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História Real Love - McLennon - Free As A Bird


Escrita por: cartneycheeks

Notas do Autor


então, gente, seguinte
this is uma one shot que idealizei há um bom tempo já e decidi colocar em prática pro aniversário do nosso queridíssimo johnny boy

se passa em paris, como já tá óbvio e retrata uma realidade que não é exatamente a que eu acredito que aconteceu, mas que gostei muito de imaginar

é diferente do que eu costumo escrever, mas adorei o resultado mesmo assim

acho que é isto, espero que vocês gostem tanto quanto eu, boa leitura ;)

Capítulo 1 - Free As A Bird


Segunda-feira, 9 de outubro de 1961.

 

— Bom dia - Paul disse se espreguiçando na estreita cama de solteiro que estava dividindo com John, o moreno sempre era o primeiro a acordar, enquanto o acobreado tentava ganhar mais alguns minutos de sono, resistente aos chamados. - Feliz aniversário, Johnny! - ergueu os braços, balançando as mãos no ar.

 

— Bom dia - a voz do mais velho saiu arrastada e cansada, seguida de um bocejo. - Boa noite.

 

— Trate de acordar - pediu sentando-se e tocando o braço do amigo. - Pare de ser idiota, John, é seu aniversário e estamos em Paris, você vai mesmo perder o dia nesse hotel?

 

John abriu os olhos e os piscou três vezes seguidas, suspirando e forçando um sorriso; ele gostaria muito de dormir pelas próximas horas, mas o que Paul pedia sorrindo que ele não faria chorando? Ou melhor, o que Paul pedia chorando, manhoso, que ele não faria sorrindo, feliz em agradar? Bem, a questão é que John faria tudo por Paul, especialmente onde e como estavam. Era aniversário de 21 anos de Lennon e por isso ele havia ganhado £100 de sua tia Mimi e chamado McCartney para a viagem à Paris. Cynthia Powell, a namorada de Lennon, também fora convidada, mas preferiu ficar em Liverpool terminando as atividades do último ano da faculdade. A ausência de Cynthia e de Dorothy Rhone, namorada de Paul, deixava os amigos livres para aproveitar a cidade-luz.

 

"Amigos"? Não... não é a melhor palavra para descrevê-los. "Amantes"? Sim, "amantes" talvez fosse a ideal. Há quatro anos, mais precisamente em 06 de julho de 1957, no momento em que o olhar âmbar de Lennon cruzou-se com o caramelo - que às vezes era esverdeado também - de McCartney, souberam que seria impossível manter uma relação de amizade. O desejo era mútuo e constante. Eram adolescentes com os hormônios à flor da pele. Mas o tempo passou e nada mudou. Aliás, mudou, sim. Nos primeiros anos, era tudo por prazer, tudo para sanar desejos e talvez fantasias. Mas os beijos escondidos no quarto de John e roubados em Hamburgo passaram a significar mais do que deveriam. O mais novo ainda via-se confuso com os sentimentos, mas sabia que não queria apenas a amizade de Lennon, que por sua vez já compreendia o que sentia.

 

John Lennon estava apaixonado por Paul McCartney, por isso havia o chamado para uma viagem à Paris, cidade-luz, cidade do amor. Ele tinha um plano e estava determinado a cumprir à risca o que tanto havia o atormentado nas noites anteriores. Não sabia se seria correspondido, pensava que levaria um "não", inclusive; mas queria tentar. Perguntava-se todos os dias enquanto tentava pegar no sono: "vale à pena?". Virava-se e pousava os olhos sobre Paul adormecido. "Sim, John, tudo vale à pena por ele", era o que sempre respondia a si. Então, tentaria. Tentaria dizer tudo o que sentia pelo rapaz que era seu melhor amigo.

 

— Bom dia, então, Paulie - abriu os olhos lentamente, tentando mantê-los nos do moreno. - Obrigado por estar comigo hoje - segurou a mão de McCartney, sorrindo sincero -, sabe o quanto é especial para mim, certo?

 

— Eu quem devo agradecer, você sabe, por me trazer com você - envergonhou-se, passando as mãos pelos próprios fios negros amassados pelo sono. - O que quer fazer hoje? É seu aniversário, você deve escolher. 

 

— Escolho dormir o dia todo - aconchegou-se com o pequeno cobertor cinza, percebendo que este tinha o aroma do perfume suave de Paul, que revirou os olhos. - Tudo bem, hm... - tentou pensar em algum lugar interessante - sei lá, Macca, por que apenas não andamos por aí e vamos a algum pub?

