Me sinto tão perto de você agora
É um campo de força
- Feel So Close, Calvin Harris
S/N
Seul, Coréia do Sul
– Você vai precisar ficar atenta em como ela lida com as situações. S/n é uma garota objetiva e detalhista. Ela não costuma falar muito com pessoas que acabou de conhecer, então não se assuste se ela parecer desconfiada. Você precisa ganhar a confiança dela. – ouvi a voz de Dong Yul e parei no corredor, ouvindo. Espiei pelo vidro da porta do escritório dele e estranhei a presença de uma garota. – O mesmo se aplica em Sunhee. Eu as admiro muito e tenho sorte de tê-las na minha equipe. Veja as duas como referências para você. Alguma pergunta?
Juntei minhas sobrancelhas e voltei à caminhar até a minha sala, segurando a xícara de chá para enjoo que a senhora Kim havia preparado. Eu estava prestes a cair dura de raiva e preocupação. Bati a porta com força e Sunhee me olhou apavorada.
– Você quer quebrar a porta? – larga a caneta. Revirei os olhos e larguei a xícara em cima da mesa dela, cruzando meus braços e pensando em todas as possibilidades. – O que foi? Por que essa cara de quem está prestes a cometer um assassinato?
– Quem é aquela garota que está na sala do Dong Yul e por que raios ele está falando sobre como eu trabalho para ela? – questiono. Imediatamente um pensamento veio a minha mente e eu arregalei meus olhos, levando uma das mãos até a boca. – Eu vou ser demitida, meu Deus!
– Não seja idiota, S/n. Aquela é Nayeon. Ela é a estagiária que vai te substituir quando você sair de licença a maternidade. – Sunhee suspirou e colocou a mão na cabeça. – Dong Yul e eu estamos preocupados com a sua ausência na empresa. Você e eu nos entendemos perfeitamente e é por isso que as coisas fluem tão bem. Nós conversamos e chegamos a conclusão de que seria bom que alguém acompanhasse você desde agora, para estar preparado quando precisarmos. – junto minhas sobrancelhas. Eu não tinha pensado ainda nesse assunto e foi uma sensação estranha. – Eu mesma a entrevistei.
– Merda. Eu nem tinha parado para pensar nisso. – me sento na cadeira a frente de Sun. – Ela vai me seguir o tempo inteiro? – torço os lábios e ela assente rindo.
– Parece ser uma boa garota. Gostei do currículo e fiz questão de frisar que ela não está aqui passeando. Aigoo! Eu nem quero pensar em como vou trabalhar com outra pessoa.
X
De fato Nayeon era uma garota com um currículo interessante. Ela havia passado o dia atrás de mim como uma sombra, fazendo anotações em um tablet e atendendo alguns dos meus pedidos pessoais - isso incluía um ice americano no meio do expediente, porque eu estava com desejo -. Ela parecia ter bastante vontade de aprender e se mostrava feliz pela oportunidade que estava recebendo, e para mim isso era um bom começo. Eu não estava acostumada a ter alguém para fazer as coisas para mim e no começo isso me deixou estressada. Eu detestava me sentir observada e o dia acabou sendo mais cansativo do que o normal, me deixando com uma dor de cabeça dos infernos e meu corpo com uma sensação de peso.
Eu não queria pensar em como seria ficar fora da empresa, mas isso seria uma realidade daqui quatro meses. A preocupação de Sunhee era mais do que necessária e eu sabia disso, mas estava triste. Seria duro me afastar do trabalho, porém inevitável.
Levei minhas mãos até a cabeça e ajeitei o bucket que Jungkook havia me dado, enquanto me olhava nos espelhos do elevador do Trimage. Meu semblante entregava o quão sem energias eu estava.
Quando entrei no apartamento, imediatamente senti o perfume de Jungkook, apesar de não encontra-lo. A essa altura era impossível não reconhecer o cheiro dele.
Tirei meus sapatos e o casaco de frio, indo direto para o banheiro. Tomei um banho quente e demorado, deixando cada parte do meu corpo relaxar. Minha barriga estava bastante redonda e eu fiquei a observando por um bom tempo, enquanto tocava levemente com os dedos para estimular o bebê a se mexer. Vez ou outro ele respondia e eu ficava sorrindo boba. Quando sai, vesti meu pijama e sequei o cabelo.
– Ei, você chegou. – Jungkook aparece no batente da porta, chamando minha atenção. Me virei para ele e forcei um sorriso. – Aconteceu alguma coisa? Nossa… o cheiro do secador. Você deve ter fritado todos os neurônios.
– Eu só estou cansada. – respondo baixo, cobrindo minhas pernas com o cobertor. Ele continuou me olhando preocupado. – O dia na empresa foi mais estressante, só isso. Minhas energias foram zeradas.
– Quer conversar sobre isso? – ele se aproxima. Assenti e fiz sinal para que ele sentasse na cama.
– Passei o dia inteiro acompanhada pela estagiária que vai me substituir quando eu precisar me afastar do trabalho. – explico. Jungkook assentiu e torceu os lábios, como se não entendesse a minha aflição. – Jungkook, eu sou uma pessoa orgulhosa e controladora. Ter que bancar a professora de uma garota que nem terminou o ensino médio e saber que ela vai assumir o meu lugar fere o meu ego de uma maneira absurda. Eu poderia muito bem conciliar a maternidade com o trabalho.
