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História Rainha Clara - Capítulo 4 - Até pelo menos eu chegar em casa...


Escrita por: talavitz_

Capítulo 5 - Capítulo 4 - Até pelo menos eu chegar em casa...


Fanfic / Fanfiction Rainha Clara - Capítulo 4 - Até pelo menos eu chegar em casa...

Sabe quando você tem a sensação de que nada pode piorar? Que você está em um sonho e só o que resta é abrir os olhos e ver que tudo o que acontecera não passou de um terrível pesadelo? Tentei de todas as maneiras forçar minhas pálpebras a despertarem, mas sem êxito já que não era de fato um sonho.

Por um momento permaneci em silêncio absorvendo o que havia acontecido. Fred estava com uma expressão que eu nunca vira antes, terror! Seus olhos percorriam a vegetação a nossa volta a procura de algum caminho, mas tudo que havia eram árvores e mais árvores. A trilha pela qual havíamos corrido, agora parecia ter se misturado com a paisagem local e havia, ao menos, outras sete trilhas iguais.

Não conseguia mexer os lábios para dizer qualquer palavra. Pensei em aproximar-me dele, dar-lhe um abraço, dizer que acharíamos uma saída, mas tudo que consegui fazer foi cair de joelhos embaixo da árvore e fitar o chão.

O silêncio era cortado por nossa respiração, o som de corujas e alguns animais ao longe. Por um momento, imaginei que ficaríamos ali para sempre, mas o motivo de estarmos ali trouxe-me inesperadamente para a realidade com um som estrondoso vindo de meu estômago. Tentei abafar o som com meus braços, mas Fred o ouviu antes mesmo que eu tentasse.

- Ainda estou com fome! - Disse quebrando o silêncio, e ele apenas me fitou enraivecido. - Será que você não aprende? Você é uma patricinha mimada que só faz o que quer e agora estamos perdidos por sua causa, não sei como cai nessa! - Sentia lágrimas brotarem em meus olhos.

Fred nunca fora grosseiro comigo, mas naquele dia ele estava queimando de raiva por ter me posto em perigo. Nós dois sabíamos que a culpa era totalmente minha, mas quem estava de fora não, principalmente papai. Meu estômago revirava-se só de pensar no que papai faria com Fred se descobrisse. Por fim apenas suspirei e sussurrei - Desculpa.

Ele ignorando totalmente minhas palavras, em passos largos caminhou por entre as árvores. - O que você vai fazer? - Gritei ao perceber ele afastando-se. Sem olhar para trás, o mesmo responde com um toque de irá em suas palavras - Procurar comida. Estou com fome também! - Para evitar mais desconforto nas duas partes, decidi apenas consentir com sua decisão e segui-lo em busca de alimento.

A noite esfriava mais a cada passo, provavelmente estávamos indo a parte mais densa da floresta. Os poucos espaços descobertos pela copa das árvores mostravam o ápice da noite. O sereno caia sobre nossas cabeças diminuindo a temperatura mais ainda.

Fred caminhava em silêncio mais a frente e seus passos eram firmes, a cada minuto, começava a achar que ele jamais perdoaria-me. Mesmo sabendo que nossa amizade era forte, tinha uma noção do quanto ele estava chateado comigo e o quanto estava preocupado com o que aconteceria se papai descobrisse.

Após alguns metros, avistamos um abacateiro crivado de frutas. Fred suspirou aliviado e eu respirei fundo, nunca havia comido abacate, mas na fome comeria qualquer coisa.

O abacateiro era alto e íngreme, parecia impossível escalar o mesmo sem acabar com alguma fratura ou lesão grave, entretanto antes mesmo que eu pronunciasse qualquer coisa, Fred já começava a escalar rapidamente.

As pernas de Fred eram ágeis e fortes, com isso ele tinha mais facilidade para escalar, porém o cansaço ainda o prejudicava. Meu coração acelerado, palpitava mais forte a cada centímetro que ele subia, temia que ele acabasse caindo, ou algo pior. Contudo após alguns esforços, ele desceu segurando alguns abacates e um sorriso satisfeito estampava seu rosto.