 

Já era o oitavo dia dos amigos na capital francesa, então já haviam ido a muitos pubs, talvez a quase todos daquela área. John já havia bebido até não parar mais em pé, deixando Paul acordado durante horas madrugada adentro, preocupado se ele se sentiria bem ao despertar. Divertiam-se enchendo a cara, comentando parisienses, recordando Liverpool e os amigos e, claro, aproveitando os momentos sozinhos.

 

— Certo, hoje o dia é seu, então não vou discutir - McCartney disse se levantando e dando a volta na cama, parando em frente à mesa de cabeceira e pegando seu relógio de pulso e o devolvendo em segundos. - Já passa das 01:00pm, vamos, acorde - balançou John, que ainda insistia na ideia de dormir, como se Paul fosse deixar.

 

Pode parecer bizarro, mas era um dos dias em que haviam acordado mais cedo. Passavam a madrugada em claro, bebendo, andando sem rumo pelos cantos de Paris, rindo do vento. Sem falar quando voltavam ao hotel - mais bêbados do que achavam estar, às vezes até mesmo chapados -, que era o momento em que realmente aproveitavam a viagem como John havia planejado desde o início. Mas, não, não era isso que John queria hoje; ele poderia recuperar uma noite de sexo com Paul. Hoje deveria ser diferente.

 

— Pensei que hoje o dia fosse meu e que não discutiria comigo - retrucou dizendo as palavras de Paul em um tom engraçado.

 

— Tudo bem, você fica então, vou aproveitar a viagem, é você quem está bancando mesmo - Paul disse ríspido, mas brincando, claro, não passaria o dia de John sem o próprio John.

 

— Certo, você venceu - entregou Lennon, sentando-se e coçando os olhos, mas não demorou para se render ao sono e deitar novamente, fazendo Paul rir.

 

— Preciso de um banho - comentou o mais novo, pegando calças jeans, uma camiseta branca e uma cueca da mesma cor, seguindo até o banheiro. - Acho bom estar bem acordado quando eu voltar.

 

Digamos que depois de ter visto a cueca de Paul e imaginado 1001 coisas, seria difícil sentir sono. Na verdade, cuecas de James Paul McCartney já não eram novidade nenhuma para John, que as via com uma certa frequência, principalmente jogadas em algum canto de seu quarto. Mas ele sempre gostava de relembrar o quanto Paul ficava fodidamente gostoso usando apenas aquela peça, principalmente quando se tocava, chamando pelo moreno, relembrando e imaginando as cenas mais eróticas nas quais conseguia pensar. Deus, era demais para John. Sentiu uma pontada de arrependimento por ter dito a si que aquela noite deveria ser usada para outra coisa que não fosse sexo, mas não queria voltar atrás, o jogo já estava iniciado.

 

O mais velho ficou apenas fitando o teto e tudo ao seu redor por alguns minutos, ouvindo a água do chuveiro ser derramada, repetindo aqueles pensamentos comuns de "hoje é meu aniversário" que todos temos quando a data chega. Sentiu saudades de sua tia Mimi, que o criou desde os cinco anos e sempre estivera com ele na data; era mais sua mãe do que Julia havia sido. Oh, sim, Julia. Lembrou-se da mãe e sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas engoliu o choro e passou as costas das mãos pelos olhos, não queria chorar, não podia chorar. Julia já não esteve lá desde seus cinco anos, por que estaria agora? O pai também alcançou suas memórias, trazendo flashes das vezes que se viram. Mas estava tudo no passado agora. Tudo ficara para trás. Seu pai nunca havia voltado, nem mesmo dado um telefonema ou enviado a mais simples carta. E John sabia que custaria para se encontrarem, sabia que não seria simples. Nunca havia sido, por que seria agora?

 

Lennon tomou coragem e se levantou, sentindo um pouco de tontura por ter feito isso depressa demais. Caminhou até a janela e observou o exterior. Não era uma vista dos sonhos, com a Torre Eiffel bem ali, mas era uma linda vista para um parque. Era Paris, tudo era mais bonito lá. Dizem que quem busca a felicidade, vai à Paris. John não estava a buscando, no entanto. Paul. Paul estava ao seu lado. Paul era sua felicidade. John sabia que não precisava de mais nada.

