História Rebelde X Nerd (Reescrevendo) - Um peso a menos

“Herói não é uma palavra ruim. É apenas alguém que se importa e faz algo sobre isso.”

- Jessica Jones

Passei por uma porta de vidro que levava ao interior do posto da polícia, aproximei-me da recepção e disse que tinha que prestar B.O num caso recente de assédio sexual. A policial que se encontrava na recepção, no mesmo instante me encaminhou para uma sala mais ao fundo do posto.

Logo, uma médica chegou para iniciar a conversa comigo.

- Oi, eu sou a Dra. Ross e ficarei encarregada de fazer seu exame. Tudo bem?

- Tudo sim – respondi meio sem entender que exame seria esse.

- Você poderia, por gentileza, colocar esta camisola para darmos início?

Atrás de uma cortina, troquei de roupa e me sentei na lateral da maca com as pernas para fora.

- Já está pronta?

- Estou sim.

A Dra. Ross abriu a cortina e puxou uma cadeira para perto de mim, sentando-se nela logo em seguida.

- Então, antes de começar os exames, eu gosto de conversar com as minhas pacientes. Afinal, ficaria muito desumano se eu apenas fizesse o exame e te mandasse embora.

Ela ficou me encarando na esperança de obter alguma resposta, porém eu apenas sorri com o canto da boca, enquanto olhava para baixo.

- Qual o seu nome e quantos anos você tem?

- Meu nome é Selena e eu tenho 18 anos.

- Bom, você é bem jovem para estar aqui, não é mesmo? O que aconteceu?

- Eu não sei se me sinto muito confortável para dizer o que houve.

- Tudo bem, isso é bastante comum. Afinal, é tudo muito recente. Você já fez esse exame alguma vez na vida ou sabe como funciona?

- Não. – respondi olhando para os seus olhos desta vez. 

- Vai ser mais ou menos assim: como uma consulta no ginecologista, eu precisarei procurar por sinais de agressão lá embaixo. Pode parecer estranho, no entanto, não dói e é uma grande prova para colocar o seu agressor atrás das grades.  

Por já me sentir um pouco mais confortável, demos início ao exame. Primeiramente, a médica me pediu para colocar os pés numa espécie de apoio incomodante, no qual eu parecia estar prestes a parir uma criança. Ao iniciar a análise clínica, nas regiões em que a médica tocava eu podia sentir uma certa dor na qual eu nem tinha ideia que sentiria. De repente, as dores físicas e psicológicas começaram a se misturar, fechei os olhos para tentar não me lembrar do que aconteceu, porém não funcionou.

 Como um flashback, eu ouvi, vi e senti o Justin, fazendo com que lágrimas começassem a escorrer livremente pelo meu rosto. No mesmo instante, a médica perguntara se alguma região estava doendo tão intensamente, mas apenas balancei a cabeça indicando que não.

- Ei – disse pegando na minha mão – nós já terminamos o exame, você quer que eu chame a sua mãe ou pegue para você um copo d’água?

- Sim, chame a minha mãe, por favor – disse com a voz embargada.

Vi apenas um vulto branco embaçado passar pela porta e voltar alguns minutos depois trazendo o meu único conforto no momento. Logo, minha mãe correu em minha direção e me envolveu fortemente em seus braços, fazendo com que eu pudesse enfiar minha cara em seu peito como modo de tentar esquecer toda aquela dor. Ficamos assim até minhas lágrimas se sessarem.

A Dr. Ross que durante todo esse tempo assistiu à minha dor de camarote, trouxe-me um copo d’água para que eu pudesse seguir para a próxima e mais difícil etapa: o depoimento.    

Aquele cubículo não era muito diferente dos de filmes e séries. Eu me sentia em Criminal Minds, isto é, presa em uma sala com 3 paredes escuras, um policial, segredos a serem revelados e uma meia parede de vidro, na qual eu não enxergava o outro lado, porém sabia que eles podiam me enxergar. 

Após um longo silêncio absoluto, começaram as perguntas básicas: nome completo, idade, entre outras coisas nas quais eu já havia sido obrigada a preencher numa folha de papel. Antes mesmo que eu pudesse reclamar, assim mesmo, sem intimidade alguma, sem nenhum aperto de mão ou copo d’água, o policial me pediu para dar início ao depoimento. Falei meu nome completo em frente a uma câmera e iniciei minha história.

Eu estava ali de corpo e alma expostos para quem quisesse ouvir a minha verdade. Sabia todos os detalhes, podia contá-los de trás para frente ou do meio para frente e depois para trás....eu simplesmente podia detalhar tudo na ordem que quisessem. Isso porque eu já tinha repassado essa vivência infortuna em minha mente, sempre que fechava os olhos. 

Acabou! Finalmente a tortura foi finalizada. Levei meu último golpe ao dizer como Justin tentou enganar a professora para continuar a fazer do meu corpo o que bem quisesse. Eu me sentia mais leve agora, porém teria que esperar até o julgamento para que eu pudesse realmente voar de tanta leveza.

Sai da sala e fui em direção à minha mãe e irmã. Quando cheguei lá fui recepcionada com um longo abraço de ambas. Eu havia conseguido, eu finalmente havia me tornado a heroína do desenho da Gracie.

- Obrigada, Selena, por fazer justiça ao que houve com a Demi. – disse Dianna se aproximando – Ela ficará muito feliz em saber da coragem que teve hoje.

- Parabéns, irmã, eu sabia que você iria conseguir – disse Gracie na voz mais fofa de todas.

Minha mãe apenas sorriu com uma espécie de mar de orgulho em seus olhos e me envolveu em seus braços novamente, enquanto andávamos para fora do local. Infelizmente já estava na hora da terapia, então, fui deixada na porta do Dr. Grey Gubler com apenas uma autoconfiança jamais sentida em mãos. Eu precisei escolher entre falar sobre algo difícil e pessoal em prol de colocar alguém atrás das grades ou ficar quieta no conforto da minha dor.... Espero ter feito a escolha certa e que a justiça não seja cega em um caso como este.