Esse mundo pode te machucar
Te cortar profundamente e deixar uma
cicatriz
As coisas desmoronam, mas nada quebra
como um coração
E nada quebra como um coração
[…]
Nós temos a noite inteira para nos
apaixonarmos
Mas, em um estalar de dedos
desmoronamos
- Nothing Breaks Like a Heart, Miley Cyrus feat. Mike Ronson
S/N
Seul, Coréia do Sul
Na manhã seguinte a nossa discussão, tanto eu quanto Jungkook estávamos como dois barcos à deriva. Eu me sentia horrível e tinha certeza de que ele se sentia da mesma maneira. Era como se estivéssemos tão frágeis a ponto de ferir um ao outro apenas em estar dividindo o mesmo ambiente.
O único momento em que trocamos algumas palavras foi quando ele teve a iniciativa de vir até o meu quarto para perguntar sobre a saúde do bebê e tentar entender os motivos da minha ida repentina até o hospital. Jungkook disse que o que mais o deixava sem chão em toda essa situação, era a maneira como havíamos deixado a raiva sugar nossas razões e colocar o mais importante naquele momento em segundo plano. Nosso filho.
Naquele momento eu chorei e disse que sentia muito. Eu sabia que ele estava certo e me sentia profundamente culpada. Jungkook me olhou com os olhos marejados e apenas concordou, dizendo que também sentia. A voz dele estava fraca e a expressão facial denunciava o cansaço como consequência da noite mal dormida.
Eu dormi por aproximadamente uma hora e imaginei que Jungkook tivesse feito o mesmo. Mas foi quando eu decidi ir até o apartamento de Sun e Bong Hye, que eu percebi que a Mercedes não estava estacionada na garagem e que ele havia saído.
Jungkook já havia me dado a chave do Hyundai para que eu não precisasse mais usar o transporte público. Ele costumava dizer que o carro ficava apenas na garagem e que eu estaria fazendo um favor a ele se o colocasse para andar, além de argumentar que também não se sentia bem em saber que eu precisava andar ao menos duas quadras para pegar o ônibus. Eu ainda não havia tomado coragem para dirigir o carro, porém faria isso hoje.
X
Quando coloquei meu pés no apartamento dos meus amigos, eu desabei. Eu sabia da importância de zelar pelas amizades tanto quanto pelos relacionamentos amorosos. E se não fosse por eles, eu não teria para quem correr.
Eu contei sobre os meus dias na Califórnia e mostrei algumas fotos que havia tirado com os meus amigos e familiares. Bong Hye contou sobre todo o envolvimento que eles e os garotos haviam tido no quarto do bebê e sobre como Sunhee e Jungkook eram chatos e perfeccionistas. Eu tomei coragem para falar sobre a briga da noite anterior e os dois tentaram não entrar a fundo no assunto. Eu entendia como era difícil para Hye estar entre mim e Jungkook, e nunca seria egoísta a ponto de pedir que ele escolhesse um lado.
Mas foi quando eu contei sobre o hospital, que eles não conseguiram apenas fechar os olhos para os meus erros da noite anterior, que haviam sido tantos.
– Você precisa precisa para de ser tão orgulhosa. Nós somos seus amigos, poxa. – ela me olha indignada. – S/n, nós ficamos tão preocupados. Você deveria ter avisado!
– Eu sei. Se eu tivesse avisado teria evitado toda aquela merda. – suspiro, me lembrando da noite anterior. – Tudo o que aconteceu ontem foi horrível. A forma como Jungkook tratou Jihoon… cacete, eu fiquei com tanta raiva.
– Ei, me escuta. – Sun pede, segurando minha mão. – Eu não queria falar sobre isso, mas sinto que você precisa. Eu entendo que vocês estavam nervosos ontem e que Jungkook foi injusto com Jihoon. Mas não é certo culpar ele por tudo. Ele estava preocupado com você, assim como todos nós também estávamos.