 

— Acordou, preguiçoso? - McCartney apareceu ao seu lado, ainda sem a camiseta, mas a segurando. John virou-se para o mais novo e fitou aquela pele tão branca, sentindo uma vontade incontrolável de marcar cada centímetro de Paul - Johnny? Está tudo bem? - ele chamou, vendo o quão aéreo o acobreado estava.

 

— Melhor impossível - disse simples, mas verdadeiramente, sorrindo. Deixou um beijo demorado no ombro de Paul e seguiu para o banheiro.

 

Paul ficou exatamente onde estava por alguns segundos, com o cotovelo no parapeito da janela, o queixo apoiado na mão e a camiseta branca sobre o ombro esquerdo, observando o que seus olhos alcançavam. Sentiu-se um pouco mal porque não tinha presente nenhum para John além de sua companhia. Ah, claro, John. John estava estranho naquela manhã... e como estava! McCartney não sabia dizer ao certo o que acontecia e o que fazia ele pensar que Lennon estava agindo de forma diferente, mas sabia que algo estava acontecendo.

 

Teria John se cansado de Paul? Não, não, não! Não podia ser isso! Podia ser qualquer coisa menos isso. Como Paul ficaria sem John? Como passaria os dias sem os gestos de John? Ele conseguiria mesmo viver sem John? Paul estaria péssimo! John fazia Paul se sentir... livre. Como se fosse um pássaro que encontrou seu lar, seu ninho, em John. Uma lágrima teimou em cair e, com ela, as demais logo vieram. Não era isso o que Paul queria. Ele não queria se apaixonar pelo melhor amigo. John era... era John. E Paul namorava. Como Dot ficaria se soubesse de tudo isso? Céus, era tão errado, tão perigoso. Talvez fosse isso o que mantinha McCartney e Lennon juntos. O perigo, o risco, a loucura. John acharia tudo isso uma loucura, aliás. Paul tinha certeza de que John riria dele caso soubesse que o mais novo nutria, sim, sentimentos. Ele não sabia quais ainda, não sabia se era amor, paixão ou desejo. Mas sabia que nutria. Queria muito entender, mas era tão difícil de compreender a si mesmo e também a John.

 

— Macca, você sabe onde... - John saiu do banheiro fechando o botão das calças pretas, vendo o amigo no mesmo lugar que estava há minutos - Macca? - aproximou-se de Paul, tocando de leve a cintura do moreno, que passou as mãos pelos olhos na tentativa de disfarçar o choro - Olhe para mim.

 

Paul entrou em desespero. John certamente perguntaria o motivo das lágrimas. O que Paul diria? "Estou chorando porque percebi que não posso mais viver sem você, John, acho que estou apaixonado"? Não, definitivamente não. E o que John responderia? "Paul, eu não quero estragar as coisas para você, mas o que temos não passa de prazer"? Puta merda, McCartney não estava pronto para ouvir isso, nunca estaria. Tomou coragem depois de uns segundos que mais pareceram horas e virou-se para John, que engoliu em seco e passou o polegar pela bochecha direita de Paul.

 

— Por que está chorando, hm? - aproximou-se um pouco mais do moreno - E-eu fiz algo de errado?

 

A preocupação tomou conta de John. O medo que ele sentia de destruir o que acontecia entre eles era constante. John havia desaprendido a viver sem Paul. Tudo parecia mais bonito quando eles estavam juntos, tudo ficava mais claro. O amor era mais bonito quando era vivido com Paul, ainda que ele não soubesse que John o amava da maneira mais verdadeira e pura possível. Teria Lennon machucado McCartney? Algum deslize? Alguma palavra indelicada ou inapropriada? Havia John feito algo que Paul não quisesse? O mais velho revisou suas atitudes da noite anterior, tentando buscar a resposta da última pergunta. Não, tudo tinha corrido normalmente, tudo foi maravilhoso, como sempre era. Impossível, Paul não estava assim por nada, alguma coisa tinha acontecido, com certeza.

 

— N-nada demais, John, apenas lembrei que minha mãe queria ter vindo à Paris - inventou, mas sentiu saudades de Mary ao terminar de falar, nunca superaria por completo a morte tão precoce da mãe. Era uma injustiça.

 

— Eu te entendo - John disse, agora também encarando o lado de fora, focando no céu. - Sinto falta de Julia, mesmo não tendo convivido muito com ela.

 

— Hey, não vamos falar disso, sem tristeza hoje - Paul limpou a garganta e passou as mãos pela face avermelhada, tentando se acalmar.

 

— Você está certo, como sempre - admitiu Lennon, que também tinha os olhos molhados e sob McCartney agora.

