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História Red Water - Destination


Escrita por: Kashi_

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 25 - Destination


25 — Destination

Remus POV

Eu me sentia totalmente em pânico naquela noite.

Desde que entramos de férias, havíamos perdido contato com Sirius.

Isso nunca acontecia.

Ele não costumava mandar muitas cartas, e entendíamos que o problema era seus pais, que sempre odiaram a amizade que ele tinha comigo e com James.

Mas jamais aconteceu dele ficar tantos dias sem enviar cartas, e foi assim que James resolveu ir até lá ver se estava tudo bem.

Obviamente ele se quer conseguiu entrar. A mãe de Sirius mandou um elfo ir na porta dizer que ele estava bem, e apenas viajando com o restante da família.

Mas James notou um detalhe importante: Haviam grades na janela.

Quando completaram duas semanas sem qualquer notícia de Sirius, eu já estava pirando de preocupação, e enviando uma carta por dia para o irmão dele.

A resposta demorou dias para chegar, mas finalmente Regulus trouxe uma luz.

‘Sirius está em casa, não está viajando. Estava fora da cidade e retornei hoje. Meus pais descobriram sobre vocês. Venha buscá-lo daqui duas horas na frente da casa’

Apenas isso. Nenhuma explicação. Nenhuma atualização se Sirius estava bem ou não.

Mas aquele ‘meus pais descobriram sobre vocês’ seguido do ‘venha buscá-lo’, no fundo, era a resposta que eu queria.

Eu e James fomos esperar Sirius na pequena praça na frente do Largo do Grimmauld, e eu não conseguia parar de andar de um lado ao outro. Estava muito frio, e embora estivesse agasalhado, eu se quer conseguia sentir.

James também parecia nervoso, desde quando recebemos a carta.

Havíamos saído da casa dos pais deles, onde eu estava passando as férias, no meio da noite.

— Se acalma, Moony — James resmungou, apoiando a mão no meu ombro, me fazendo parar de andar — Não sabemos o que aconteceu, ok? Regulus teria dito se Sirius estivesse ferido.

Assenti, tentando puxar o ar e respirar fundo, mas então eu finalmente vi.

As duas figuras desceram os degraus da casa dos Black’s, lado a lado, caminhando na nossa direção devagar.

— Sirius! — Um suspiro de alivio rompeu por meus lábios quando meus braços se fecharam ao redor dele, que se atirou no meu corpo assim que se aproximou o suficiente, sentindo-o se agarrar em mim com certo desespero.

Ele não disse nenhuma palavra, mas eu soube que algo havia acontecido com a forma como ele afundou o rosto no meu ombro e eu senti que ele chorava baixinho.

James olhou para nós dois, se aproximando para tocar brevemente o ombro dele, com os olhos muito escuros e fechados em raiva.

Regulus suspirou, estendendo uma mochila e uma mala para James, que as pegou imediatamente.

— Tentei colocar a maior quantidade de pertences que consegui. Mandem correspondência atualizando sobre ele.

Sirius ergueu o rosto do meu ombro para olhar para ele, e eu vi.

Simplesmente vi o olhar de dor em sua expressão, a tristeza profunda em seus olhos e a magoa.

— Reg...

— Eu coloquei um pouco de dinheiro caso precise, e anotei maneiras de me encontrar. Mande cartas, tudo bem? Se precisar de alguma coisa, peça. Eu consegui um emprego bom no Ministério, vou te ajudar. Vou cuidar de você, Sirius.

Sirius pareceu incapaz de responder. Apenas assentiu, ainda quieto entre meus braços, com os dedos agarrados firmemente contra meu corpo.

— Eu vou cuidar dele — Murmurei, vendo Regulus assentir.

— Agora vão. Antes que meus pais voltem.

Não precisamos de maior aviso antes de nos unirmos e aparatarmos de volta para casa de James.

Sirius havia começado a tremer entre meus braços, e eu estava preocupado enquanto Prongs abria a porta da entrada, e eu afastava Sirius o suficiente para caminhar, mantendo os dedos dele entre os meus.

