— Vocês sabiam sobre isso?
A tensão que pairava no ambiente era tão palpável que eles podiam sentir na pele. Agora na sala só estavam os habitantes de Edo e a família Sakata, os soldados de Gintoki já haviam seguido apressados em direção ao grande salão, após a notícia que receberam. Quem fizera o questionamento fora Shouyou, que encarava aos dois jovens Yorozuyas com seriedade.
E embora os garotos não tenham usado palavras para responder, o silêncio e os olhares de ambos já deixavam claro qual era a resposta para tal pergunta.
— Shin-chan, Kagura-chan. Por que estão fazendo isso? — Otae fora a próxima a questionar, ao mesmo tempo em que confusa, também demonstrando sua discordância com as atitudes dos mais novos.
— Se vocês realmente sabiam sobre essa invasão, podem ser acusados de cúmplices — Katsura tomara a palavra. — Isso pode trazer muitos problemas a vocês, garotos.
— E não nos importamos! — Kagura fora quem finalmente respondera.
Ainda que o tom raivoso estivesse expresso, a mágoa e o ressentimento também se faziam presente por meio do olhar lacrimejante da ruiva.
— Mas, Kagura-chan! — Kondou agora tentava ser a voz da razão. — Este lugar não é o caos de Edo e menos ainda a liberdade de Kabukicho. E não é com a Shinsegumi com quem vocês estão lidando. Entendem isso? Aqui vocês podem realmente acabar mal por uma decisão-
— Vocês não entendem?! — Ele fora interrompido antes por Kagura, porém. — O Gin-san se tornou uma pessoa totalmente diferente! Alguma coisa aconteceu com ele nesse lugar que o fez mudar tanto! E nós não podemos deixar assim!
— E isso é suficiente para vocês traírem a confiança dele de tal maneira? — Pela primeira vez a voz de Hijikata fora ouvida em meio à discussão, e essa não estava alterada ou mesmo carregava qualquer tom em especial.
O vice-comandante da Shinsegumi acendia seu cigarro tranquilamente, esperando a resposta dos mais jovens. Era claro que ele fazia apenas uma observação, a qual tinha a única intenção de fazê-los questionar a si mesmos. No entanto, o duo yorozuya não precisava mais fazê-lo, pois durante todos aqueles dias fora a pergunta que mais se fizeram, chegando sempre à mesma resposta. Resposta essa que Shinpachi entregara em seguida.
— Hijikata-san, minna. — Encarou-os seriamente. — Nós não somos tolos ao ponto de nos deixarmos ser manipulados de tal maneira. Nós sabemos no que nos metemos, e sabemos que a partir do momento em que escolhemos trabalhar ao lado dessas pessoas nos tornamos inimigos da família do Gin-san e dele próprio. Mas, na verdade, o maior inimigo do Gin-san nesse momento é ele mesmo! Nós não entendemos tudo, mas entendemos o bastante para compreender que se o Gin-san protege esse clã e ainda o defende é porque algo de muito errado aconteceu. Nessa cidade e com ele. Vocês não fazem ideia das barbaridades que essas pessoas viveram nas mãos dessa organização.
— E se o Gin-chan esqueceu o que ele ensinou a nós, nós o lembraremos! Porque nós não nos esquecemos! E porque é assim que o Yorozuya sempre foi!
— É admirável como as atitudes de uma pessoa tão complicada pode afetar em grandes escalas a complexidade de tudo mais ao seu redor, não concordam? — Shouyou finalmente voltou a se pronunciar.
Seu tom levara grande parte do recinto à confusão. Eles estavam em meio a uma discussão tensa e cheia de revelações, mas a frase soara de seus lábios como se estivesse comentando sobre o clima.
— Nem me fale...
O mais surpreendente, porém, fora a voz de Mayah concordando com o professor em meio a um suspiro cansado. Ela parecia ter sido a única a compreender a fala do mais velho e estava prestes a complementar o comentário, quando Souichiro chamou a atenção de todos para si.