 

— O que deu em você? - Paulie riu anasalado puxando a blusa que já quase caía do ombro e a vestindo e John fez uma expressão que indicava que não havia entendido - Está admitindo que eu estou certo?

 

— Não seja bobo, Paul - o acobreado também riu -, você sabe que está certo.

 

— Eu sei que estou, sempre, como você mesmo disse - o mais velho revirou os olhos e voltou a olhar para o exterior. - O que você estava perguntando quando saiu do banheiro?

 

— Hm... - coçou o queixo e tentou lembrar do que se tratava - ah, claro! Você sabe onde está minha jaqueta?

 

John se referia à jaqueta de couro; àquela que havia sido tirada apressadamente do corpo de John por Paul na madrugada; àquela que Paul julgava ficar perfeita no corpo de Lennon, que o deixava ainda mais atraente.

 

McCartney nada respondeu, apenas caminhou em direção à porta, agachando-se e pegando a peça, fazendo uma expressão de deboche e jogando a roupa para Lennon. Por que estava ali? Digamos que a cama parecera distante demais na noite anterior.

 

John terminou de se vestir, decidindo usar uma camisa preta juntamente com as calças e a jaqueta de couro desta mesma cor. Paul assistia a cada movimento do acobreado sem nem piscar e pensando em como tudo era tão bonito em John Winston Lennon, que retribuía o olhar com a mesma intensidade. Era demais para a primeira desde que haviam acordado naquele dia e isto já estava acabando com a sanidade de ambos. Tudo o que John queria era um beijo de Paul. E tudo o que Paul queria era ser beijado por John da maneira que havia sido na noite anterior. O mais novo mordeu os lábios e deu dois passos, ficando mais próximo de John, que terminava de ajeitar a jaqueta.

 

— Paulie, você tem certeza de que está bem? - referia-se mais ao comportamento do que a como Paul realmente se sentia. Era impossível dizer que estavam agindo como nos outros dias. Assim como Paul achava que John estava estranho, John também pensava que Paul estava diferente, talvez mais distante.

 

Distante era exatamente o que Paul não queria estar de John. O moreno não queria nem pensar na ideia de estar longe do acobreado. Talvez esse ar de "estar distante" fosse um reflexo dos pensamentos que tivera há pouco, sobre possivelmente estar apaixonado por Lennon. Não podia acontecer, mesmo que Paul soubesse que aconteceria - isto se ainda não estivesse tão imerso a ponto de poder dizer que estava apaixonado.

 

Céus, a quem queria enganar? Paul estava apaixonado por John e sabia. Mas era tão difícil! Era difícil entender que estava nutrindo o mais belo e cortante dos sentimentos por seu melhor amigo. O que pensariam? O que o próprio Lennon pensaria?

 

— Macca! - John chamou assustando o amigo - O que há com você?

 

— Nada, Johnny, nada - sacudiu a cabeça algumas vezes, tentando afastar os pensamentos. - Eu estou bem - o tom de mentira em sua voz foi percebido por John, mas ele decidiu deixar para lá, se Paul não havia falado, era porque não se sentia bem em dizer. E deixar Macca desconfortável era uma das coisas que John não queria para aquele dia e para nenhum outro.

 

— Se você diz... - deu de ombros e a frase morreu no ar, fazendo o quarto ficar silencioso e barulhento ao mesmo tempo. Suas mentes só sabiam questionar o que havia de errado ali. Ah... quando soubessem que um era o pensamento do outro!

 

Saíram do quarto, então. Sem conversas, sem olhares; apenas secretos devaneios e preocupações. Desceram as escadas e deixaram o hotel para trás. Paul se sentia um pouco mal, deveria admitir; o amigo o levara à Paris, a outro país, e ele não tinha nem mesmo um presente para dar. O que fazer? Passaram em frente a um pequeno café e Macca riu com a ideia que teve.

 

— Johnny, vou te dar o presente agora - segurou o braço do aniversariante e o puxou para dentro da lanchonete, enquanto Lennon cultivava uma expressão de confusão em seu rosto.

 

— O quê?! - questionou vendo o amigo rir e tirar algumas notas do bolso.

 

— Um hambúrguer e uma Coca-Cola, por favor - pediu o moreno colocando o dinheiro sobre o balcão, e este foi o momento de John rir.