Foi assustador estar sob o foco da luz da sala, porque eu percebi que Sirius estava muito pálido, com a expressão magoada. Ele tremia, os lábios cinzentos, e isso me fez ficar apressado ao tirar meu casaco e passar ao redor dele ao compreender que ele estava com frio, mas sem dizer uma palavra.

As bochechas ainda estavam úmidas, e os olhos vermelhos por lágrimas.

— Onde é que vocês estavam? — O berro da mãe de James nos fez pular no hall de entrada da casa, nos virando para encontrar ela parada ali, a expressão muito fechada.

Eu costumava ir logo no começo das férias para a casa deles, e Sirius vinha um pouco depois, quando seus pais deixavam.

Então era algo comum nós três estarmos ali, o que nos fez ser muito próximos dos pais de Prongs.

James era uma cópia perfeita do pai. Eu já tinha visto fotos de Fleamont jovem, e era muito difícil apontar qualquer diferença entre ele e o filho. Os mesmos cabelos, os olhos, os óculos. Eram muito parecidos, embora o pai dele demonstrasse ser mais comportado.

Era uma piada interna que ele desenvolveu a poção para domar cabelos por causa de James, que embora tivesse o mesmo tom característico da família Potter, tinha os fios bagunçados e rebeldes de sua mãe.

Euphemia era uma pessoa extremamente bondosa. Estava sempre sorrindo, e mimava qualquer um que entrasse em sua casa ao extremo, embora também fosse muito preocupada e às vezes exagerasse.

Mas em defesa dela, seu filho era um completo horror, e ela sempre reforçava que era tão preocupada por causa da infância de James, onde ele surpreendentemente conseguiu fraturar ossos do próprio corpo nove vezes.

— Sirius! Que bom ver você!— Ela disse, sorrindo para Pad, que ainda estava encolhido em mim, o corpo trêmulo de uma forma que estava me deixando muito preocupado — Camas vazias, nenhum bilhete... — Continuou, os olhos faiscando sobre James — Claro que não é sua culpa, Sirius — Emendou bondosa.

— Você disse que tinha avisado — Resmunguei para ele, que riu arteiro.

— Estávamos preocupados com Sirius! Ele estava trancado em casa. Colocaram grades na janela...

— É bom você torcer para eu não colocar grades na sua janela, James Potter! — Ela insistiu, e ele riu se esticando para abraçar ela, que revirou os olhos, mas o acolheu.

— Desculpa. Recebemos uma carta do irmão de Sirius para ir buscar ele, e se eu dissesse você iria querer fazer uma coisa louca e responsável como ir você mesma, ou algo do tipo.

— Não seria uma má ideia — Murmurei, e ela sorriu para mim.

Eu sempre gostava de como ela era preocupada, mas ao mesmo tempo parecia confiar em mim para cuidar de James.

— Leve as malas de Sirius para cima, James — Ela disse, com um sorriso bondoso para Pad, e pareceu notar a expressão congelada e assustada que ele tinha — Sirius, querido? Tudo bem?

— Sim — Ele disse baixinho, assentindo,a lateral do corpo ainda grudada no meu, e isso estava fazendo uma onda de pânico crescer.

Eu jamais tinha visto Sirius Black assustado com qualquer coisa.

E Hagrid, o guarda-caça e Guardião das Chaves e Terrenos de Hogwarts, já havia nos mostrado seu amigo Aragogue, uma acromântula gigantesca que vivia na Floresta Negra.

Foi quando estávamos cumprindo uma detenção com ele, e Hagrid contou que suspeitavam que havia um lobisomem vivendo em Hogsmeade, porque as aranhas contaram a Aragogue que viram um bando.

Isso nos divertiu bastante na época, porque as acromântulas temiam lobisomens também, o que significava que ficaríamos a salvo delas, e é claro que o fato de eu ter um bando nos fez dar boas risadas.

— Hã... Sirius vai ficar com a gente agora — James disse, os braços ainda ao redor da mãe — Ok?