— Ué, cadê a Dango?? — Enquanto girava em torno de si mesmo à procura da amiga, percebeu a ausência também dos outros dois irmãos. — E o Satoshi e a Sayuri?
Por um minuto, todos ficaram em silêncio, encarando uns aos outros. No segundo seguinte, porém, após Shouyou e Mayah trocarem um olhar tenso, a morena saiu em disparada porta à fora, seguida de perto pelo próprio Souichiro e então por Sougo, que entendeu o pedido mudo de seu comandante.
— Vocês fiquem aqui — Shouyou ordenou à Shinpachi e Kagura, que já pensavam em também segui-los. Por mais alerta que estivesse com a situação, sabia que não podia dar brecha para que os dois conseguissem escapar dali num possível futuro. — Kotarou, Shinsuke, — Dirigiu-se em seguida aos discípulos, que logo se atentaram ao que seria pedido. — não saiam da beira de Rose-san e as crianças.
A resposta que ele tivera fora um aceno afirmativo duplo, antes de também sair porta à fora, deixando os dois jovens por conta de Kondou, Hijikata e de Hasegawa.
O que acontecera para a situação chegar a tal reviravolta fora que eles não perceberam que enquanto concentravam-se na conversa tensa, três das sete crianças presentes já escapavam de suas vistas.
Satoshi, antes mesmo de Shouyou lançar a primeira pergunta aos dois jovens, prevendo o rumo que a conversa entre os adultos tomava, cutucou Sayuri, gesticulando com a cabeça para deixarem a sala. A passos de gato e tomando muito cuidado para não chamarem atenção, os dois atravessaram a porta.
Os gêmeos teriam alcançado seu objetivo com perfeição se não fosse por Dango. A albina mais velha os viu saindo e não se demorou a ir atrás deles, escapando para fora da sala até melhor do que os outros dois, já que desta vez realmente ninguém a notou. Ela só esperava que a tensão da qual ela tanto queria fugir distraísse os outros de suas ausências.
— Ei — Dango finalmente chamou após virar um corredor atrás dos gêmeos, tendo certeza que não seria mais possível para os adultos ouvi-la. — O que vocês estão fazendo?
— Aquela tensão toda e tudo mais estava ficando chato — Satoshi foi quem respondeu, dando de ombros.
— Mas não é perigoso andar por aí depois do que aconteceu? — Dango perguntou.
Ela concordava com Satoshi e também estava aliviada de sair de lá, mas a confusão no parque a havia abalado bastante.
— Se estivéssemos em qualquer outro lugar, sim, — Sayuri quem respondeu dessa vez. — Mas a sede da Shinikayou é um dos lugares mais bem guardados da cidade. Estamos seguros aqui, especialmente se não sairmos do prédio.
Dango mordeu o lábio inferior, olhando para os irmãos, ainda meio incerta.
— Eu não sei não...
— Se você voltar agora vai dedurar a gente — Satoshi apontou. — Vem, não esquenta — completou relaxado.
Dango titubeou por mais uns segundos, mas Satoshi realmente estava certo. Ela não poderia voltar para a sala sem alertar aos adultos de que não estivera lá por um minuto que fosse. E ela não queria ser o alvo da raiva de Shouyou ou de Mayah naquele momento.
— Ok. — Dango suspirou, dando-se por vencida. — Vocês fazem um tour comigo pelo lugar então?
— Vamos até o outro corredor, lá é que ficam as melhores salas. — Sayuri lhe sorriu, já indicando o caminho pelos quais eles seguiram.
Os três caminharam pelos corredores e salas da sede por alguns minutos. Sayuri parecia a própria guia turística com a animação com que apresentava os locais. Satoshi, embora não demonstrasse a mesma energia da irmã, também parecia satisfeito. Eles passaram pelas salas de alguns capitães de esquadrão, assim como todos os laboratórios de perícia que no bloco existia — se demoraram um tiquinho mais na de análises balísticas, porque Satoshi parecia gostar bastante dela em específico —, enquanto isso Sayuri explanava alegremente sobre a organização metódica da localização das salas, até que enfim chegaram ao fim de um outro corredor.