Sentamos nas folhas que cercavam a grande árvore e nos deliciamos com o abacate. O gosto não era nada como eu havia imaginado, mas era gostoso apesar de tudo. A raiva de Fred aparentava ter esvaindo-se junto com sua fome e ele sorrio animado após terminar sua refeição.

- Desculpa por isso, eu fui imatura e jamais imaginei que isto acabaria assim... - sussurrei assim que terminei o abacate e olhei para o mesmo que fitava o horizonte sem esperanças. - Sua atitude de fato não foi nada esperta e muito menos consciente, mas nós vamos sair dessa, pode ter certeza disso! - ele respondeu sorrindo e levantou esticando a mão para ajudar-me.

Assim que a fome, por hora, não incomodava mais, decidimos seguir viagem. Precisávamos achar algum lugar para dormir ou simplesmente um lugar seguro para passar o resto da noite. A cada minuto a floresta ficava ainda mais perigosa e nossos corpos não aguentariam por muito tempo.

Caminhamos por algumas horas atrás de abrigo e depois de quase desistir devido à exaustão, Fred avistou uma pequena gruta. Suas paredes de pedra eram fortes o suficiente para nos proteger do frio intenso que agora chegava a quase 5°C e dos animais selvagens noturnos que se esgueiravam pelas árvores atrás de comida.

Adentramos a gruta juntos. Apesar de ser estreita, a gruta era incrivelmente grande vista por dentro, as paredes eram altas e gélidas, mas conforme a profundida ia chegando o frio diminuía gradativamente. Com dificuldade devido à escuridão, encontramos um cantinho no fundo da gruta e escoramos na parede sentindo nossos corpos clamarem por descanso.

Fred passou seu braço por cima de meus ombros e puxou-me para perto de si. Senti o medo dele, ele suava frio e saber que a culpa era minha, deixava-me ainda pior. A gruta apesar de quente, ainda era fria o suficiente para fazer cada músculo de meu corpo tremer. Fred abraçou-me forte sentindo o quanto minha pele estava gelada e meus dentes batiam sem parar.

- Não espero que me perdoe e muito menos que volte a falar comigo depois disso, mas obrigado por tudo que tem feito por mim... - falei baixinho em seu ouvido assim que deitei a cabeça em seu ombro e sorri por fim. Com tudo que havia acontecido, ainda sim, estava feliz por ter Fred comigo, ele sem dúvidas era a pessoa que eu confiaria minha vida de olhos fechados.

- Clarinha, eu jamais poderia ficar bravo com você, eu te amo! E tenho que confessar que depois do seu pai, você é a pessoa mais divertida que eu pude me perder na floresta. - Ele rio um pouco com suas palavras e minha mente ficou confusa - Meu pai?

- Faz sentido ele nunca ter te contado essa história, mas bem, seu pai sempre me considerou um filho para ele, e meu pai e ele eram melhores amigos. Assim que meu pai morreu, Kim acabou sentindo-se ainda mais responsável por mim... Um pouco antes de você nascer, Kim convidou-me para acampar com ele aqui na floresta. Queria me ensinar alguns truques de caça e coleta, porém acabamos nos perdendo nas trilhas e por fim, entrando em um dos esconderijos anti-monarquistas.

Meu rosto estava pálido com suas palavras, então papai costumava ir à floresta antes de eu nascer! Fred continuou a história trazendo-me de volta a realidade: - Aquele foi um dos piores dias de minha vida, mas também um dos melhores! Kim teve uma faca cravada em seu abdômen para que não estivesse no meu, ele salvou a nós dois. Provavelmente esta experiência deve ser dolorosa para ele até hoje, por isso não permite que você venha aqui!

Suspirei ao final de sua história. Ele tinha razão, papai havia sofrido nas mãos dos anti-monarquistas, não gostaria que sua filha sofresse a mesma coisa que ele. Lembrei-me da cicatriz que papai tinha na barriga, nunca perguntara para ele o que havia acontecido, mas agora todas as peças encaixavam-se perfeitamente.

- Sinto muito Fred... - O observei ainda deitada sobre seus ombros e ele sorriu por fim encostando sua cabeça na minha e aninhando-me a seus braços com mais conforto. Meus olhos pesados não demoraram a levar-me diretamente ao mundo dos sonhos.

