História Receita para o desastre - Clexa - Cap. 21 - Adeus

Lexa caminha devagar, o seu corpo está reto e é palpável uma energia profunda que a rodeia enquanto se tenta acalmar, o meu lado tímido ainda pensa na câmara ligada de ontem depois de tudo o que fizemos no chão e no sofá e na mesa dela enquanto o meu lado animado não consegue parar de sorrir perante a irritação da minha morena. Há uma força nela que me atrai e puxa, penso que seja essa mesma força que faz com que os colegas dela se mantenham em linha enquanto a morena anda de um lado para o outro na nossa sala. 

- Porra que ela é extremamente sexy quando está zangada!

- Estás a tirar as medidas a minha namorada Raven?! Queres que babe para cima da Anya por acaso?!

- Tu não te atrevias!!! - Raven olha para mim assustada e consigo ver que Lincoln e Octavia estão a prender uma gargalhada profunda. - Eu vou tranca-la em casa!

- Quem?! - A voz da Lexa chega a nós baixa e fria, não se parece minimamente com a mulher com quem passei a noite a fazer a amor de todas as formas que nos lembramos. - Sei bem que todos já usamos o escritório para mais que reuniões e trabalho mas nunca em tempo algum pensei que se usasse as câmaras para ver o que as pessoas fazem. 

- Ninguém viu Lex... - Costia parece será a única com capacidade de aguentar o olhar frio da sua amiga de longa data. - Por estupidez eu deixei o nosso programa aberto na televisão daqui quando fomos embora, por isso se queres ficar zangada podes começar a gritar com as mesas e as cadeiras. Mas pelas marca de dentes que tens no teu pescoço devo ponderar que perdemos todos um belo de um filme porno?!

- Merda... - Lexa fica instantaneamente vermelha e leva a mão ao sítio que ontem mordi um pouco mais forte quando ela me arrastou para um orgasmo violento e eu tentei não gritar mais alto, olha para mim e abre um sorriso que prova que tal como eu está a recordar tudo o que fizemos na noite passada. - Desculpem...

- Não te tinha como ciumenta Lex! - Anya fala enquanto caminha para Raven que ainda me olha com alguma irritação por causa de como a provoquei. - Estás mesmo caidinha pela loira que até tens medo que a vejam com pouca roupa... E já agora ficas muito fofa assim toda corada!

A gargalhada aparece em todos quando o tom de pele da Lexa se torna um vermelho mais profundo, logo a porta é aberta e uma pequena Alie entra numa corrida torta e salta para a tia que se abaixou para a apanhar. Aquele momento aquece o meu coração de uma forma que eu já me comecei a habituar, falamos de crianças ontem e esse assunto é assustadoramente feliz para mim, perdi muito tempo longe da minha real felicidade. Como a O me relembrou quando pensei que a Lexa me traía perdi todo o controlo da minha vida, chorei imenso e bebi mais do que devia, fui a festas e quase perdi a hipótese de terminar o meu curso. Amar dói, imaginar um amor como o que sentia ser lançado para o lixo foi o momento doloroso que eu não sabia como aguentar no meu peito magoado. Vejo agora que devia ter lutado, que devia ter aceitado uma das chamadas dela ou que devia ter lido uma mensagem em vez de apagar todas... Eu devia ter confiado tal como ela agora me tem confiado o seu passado...

- Tia tenho uma prenda!

- Tens meu anjo?! - Se essa é a mesma Lexa que ontem me disse que queria esperar para ter crianças está a fazer um trabalho terrível, olha-me com um desejo desconhecido para mim e aquele sorriso aberto só faz querer agarrar-me as duas. - Talvez não esperamos muito tempo que me dizes Griffin?

- Queres continuar a conversa de ontem Woods?! - Sinto o olhar de todos em mim, há compreensão neles, nós perdemos tanto porque desistimos mas aquele tempo não nos apagou uma da outra. - Ao ver-te assim talvez... Mas só talvez... Compense tudo... O tempo é nosso e fazemos dele o que queremos!