– Sun tem razão. Eu gosto de Jihoon e entendo que você se sinta bem com ele. Mas S/n, ele não é o pai do seu filho. Jungkook é. – Hye me olha receoso, como se doesse falar aquilo. – Não é porque ele se mostrou uma pessoa forte antes, que vai ficar aguentando levar porrada de todos os lados. As coisas foram tão difíceis na turnê.
J U N G K O O K
Seul, Coreia do Sul
– Você não acha que exagerou? – Hobi hyung me olha curioso. Estreitei meus olhos e neguei. Era óbvio que eu não tinha exagerado. – Jungkook?
– É claro que não! Eu estava nervoso, quase morrendo de preocupação e de repente ela aparece de carro com Jihoon. Aigoo! eu queria socar o rosto dele. – me levanto bravo. Jimin riu, trocando um olhar cúmplice com Hobi. – Estou me sentindo um palhaço até agora.
– Você vai conversar com ela? – Jimin questiona.
– Não acho que ela queira falar comigo. E pra falar a verdade, eu também não sei se quero falar com ela. Falamos coisas ruins um para o outro. – explico, me sentando. – Talvez ela nem queira mais ficar no apartamento.
– Ela não teria coragem.
– Teria, Jimin. S/n teve coragem de vir para o outro lado do mundo sozinha. Ficar longe de mim é fácil. – falei, pensando na possibilidade. Por mais que eu não quisesse ficar me torturando, precisaria pensar no que faria caso isso acontecesse. Ficar longe do meu filho não era uma opção. – Bom... alguém falou com Yoongi? Ele foi o único que não deu notícias ainda.
– Ele estava visitando algumas escolas de música hoje mais cedo, para fazer doações. Vocês viram as fotos do Nam? – Hobi hyung vira o celular para nós, mostrando a foto de Namjoon na torre de pizza. – Ele deve estar aproveitando tanto. Não parava de falar nessa viagem.
Taehyung estava aproveitando a nossa semana de descanso com os pais e os irmãos. Jin também aproveitou esse tempo para visitar a família dele. Eu faria isso amanhã e isso não poderia vir em hora melhor. Eu realmente precisava dos meus pais.
– Se nós acabamos a sua sessão de terapia por hoje, eu vou indo. – Hoseok brinca, se levantando e tocando os bolsos. – Vou jantar com a minha irmã e se me atrasar ela arranca os meus cabelos. E você deveria tentar resolver sua vida, pelo menos antes de ir para Busan.
– Vou cuidar disso. Obrigado hyung. – largo a garrafa de cerveja na mesinha de centro. Hoseok bateu nas minhas costas e nós fomos em direção a porta.
– Jungkook... – Jimin me chama, antes de sair. O olhei atento. – Vá visitar a sua família, encontrar os seus amigos e se distrair. Eu não quero ver você se culpando como das outras vezes. As coisas vão se ajeitar naturalmente. Você não precisa ficar se cobrando, ok?
S/N
Seul, Coréia do Sul
[ Dois dias depois ]
Jungkook havia viajado no início da tarde de ontem para Busan, e por mais que eu tentasse me convencer do contrário, eu estava sentindo falta dele. Ele havia me convidado para ir, mas depois de todos os desentendimentos que nós havíamos tido, eu entendia que o certo era cada um ter um tempo sozinho para refletir e aliviar a tensão dos próprios pensamentos. Ele estaria muito melhor apenas na companhia da família e dos amigos.
Nós trocamos algumas mensagens, avisando um ao outro que estávamos bem. Isso estava me deixando com o coração apertado, porém eu ainda estava magoada demais para pedir desculpas ou tentar entender o lado dele.
Eu, Sun, Bong Hye e Jihoon aproveitamos a noite agradável e estávamos jantando em um bar de Hongdae.
– Como estão as coisas na empresa? – encaro Sun, que bufou e largou o shot de soju. – Nada bem, pelo jeito.
– Por favor, não faça essa pergunta. – Bong Hye leva as mãos até a testa, tentando parecer desesperado. – Conheci a versão mais estressada dela nesses últimos dias por causa de Hyuna. E ainda levei a culpa por coisas que ela acaba criando na própria cabeça.