Ela ergueu os olhos para Pad mais uma vez, e eu notei os olhos dele se encherem de lágrimas, enquanto ela empurrava James para o lado, fazendo ele franzir o cenho indignado ao ver sua mãe se apressar na direção de Sirius para abraçá-lo.

Nada precisou ser dito, e o pai de James se aproximou para dar uma batidinha nas costas de Sirius enquanto ele era abraçado por Euphemia.

— Vou aprontar um quarto para você, querido — Disse baixinho, se afastando e Sirius secou os olhos com as costas das mãos, olhando indeciso para nós.

Foi James que rompeu o silencio, com a voz descontraída.

— Não precisa não, mãe — Disse, balançando os ombros — Sirius vai ficar com Remus.

— Não seja bobo, querido. Temos muitos quartos vagos. Sirius pode ter o dele.

Sempre que íamos passar as férias, ela oferecia um quarto para cada um, mas costumávamos sempre ficar juntos no quarto de James.

Há alguns anos atrás, ela havia sido vencida pela curiosidade e perguntou ‘qual de vocês namora quem?’ o que nos fez rir muito em explicar que era só uma amizade muito forte e intensa que nos fazia não desgrudar um do outro.

Quando conheceu Lily, obviamente ela ficou encantada e surpresa, porque sempre achou que em algum momento um de nós ia acabar ficando com Prongs, pela nossa proximidade e pelas vezes que nos pegou dormindo os três juntos na cama de James.

Me admirava serem pessoas tão bondosas, que acolhiam qualquer garoto perturbado que aparecesse em sua porta com James.

Mas como nessas férias Lily viria passar um dia com James, e pretendíamos desde o começo trazer Sirius para ficarmos juntos aqui antes de fazermos alguma viagem ou qualquer coisa, como sempre, eu havia aceitado um quarto separado.

Afinal agora éramos namorados e Prongs havia implorado para não fazermos nada sujo no quarto dele para não traumatizar o ambiente.

— Não, Sirius e Remus vão ficar no mesmo quarto — Ele insistiu, balançando a cabeça para sua mãe, indicando nós dois, e ela finalmente percebeu que após soltar Sirius, ele tinha voltado alguns passos para trás, o corpo colado ao meu, e nossos dedos se entrelaçando suavemente.

Ela piscou, surpresa, e então sorriu logo em seguida, soltando um suspiro muito aliviado.

— Bom, já não era sem tempo — O pai de James disse, rindo para nós, e Sirius soltou um sorrisinho para ele — Viu só? Eu disse que iam se arranjar — Se virou para a esposa, que assentiu.

— Fico muito feliz por isso. Eu sabia! — Balançou o dedo indicador na nossa direção, com um olhar esperto — Se havia uma garota perfeitamente normal por esse mundo que era louca o suficiente para querer alguém como James, com toda certeza haveria um garoto perfeitamente normal que iria querer Sirius! Fico muito aliviada, sim.

— Mãe!

— Não me venha com ‘mãe’! Eu estava preocupada! Dois meninos sem juízo como vocês, precisam de alguém que seja responsável. Eu não vou viver para sempre!

James revirou os olhos, mas riu.

— Moony, leve o Pad para o quarto. Ele parece cansado. Vou arranjar alguma coisa para ele comer e já vou subir — Ele disse por fim, me estendendo a mochila de Pad, e eu assenti, entendendo que ele precisava conversar com os pais sobre Sirius morar ali, e eu precisava ver se Sirius estava bem.

— Se precisarem de qualquer coisa me avisem, meninos — Ela disse por fim, e eu sentia os olhos dos três Potters nas minhas costas enquanto subia as escadas, com a mão apoiada na cintura de Sirius.

Não tinha certeza do que havia acontecido nessas duas semanas, mas ele parecia muito emocionalmente abalado.

Caminhamos pelo corredor, chegando ao quarto onde eu estava hospedado, ao lado do de James, e abri a porta, carregando a mochila até poder atirá-la na cama.

