História Recomeçar - Meus parabéns

POV Ashley

Não!

Eu? Grávida?

Essa é simplesmente a coisa mais desconexa que eu ouvi a Sophia falar.
 

- Sophia, para! Eu não estou grávida! Claro que não, quer dizer... Aloou, eu estou... hum... estava... humm... solteira. Não tem como eu engravidar pelo pensamento - Fui baixando a voz

- Ashley, junta as peças. Você não está com seu ciclo em dias, está comendo feito uma louca, suas emoções estão descontroladas... É CLARO QUE SIM! - Ela não sabia se gritava ou comemorava.

- Isso é um absurdo...

- Você está tendo enjoos? - Fui completamente ignorada - AI.MEU.DEUS, imagina a cara do Bruno... -
Não sei por que, mas a última frase de Sophia começou a ecoar em minha mente.

Quer dizer, eu não estou grávida, tem uma possibilidade, mas eu não posso...estar grávida... bom, eu acabei de começar a criar minha sobrinha-filha, imagina mais um bebê?!

Liguei o rádio e nem me dei o trabalho de tentar reconhecer a música. Só queria abafar o falatório de Sophia.
 

Se eu estiver mesmo grávida, como Bruno vai reagir? Ai Ashley, para com isso, já está ficando paranoica. Estou até falando sozinha.
 

Eu. Não. Estou. Grávida.
 

Sophia bateu no vidro do carro e eu me assustei.

- Vamos - Ela disse do lado de fora.

(...)
 

- Com licença - Sophia se aproximou do balcão retirando uma nota de cem euros da carteira. - Eu quero marcar uma consulta de emergência... - Não ouvi mais o que ela falou e encarei o dinheiro em suas mãos.
 

Ouvi ela dizer algo parecido com discrição e entregou a nota para a recepcionista, que pareceu ofendida no começo, mas não rejeitou o dinheiro... Espera, ela...

Ai meu Deus.
 

- O Drº irá recebe-las em dois minutos. - A recepcionista nos respondeu enquanto colocava uma fita em meu pulso.

- Você subornou a recepcionista? - Exasperei

- Sim

- Por que?

- Você quer que o mundo inteiro saiba que estamos aqui? - Sophia me olhou e eu fiquei em silêncio.

- Mas precisava suborna-la?

- Ou eu faço isso, ou em dois minutos vai ter uma dúzia de fotógrafos - Tentou sorrir, mas falhou.
 

Encarei a fita que refletia as palavras "paciente" em dourado e um nó se formou em meu estômago enquanto andávamos em direção a sala de espera.

Não vamos surtar Ashley.
 

Você vai entrar, vai dizer exatamente como anda sua vida e ele vai dizer que eu não estou grávida. Fácil. Repetia internamente.

- Ashley Kennedy? - Me levantei junto com Sophia, que parecia mais agoniada que eu. - Vamos.
 

Chegamos ao consultório, e o médico me fez perguntas sobre minha rotina sexual - me senti muito desconfortável - e eu lhe expliquei sobre o maldito acidente de carro, e que minha ginecologista me avisou que seria muito difícil para eu engravidar novamente nos primeiros 6 meses após acidente.

Mas, mesmo dizendo todas as evidências que comprovam que a Sophia está ficando completamente insana, ele me pediu (lê-se obrigou) para fazer um exame de sangue.
 

- Totalmente desnecessário. - Disse me setando nas cadeiras da sala de espera do consultório.

- Para de reclamar, daqui 1 hora o exame fica pronto e nós... Hum... Ash?

- O que?

- Esse beb... possível bebê, é do Bruno, né? - Meus olhos se arregalaram e minha boca secou.
 

Eu fiquei com o Lucas uma vez, mas não sei se posso considerar uma ficada, já que Ellie acordou daquele jeito e nós nos obrigamos a parar. E para eliminar as suspeitas de vez, nós usamos camisinha.
 

Já, com o Bruno eu não usei camisinha.

Tudo bem, falha nossa.
 

Mas foi no dia do meu aniversário, e isso já tem... quase 4 meses....

QUASE QUATRO MESES...
 

Minhas mãos começaram a suar e eu tentei pensar que era tudo uma brincadeira, que eu não estou grávida, mas uma pontinha de desconfiança surgiu, junto com ânsia de vômito.

Okay, as pessoas vomitam por excesso de estresse.
 

- Eu... Bom... Se eu estiver mesmo grávida, o que eu acho difícil... Sim, é do Bruno - Baixei a cabeça e encarei minha barriga.
 