- Voltamos a tirar pontos pela eloquência... - Costia ri e aproximasse de Luna e Gustus que entraram após a pequena eléctrica. - Vão voltar?

- Sim, tenho que tratar de umas coisas em casa para pensar em me mudar para Arkadia, as crianças precisam ficar juntas! - Lexa parece indignada com a afirmação da irmã mas logo suaviza o seu semblante quando duas mãozinhas lhe agarram o rosto e recebe um beijo pequeno na bochecha. - Alie não vais dar a prenda a tia? Foi ela que escolheu Lex...

A pequena salta do colo da tia que me agarra na mão e sorri, posso não ser eloquente mas ela entendeu que tal como ela estou pronta para tudo o que vier porque se ela continuar ao meu lado sei que podemos fazer tudo. Gustus aparece a segurar uma caixa retangular comprida e a pequena irrequieta Alie saltita em frente dele, é engraçado ver como aquele homem enorme parece deslocadamente animado por estar perto da sobrinha da mulher que ele jurou proteger. 

- Que me trazes aí meu anjo?

- Prenda! - A pequena grita e solta uma gargalhada gostosa, vai ter com a mãe e puxa-a um pouco para perto da tia e da caixa que Gustus pousou em cima de uma das mesas. - Abre tia...

- Não era preciso uma prenda amor, eu não me vou esquecer de ti sabes?! - Lexa beija a testa da pequena e olha para a caixa, há uma tristeza enorme no seu olhar e reparo que Luna chora baixinho, a morena abre a caixa e aparece um piano ou orgão algo com teclas pretas e brancas. - É lindo meu anjo, a tia adorou!

- Tocas? - A pequena salta para a tia num abraço apertado. - A mãe disse que tocas...

- Não toco faz muito tempo meu anjo mas por ti posso tentar... - Costia apareceu ao lado dela mais rápido do que achei possível, ajudou a tirar tudo da caixa com o apoio de Gustus que ligaram o aparelho a uma das fichas eléctricas da sala, Lexa sentou-se na mesa e tocou nas teclas sem as carregar. Ouço-a soltar o ar dos pulmões que tinha reparado que estava a prender e depois de tudo o que ela me contou imagino a profundidade da dor que ela deve estar a sentir naquele momento, repouso a minha mão no ombro dela e sou brincada por um sorriso leve. - Vamos lá!

Os seus dedos longos começam uma melodia suave e lenta, é simplesmente belo ver como o seu corpo se move à medida que vai acelerando a música que está a tocar. Ouço um soluço sair de Costia que chora sem controlo, Gustus que também tem lágrimas nos olhos puxa-a para um abraço e sorri para mim como se me indicasse para ficar ao lado da morena. Não tenho a mais pequena intenção de me afastar!

- Esta era a música favorita da Cos por isso é que ela está tão chorona Alie, não lhe queres ir dar um abraço meu anjo? - Logo a pequena salta para Gustus e Costia que a pega ao colo, é palpável o amor que ela ainda sente por Lexa mas não consigo ter ciúmes. É um amor fraternal, como se fossem irmãs, tem a vida delas tão entrançada que não existem mais uma sem a outra e isso é o mesmo que sinto por todos os que estão nesta sala. São os meus amigos, a família que escolhi para ter ao meu lado. - Obrigada pequena...

Ouço o que diz baixinho e sei que é para mim, aperto mais a mão no ombro dela e sinto o descair da cabeça dela em busca de contacto, é-me impossível não abrir mais o sorriso quando a vejo assim tão nua perante mim. A música termina e rimos todos com as palmas que Alie bate no colo da Costia, Luna puxa levemente a irmã para um abraço e eu vou junto.

- Obrigada por a fazeres viver de novo, devo-te a vida da minha irmã, toma bem conta dela Clarke. - Luna fala ao meu ouvido e sei que sou a única a ouvir, há um alerta na minha mente que explode mas sinto que é preocupação infundada. - Ainda sabes tocar umas coisas Heda...