 

— Vai me dar hambúrguer e Coca? - o acobreado falou com lágrimas nos olhos de tanto que ria e Paul corou. Era simples, ele sabia, mas era o que seu dinheiro e a situação lhe permitia comprar. Queria presentear John com muito mais, se pudesse; mas esse não era o caso. Percebendo que Paulie ficara envergonhado, segurou sua mão o mais discretamente que pôde - Macca, te ter comigo já é um presente.

 

— Nós dois sabemos que não é a mesma coisa - sorriu fraco encarando o chão e separando sua mão da de John.

 

— Retiro o que disse sobre você estar sempre certo - rebateu sorrindo, entrelaçando seu dedo mínimo ao de McCartney, que o fitou de repente, fazendo o olhar âmbar se chocar com o, naquele momento, verde.

 

Ficaram por instantes com os dedos juntos, os olhos grudados e os lábios entreabertos, mas que nada diziam, mesmo que ambos tivessem quisessem desabar em palavras bonitas e puras; ou talvez nas mais ofensivas - é como dizem, apaixonar-se é o mesmo que drogar-se, cada um se mata como quer. Mas, não. John não queria acreditar nisso. John sabia que era diferente. E muito. Pelo menos queria que fosse. Já Paul, bem... Paul não sabia se queria acreditar, não sabia nem mesmo no que queria acreditar; não sabia se seria diferente; e não sabia se queria que fosse. Era tudo uma grande bagunça, um grande emaranhado de problemas, loucuras, sentimentos, beijos, momentos, desejos, sensações. Uma bagunça que atingia ambos e que só podia ser arrumada pelo alheio.

 

Passaram bons minutos lá, jogando conversa fora, enquanto John comia seu hambúrguer e bebia sua Coca-Cola e oferecia para Paul, que acabou aceitando um pouco. Comentavam o que acontecia do lado de fora, faziam planos distantes - ou talvez nem tanto - para quando fossem grandes astros do rock e pudessem voltar à cidade-luz e riam muito. O tempo passava voando quando estavam juntos, principalmente sozinhos, dizendo o que bem queriam e se comportando como queriam - na medida do possível. Já era além das 05:00pm quando Paul cansou-se daquele café, dizendo que estava entediado.

 

— Vamos para outro lugar? - chamou depois de distribuir expressões de puro tédio e deboche.

 

— Certo, para onde a madame quer ir? - John se levantou arqueando as sobrancelhas e Paul revirou os olhos antes de fazê-lo também.

 

— Apenas vamos a algum pub - falou à medida que saíam do estabelecimento. - Tanto faz, é você quem escolhe hoje.

 

— Vamos à Torre Eiffel, Macca - sorriu e piscou o olho direito.

 

Paul gostara da ideia, mesmo considerando-se que a tão famosa Torre ficava a alguns quarteirões de onde estavam. Já haviam visto o cartão postal, mas era tão bonito que o veriam por mais quantas vezes desse vontade. Caminhavam sorridentes e silenciosos, sentindo o vento suave do final de tarde parisiense em suas faces. Paul tentava afastar o que tanto pensava há pouco, mas era impossível tendo Lennon ao seu lado. John, por sua vez, revisava cada palavra que queria dizer a McCartney; ainda não fazia ideia de onde e quando diria, mas daquela noite não queria que passasse.

 

— Paul, eu não quero beber hoje - quebrou o silêncio, ainda sem prender o olhar ao moreno.

 

— Você mesmo disse que queria ir a algum pub hoje - Paulie soltou uma risada curta, achando engraçada a maneira que John mudava de ideia rapidamente. - O que houve para decidir que não quer?

 

— Eu só não quero ficar bêbado até cair no meu aniversário - mentira, claro. Seu aniversário era um pretexto para tudo o que acontecia, principalmente para aquela viagem, para estar com Paul.

 

— John Lennon? É você mesmo? - o mais novo parou de caminhar e cruzou os braços, brincando.

 

— Não seja bobo, Macca - riu e bateu de leve na testa de Paul, que repetiu os atos.

 

— Tudo bem, sem bebidas hoje - concluiu McCartney antes de continuarem o caminho.

 

Alguns minutos depois, quando o céu já ficava com o azul profundo da noite, chegaram à Torre. John correu e sentou-se ao pé do símbolo da capital francesa, sendo seguido por Paul. Ficaram ali, vendo as pessoas passarem, a noite cair ainda mais e o turbilhão de pensamentos voltar. Os olhares se encontraram. Paul mordeu os lábios e desviou. Não podia ser vencido pelo desejo de ter seus lábios juntos aos de John, não ali, com todos vendo. Mas John queria. John queria se deixar levar por cada emoção que o contagiava. A mão do acobreado deslizou por sua coxa e encontrou a destra de Paul. Os dedos se entrelaçaram. Os olhares se cruzaram mais uma vez.