Sonhei que estava de volta a clareira. Camila caminhava preocupada de um lado a outro e seus soluços poderiam ser ouvidos a alguns quilômetros. Ela tentava de todo o jeito procurar respostas em seu celular, mas aparentemente o mesmo estava sem sinal.

Tentei gritar seu nome, mas nada saía de minha garganta. Meu corpo imóvel não fazia qualquer movimento e um sentimento de desespero preencheu meu peito e mostrou-me o que eu mais temia. Ao observar meu corpo, notei que o mesmo estava coberto por cordas e minha boca calada por uma fita. Algumas pessoas andavam em volta de mim carregando facas e tochas e seus rostos estavam cobertos por faixas que deixavam apenas seus olhos a mostra.

Procurei Fred por entre as pessoas que aumentavam de número a cada segundo, mas nenhum delas parecia ser meu amigo. Tentei soltar meus braços novamente para que tivesse alguma chance de sair daquele local, mas quanto mais força aplicava, mais meu corpo clamava por descanso.

Quando já me sentia esgotada e frustrada, avistei a imagem que mais temia a minha frente e minha respiração tonou-se pesada. Fred estava deitado com os olhos fechados e seu corpo parecia ter sido rasgado por ao menos oito tigres famintos. Com os olhos lacrimejando devido a dor de ver Fred daquele jeito, desperto-me ofegante de meu sonho.

Acordo com o Sol cegando meus olhos, a gruta antes escura agora estava coberta com a luz quente do dia. Fred não estava lá, o que me desespera por alguns segundos, até vê-lo chegando com um peixe e um pouco de água em um copo de folhas improvisado.

Gotas de suor percorriam meu rosto e eu parecia ter corrido uma maratona de ao menos 50 km, mas ao ver Fred são e salvo em minha frente, a calma me faz relaxar novamente. Ele senta ao meu lado e entrega-me a refeição sorrindo. - Sei que não é um banquete digno de uma princesa, mas espero que goste! O sorriso de Fred era tão acolhedor que era impossível não sorrir de volta. - Está tudo perfeito! Obrigada.

Após a refeição improvisada, decidimos seguir viagem. A floresta agora brilhava com a luz que passava entre as copas das árvores, e os animais pareciam ter ido dormir. De acordo com o sol, deveria ser por volta de umas 10h, então escolhemos uma das cinco trilhas a nossa frente e seguimos a direção de nossa intuição.

A trilha escolhida era aparentemente a mais sombria, com árvores densas e flores exóticas por todos os lados. Provavelmente ninguém frequentava ela a algum tempo, o que nos deixou mais apreensivos ainda. As folhas que cobriam 90% do solo estavam amarelas de tão velhas, o que indicava que havíamos escolhido o caminho errado.

Após algum tempo caminhando, decidimos voltar até a gruta, claros de que aquela trilha nos levaria a algo inexplorado e perigoso. Porém antes mesmo que pudéssemos virar nossos corpos na direção contrária, ouvi uma voz vinda de trás de uma das árvores. - Parados aí!

Levantamos as mãos de imediato e observamos rapidamente a nossa volta em busca da dona daquela voz. Em poucos segundos uma menina saltou de entre as árvores em nossa direção, ela tinha por volta de uns 14 anos e sua pele era morena e o cabelo era grande e cacheado parecido com o de Laura. No momento em que ela fitou-nos pude ver seu rosto e seus olhos escuros. Era Maria!

Maria era uma menina que eu havia conhecido na casa de Laura em uma das vezes que fora lá. Brincamos juntas algumas vezes, mas nunca fomos de fato amigas, ela costumava dizer a Laura que eu não era boa o suficiente para ser sua amiga, eu odiava aquela menina e o sentimento era claramente recíproco.

- Maria? O que está fazendo aqui? - perguntei surpresa e ela pareceu sentir a mesma coisa ao me ver. - Clara? O que está fazendo aqui? Não sabe o quanto você corre perigo por chegar perto dessa área... - Sua tensão parecia aumentar a cada palavra dita e ao longe se ouvia murmúrios e passos aproximando-se.