Para mim, ela está do mesmo tamanho. Nada mudou... Bom, talvez um pequeno inchaço nos seios e e algumas dores, um pouco mais fracas do que "cólica".
 

- Eu acho que um filho é tudo o que vocês precisam pra engrenar novamente o relacionamento de vocês - Sophia disse enquanto mexia no celular.

- Desculpa, eu não entendi o que você quis dizer.

- Eu disse - Guardou o celular na bolsa - Que para dar um ponto final nessas idas e vindas de vocês, um filho é a solução perfeita. Fora que vai afastar de vez o Lucas, que pode ser um cara legal e tal... Mas, não - Me encarou.

- Olha Sophia, eu prefiro não tentar entender o que você quer dizer com isso, mas se por um acaso a vida quiser brincar comigo mais uma vez e eu estiver realmente grávida, a última coisa que eu vou fazer é usa-lo como desculpa para "reerguer" um relacionamento! - Eu quis gritar, mas poucas pessoas transitavam pelo corredor, então, para não atrair atenção, eu me levantei e caminhei em direção ao banheiro.

- Ei, espera. Você não entendeu o que eu quis... - Fechei a porta com um pouco de força e não consegui terminar de ouvir a frase de Sophia.

 

Apoiei as mãos no mármore que sustenta a pia e encarei meu reflexo no espelho.
 

- Tudo bem, já chega de complicar a minha vida. Eu preciso de soluções agora, por que problemas eu já tenho demais. Eu não estou dizendo que não quero filhos, mas esse momento está um pouco turbulento, e eu já tenho a Ellie - Respirei fundo e pensei em ligar para Gemma e perguntar sobre minha bebê. - Eu mal sei cria-la, imagina... dois... - meus olhos lacrimejaram e eu mordi o lábio para não chorar.
 

Molhei o rosto para me acalmar e peguei o telefone.

Constei duas chamadas perdidas de Bruno.

Não, agora não, por favor. Choraminguei.
 

Procurei o número de Gemma e liguei. Ela me falou que Ellie estava bem agitada, mas que não estava dando trabalho, e que eu podia ficar despreocupada. Pedi para ela não contar a ninguém onde estava e agradeci mais uma vez por ela ter ficado com Ellie.
 

Pensei em ligar para Bruno, mas eu iria falar o que? "Oi amorzinho, eu ainda não cheguei em casa por que estou aqui em uma clínica, cujo o nome eu nem sei, com Sophia para ver se a sua sementinha fecundou meu ovinho"? Não, não iria rolar.

 

Ajeitei a postura colocando as mãos na cintura e encarei minha barriga.

Eu nunca fui a mais magra, sempre tive uma mínima barriga. Mas que sempre passou despercebido.
 

Alisei minha barriga e senti um frio subindo pela espinha.
 

- Não Ashley - Falei comigo mesma - Para de por ideias em sua cabeça.
 

Respirei fundo e virei de lado. Devagar levantei a blusa e não vi nada de diferente.
 

- Tá vendo só. Não tem nada - Sorri minimamente, mas algo dentro de mim murchou.

Esquisito.

 

Recobrei as forças e saí do banheiro depois de meia hora.
 

Me sentei e procurei por Sophia, a achando alguns metros distante de mim, falando ao telefone. Ela parecia um pouco alterada e nervosa.

(...)
 

- Você planeja ter filhos? - O médico disse assim que me sentei. Sophia ainda não havia saído do telefone, e eu entrei sozinha.

- Bom... - Olhei para minhas mãos - Eu quero, mas não agora...- O médico me encarou e eu me senti envergonhada -  É que estão acontecendo muitas coisas na minha vida... Não que eu vá rejeitar um futuro filho - Me apressei em dizer as últimas frases.

- Bom - O médico analisou o exame em suas mãos e e ajeitou o óculos. - O resultado do exame que a senhora fez nos diz que a senhora está na 16º semana de gestação. Meus parabéns. - Ele posicionou o papel na minha frente, e meus olhos pararam por cima de todos aqueles números.

Meu corpo entrou no "piloto automático" e eu apenas peguei o papel, ajeitei a bolsa e saí do consultório.

- Então? - Sophia disse e eu foquei meus olhos em seu rosto meio avermelhado.

- 16...semanas - Falei baixinho e ela me abraçou.

- Eu sabia! Eu sabia. Ai eu não acredito, o Bruno via pirar quando souber... - Ela começou a tagarelar e saiu me puxando para a saída do consultório.

Enquanto ela falava sem parar eu só pensava em uma coisa.

Como eu vou contar isso ao Bruno?