 

John sabia. E se ainda não soubesse, tivera a certeza naquele momento. Estava apaixonado por Paul como nunca estivera por ninguém. Queria correr os riscos que fossem para estar com Paul. Queria Paul.

 

Paul entendeu. E como ainda não entendia, entendeu naquele olhar. John e ele estavam conectados. Mais do que deveriam. Estavam ligados da melhor forma possível, ou quase isso. Talvez da pior forma, como acreditava há pouco. Mas, naquele olhar... foi quando Macca se entendeu. Compreendeu cada vírgula do que sentia por Lennon. Queria sentir. E, agora, queria que John soubesse.

 

— Johnny? - a voz de Paul saiu trêmula depois de longos minutos.

 

— Macca? - questionou de volta usando aquele apelido que McCartney tanto amava ouvir saindo dos lábios de Lennon.

 

— Nós podemos voltar? - apertou a mão do mais velho e mordeu o lábio, um tanto quanto nervoso.

 

— Podemos, sim - concordou e o moreno levantou-se, ajudando John a fazê-lo também. - Mas por que quer voltar?

 

— Gosto daquela área - não era uma completa mentira, apenas uma omissão de fatos.

 

As mãos de John tremiam em nervosismo, queria dizer tudo logo, mas sentia um nó na garganta quando lembrava que havia a chance de Paul não corresponder; e que essa chance era enorme, bem maior do que a de ser um sentimento mútuo. E se Lennon achava que estava ansioso, era porque não sabia como estava McCartney. Emoções recentes, dúvidas dissolvidas há tão pouco e riscos de arrependimento, perder seu melhor amigo e, claro, do preconceito e da ridicularização que indubitavelmente sofreria. Mas queria enfrentar, por John. Queria tentar, por eles.

 

O caminho foi preenchido pelo famoso silêncio barulhento, o silêncio que incomoda, o silêncio sufocante. Paul estava decepcionado consigo, havia passado os últimos dias imaginando como seria o aniversário de John naquela cidade tão bela. Tinha planos, talvez não os mais românticos, mas os mais pervertidos... ah, esses, tinha. Mas tudo havia saído do controle. Sentimentos haviam entrado em jogo. Não era isso que Paul queria. Não queria se apaixonar. Mas era impossível. Era inevitável se apaixonar por John. Deveria ter sabido que o desejo acarretaria uma paixão.

 

A ida se estendeu mais do que o planejado. Sentiam-se famintos e passaram no mesmo lugar em que estiveram há algumas horas. Pediram batatas fritas e aguardaram por alguns minutos. O nervosismo tomava conta dos dois. John tentava manter-se calmo, mas as tentativas eram em vão. As mãos de Paul tremiam e ele não conseguia parar de se mexer. O medo de o coração ser partido estava presente em ambos; não apenas este medo, mas também o de perder o melhor amigo. Era um sentimento complicado e tudo apontava para a falha.

 

— Paulie - a mão de John tocou a do moreno sob a mesa.

 

— Hm? - apenas emitiu um som, mastigando uma batata frita.

 

— Nós precisamos conversar quando voltarmos ao hotel - fixou seu olhar ao do moreno, falando em um tom sério. Esperava uma resposta de Paul, mas recebeu apenas um aceno em confirmação.

 

Paul começou a se desesperar. John com certeza havia percebido que estava sendo o alvo da paixão de Macca. E, quando chegassem ao hotel, era óbvio que diria que não era para ser assim, que nada passava de diversão. McCartney repensou a ideia. Valia à pena? Devia arriscar o que tinha com John - seja lá o que era aquilo -, para confessar sentimentos que havia entendido há tão pouco? Não parecia valer à pena, não mesmo. Mas deveria negar o que sentia? Deveria esconder que estava apaixonado? Sabia que não era justo consigo e nem com Lennon, mas parecia o melhor.

 

Depois de alguns minutos, depois das 08:00pm, pagaram o que haviam consumido e tomaram o caminho que os levaria ao hotel, que ficava a apenas alguns quarteirões. Pareciam viciados no silêncio naquele dia. Nada falavam. O nervosismo tomava conta de ambos. John sentia-se mais confiante, depois de perceber o olhar diferente que Paul havia lançado na Eiffel; mas Paulie havia ficado bagunçado mais uma vez, assustado e perturbado o suficiente com a ideia de perder o melhor amigo para seus sentimentos platônicos.