– Ninguém pediu a sua opinião. – ela ri tapando a boca dele, e voltando a atenção para mim. – De uma maneira geral, tudo perfeitamente bem. Mas para mim, uma bagunça. Eu não pensei que fosse sentir tanto a sua falta. Nayeon é competente e um doce de pessoa, mas não é você. Eu devo ter enchido a minha cara pelo menos umas três vezes só essa semana.
– É mesmo? E onde está a Sunhee que me criticava por aliviar o estresse do trabalho bebendo? – a provoquei rindo. Ela costumava me dar sermões inacabáveis quando eu fazia isso. – Mas eu fico feliz que ela esteja dando conta do recado. Eu estava torcendo muito. – sorrio boba. – Mas o que aconteceu com Hyuna?
– Eu simplesmente não suporto ela. – dá de ombros, levando os olhos até Jihoon. – Garoto, você vai acabar engolindo esse celular se continuar assim.
– Eu preciso...
De repente o celular de Bong Hye começou a vibrar desesperadamente, com várias notificações diferentes chegando e impedindo Jihoon de terminar a frase. Todos começamos a rir.
Hye nem se deu o trabalho de pegar o aparelho. Ele apenas levou as mãos ao rosto.
– Aigoo! As fãs do Bangtan provavelmente descobriram o meu número de telefone de novo. – suspira, sem olhar o celular. – Vai ser a terceira vez esse ano.
– Você deve ser figurinha marcada porque está sempre com eles. – Jihoon comenta e eu e Sun concordamos.
Bong Hye assentiu, finalmente pegando o celular. Quando ele desbloqueou e pareceu ler as mensagens, eu senti uma certa aflição tomar conta dele. Os olhos transcendiam o desespero interno e ele parecia preocupado.
– Aconteceu alguma coisa? – observei Sun perguntar baixinho.
– Trabalho. Eu preciso apenas fazer uma ligação. – fala se levantando e olhando para mim e Jihoon. – Eu já volto.
Pouco tempo depois de Bong Hye sair para a parte externa do restaurante, onde havia um espaço para fumantes com bancos e pinturas de artistas locais, o garçom terminou de colocar nossos pratos á mesa e nós o agradecemos.
– Aish! Antes de comer, eu preciso da opinião de vocês... – Jihoon larga o celular de frente para mim e Sun. – O que acham que ela quer dizer?
Era uma mensagem da ex namorada vulgo atual ficante dele.
– Acho que ela deve estar se perguntando qual é o seu problema. – Sunhee olha ele incrédula. Deixei uma risada escapar ao ver os olhos de Jihoon dobrando de tamanho. – Ela enviou essa mensagem pra você na semana passada, e você ainda não respondeu? Meu Deus!
Dei um leve tapa em Sun pelas costas para que ela calasse a boca. Jihoon era uma pessoa inteligente e bem resolvida, porém ainda era um homem. Ela não podia exigir muito dele.
– O que a Sun está querendo dizer, é que ela provavelmente deve estar estressada e se questionando o motivo da sua demora para responder. – falo calma. – Muitas coisas já devem ter passado pela cabeça dela.
– Vocês acham que... acham que ela quer mesmo voltar?
– A garota disse que queria reencontrar os seus pais. – Sunhee levanta as sobrancelhas. Peguei meus hashis pronta para comer. – Está na cara!
– Não necessariamente… – largos meus hashis. – Ela apenas…
– S/n! Eu preciso falar com você. – Bong Hye se aproxima da nossa mesa, visivelmente estressado.
Sun e Jihoon pareciam tão perdidos quanto eu, pois se olhavam confusos.
– O que aconteceu? – sinto a mão dele agarrar meu braço, me guiando até a rua.
– Olha isso. – me entrega o celular dele. Comecei rolar meus olhos pelas mensagens.
Hoseok | via kakaotalk
S/n está com Jungkook?
Bong Hye por Deus me responda!
