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História Ragazzo solo, ragazza sola - Capítulo Único


Escrita por: Bowiezinha

Capítulo 1 - Capítulo Único


Eu estraguei tudo, e não sei como deixei acontecer. Fui o maior idiota da face da terra, e agora perdi tudo o que tinha de mais valioso: um amor verdadeiro. Lágrimas escorriam feito cachoeiras dos meus olhos, descendo pelo meu rosto e pescoço. Meus soluços altos poderiam ser facilmente escutados por qualquer pessoa naquela praia, que, por sorte, estava completamente vazia. Àquele horário da madrugada, apenas pescadores estariam vagando pelas areias grassas do litoral. Eu caminhava, enquanto a cidade dormia. Cabisbaixo e lento, usando um terno estúpido no meio da praia, segurando um buquê de flores estraçalhado. Mais parecia um idiota. Lembro-me que um farol ao longe me chamou a atenção. Aquele maldito e familiar farol naquela desgraçada montanha à quilômetros de distância. Decidi sentar-me à beira-mar, escutando o som das ondas estourarem, o vento sussurrando em meu ouvido e a luz do tal farol brincar com a sensibilidade dos meus olhos naquela noite tão escura. 

Como pude ser tão imbecil? Minha inocência realmente dominou meu coração, me fazendo acreditar que ela me amava de verdade. Nunca havia passado tamanha vergonha em toda a minha vida. Enquanto remoía a concreta ideia da minha tremenda estupidez, sentia a areia tentar me engolir. Meus sapatos novos sendo afundados naquele solo, e minha roupa ficar completamente encharcada pela extrema umidade da areia. 

Ah! Mas como fui tão burro?!

Aquelas flores, já completamente destroçadas, tinham suas pétalas arrancadas por minha mão trêmula. Eu as arremessava para o mar, pedindo que Iemanjá, Deus, Buda, David Bowie, Machael Jackson ou qualquer outra divindade por favor me fizesse acordar daquele pesadelo chamado “vida” - a tão temida e, ao mesmo tempo, amada pelo ser humano.

A minha mente tomou voo, concentrando-me nos faróis brancos. Um pensamento, somente um, vagando pelo meu passado, presente e futuro. 

— Catarina, por que me traiu? — eu questionava inutilmente, deixando as lágrimas rolarem novamente pela minha face.

Não percebi o som dos passos aproximarem-se de mim, estava muito ocupada desfrutando de meu sofrimento. Me assustei ao sentir um toque leve em meu ombro, virando-me como um reflexo, preparado para atacar qualquer assaltante que estivesse de olho em minha roupa nova e de marca. 

— Moço, você está bem? — uma voz fina e baixa perguntava ao avistar meu rosto inchado.

Era uma garotinha, devia ter uns 10 ou 11 anos. Cabelos trançados, roupas gastas e uma expressão de pena. Virei meu rosto e enxuguei as lágrimas no mesmo instante, tentando ridiculamente parecer bem.

— E-Estou! Estou ótimo. — meu olhar se direcionava novamente ao farol.

— Mas você está chorando... — ela dizia em um tom baixo.

— Vá embora, menina. Não me conhece, seus pais não te ensinaram a não conversar com estranhos?

— Eu nunca vi meus pais, morreram há muito tempo.

Aquela frase dita pela voz melancólica de uma menininha tão inocente me deu uma tremenda dor no peito. Queria abraçá-la no mesmo instante, e dizer-lhe que tudo vai ficar bem, mesmo que talvez fosse mentira. Aqueles imensos olhos me fizeram ceder à qualquer conversa que ela desejasse ter. Imagine perder os pais tão cedo!

— Ah... d-desculpe, mocinha. Meus pêsames.

— Tudo bem, não fico triste não. — ela desviava o olhar para o mar.

— Quer se sentar? — indiquei um espaço logo ao meu lado, e ligeiramente ela assentiu.

Ficamos certos instantes apenas observando as luzes do farol rodarem pela praia, até que ela decidiu puxar conversa.

— Como se chama? — perguntava mirando em meus olhos.

— Tom. E você?

— Clarisse. — ela falou logo antes de tremer-se de frio.

Seus braços magros e despidos deviam estar congelados pelo vento gelado daquela noite. Tirei o paletó do meu corpo, sendo ainda protegido do frio pela camisa social de mangas longas que usava.

— Toma, pode usar. Estou bem agasalhado. — falei envolvendo o paletó nas costas e ombros de Clarisse.

— Obrigada.

No mesmo instante, percebi que ela já estava mais aquecida. 

— Tom, posse te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Por que estava chorando?

Eu resisti às lágrimas, contendo meus sentimentos para que não explodissem de uma vez.