- Não me chamavas assim desde que eu era criança! - Lexa tem os dedos nas teclas e está a tocar uma outra melodia que eu reconheço da minha infância, a minha mãe adorava esta música. Clair de lune é simplesmente uma das músicas mais belas que alguma vez ouvi e estar a ver Lexa tocar faz todo o meu corpo se perder num frenesim profundo de felicidade e amor que não controlo em mim. - Lembraste da mãe tocar isto sempre que estávamos de castigo por algo que fizemos? Sabíamos sempre que já estávamos perdoadas quando a música invadia a casa, estive meses até conseguir tocar toda a melodia sem me enganar... 

- Eles adoraram quando tocaste como prenda de aniversário de casamento... Tinhas uns doze anos não?

- Sim...

- Heda tenho que ir mas volto, eu voltarei sempre para ti minha irmã eu prometo, aconteça o que acontecer! - Lexa levanta os olhos mas não para de tocar, é tão profunda a sua dor que tenho medo de me perder nela contudo não vejo outra forma de viver que não com aquela mulher ao meu lado, com ou sem fantasmas. - Vou tratar de tudo e voltarei com a Alie para ti, vamos ser uma família novamente... Adeus minha irmã!

- Não me digas adeus Luna... Adeus é definitivo, é quando o tempo termina, quando não temos mais momentos e não há mais sentido... Até já Luna! - A pequena Alie chora a ver tudo e reclama que não quer ir embora mas ri quando lhe dizem que vai voltar, as despedidas doem e encosto a minha cabeça ao ombro da minha morena enquanto estamos na rua a ver o carro de Gustus partir com Luna e Alie. - Quando fomos a Polis não era a Luna que estava com Finn, era uma outra mulher que eu não vi bem, ela esteve longe daquela realidade com a Alie e mesmo após perder o marido nunca pensou em voltar a cair no mesmo. Tinha a Alie e isso era o seu mundo... És o meu mundo Clarke e estou pronta para o abraçar sem pensar duas vezes, estou farta de só sobreviver e sei que só vou viver realmente contigo ao meu lado...

- Lex... - Puxo-a para um beijo suave, nenhuma língua tenta controlar o que se passa, há amor e carinho em cada toque. Sinto a mão dela na minha nuca com toques suaves enquanto a outra desce pela minha coluna e para no meu quadril só para me puxar mais para ela, não há pressas ou angústias neste beijo. Queremos só tempo, tempo que perdemos e tempo que abandonamos, queremos só estar assim nos braços uma da outra sem passados na mente e sem medos do futuro. - Amo-te!

- Clarke?! - A voz chega a nós suave e triste, afasto-me levemente da morena porque reconheci quem me chamou, Niylah observa-nos com dor no olhar e instintivamente afasto-me mais da Lexa que me olha com confusão. Merda... Merda... Eu não esperava este encontro tão cedo assim... - Podemos falar?

- Claro Niy... Anda ao meu escritório! - Olho para a morena e o verde olhar dela está distante e frio, o maxilar bem fechado e respira pesado, sei que vou ter que me explicar. - Já volto Lex, não vou a lugar nenhum.

Sento-me no meu lugar, a forma com que todos olharam para mim quando entrei no restaurante com a Niylah ao meu lado só me provou que isto é no seu íntimo um erro, vejo a loira sentar-se na cadeira em frente da minha mesa e o meu arrependimento cresce. Nem quero tentar descobrir o que Lexa deve estar a imaginar que se está a passar!

- Que se passa?

- Sinto que precisamos de falar Clarke... As coisas terminaram de forma estranha entre nós, sinto a falta de tudo o que tínhamos, sinto a tua falta...

- Lamento Niylah, sabes bem que lamento profundamente como tudo terminou entre nós mas não podemos voltar atrás, é impossível!

- Diz-me porque Clarke?! - Ela rodeia a mesa e fica de joelhos na minha frente, prende as minhas mãos nas suas num acto de carinho desesperado. - Eu ainda te amo Clarke!