- Escondam-se! - ela gritou antes mesmo que pudesse responder a mesma. Fred e eu pulamos rapidamente para trás de uma arvore e em seguida dois homens apareceram ao lado de Maria. Um deles era alto e forte e sua pele era tão branca quanto a minha, ele tinha por volta de 20 anos e o outro parecia ser um pouco mais velho e sua pele era bronzeada. Não conseguia ver o rosto deles, mas eles pareciam ser amigos de Maria.

- Você a achou? - o mais velho indagou a Maria que negou um pouco nervosa. - Procurei por todas as trilhas ao sul e nenhum sinal deles! - a voz de Maria parecia vacilar um pouco. - Bom, nós iremos continuar ao norte... Se achar, grite! - o mais novo disse por fim e caminhou ao lado do outro em direção contrária a que vieram.

Maria esperou alguns minutos até os passos dos homens se afastarem o suficiente e correu em nossa direção. - Vocês têm de sair daqui rápido, não vai demorar até que outra rota passe por aqui! - Maria olhava para todos os lados apreensiva.

- Mas nós não sabemos para onde ir, estamos perdidos... - Fred suspirou fitando Maria e a mesma pareceu entrar em um colapso nervoso. - Vou levar vocês até a entrada da floresta, mas tem que me prometer que irão esquecer tudo o que aconteceu aqui... - assim que ouvi as palavras dela, lembrei-me de imediato de Camila. - Mas nossa amiga está esperando por nós, Camila deve estar desesperada neste momento.

Maria fez algo que me surpreendeu, ela riu. - Camila Brumet? Não se preocupe, ela esta segura, levarei vocês até ela. - Torci o nariz com sua frase. De onde Maria conhecia Camila? Por que Maria estava nos ajudando afinal de contas? Quem eram aqueles dois amigos dela? Decidi me preocupar com isso depois e apenas assenti.

Fred e eu seguimos Maria por entre as árvores. Ela parecia conhecer aquele lugar como a palma de suas mãos, o que me fez sentir-me segura, mesmo não confiando nem um pouco nela. Enquanto caminhávamos, observei a bota de Maria, havia uma grande listra vermelha nela, assim como nas bandeiras anti-monarquistas que víamos em alguns protestos.

Pensar na possibilidade de Maria ser uma anti-monarquista me assustava de diversas maneiras e fazia-me questionar que outras pessoas próximas a mim também eram. O ódio que ela sentia por mim era o suficiente para fazê-la ser, mas porque ela havia nos ajudado então? Perdi-me em meus pensamentos até avistar Camila ao longe escorada no carro de Fred.

Camila ao me ver, corre em minha direção e abraça-me com todo o seu amor e preocupação - Ai meu Deus, onde você estava minha princesa? - sinto em suas palavras que a mesma segura à emoção ao nos ver.

- Desculpe! A culpa foi toda minha. Juro que o Fred não tem nada a ver com isso... - Ele esboça um pequeno sorriso por trás de Camila e ela volta à atenção para o mesmo e o abraça deixando as lágrimas escorrerem por fim.

- Meu amor, não se preocupe com isso agora, o que importa é que vocês estão aqui e estão a salvo, estava quase mandando os bombeiros atrás de vocês! - consigo rir um pouco com as palavras de Camila e abraço eles novamente sentindo uma enorme alegria por estarmos juntos finalmente.

Esquecemos por alguns minutos da presença de Maria e ela nos interrompe - Vocês devem ir agora, antes que alguém venha até este lado da floresta, cada minuto aqui corresponde a um maior risco para Clara... - Maria olha para Camila como se ela fosse uma antiga amiga sua e se afasta em direção as árvores.

- Tem razão - Camila diz se afastando - Temos que voltar logo para a casa, obrigado Mari... - Vejo Maria esboçar um pequeno sorriso e sumir em direção a floresta. Decido não fazer mais perguntas e entro no banco traseiro do carro antes mesmo que Fred abra-o para mim e aperto o cinto.

- Bom então vamos lá. - Fred diz já no banco do motorista e Camila sorri ao lado dele. Queria não pensar em tudo que havia acontecido naquele pequeno espaço de tempo, mas era inevitável, então apenas coloquei os fones de ouvido e deixei a música me levar para qualquer lugar longe dali, até pelo menos eu chegar em casa...



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