Um mês atrás.
A minha cabeça estava prestes a explodir, eu podia ouvir vozes chamando meu nome mais não conseguia identificar de onde elas vinham. Um bip irritante soava mais alto que as vozes e a cada vez que eu tentava abrir meus olhos eu sentia como se estivessem colocando brasas no mesmo. Era terrível.
– Se acalme – uma voz doce e masculina falava bem próxima de meu ouvido. – Respire fundo Selena, abra seus olhos com calma.
Eu não sabia quem era, mas eu fiz exatamente o que ele me dizia e logo o bip estressante já não era quase escutado. Pisquei algumas vezes até me acostumar com a claridade e então fixei meus olhos nas pessoas que estavam ali. Olhei em volta e só então me dei conta de que estava em um hospital.
Tinha uma agulhada enfiada em meu braço e um liquido pendurado em um suporte de ferro segurava o mesmo, era soro. Meu braço e minha perna estavam cobertos de curativos, um dos meus pés estava enfaixado por completo.
– Selena, olhe para mim – escutei uma senhora falar e se aproximar de mim segurando minha mão. – Como você se sente?
Puxo minha mão delicadamente e a senhora olha para uma prancheta em suas mãos fazendo anotações. Ela olha para o medico que estava ao meu outro lado e ele apenas faz um sinal para que ela saia do quarto e depois que ela faz tal pedido ele me fita e senta em um banco ao lado da cama e com uma prancheta em mãos começa a fazer perguntas.
– Sente dor de cabeça, náusea, tontura ou qualquer outro sintoma?
– Apenas dor de cabeça. – mordo os lábios com força e começo a balançar a perna que não esta enfaixada.
– Pode perguntar – ele diz enquanto anotava minha queixa no papel.
– O que aconteceu comigo?
– Selena eu vou ser bem sincero com você, ok? – assenti e ele prosseguiu. – Você sofreu um acidente de carro, muito serio e sinceramente eu não sei como você esta viva. – ele diz em um tom frio e sinto uma lagrima escorrer por minha bochecha mais ele não para. – Fizemos uma tomografia e mostrou que você teve uma hemorragia intracraniana tivemos que manter você em coma por alguns meses. Agora eu preciso da sua ajuda, pois você chegou sem ninguém aqui e ate hoje não conseguimos contato com nenhum parente seu.
– O que quer que eu faça? – pergunto confusa.
– Quero que me diga se sabe quem são seus pais. – ele diz e sinto minha cabeça latejar, fecho meus olhos e começo a forçar minha mente para lembrar, mas nada. O desespero toma conta de mim. – Eu tenho que sair daqui.
– Calma Selena. – ele pede segurando meus braços. – Respira fundo.
– Me solta – esbravejo mais ele não faz o que mando. A mesma enfermeira de alguns minutos atrás entra com uma seringa em mãos. – Se você me aplicar isso eu juro que processo vocês assim que sair daqui. – digo a fazendo parar e encarar o médico.
– Você precisa se acalmar. – o doutor repete.
– Não quero que me apliquem nada. – digo seria e ele apenas assentiu. - Por que eu não me lembro?
– Como eu já disse você sofreu um grave acidente, você bateu a sua cabeça com muita força e teve a maior parte da sua memória afetada.
– Doutor eu não quero ser grossa, mas acho que não lembrar nem o nome dos meus pais seja pouca coisa. Eu tive perca total da minha memória não foi?
– Ainda é cedo para dizer isso Selena. – ele diz calmo. – E também ainda não sabemos se é uma perda de longo prazo.
– Existe alguma chance de voltar a lembrar?
– É possível que sim, com os medicamentos certos e tratamentos que vou lhe indicar pode ser que lembre. Mais, por favor, não tente forçar, isso pode sobrecarregar você, a partir de agora você vai começar do zero.
– Eu não lembro nem da minha família?
– Pelo visto não e creio que vai continuar assim por um bom tempo, digamos que você nasceu de novo. – ele diz deixando a prancheta de lado. Fixo meus olhos na parede branca do quarto enquanto aquele homem me fala que tudo que eu vivi e construí um dia foi apagado por um maldito acidente e que possivelmente eu nunca mais me lembraria de meu passado se não me fosse contado.