— E aqui é a sala do papai — ela declarou, aguçando um pouco mais a atenção da irmã.
— Será que está aberta? — Satoshi questionou-se já girando a maçaneta.
— Não! — Dango chiou, fazendo o irmão parar um pouco antes de abrir a porta. — Satoshi, isso a gente realmente não devia fazer.
— Ué, por quê? Já estivemos aqui uma centena de vezes — desdenhou o desespero da primogênita.
— Mas sem ele junto? — A albina permaneceu tentando apelar para a pouca razão que sabia existir no irmão. — E enquanto estamos andando por aí escondido de todo mundo?
— Não estamos escondidos de todo mundo, apenas não nos demos ao trabalho de interrompê-los na lavação de roupa suja — corrigiu categoricamente, fazendo a mais velha rolar os olhos.
— Dango tem razão, Satoshi. — Sayuri então entrara na discussão, fazendo a irmã olhá-la grata pela concordância. — É melhor não fazermos isso. O papai não gosta que mexamos nas coisas dele sem permissão.
— Mas não vamos mexer em nada... — Ele ainda tentou retrucar, mas os olhares desacreditados das duas irmãs o fez render-se, levantando os braços para o alto. — Ok, ok. Vocês venceram. Vamos sair daqui então.
Ambas suspiraram aliviadas, mas logo se arrependeram quando perceberam que já não estavam mais dentro do prédio. Após a porta que fechava a sala de Gintoki, as crianças desembocaram em um novo corredor, sem salas, o qual tinha uma única porta, que era um dos portais para o corredor externo do prédio que constituía o Bloco 4. Assim que perceberam que estavam do lado de fora, paralisaram seus passos, repensando sobre a ideia de estarem ali.
— Acho que deveríamos voltar... — Sayuri fora a primeira a sugerir.
— Sim, concordo plenamente — Dango fora a próxima, já dando meia volta.
— O que as três mais belas crianças nobres fazem aqui fora sozinhas? — Uma voz masculina fora escutada antes da albina mais velha completar sua intenção.
Dango virou-se de volta para a área externa, onde encontrou três soldados vindo na direção deles.
— Ah... já estávamos voltando para dentro — Satoshi desconversou. — Só estávamos esticando as pernas, sabe? — O fato dele parecer tão calmo e despreocupado com a situação fez a habitante de Edo se perguntar o quão acostumado a se meter em encrenca seu irmão mais novo estava.
— Com toda essa confusão, não deveriam estar aqui. — Um outro do trio fardado comentou, e Satoshi estava prestes a responder mais uma vez, mas fora interrompido por sua gêmea antes.
— O que vocês estão fazendo aqui? — questionou com estranheza. — Deveriam estar no Castelo agora ou no Instituto, não? — Embora ela fosse alguns metros mais baixa que os três os quais encaravam, a moreninha não parecia estar abalada por isso.
Sua altivez e firmeza seriam bastante imponentes, se ela não fosse apenas uma criança de 9 anos.
— Alguém precisava ficar por conta da sede, certo? — O terceiro dos estranhos respondeu, dando um passo à frente, tinha um sorriso muito estranho nos lábios.
— Onde está o emblema de vocês? — Satoshi fora quem perguntara ao se colocar na frente das irmãs de forma protetora.
Finalmente compreendera a desconfiança da irmã, que parecia já ter sacado de início que aqueles não eram apostos de seu pai.
— Nossos emblemas ficam na nuca. — O primeiro homem sorriu, também dando alguns passos à frente, o que encurralou os três contra a parede de madeira, Satoshi ainda à frente delas.
— Todos os membros possuem a marca no pulso esquerdo. Ninguém foge à regra — Sayuri retrucou, e ainda que fosse visível o temor que sentia por meio de suas mãos trêmulas, sua voz continuava firme.
— Você se acha muito esperta, não é Sayuri-chan? — O segundo homem debochou. — Então é verdade mesmo que o papai está te preparando para sucedê-lo? — ironizou, já desembainhando a espada de sua cintura.