— Como você está? — Perguntei, vendo Sirius fechar a porta e vir até mim, passando os braços ao redor dos meus ombros, e o acolhi em um abraço apertado, sentindo ele soltar o ar lentamente, com os olhos se enchendo de lágrimas novamente.

— Acha que vou poder ficar aqui? — Disse baixinho, a voz ainda soando quebrada, e eu sorri ao afastar o abraço para olhar seu rosto.

— É claro que sim, Pad. Sabe que os pais de Prongs gostam mais de você do que do próprio filho — Brinquei, e ele sorriu ao assentir.

— Logo a herança que meu tio Alphard deixou vai ser liberada. Agora que já tenho idade para recebê-la... então acho que não vou precisar ficar aqui muito tempo.

— Você pode ficar aqui o tempo que for preciso, querido — Falei, em uma imitação exagerada da mãe de James, e ele riu, porque era óbvio que isso seria dito para ele — Mas... de qualquer forma, se não se sentir confortável, podemos pensar em uma solução, ok?

— Tudo bem — Concordou, e eu sorri ao afastar os fios escuros de seu rosto.

— Vá tomar um banho quente. Vou pegar mais cobertores. Você parece muito gelado. Prongs vai trazer algo para você comer, e então vamos dormir.

— Tudo bem — Ele repetiu no mesmo tom apático, parando por um instante ao pegar a mochila, e se virou para mim de novo.

Pareceu que iria dizer alguma coisa, mas balançou a cabeça, e eu sorri ao ver ele ir até minha mala pousada no canto do quarto, pegando roupas minhas para vestir e seguiu para o banheiro do cômodo.

Isso me fez suspirar, sentando sobre a cama, e abri a mochila dele, em busca das maneiras de contatar seu irmão, para enviar uma carta e dizer que Sirius estava bem.

Não tinha passado desapercebido que da mesma forma como Sirius parecia totalmente quebrado, seu irmão tinha um olhar de raiva muito grande no rosto.

Regulus era um ano mais velho, e embora fosse uma pessoa muito reservada, ele e Sirius sempre estavam em contato, sempre conversavam e eu nunca os via brigar, muito embora Sirius enchesse a paciência dele o tempo inteiro.

Eu sabia que Regulus era a única razão para Sirius não sofrer tanto dentro da casa dos Blacks, porque ele costumava encobrir o irmão, por saber o quanto os pais o detestavam.

— Moony? — A voz de Sirius veio baixinha, e eu caminhei até a entrada do banheiro.

— O que foi, Pad? — Perguntei ao empurrar a porta, vendo ele parado ali dentro.

— Você... me ajuda? — Questionou baixinho, e eu olhei sem entender, mas assenti, me aproximando dele vendo que havia removido os sapatos, e o meu casaco.

Levei as mãos até a barra da camiseta, mas ele me impediu de fazer isso, com os olhos claros cheios de algo que eu não entendi, e se virou de costas.

Meu movimento seguinte fez ele soltar um choramingo, porque eu puxei a camiseta rápido demais ao ver manchas de sangue no pano suas costas, e eu congelei por um instante, vendo a pele totalmente marcada como se... como se ele houvesse sido açoitado muitas vezes.

Haviam cortes por toda parte, alguns roxos e inflamados, com gotículas de sangue escuro pelas feridas, e eu senti meu coração ser esmagado ao entender que Sirius não estava chorando porque os pais dele não o aceitavam.

Ele estava chorando de dor.

A cada vez que um de nós o abraçava, ainda que ele precisasse disso e não afastasse ou reclamasse quando era apertado.

— Moony? — Ele se virou para mim, e eu o olhava sem ver, sentindo um bolo me engasgar a garganta, e ele suspirou, segurando minhas mãos entre as dele.

— Nós vamos fazer uma denuncia — Falei, vendo ele negar com a cabeça, os olhos atormentados — Sirius, isso não é discutível! Regulus viu isso?!

— Sim — Disse baixo, desviando os olhos dos meus.

— Onde mais está machucado? — Falei, me soltando das mãos dele, correndo e me joguei no chão diante da minha mala, puxado minha caixa de primeiros socorros para noites de lua cheia, e virei sobre a cama.