Dias atuais.
– Selena, cheguei – ouço a voz de Maria despertar- me de meus devaneios. Levanto do sofá enxugando qualquer rastro de lagrimas do meu rosto e abro um sorriso indo para a cozinha.
– Bom dia – digo dando- lhe um beijo na testa e ela logo me aperta em um abraço forte.
– Como minha menina esta hoje? – ela pergunta deixando sacolas de compras em cima da mesa.
– Não sei. – digo sincera e caminho ate as sacolas. – As palavras daquele medico nunca saem de minha cabeça Maria.
– Querida, você sabe que não pode se prender tanto nas palavras desse medico não sabe? E outra ele disse que você pode se lembrar então se anime a qualquer momento isso...
– Não Maria, eu já desisti disso, acho que se eu fosse me lembrar de algo já teria acontecido, mesmo que só um pouco. E sabe o que é pior? – ela arqueia uma sobrancelha já imaginando. - Eu nem sei quem é minha família.
– Selena eu sou a sua família agora, eu e o John e sua amiga – ela diz simples. – Isso não é o suficiente?
Suspiro assentindo e dou- lhe um abraço. Maria em partes tinha razão, eu não tive tanto azar assim, pois quando sai do hospital ela foi a pessoa que mais me ajudou, vim parar sem rumo em uma de suas casas que ela aluga por temporada e depois de ouvir toda minha história aceitou- me como uma filha.
Não posso dizer que sou mal agradecida, na verdade eu valorizo muito o que ela, Ashley e John tem feito por mim, mas o fato de perder minha memória a ponto de não lembrar nem de meus pais, isso deixa um vazio em meu peito que não pode ser preenchido por ninguém.
Despeço- me de Maria e pego minhas coisas vendo que era hora de seguir para a floricultura. Coloco meus fones de ouvido e sigo pelo mesmo caminho de sempre ate o local.
♥ ♡
– É serio, ele é incrível, eu ate casaria com ele só pra você ter uma noção. – Adelaine falava enquanto jogava seu corpo pelas prateleiras repletas de flores. – Ele é tão sexy e tão... – suas caras e bocas faziam- me rir. – Você entende?
– A única coisa que eu entendo é que você é uma tarada. – digo simples colocando as rosas em seus devidos lugares.
– Selena você é virgem? – pergunta sem rodeios.
– Você e sua descrição. – reclamo revirando os olhos. – Não, eu não sou, isso segundo o medico, é claro. Mais como eu não me lembro de nada, então me defino como uma virgem sim. Faz sentido?
– Faz sim. – ela diz sorrindo. – Ah, veio uma pessoa atrás de você ontem.Tá saindo com alguém? – ela pergunta fazendo- me virar rapidamente.
– Quem esteve aqui? – pergunto já desconfiada de sua resposta.
– Eu não sei o nome dele, mas ele era muito bonito. – disse sem dar muita importância a minha reação. – Mais a questão é: vocês estão saindo?
– Não. Ele é só um cliente, eu acho.- me surpreendia o fato de um cara que não sabe nem o meu nome procurar por mim. – Eu tenho uma sensação de que eu o conheço. – digo fazendo com que ela me olhasse de imediato deixando as flores de lado.
– Selena – ela pronuncia meu nome e para por um instante como se procurasse as palavras certas. – E se esse cara for algo para você e você não se lembra dele?
– Não, acho que não.
– É uma possibilidade. – ela diz convicta.
– Acho que se ele me conhecesse já teria dito, não? – Digo e Ashe dá de ombros e sai deixando apenas uma frase no ar.
– Devia investigar isso melhor se não...
Eu sabia muito bem o que ela queria dizer, se ela estivesse mesmo certa sobre ele me conhecer ele seria a única pessoa a poder me ajudar a encontrar a minha família. Ele seria o único para me tirar dessa escuridão.
Mais o que eu podia fazer a essa altura? Não poderia simplesmente chegar perguntando sobre isso, ou sair por ai investigando a vida de um cara só porque ele compra flores na minha loja e pergunta por mim quando não estou, além do mais eu posso não gostar do meu passado e do que pode ter gerado esse acidente.
Meu subconsciente gritava para que eu deixasse aquilo de lado e pela primeira vez eu o faria.
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