— Que tipo de monstro faz isso com a própria filha? — O terceiro complementou, demonstrando certa indignação.
— Ela já deve estar tão corrompida quanto, Kyrio. — O primeiro respondeu desinteressado, mas logo também sacou sua espada. — Vamos logo com isso, não temos todo o tempo do mundo.
— Certo — os outros dois concordaram.
Satoshi, por instinto, pressionou mais as garotas atrás de si. Sua mente à mil por hora. Se ele ao menos tivesse uma katana ou qualquer outra arma ali poderia ganhar um tempo mínimo pra que elas corressem e pedissem ajuda. Percebeu que as duas pareciam pensar o mesmo, enquanto olhavam para todos os lados, à procura de uma solução.
Eles precisavam pensar rápido.
— Vamos dar um passeio, crianças. — O tal Kyrio declarou, já avançando sobre os três, acompanhado de seus companheiros.
Os acontecimentos seguidos foram muito rápidos. No instante em que os sequestradores avançaram, Satoshi fez a única coisa que podia fazer naquele momento, que fora, por meio de sua estatura menor, desviar dos braços do homem e então dar uma rasteira que o levou ao chão. A queda afastou os outros dois, criando um mínimo espaço para que eles pudessem esgueirar-se.
— Moleque maldito!
— Corram! — gritou às irmãs, puxando-as pelas mãos.
Não demorou muito para que alcançassem o jardim que cercava o lugar, mas os três que tentavam pegá-los também eram rápidos e já estavam em seu encalço. Estavam cada vez se afastando mais do Bloco 4, o que não era bem a melhor coisa a se fazer, pois as únicas pessoas que podiam ajudá-los estava lá. Por conta das invasões, a sede estava deserta e assim não havia nenhum soldado para socorrê-los. No entanto, não tinham nenhuma outra saída a não ser correr o mais rápido que pudessem.
Foram parados bruscamente, porém, quando mais dois homens apareceram à frente deles, encurralando-os próximo ao muro que guardava o quarteirão no qual estava a imensa sede. Esses, por sua vez, não estavam fardados como os outros três, mas obviamente também estavam armados.
— Ainda não pegaram esses pirralhos?! — Um deles gritou para os companheiros que finalmente os alcançava.
— Vamos! — O outro chamou, conseguindo agilmente pegar Sayuri pelos braços.
Os três que antes os perseguiam juntaram-se ao outro que chegara, derrubando então Dango e Satoshi ao chão, os imobilizando. Sayuri tentara chutar a canela de seu algoz, mas ele fora mais rápido e também a prendera de modo a deixá-la imóvel.
— Soltem elas, seus desgraçados! — Satoshi tentava inutilmente resistir aos caras que o prendiam contra o chão, mas não demorou a sentir o metal gelado da algema que acabara de prender seu pulso esquerdo.
Estavam prestes a prender o outro membro, quando por um pequeno deslize de um deles, sua perna fora liberta e então ele a usara para chutar a genitália de um dos homens. Urrando de dor e xingando o garoto, esse afastou-se caído, o que facilitou que, em um movimento ágil, ele fizesse o mesmo com o que restava. Um barulho ensurdecedor eclodiu no jardim e logo percebera que fora trabalho de uma granada. Erguendo-se, agora liberto, Satoshi tentou alcançar os criminosos que levavam suas irmãs em direção à abertura recém-formada no muro.
— Dango! Sayuri! — gritou mais uma vez, em desespero, mas antes que pudesse dar mais um passo, uma segunda explosão fora ouvida e uma cortina de poeira densa o fez tossir e lacrimejar abundantemente.
Eles fecharam a passagem com uma segunda explosão, que causou o desabamento do restante do muro de pedras naquela região, impedindo sua passagem. A última coisa que ouvira e vira antes de sentir uma dor lancinante em sua cabeça fora o grito de sua mãe e a visão dela vindo correndo pelos jardins, acompanhada de Sougo, Souichiro e Shouyou. E então tudo ficou escuro e silencioso.
Suas irmãs tinham acabado de ser sequestradas.
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