1. Spirit Fanfics >
  2. Redingray >
  3. A Face do Mal

História Redingray - A Face do Mal


Escrita por: AnTenshii

Notas do Autor


Heeey, people!! \o

Como passaram as festas? *-* Por aqui foi uma correria e no fim não consegui postar mais um cap antes da virada </3 Maaas aqui estamos nós e com cap novo na área!
Confesso que esse me deixou um tanto apreensiva e com o coração na garganta. Sem mais deloooongas...

Boa leitura! <3

Capítulo 25 - A Face do Mal


Fanfic / Fanfiction Redingray - A Face do Mal

A sala ainda parecia um bom refúgio para seus sentimentos ambíguos e mal resolvidos. HyoMin permanecia sentada no sofá, observando o local onde visitara tantas vezes e que fora testemunha de todas as juras de amor e noites quentes do antigo casal.

Era por motivos assim que SeungHyun ainda insistia em dizer que a casa também lhe pertencia. Construíram naquele reconfortante local uma linda história de amor que, infelizmente, teve seu final gravado na última página do conto de fadas. Um conto com um quê realístico, mas ainda sim, um conto de fadas como as que lia quando era pequena.

HyoMin se sentia perdida entre tantas emoções e incertezas.

Por mais que as crises constantes houvessem levado o relacionamento com Tabi ao fim, não podia dizer que tudo se apagara. Um sentimento cultivado, nutrido e regado como uma plantinha por anos não poderia ser esquecido da noite para o dia.

- Pensei que não viria.- a voz masculina veio da cozinha, quebrando a longa quietude que havia se instalado ali desde que JunHoe partira atrás de YuBin.

SeungHyun distraía-se enquanto preparava o almoço, mas a cabeça estava longe. Na verdade, sua mente o deixou a partir do dia em que a garota propôs o término, só não demonstrava.

Ouviu os passos calmos se dirigirem para a cozinha e logo a silhueta feminina apareceu na porta. Trazia um semblante cansado que ele estudaria por horas sem se importar, assim como fazia quando a assistia dormir ao seu lado, no aconchego de seus braços e os corpos encaixados perfeitamente um ao outro.

Lembranças... Lembranças...

- JunHoe precisava do computador.- explicou.- Na verdade, eu nem...

- Pretendia me ver?- completou, largando a faca de lado com naturalidade. Tão sereno e controlado. O príncipe gentil e cuidadoso que HyoMin tivera o prazer de chamar de seu.

- Pensei que iríamos nos evitar como o diabo foge da cruz. É isso o que ex’s fazem, não é?- confessou, sentindo-se idiota por dizer aquilo. A espontaneidade causou um ligeiro sorriso de canto nos lábios do mais velho, quem agora a olhava sem a tensão anterior.

- Acho que isso não se aplica a nós. Até nisso não somos normais.

- Tem razão.- disse pensativa, relembrando de todos os momentos inusitados que desfrutaram juntos.

SeungHyun enxugou as mãos num pano de pratos qualquer após colocar uma travessa cheia de coisas difíceis de identificar no forno e então tomou numa das mãos uma garrafa de vinho.

- Uma das primeiras safras. Me acompanha?- sugeriu, e ela aceitou.

O rapaz serviu duas taças e entregou uma a HyoMin. Antes de provar um gole, ela analisou o rótulo, surpresa. Os olhos se arregalaram ao encontrar os dele mais uma vez.

- Não acredito que você guardou isso.- disse, descrente de um modo positivo.    - Eu disse que ele ficaria bom depois de um tempo.- empinou o nariz, cheio de si.- Ainda me lembro da sua alegria de amassar todas aquelas uvas com os pés quando veio aqui pela primeira vez.

 - E eram as uvas que seriam descartadas, por isso você deixou.- completou, nostálgica.

- Eu menti.- reprimiu o riso ao tomar mais um gole da bebida.

O sabor doce e levemente alcoólico era inigualável a qualquer outro. Cada vinho era único, mas aquele era especial. Tinha sentimento e provava que até mesmo o amor podia fazer brilhar coisas não tão boas assim. Foi o que aconteceu em seu relacionamento. HyoMin despertou o melhor lado de SeungHyun.

A garota girou levemente o líquido dentro da taça antes de sorvê-lo. O sabor a transportou para exatos cinco anos atrás, onde as coisas eram tão mais fáceis de lidar. As memórias que guardara num cantinho especial resultaram num nó na garganta com o baque da realidade.

- Sobre aquele dia...- ela começou, incerta.

- Acho que lhe devo desculpas.- SeungHyun a cortou. A sinceridade sentida em suas palavras, sem camadas de ironia que disfarçavam seus reais sentimentos como da última vez.