 

Foi Lennon quem entrou primeiro, esperando Macca passar pela porta também, para fechá-la novamente. Um suspiro de John deixou o moreno ainda mais ansioso, havia o tal "gelo" entre eles, mas também parecia que queimavam mais a cada instante. Não, não naquele significado de "desejo", mas no significado de sentir o clima muito pesado, como se esse fogo os derretesse, Paul sentia John escorrer por seus dedos, sentia que estava perdendo o pouco que tinha dele.

 

— Macca, eu não vou mais enrolar - Lennon começou depois de alguns segundos andando pelo quarto, com as mãos nas costas. - Preciso te dizer algumas coisas.

 

— Diga, John - encorajou, mas querendo substituir as próprias palavras por "Johnny, nós não podemos acabar com o que temos, eu estou apaixonado por você".

 

— Você se lembra de Hamburgo? Lembra do que passamos lá? - ficou de frente para Paulie, fitando-o e esperando uma resposta positiva. Suas mãos tremiam e o arrependimento já vinha, mas não pararia agora.

 

— Claro, lembro - era impossível não lembrar. Foi quando o que tinham ficou ainda mais forte, quando Paul percebeu que John era realmente especial para ele.

 

— Foi lá, Macca - aproximou-se mais um pouco e deu um leve sorriso.

 

— O quê? - questionou verdadeiramente confuso, além de nervoso.

 

— Foi lá que eu percebi que estava apaixonado por você - disse simples e segurou as mãos de McCartney, que estava uma verdadeira bagunça.

 

— John... - começou, mas não conseguiu encontrar palavras e a frase que mal fora iniciada morreu no ar.

 

— Calma, Paulie - pousou o indicador sobre os lábios do mais novo -, espere eu terminar de falar, hm?

 

McCartney calou-se, então. Queria acreditar que Lennon falava a verdade e que estava de fato apaixonado e dizer que sentia o mesmo, mas ainda estava nervoso demais para isso. Decidiu esperar Johnny terminar e assentiu, era o melhor naquele momento.

 

— Eu tinha tantos planos - seu dedo deixou os lábios de Paul e sua mão desceu pelos braços do moreno, acariciando-o de leve. - Mas parece que todos se perderam, entende? Como aqueles sonhos furados que temos quando somos crianças, sonhos que esquecemos.

 

John olhava para Paul com todo o carinho que era possível reunir. Ambos tinham os olhos molhados. Um silêncio se instalou por alguns segundos, enquanto John fitava os traços tão delicados do contrário. Paul era doce, era bonito, era Paul. Como não se apaixonaria?

 

— Parece que tudo o que eu estava fazendo era esperar por você, Macca - não se segurou e abraçou o moreno, deixando as lágrimas caírem. - Você sabe, Paulie - falou entre soluços, com a cabeça encostada no ombro de James. - Parece que eu apenas estava esperando por você, esperando pelo amor.

 

— Me escute, John, por favor - Paul se separou e segurou seus ombros, vendo o rosto de Lennon já avermelhado pelo choro.

 

— Não, Paul, você é quem deve me ouvir agora - suspirou, pensando que Macca diria que o sentimento não era mútuo. - Isto já está sendo complicado o suficiente. Por favor, me deixe te dizer tudo o que tenho para dizer.

 

O mais novo assentiu e se apegou ao silêncio mais uma vez, tentando conter as lágrimas e passando as mãos pelo rosto. John se manteve quieto por alguns instantes, mordeu o lábio, ameaçou falar, encarou o chão, suspirou e, enfim, tomou coragem.

 

— Não precisamos ficar sozinhos, Paul - fitou-o de novo. - Eu não quero ficar sozinho, quero ficar com você - piscou um par de vezes e deu um sorriso rápido e meio triste, no fundo. - Eu te amo, Macca.

 

O "eu te amo" ecoou pela mente de Paul deixando-o completamente em choque. Amava mesmo? O quanto amava?

 

— Tudo parecia tão bagunçado, tão confuso para mim... mas agora, principalmente depois dessa viagem, eu sei exatamente para onde vai minha vida - um abraço os uniu e Paul só soube sorrir, John dizia coisas bonitas e isto fazia com que McCartney acreditasse que ele estava sendo verdadeiro. - Minha vida vai para onde você estiver, Paul, eu quero estar ao seu lado sempre.