— Perdi um amor.

— Ah, que pena. Sinto muito.

Não respondi, e logo ela se empolgou em conversar mais sobre o assunto.

— Mas, por que tanta dor? Sabe... eu não entendo esse tal amor que tanto falam. Não sei porquê os adultos sofrem tanto por ele. Sem dúvida você perdeu um grande amor, seja lá a dimensão desse sentimento, mas de outros amores é cheia a cidade. Todos procuram amar, mas dificilmente conseguem.

Minha nossa, aquela garotinha simples e tão jovem emitia palavras de nível quase intelectual. Realmente, por que não conseguimos sustentar um amor, se é o que todos procuram? Qual a real dificuldade? Fiquei boquiaberto com as orações de Clarisse, esperando que algo saísse pelos meus lábios como resposta.

— Bem... às vezes amar não é o bastante para sustentar uma relação. Ontem à noite, eu não perdi somente um grande amor, perdi tudo. Perdi tudo que tinha com ela, e ela era a cor da minha vida. Uma garota como ela eu não encontrarei nunca mais, entende?

— Na verdade, acho que não. Mas respeito seu luto.

Dei uma ligeira risada com o seu comentário, voltando a exibir uma feição séria em seguida.

— Clarisse, você estava andando sozinha nessa praia? — me preocupei com a menina.

— Mais ou menos, meu avô está pescando lá. — ela apontou para a montanha do farol.

— Por que não está junto dele?! 

— Ele tem medo que o barco que ele usa para chegar lá afunde comigo dentro. É um barco velho, deve ter vários furos.

— Mas você não devia ficar perambulando sozinha por aí, é perigoso, sabia? 

Ela deu de ombros, fazendo uma careta como quem não se importa.

— Sabe, a primeira vez que beijei esse amor, que hoje me deixou em prantos, foi naquela montanha, perto do farol onde seu avô está.

— É sério?! — ela dizia extremamente fascinada.

— Aham.

— E como foi? Como aconteceu?

— Eu havia conhecido ela através de um colega de trabalho, a atração foi imediata. Marcamos de nos encontrar na noite seguinte em um pequeno cais aqui na praia, e iríamos de barco até a montanha. Eu lembro bem, ela estava uma graça usando aquele vestido azul. Quando chegamos do outro lado, ficamos vários minutos apenas vendo a cidade de longe. Ela deitou a cabeça em meu colo e eu a beijei, sem mais nem menos.

— Nossa, deve ter sido muito romântico. — Clarisse tinha uma feição surpresa.

— Foi. — eu continuava pensando naquela noite.

Algumas memórias eu deixei guardadas apenas para mim. Clarisse era jovem demais para saber o que fizemos após o beijo. Me recordo de deitar-me por cima de Catarina, prensando meus lábios ferozes contra os dela. Minhas mãos ásperas subiam seu vestido fino até que não mais escondesse seu corpo de minha visão. Eu a ouvia gemer meu nome quando meus lábios encontraram seu sexo, e logo depois nossos corpos eram um, fazendo o mesmo movimento, ofegando juntos a cada instante. Ah, Catarina, você e seus olhos contra o noturno da noite sempre me terão, sua desgraçada.

— Diga-me, rapaz solitário, — Clarisse brincava com minha derrota — onde irá?

— Ãh? — minha concentração era inexistente naquele momento.

— A noite é um grande mar. Se precisar, tens a minha mão para ajudar a nadar. — ela levantava-se, parecendo se aprontar para partir.

— Obrigado, mas esta noite eu gostaria de morrer. — eu dizia ainda sentado, olhando-a debaixo, enquanto ela ria — Mesmo assim, são palavras lindas as suas.

— Li num livro, uso sempre.

— Você é uma garotinha muito esperta.

— Eu sei disso, todos sempre falam.

— Ótimo, pois é verdade.

Ela me olhou com doçura, suspirou profundamente e então me abraçou. Eu, sem reação, demorei para abraçá-la igualmente, tendo de me contorcer um pouco por estar sentado. 

— Vou indo, Tom. Meu avô deve estar voltando agora. — ela começou a tirar o paletó, com a intenção de me devolver.

— Não, não! É seu! — eu me levantava, recolocando-o em seus braços magros — É um presente.

— Obrigada. — ela me abraçou forte — Espero te rever um dia, Tom. 

— Também, Clarisse.

Ela se afastou, olhando para trás após alguns passos ligeiros.

— E não se preocupe! Vai conseguir amar novamente! — ela exclamava sorridente.

Eu apenas abanava, despedindo-me daquele serzinho tão doce. Eu também espero conseguir amar novamente, Clarisse, realmente espero.


Notas Finais


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