Namjoon vai acabar caindo duro na Itália mesmo
Namjoon | via kakaotalk
Você viu? Já falou com Jungkook ou S/n?
Eu estou tentando ligar para ele
Mas até agora nada.
Jimin | via kakaotalk
Você já falou com o Jungkook?
Hitman deve estar cuspindo fogo
– O que tem tudo isso? Por que eles estão perguntando se eu estou com o Jungkook? – entrego o celular de volta para ele, confusa. – Ele está em Busan.
– Eu estava no telefone com Hitman e Sejin. Eles estão correndo para a Big Hit, querem que eu vá os encontrar e que leve você. – faço sinal para que ele continuasse. Não estava entendendo o que eu tinha a ver com tudo isso. – Parece que o twitter está um caos, eu ainda não abri pra olhar...
– Hye, o que tem no twitter? – pergunto impaciente. Ele respirou fundo e continuou.
– O assunto mais comentado no mundo inteiro, é a namorada do Jungkook
Ao ouvir as palavras saindo da boca dele, minha visão ficou turva e eu senti meu corpo fraco. Em questão de minutos eu vi o que eu mais zelava nas circunstâncias e no mundo de Jungkook indo por água abaixo: minha privacidade e a vida do meu filho. Ele nem havia nascido e provavelmente já era odiado por tantas pessoas.
Eu não conseguia entender como lidaria com isso. Eu nunca iria entender.
– Merda! – grito, levando as mãos ao rosto. – Vazaram alguma foto? Eles te disseram?
– Não. Eles apenas receberam uma ligação de Namjoon e estão indo para a Big Hit. – Hye me olha calmo. – Eu também não tive tempo de olhar e sinceramente, nem quero. – desabafa, passando as mãos no rosto. – Mas com certeza devem ser fotos de vocês dois juntos.
– Eu posso ver?
– S/n... eu acho melhor nós irmos direto para a empresa. Sejin já está tentando falar com Jungkook e você precisa ficar calma por causa do bebê. – ele argumenta. – Ver essa merda só vai te fazer mal.
– Bong Hye, por favor! Eu estou bem. – o olho firme. Hye me conhecia o suficiente para saber que eu não iria ceder e acabou me entregando o celular. – Obrigada.
– Ei! Por que estão demorando tanto? Nós ficamos preocupados. – Sun aparece, acompanhada de Jihoon. – Essas caras… eu odeio quando vocês estão com essas caras. É sempre algo ruim.
– O que aconteceu? – Jihoon se aproxima de mim, preocupado. Virei a tela do celular para eles, que se aproximaram e estreitaram os olhos para ler. – Ah não...
Eu estava fodida. Ou pelo menos era isso que eu esperava. Mas quando eu entrei na hashtag e vi do que se tratava, senti o mundo cair bem em cima da minha cabeça e meu coração apertar de uma maneira insuportável, como se tivesse acabado de ser quebrado em pedacinhos.
Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu ainda encarava as fotos de Jungkook abraçado a uma garota.
E ela não era eu.
Ele não havia feito isso comigo. Ele não podia fazer.
– Cacete… – a voz de Jihoon sai fraca, conforme os olhos dele também se encontraram com as fotos. – Calma, tudo bem? Lembra do seu bebê.
– O que vocês vão fazer? – ouço a voz de Sun afastada. – É questão de tempo até que alguém reconheça S/n aqui. Você sabe disso melhor do que eu.
– Nós precisamos ir para a empresa…
– Hye! – chamo por ele, o fazendo desviar a atenção de Sun para mim.
Minha cabeça parecia pesada e meu peito continuava doendo, como se facas fossem enfiadas nele. Eu queria que toda essa situação não passasse de um pesadelo e que eu acordasse ao lado de Jungkook. Mas ela realmente era um pesadelo. Porém um pesadelo muito real.
– O que foi? – ele intercala o olhar entre mim e Jihoon, que apenas balançou a cabeça em negativa. – Ei! Você está sentindo alguma coisa?
– Eu não sou a garota nas fotos.
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