Diversos frascos caíram ali, e eu corri os dedos entre eles, muito exasperado, vendo como minhas mãos tremiam.

— Não tem mais machucados. É só... isso.

— Só isso — Resmunguei, tentando pensar racionalmente, porque meus olhos haviam se nublado — Vou te dar algo para dor. Não podemos limpar os ferimentos, porque vão registrar e provavelmente tirar fotos para a denúncia.

— Moony! Não, eu não quero nada disso!

— Sirius...

— Por favor — Ele disse, se ajoelhando ao meu lado — Eu não consigo lidar com isso agora, Moony. Não consigo. Por favor?

— Pad... — Falei baixo, preocupado e ele suspirou.

— Regulus vai pedir uma ordem de restrição, para que fiquem longe de mim. E disse que vai registrar uma ocorrência. Ele trabalha no Ministério agora, conseguiu um emprego lá. Então vai dar certo. Eu só... quero e preciso esquecer isso agora, tudo bem?

— Você contou isso a ele?

— Regulus soube por Monstro. Ele... entrou em contato quando você mandou uma carta, e Monstro contou que meus pais estavam me mantendo trancado e que me batiam. Ele voltou, eu disse que era verdade e ele falou que vai resolver tudo. Eu não quis mostrar para ele, mas eu sei que Reg vai resolver isso — Garantiu, e eu assenti, porque estava vendo nos olhos dele a necessidade de deixar isso para trás.

— Tudo bem — Concordei, sabendo que não podia obrigar ele a fazer a denúncia, mas sabia que Regulus não iria conseguir deixar as coisas sem solução daquela forma — Mas me promete que se algum dia se sentir confortável, nós vamos registrar a denuncia? Mesmo que os ferimentos se curem, ainda podemos usar memórias para registrá-la. Me promete?

— Eu prometo — Ele garantiu, um sorriso pequeno — Você pode cuidar de mim agora?

Assenti, com um sorriso pequeno, sem muita emoção ao passear os dedos pelos frascos, e estendi um para ele.

— Tome esse inteiro — Pedi, e ele o fez sem contestar, e sorriu minimamente para mim.

— Essa é sua melhor poção de dor — Ele disse ao reconhecer o liquido azul, e eu sorri — Você me ama mesmo — Observou, pois sabia o quanto era complicado conseguir aquela em especial, e eu suspirei ao procurar por outro frasco.

Estava quase vazio, como eu suspeitava. Era uma loção para cuidar das inflamações e ferimentos. Mas aquele eu usei ontem por causa da lua cheia, e naquele instante me senti totalmente impotente, encarando a embalagem pequena pela metade.

Ergui os olhos para ele, que ainda tinha aquela expressão dolorosa, e jamais me esqueceria de como eu me senti pequeno e inútil naquele momento.

Não estive lá para proteger ele. Nem para salvá-lo. Para impedir de ficar preso todo aquele tempo, sofrendo sozinho.

Aquelas duas semanas sem Sirius doeram quase como se fossem... sei lá, doze anos.

Soltei o frasco sobre a cama, me erguendo para segurar seu rosto entre as mãos, vendo ele me olhar e sorrir tristemente.

— Está proibido de se culpar por isso, Remus — Alertou, e eu neguei com a cabeça.

— Eu sinto muito. Sinto muito por isso, Pad. Eu não... não lembrei dos seus pais. Deveríamos ter sido discretos na escola...

— Não foi sua culpa — Ele garantiu, levando os dedos para meu rosto, e fez um carinho suave sobre minha cicatriz — McGonagal leu o livro que eu emprestei, sobre meu transtorno do déficit de atenção e enviou uma carta para meus pais, querendo discutir um novo plano de ensino para mim.

Pisquei, totalmente surpreso com isso e ele assentiu.

— Meus pais acharam que eu estava tentando chamar atenção. Que estava dizendo que eu não conseguia fazer magia. Minha mãe quebrou minha varinha, e... disse que se eu não seria um bruxo, então... seria um elfo — Ele desviou os olhos para o chão, e pareceu não sentir vontade de dizer mais uma palavra se quer.