HyoMin arqueou as sobrancelhas em questionamento. Até onde sabia, quem deveria se desculpar ali era ela. Ou melhor, só queria esclarecer as coisas para se livrar do peso que trazia no peito. Fora seu erro ser ausente no relacionamento e abrir margem para a insegurança do ex-noivo, entretanto, não conseguiria retornar ao ponto de partida e fingir que nada aconteceu, sendo que outro alguém ainda lhe dominava os pensamentos.

O olhar de SeungHyun não vacilou diante da confusão perceptível na qual ela se encontrava. Ninguém a conheceria melhor do que ele.

- Sei que fui grosseiro da última vez e quero me desculpar por isso. Eu...- hesitou, escolhendo as palavras certas.- Depois que começou a trabalhar em campo as coisas mudaram, você não era mais a mesma. Tornou-se ainda mais ausente e sequer fazia uma ligação. Não tem ideia do quanto fiquei apreensivo só de imaginar que a cada dia eu poderia te perder, que você poderia se machucar ou morrer nas mãos de um criminoso.

Ele fez uma pausa para dar outro gole na intenção de afastar a angústia que o pensamento lhe causava. Em contrapartida, HyoMin já havia se esquecido da taça em suas mãos e até mesmo de como respirar. Nunca o vira deixar completamente o orgulho de lado e expor a alma completamente. Sentia-se ainda pior por tê-lo feito sofrer por todo aquele tempo.

Esteve tão focada na carreira que se esquecera que tinha uma vida e, com ela, pessoas que a amavam e que queriam ser amadas. E se fosse diferente?

- Pode ter certeza que eu faria de tudo para ter sido diferente. Eu me controlei ao máximo para não explodir e me forcei a aceitar essa loucura porque era algo que te fazia feliz. Mas... você começou a se envolver com aquelezinho, e eu não aguentei. Paranoias começaram a surgir na minha cabeça, as peças foram se juntando e então... Talvez o “nós” que construímos um dia não se encaixasse mais na sua vida. Eu... não pude cortar as asas de quem queria voar.- a frase foi morrendo com um sussurro doído.

 - Eu nunca quis te machucar, Tabi...- o pesar dominou sua voz. O peso na consciência ganhava proporções enormes.- Me sinto culpada por não ter me doado tanto ao nosso relacionamento como você, e acabei percebendo isso tarde demais.

Certo remorso emergiu em suas feições, fazendo com que ela desviasse o olhar para a taça. Não conseguia olhá-lo nos olhos. SeungHyun, por outro lado, não aguentou mais a distância física e sentimental a qual se submeteram como um cárcere.

A taça foi deixada de lado em cima da bancada e ele se aproximou de forma calma em contraste com a turbulência de seus sentimentos. Os dedos afastaram uma mecha do cabelo ondulado dela para atrás da orelha e então afagou sua bochecha com o polegar num gesto sutil, cheio de ternura. No olhar, o reflexo de um coração aos pedaços.

O amor era complexo demais para ser compreendido, formulado e analisado como algo científico e dotado de lógica. Um sentimento desabrochado como uma flor, sem precedentes, capaz de germinar até mesmo num coração desértico ou glacial, não passava de pura essência humana. Era o sentir com todas as partes do corpo. Era sentir com todas as partes da alma.

Não havia explicação. Simplesmente existia pelo simples privilégio de existir. Desabrochava apenas para amenizar os elementos de um mundo cheio de dor, sofrimento e ganância, onde o poder falava mais alto que qualquer coisa e o sentimento era visto como algo banal e sem valor.

O amor era isso. A mudança, o carinho, o querer bem. Ás vezes abstrato, outras, objetivo. Era essa brincadeira fluida que embalava a alma em braços quentes e despertava todos os sentidos. E era esse o problema. SeungHyun sentia demais, enquanto HyoMin se perdia num sentimento abstrato e que se movimentava para outras direções. Direções distantes dele.

- Eu te amo, HyoMin.- proferiu na mesma suavidade da brisa que entrava pela janela, como se fosse a primeira vez.

SeungHyun encontrou o olhar perdido e antecipou por uma resposta que não veio. A garota mordeu o lábio, lutando para não ser engolida pelo redemoinho que se formava. Por fim, pousou a mão em cima da dele e fechou os olhos, como se quisesse evitar o momento difícil.

 - Fui idiota por ter duvidado de você. Eu não estava com a cabeça no lugar.- continuou, incitando-a a falar qualquer coisa que fosse. Estava começando a ficar aflito, mas, no fundo, tinha esperança de reatar as coisas.- Se houvesse uma maneira...

 - É melhor para nós dois assim.- disse num suspiro, a voz fraca.

Ela enxergou a dor nas janelas da alma dele. E doía ainda mais para ela.

- Essa é a sua decisão final?

 HyoMin respirou fundo e deu um passo para trás. Sentiu-se tonta de repente, coisa que dificilmente acontecia quando bebia. Talvez fosse a cabeça cheia que não acompanhava a velocidade das engrenagens trabalhando e estavam entrando em pane.