 

Ficaram daquele jeito por algum tempo, talvez minutos, um acalmando o outro. Paul sentia que John estava dizendo a verdade e também queria dizer. Reuniu toda coragem que encontrou e se separou de Lennon mais uma vez.

 

— Será que agora eu posso falar? - deixou uma risada escapar e John assentiu, também sorrindo, sentindo-se mais leve por ter confessado o sentimento. - Eu também te amo, Johnny.

 

Depois daquelas palavras, Paul foi puxado para um beijo. Não, não um beijo como os de sempre. Um beijo calmo e sem desespero, como se tivessem todo o tempo do mundo. Como se pudessem prorrogar o final do beijo até o final de suas vidas. Era um beijo que John nunca havia o dado. Um beijo com sentimentos de verdade. Um beijo que exprimia os mais sinceros e belos sentimentos. Um beijo que demonstrava, sim, o desejo, mas que abria espaço para o amor verdadeiro que cultivavam um pelo outro. Um beijo que sussurrava os mais genuínos "eu te amo".

 

— Eu te amo, John. Eu te amo muito - foi a vez de Paul declarar-se, depois do beijo ser separado, sorrindo e chorando de alegria. Mas ele ainda estava lá, o medo ainda se fazia presente. - M-mas eu tenho medo.

 

— Olhe para mim, hm? - segurou o queixo de McCartney entre o polegar e o indicador, aproximando seus rostos e unindo seus lábios em um selar mais demorado do que o comum - Você não precisa ter medo, Macca, eu estou e sempre estarei com você.

 

— Você sabe o quanto é difícil - foi realista. Ambos sabiam, sim. Mas queriam. Ambos queriam tentar.

 

— Tente me entender, Paulie... - coçou a nuca procurando as melhores palavras para se expressar exatamente como queria - eu pensava que já havia me apaixonado antes, pensava que já havia amado alguém antes - fez uma pausa enquanto observava Paul. O moreno era a maior inspiração do acobreado. Era seu refúgio, o que o mantinha ali. - Mas eu sempre quis mais, sabe? Em meu coração, eu sentia que nunca era o suficiente - segurou a cintura de Macca e sentiu uma vontade enorme de chorar apenas por pensar em como era tudo tão complicado, mas não podia fazê-lo novamente. Não podia chorar na frente de Paul, não queria. - Parece que... que eu estava esperando por você.

 

— Você faz com que eu me sinta livre, Lenny, sinto que posso ser quem eu sou de verdade quando estamos juntos - admitiu Paulie, acariciando os fios acobreados do outro, exibindo um sorriso verdadeiro. Confiava em John, queria estar com ele.

 

— Eu te quero exatamente como você é, Paul - beijou a bochecha do mais novo, abraçando-o logo em seguida.

 

— E como vai ser daqui em diante? - não pôde deixar de questionar, era uma dúvida real e complicada.

 

— Você quer dizer o futuro? - encarou James passando as mãos por suas bochechas e, depois, pelos cabelos tão macios e brilhantes.

 

— Sim, como ficaremos? Você está com Cynthia e eu, com Dot - lembrou-se das namoradas e encarou o chão, era tudo ainda mais embaçado do que pensava que era.

 

John pegou as mãos de Paul e deixou ali um beijo. Ficou em silêncio por instantes, encarando aqueles olhos tão hipnotizantes e belos. Para John, Paul parecia ter sido esculpido, era beleza demais para uma só pessoa. Pensou no que dizer, Macca estava esperando uma resposta. Bem, a questão é que John também queria a solução. O futuro era incerto e dependia muito do que fizessem nos próximos tempos. Era impossível afirmar que ficariam juntos. Mas queriam. E como queriam. Se amavam além do que os próprios compreendiam. Beijou Paul mais uma vez como se fosse a última, abraçando sua cintura e se esforçando para memorizar tudo o que dizia respeito a James Paul McCartney. Não queria esquecer-se de nada, nunca. Interromperam o beijo quando o ar os faltou, mantendo os olhares ligados. John suspirou e disse as palavras que surgiram em sua mente num estalo, como se aquele beijou tivesse deixado tudo mais claro do que já estava:

 

— Não pense nisso agora, Macca. Eu quero ficar com você, meu futuro é com você, é você que eu amo de verdade. É amor verdadeiro.


Notas Finais


aiai sjskalhdowla
não tenho o que falar então parabens pro joaozinho paz e amor

obrigada pela leitura, espero que tenham gostado <3
até a próxima


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