem animados com minha ida para faculdade. Na verdade, eu acho que todos estavam gostando mais da idéia do que eu mesmo, ou pelo menos as pessoas demonstravam mais interesse e satisfação do que eu esperava.
Meu pai ficou falando que esperava que eu fosse mais cuidado com meus pacientes do que eu era com os clientes do restaurante, acho que era para ter sido algum tipo de piadinha, mas aquilo só me trouxe uma única e má recordação e eu tenho certeza de que eu serei melhor em qualquer coisa que não seja servir mesas. Definitivamente, não tenho dom para a coisa, se é que alguém algum dia na vida acordou com o sonho de ser garçom e descobriu que essa era sua maior vocação.
Após o jantar fui ver televisão e não sei por quanto tempo eu dormi com as luzes e o aparelho ligado até ser acordado por um estrondo vindo da rua. Meu coração disparou e minha respiração acelerou tanto que eu levantei da cama num pulo e fui olhar da janela o que era.
Meu espanto ao ver a cena não me fez nem pensar e eu saí correndo pela porta, que eu sei que foi idiotice, mas na hora do desespero a gente não pensa.
O que aconteceu foi o seguinte: depois de tanto inventar histórias mirabolantes, finalmente Douglas podia ficar feliz por fazer parte de uma que era legítima. Ele tinha pegado o carro do pai e saiu para dar umas voltas, aproveitando a total falta de movimentação de carros e pedestres nas ruas, uma vez que não tinha carteira de habilitação. Só que além de não ter carteira, ele não tinha muita noção de como conduzir um veículo, isso ajudou muito ele para ele ter trocado os pedais na hora de frear o carro para não atropelar um cachorro que passava pela via e acabou colidindo com o poste próximo à minha casa.
Eu deveria ter chamado uma ambulância antes de sair de casa, mas eu nem pensei nisso na hora e fui correndo ver como ele estava.
Não demorou muito e logo apareceram vários curiosos e pessoas mais espertas que eu que diziam já terem ligado para a emergência. Como o acidente envolvia o Douglas, claro que tinha que ter um desfecho mirabolante: apesar de ter batido a cabeça no volante e feito um corte na testa de tamanho suficiente para sujar seu rosto e pescoço de sangue, lá estava ele assustado e consciente falando “Meu pai vai me matar”.
Tentei falar para ele não se mexer, mas acho que ele não me ouviu e saiu do carro mais rápido que eu pude impedir e preocupado com o que o pai poderia fazer ao ver o estado do carro, sem se incomodar com o sangue pingando pelo rosto.
Os vizinhos curiosos vieram com guardanapos de papel, sacos de gelo e copos de água para tentar acalmá-lo, ele pegou alguns guardanapos para estancar o sangue e sentou na calçada inquieto, ainda repetindo “Meu pai vai me matar”. Sentei ao lado dele e tentei conversar e perguntar como ele estava para tentar acalmá-lo, mas ele dizia que estava bem e repetia o bordão. Achei que era o estado de choque, algum trauma sofrido por todo acontecimento e fiquei quieto com ele esperando os médicos chegarem, enquanto o aglomerado de bisbilhoteiros ao nosso redor não parava de falar.
A ambulância chegou e ele recebeu um rápido atendimento ali mesmo, conversaram com ele e detalhes do acidente e ele respondia corretamente como tudo aconteceu. Praticamente no mesmo instante o pai do Douglas chegou e eu entendi porque ele estava tão apreensivo. Até eu fiquei com medo quando o pai dele ao notar o estado do carro lamentou alto, colocando as mãos na cabeça e exclamando “Meu carro!”
Pelo menos a segunda impressão que eu tive foi que ele estava mais preocupado com o filho do que com o carro, acho que talvez a quantidade de sangue o assustou.
Douglas foi com o pai para o hospital fazer uns exames e levar uns dois pontos, mas nada sério. Eu fiquei ali na rua um tempo e prestei depoimento à polícia, que só se preocupava por casos assim para ter o que fazer naquela cidade minúscula, mas eu sabia que com certeza Douglas não receberia qualquer tipo de punição, nem o pai dele por emprestar o carro a uma pessoa sem habilitação.
Depois do interrogatório voltei para casa e tentei dormir novamente, mas acordava toda hora assustado. Quase perder um amigo de infância definitivamente mexe com a gente.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...