Faço as minhas mãos saírem das suas, tento não ser fria ou brusca mas sei bem que me é impossível deixar avançar mais quando o meu coração está com uma certa morena que deixei na sala do restaurante com um olhar devastado. Eu provoquei aquele olhar de dor e é-me possível sentir o reflexo dela em mim, dói-me magoar Niylah contudo é sufocante saber que magoei e posso estar a magoar novamente a Lexa. Sinto o meu telemóvel vibrar e levantando-me da cadeira vou para o outro lado da mesa, preciso de manter a distância da Niylah enquanto ela pensa que ainda podemos ter algo mais. 

O: Se eu fosse a ti pensava seriamente em sair do escritório, se a tua namorada estava sexy furiosa com os colegas ela agora é um poço de sensualidade preocupada com o que tu e a tua ex estão aí a fazer!

Griffin: Não estamos a fazer nada, só conversar! Ela está muito irritada?

O: Tu já a traíste uma vez por isso coloca-te um pouco na posição dela e imagina como irias ficar, estiveste assim ontem quando falamos da Cece!

Griffin: Não me lembres disso!

O: Sai daí loira por favor!

- Já vi que estás ocupada... - Niylah volta a aproximar-se de mim com suavidade, ela ainda me conhece muito bem e logo faz a sua mão puxar uma madeixa do meu cabelo para trás da minha orelha sabendo bem que isso mexe comigo. - Estás com a Lexa?

- Sim estou... Estou com ela já faz demasiado tempo, embora estivéssemos separadas...

- Foi ela que te traiu na escola?! - Claro que ela ainda se lembra de termos falado disso no início da nossa relação, ela parece capaz de saber tudo o que um dia lhe disse. - Como podes voltar para ela Clarke?

- Pelos visto fui eu que a traí... - Solto tão baixo em contraste com a gritante vergonha que sinto pelo que fiz no passado. - Foi tudo uma enorme confusão!

O: A TUA NAMORADA VAI EMBORA FODIDA CONTIGO PORQUE CONTINUAS NO TEU ESCRITÓRIO COM A TUA EX!!! POR FAVOR NÃO FAÇAS MERDA LOIRA, ESTA MULHER AMA-TE!

Não consigo evitar um sorriso leve ao ler a última mensagem que a Octavia me mandou, sei que Niylah continua a observar-me demasiado perto. Começo a caminhar devagar para a porta porque quero terminar a conversa, preciso terminar o que quer que isto seja, viro-me para Niylah para me despedir e sem um aviso ou preparação os lábios da loira batem nos meus com fervor fazendo o meu corpo ir contra a porta. Sou apanhada desprevenida quando os lábios dela se abrem e a língua me pede passagem, há familiaridade neste acto, namoramos muito tempo para eu esquecer do dia para a noite tudo o que tivemos. Viro o meu rosto para terminar o beijo que nem deveria ter começado...

- Lamento Niy mas não posso fazer isto!

- Ela não te ama tanto como eu Clarke!

- Ela ama-me profundamente tal como eu amo a ela... 

- Não parecia quando deixaste a minha língua entrar na tua boca e brincar com a tua ainda agora...

Sinto uma pontada de raiva crescer no meu peito, raiva por mim e raiva por ela apontar o terrível erro que acabei de cometer, voltei a trair a confiança da Lexa num momento idiota em que fui apanhada desprevenida e onde a familiaridade acabou por trair o meu controlo. Vejo a loira passar por mim e vou atrás, odeio o sorriso arrogante que ela mostra a minha morena e sinto o meu corpo pulsar com irritação. Lexa observa-a e logo recebo em mim os olhos verdes toldados por incerteza, fico ao ouvir a minha ex despedir-se dos meus amigos com promessas de doces novos para provarem. Sustenho o olhar da morena me mim e antes que algo seja dito caminho para ela determinada a apagar tudo o que aconteceu, encosto a minha cabeça no ombro dela e consigo ouvir a primeira melodia que tocou hoje e a dor é profunda quando sinto um beijo na minha testa... O que raio vou fazer?! Aquele beijo não significou nada... Devo contar-lhe o que aconteceu?!