Eu sabia, pelas histórias de Sirius, que mestiços e elfos domésticos eram as coisas que sua família mais abominava. Que os tratavam como vermes.

Sirius contava as histórias. Falava sobre como era a vida de Monstro, o elfo fiel da família. De como ele se tornou amargurado, e só gostava de Regulus, por todos os castigos que foi obrigado a sofrer.

Me inclinei para a cama, pegando o frasco e enrosquei os dedos da outra mão nos de Sirius, puxando ele para o banheiro novamente, e abri o registro da banheira com água morna.

Despejei todo o conteúdo da poção ali, porque seria a única forma de conseguir cobrir toda a região, e me virei para Sirius, puxando a varinha e fiz um feitiço para rasgar a camiseta dele para fora do corpo.

Não iria fazê-lo se mover demais para tirar a peça, e soube ser uma boa decisão porque quando terminamos de nos livrar das roupas dele e ele se esticou para entrar na banheira, eu vi a forma como as feridas se abriam a cada vez que ele mexia os braços.

Ele sentou, me olhando indeciso quando me ajoelhei no chão ao lado da banheira, pousando as mãos na sua nuca, ajudando-o a se deitar devagar, mas segurando seu corpo suspenso para não ir água em seu rosto.

— Fique assim por uns instantes. A poção ajuda a desinflamar os ferimentos. Depois vou passar algo para fechar as feridas — Garanti, segurado firme para mantê-lo deitado, vendo os cabelos negros espalhados flutuando pela água, enquanto ele erguia os olhos para mim.

— Moony? — Perguntou baixinho, suspirando ao levar os dedos molhados e gelados até meu rosto, amparando as lágrimas trilhando minha bochecha — Não chore, Moony. Eu estou bem.

— Desculpe, Pad. Estou tentando ser forte — Garanti, e ele negou.

— Eu te contei tudo porque sei que não preciso ser forte com você. E você não precisa ser forte comigo.

— Eu sou seu lobisomem gay, sempre vou tentar ser forte por você — Garanti, e ele riu ao negar com a cabeça, me fazendo sentir o coração voltar ao compasso com o som de uma risada verdadeira.

Quando ele voltou a se erguer, e ficar sentado, os ferimentos pareciam muito melhores, e isso me aliviou, porque então não havia nada sério ou comprometido em sua pele.

Provavelmente teria algumas cicatrizes, mas eu sabia que ficaria tudo bem.

Sirius ficou quietinho conforme eu tomava para mim a tarefa de lavar seus cabelos, acariciando-os conforme espalhava shampoo, depois condicionador.

— Quando... eu pegar a herança do meu tio — Ele disse, os olhos fechados enquanto eu jogava água para enxaguar os fios negros — Nós podemos morar juntos?

Sorri, surpreso pela oferta, e ele abriu os olhos ao notar que eu tinha parado o que fazia.

— Você tem certeza?

— Sim — Garantiu, se esticando para me beijar suavemente — Era só o que eu pensava, esse tempo todo. Que um dia iria morar com você, e então... teria um casa onde gostaria de estar. Onde alguém iria me querer sempre.

— É claro que podemos morar juntos — Garanti, com um sorriso abobalhado, me esticando para beijar os lábios dele, arquejando quando Sirius me puxou, e obviamente me derrubou pela metade dentro da banheira.

Não sabia como tinha sido burro de não pensar que ele faria isso, e ele riu em desculpas.

— Eu não pude perder a oportunidade — Se justificou — Não desiste de morar comigo, Moony!

— Nunca desistiria de você, Padfoot — Garanti, com um sorriso ao voltar o corpo para trás, pingando água em toda parte, e usei a varinha para me secar.

Terminamos de enxaguar os cabelos dele, e enquanto fui buscar toalhas, ele terminou de se lavar, agora conseguindo se mover sem sentir dor.