– A questão não é você conseguir conciliar, porque eu sei muito bem que você consegue. Você tem que pensar na sua saúde agora. Você está grávida, lembra? – brinca apontando para a minha barriga.
– Meu maior medo é ficar presa dentro de casa o dia inteiro apenas amamentando e trocando fraldas. – desabafo. Eu havia pensado o dia inteiro nessas coisas. – Jungkook, eu me conheço e sei que se isso acontecer, eu vou culpar esse bebê.
– Não, não fala isso. – diz me olhando nos olhos e tocando minha mão. – Você vai ser uma mãe incrível para o nosso filho. Vem cá.
Jungkook me puxou para perto do corpo dele e beijou o topo da minha cabeça, falando sobre o meu shampoo com aroma de morango. Deixei uma risada fraca sair por entre as lágrimas, enquanto sentia as mãos dele acariciando minhas costas.
Era inexplicavelmente bom tê-lo tão perto de mim. O cheiro, o toque, o carinho…
– O que foi? Por que está chorando? – levanta meu rosto delicadamente com a mão. – Ei, está tudo bem.
– Tem tantas coisas passando pela minha cabeça agora. Você ouviu as coisas que eu disse? Que tipo de mãe coloca o trabalho acima do próprio filho?
– Ei, está tudo bem. Eu vou estar sempre com vocês, independente do que acontecer. – a voz dele soou pesada e cheia de preocupação. Levantei minha cabeça, o olhando.
– Por que você está falando isso? – pergunto nervosa. Eu não queria ver Jungkook em uma saia justa. Ele estava sendo inexplicavelmente compreensivo comigo e a última coisa que eu queria era prejudicar ele. – Alguém descobriu?
– Sejin descobriu. Quer dizer, ele sempre soube. – fala forçando um sorriso. Eu já tinha convivido com ele o suficiente para saber que não era genuíno. – Você e esse bebê não tem culpa de nada, nem adianta me olhar assim. Eu estou cansado de tudo isso e se mais alguém descobrir…
– Jungkook, você não vai largar o BTS. Por favor, não me faça sentir ainda pior.
– Eu não vou largar. – garante. – A não ser que tentem interferir na minha relação com você e esse garotinho. – deixei uma risada abafada escapar enquanto ele tocou levemente a minha barriga. – Ninguém me avisou que seria assim, mas eu quis isso mais do que qualquer coisa. É muito frustrante. – a voz dele saiu fraca. Voltei a pousar minha cabeça entre o ombro e o pescoço de Jungkook, enquanto ele encara a televisão desligada. – Ano passado foi pior. Muitas vezes pensei que seria meu ultimo ano e quando não pensava isso, tinha a sensação que podia ser o de algum dos meus hyungs.
– Você se arrepende de alguma coisa?
– Não. Mas os meus pensamentos em relação a tudo isso mudaram muito. – fala calmo. – Eu passava noites em claro, com medo de que tudo acabe e as pessoas se esqueçam de mim. – desabafa deixando um pequeno sorriso escapar, como se o que ele estivesse dizendo fosse besteira. E talvez fosse. Eles não seriam esquecidos de uma hora para a outra. – E agora, eu não tenho medo de que tudo acabe. Se tiver que acontecer, tudo bem. – ele me olha. – Você acha que eu sou louco?
– É claro que não.
Eu agora tinha convicção de que a vida de Jungkook não era um conto de fadas capitalista regado a álcool e sessões de orgia pelo mundo, como eu imaginava. Eu me sentia até mesmo ignorante por te-lo julgado dessa forma no início. A vida dele também era difícil. De um jeito diferente, mas era. Eu não conseguia nem imaginar o peso e a preocupação que ele carregava nas costas. Assim como também não conseguia imaginar perder completamente a minha liberdade. Parecia algo horrível.
Sai dos meus pensamentos com ele acariciando meus cabelos e suspirando.
– Bom… já está tarde e você precisa descansar. – diz fazendo eu levantar minha cabeça. – Boa noite, S/n.
Observei ele se levantar e passar a mão entre os fios do cabelo, tentando tira-los dos olhos.
Por um momento eu fui completamente invadida pela vontade de ter Jungkook junto comigo, agindo do jeito que ele costumava agir apenas para me deixar sem jeito. E ele sabia que conseguia.
Eu fui invadida pela vontade de ficar apenas ouvindo o som da voz, enquanto observava cada pedacinho do rosto dele. Sem me importar com mais nada.
E pela primeira vez, eu tive vontade de formar uma família com Jungkook.
– Jungkook?! – o grito. Ele apareceu na porta vestindo apenas seu short de dormir e me olhando curioso.
– O que foi?
– Você pode dormir comigo hoje?
Ele pareceu surpreso, mas não foi relutante. Apenas assentiu e sorriu. Um sorriso compreensivo e terno, cheio de carinho e vazio de malicia.
– Vou apagar a luz.
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