Ainda assim, tinha um sorriso no rosto quando eu o sequei e ajudei a vestir minhas roupas. Era sempre muito bom tê-lo usando meus moletons velhos com camisetas desbotadas e largas em seu corpo esguio.

Sentamos na cama juntos, enquanto eu escovava os cabelos dele, cheirosos e macios, em um silencio muito tranquilo.

— Eu vou ver onde Prongs se meteu com sua comida, tudo bem?

— Tudo bem — Garantiu, sentando na cama, cobrindo as pernas e vê-lo melhor, com alguma cor no rosto.

Apenas sai do quarto, e estava na metade das escadas quando encontrei Prongs subindo com uma bandeja.

— Ei — Falei, parando ele, que ergueu osolhos para mim, suspirando.

— Ele está ferido, não está?

— Eu já cuidei da maior parte dos machucados. Nada sério. Vou passar uma loção para fechar as feridas abertas, e ele está sem dor e não tem febre. Acho que vai ficar bem.

Ele assentiu, suspirando outra vez.

— Ele não quis fazer algo a respeito?

— Regulus vai cuidar de tudo, segundo Sirius. Vou mandar uma carta para ele amanhã cedo, e vamos conversar sobre o assunto. Eu não quis pressionar agora, mas não podemos deixar as coisas dessa forma.

— Tudo bem. Vamos levar isso para ele comer e dormir.

— E seus pais?

— Falei que os pais de Sirius estavam com raiva por Pad e você estarem juntos, e que ele ficaria conosco. Eles gostaram da ideia, amam Sirius. Estão só preocupados com ele.

— Certo — Murmurei, com o coração ainda apertado, mas decidido a cuidar de toa a situação — Ele não parece estar bem para falar no assunto agora. Apenas vamos deixar ele descansar ok?

James assentiu, e nós voltamos juntos para o quarto, encontrando Padfoot sentado com um sorriso, lendo uma carta.

— O que foi?

— Meu irmão colocou nas minhas coisas. Tem dinheiro. Ele disse para usar com sabedoria, e embora eu vá fazer isso, sinto uma compulsão no fundo do coração para comprar um bode.

— Um bode? — Questionei sem entender, e Sirius assentiu, dando de ombros — Porque um bode?

— Não sei. Quando peguei o dinheiro, só pensei no quanto seria legal ter um bode. Você pode manter esse dinheiro longe de mim, Moony, por favor? — Questionou e eu ri ao concordar e ir até ele para pegar o envelope e guardar no meu malão, vendo James colocar a bandeja no colo dele.

— Como está, Pad?

— Estou bem. Não quero pensar ou falar nisso agora — Ele já alertou, e James assentiu ao sentar ao lado dele.

— Seria legal ter um bode — James disse subitamente, e isso me fez sorrir ao ver o longo olhar que ele troou com Padfoot, cheio de cumplicidade.

Parecia ser exatamente o que Sirius precisava ouvir naquele instante, e eu terminei de guardar os frascos de poções dentro da minha caixa, mantendo uma loção nas mãos.

Sirius tirou a camiseta, e eu sentei atrás dele, afastando seu cabelo das costas e comecei a passar a loção em uma massagem suave, sentindo a pele ferida contra aS palmas das mãos, enquanto ele comia o lanche preparado por James e Euphemia.

Durante os instantes que se seguiram, ele apenas explicou o que a mãe disse, que ficou trancado no quarto e teve seus objetos quase todos destruídos e transformados em lixo, e por fim repetiu que não queria falar sobre os machucados.

— Se tivéssemos um bode, poderíamos jogar bosta de bode na casa dos Blacks — James veio com sua brilhante conclusão, depois de um momento pensativo, e isso nos fez rir.

— Vai dormir com a gente hoje? — Perguntei depois de ajudar Sirius a vestir a camiseta, mesmo que agora ele estivesse bem para fazer isso sozinho.

James colocou a bandeja na mesinha do outro lado do quarto, e assentiu.

— Se eu não dormir abraçado com vocês, minha mãe não vai poder me envergonhar na frente da minha namorada dizendo que ‘embora eu seja um pouco gay com os amigos, ele é um bom garoto, não desista dele!’ — Exclamou, exatamente como já vimos sua mãe fazer diversas vezes quando via Lily — Não posso impedir ela de ter esse prazer. Jamais faria isso com mamãe!

— É, sua mãe adora dizer isso.

— Você precisa dormir agora, Pad. Amanhã podemos ir comprar uma varinha nova — Sugeri e ele assentiu, com um sorriso pequeno, piscando surpreso quando em gestos idênticos eu e James estendemos a nossa para ele.

— Pode ficar com a minha enquanto isso — Falamos juntos, nos encarando por um instante, porque quase soou ensaiado.

Sirius riu, e Prongs fechou a expressão para mim.

— Ele vai ficar com a minha!

— Eu sou o namorado, Prongs. Você sempre esquece disso. O namorado sempre vem primeiro!

— Não, não! Amizade primeiro! Sempre falamos sobre isso! VOCÊ sempre fala que a amizade tem que vir primeiro!

— Namorado que também é amigo vem primeiro — Insisti, apenas para ouvir Sirius rir, se ajoelhando na cama para puxar ambas as varinhas de nossas mãos.

— Vocês são dois idiotas — Observou, empurrando as varinhas para debaixo do travesseiro, e se aconchegou na cama ao bater as mãos ali para nos chamar.

Nós dois chutamos os sapatos para longe, entrando debaixo das cobertas, enquanto eu acolhia Pad, encaixando ele no meu corpo, com o rosto pressionado contra seus cabelos , e James se aconchegou em Sirius, que passou os braços ao redor dele.

— Uma clássica conchinha tripla dos marotos! — James disse muito satisfeito, nos fazendo rir.

— E depois não entende porque sua mãe acha que somos seus amantes, tsc — Sirius resmungou, e eu puxei o cobertor para cima de nós.

— Ela disse que quando eu ficava no meio da conchinha parecia altamente gay. Então eu disse para ela que dessa vez ia ficar na ponta, como um macho hetero! — Bradou energético, nos fazendo rir.

Era sempre engraçado como Prongs levava no humor qualquer piada ou rumor sobre nossa proximidade, porque era incrível como nenhum tipo de preconceito se quer entrava na cabeça dele.

James era o tipo de cara que seria um pai incrível no futuro, e era algo que eu e Pad sempre conversávamos.

Desde que havia falado sobre como suas ações afetavam as pessoas, e ele se dispôs a mudar, eu tinha muito orgulho dele.

Prongs esticou o braço, usando uma das varinhas debaixo do travesseiro para apagar as luzes, e então o silencio reinou dentro do quarto escuro.

Com Sirius entre meus braços, eu finalmente me sentia em paz.

— Vocês são minha família — Ele disse, muito baixinho depois de algum tempo, rindo quando nós o apertamos entre nossos corpos.

—  Somos os marotos. Sempre seremos família —  Prongs disse, e eu sorri.

Era verdade.

Eu não era bem vindo entre os Lupins.

Mas eram bem vindo entre os Potters.

E acima de tudo, entre James e Sirius.

Iríamos lidar com aquela bagunça, e Sirius ficaria bem.

Seriamos sempre sua família.

— Desde sempre, para sempre — Murmurei baixinho contra o pescoço de Sirius, e senti sua bochecha se curvar em um sorriso.

— Tão gays — Prongs murmurou.

— Cala a boca, hetero! — Sirius e eu falamos em conjunto, os três caindo nas risadas em seguida.

A verdade absoluta, é que sempre estaríamos ali um pelo outro.

E isso, nada nem ninguém poderia mudar.


Notas Finais


Potters supremacy!
Agora vamos entrar em uma nova fase, e estamos caminhando para a conclusão da história ok!
Muitas pessoas questionaram o fato do Regulus ser mais velho nessa história, e sempre tive planos para ele cuidar do Sirius quando essa fase chegasse. Foi uma das razões para ter mudado a idade dele aqui.
Espero que estejam gostando da história!
Nos vemos no próximo!


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