Mais um passo falho para trás e o mundo girou sob seus pés mais uma vez. Forçou os olhos a focarem no rapaz a sua frente, mas SeungHyun se tornara um borrão, se desdobrava.

- Tabi... Acho que não estou bem.- avisou, levando a mão a cabeça, a qual latejava.

SeungHyun puxou uma cadeira e a fez se sentar. Diferente do normal, ele não se mostrou preocupado ou extremamente protetor. Parecia saber o que estava fazendo, afinal, precisaria estar em sã consciência e calmo caso tivesse que tomar outras providências.

- Abaixe a cabeça. Talvez sua pressão tenha caído.- pediu e afastou-se por um momento.

HyoMin não o acompanhou, apenas o obedeceu. Abaixou a cabeça e fechou os olhos, na esperança de que ao menos a vertigem passasse. No entanto, parecia ter piorado. O corpo estava ficando molenga, perdendo a força.

Ela não percebeu quando o rapaz voltou –acreditou que ele havia ido desligar o fogão. SeungHyun agachou-se na frente dela e a fitou com um pequeno sorriso nos lábios.

- É uma pena que tomou a decisão errada, meu amor.- a voz doce como mel, porém traiçoeira.

- O que?- ela questionou, lutando consigo mesma.

Bastou erguer o olhar para a imagem entrar em foco. Deparou-se com a tempestade cinzenta a sua frente, pronta para engoli-la. Não houve tempo para nenhuma reação sequer. No instante seguinte, o cinza virou escuridão.

 

- - -

           

O carro rasgava o asfalto por onde passava, deixando para trás um caminho fumegante devido à altíssima velocidade. O caminho para Bukhansan não era longo, mas parecia demorar uma eternidade diante do desespero e da urgência de chegar ao local.

Com uma das mãos, Mino digitava alguns números no celular, que só comprovavam as suas suposições. HyoMin não atendia. Com o tempo, a ligação sequer fora completada, indicando que o aparelho devia ter sido desligado.

Não sabia que tipo de demônio poderia encontrar, mas ignorou o detalhe. Um passo em falso e as coisas iriam pelo espaço. Todo cuidado era pouco naquele momento. Andava em corda bamba, e a condição emocional abalada insistia em fazê-lo perder o equilíbrio. Dessa vez não cometeria erros.

Reduziu minimamente a velocidade ao ouvir o toque do celular. Olhou rapidamente o visor e o conectou ao ponto que trazia na orelha.

- Qual o problema?- a voz fria e apressada, deixando claro que a ligação o atrapalhava.

- Missão concluída com sucesso. Descobri que os serins vão ao campo de batalha hoje sem um líder. As três raças estão aqui na terra, só que esse não é nem parte do problema. O líder verdadeiro não era o Bobby. Ele era apenas um sub-líder que ficou encarregado da tropa enquanto o verdadeiro estava fora planejando um golpe na própria raça.- ele fez uma pausa, notando a inquietação de seu dongsaeng.- Aconteceu alguma coisa?

- Não. Continue.- Mino apertou o volante, tentando manter a concentração e não ter uma síncope no meio do caminho.

- Pelo que entendi, o líder pretendia engravidar uma humana que possuísse o antídoto, o beijo, assim a prole nasceria livre da maldição, porém com a mesma força. O antídoto passaria de mãe para filho, e então uma versão imbatível de serins seria criada. Eles não teriam nenhuma fraqueza.

- Bobby sabia disso?

- Ele descobriu após algum tempo e era estritamente contra. Ele queria vingança imediata, assim como os outros. Me parece que o líder perdeu o foco no principal objetivo, a guerra, por causa da humana. Provavelmente deve ter se apaixonado enquanto tentava conquistá-la, já que não poderia contar com seus poderes para tal.- Hoon explicou, pensativo.

Mino emudeceu do outro lado. A consciência por um fio antes de ser dominado pela mais completa fúria. O sangue borbulhava em suas veias mais do que nunca.

- Lembra-se do homem mascarado que você viu na estação quando Bobby morreu?- Hoon continuou do outro lado da linha. Ao fundo, Mino conseguia ouvir o barulho do que parecia ser um motor de carro e outra voz ao fundo.- Era ele o líder. Acredito que ele esteja por trás do incêndio no galpão. Era uma briga interna.

Diante de todas as peças, Mino conseguiu observar a imagem por completo. SeungHyun era quem se escondia por trás da máscara, agindo de ambos os lados. Por todos aqueles anos ele esteve preparando HyoMin para a cartada final, chegando até mesmo a um noivado. A pressa era inimiga da perfeição e pelo jeito SeungHyun era adepto desse pensamento.

O incêndio no galpão e a presença do mascarado na estação de trem não eram coincidência, mas sim uma prova da relação conflituosa que existia entre o sub-líder e o líder. SeungHyun certamente se voltara contra o companheiro de raça quando descobriu que este perseguia seu troféu, a torturou e tentou matá-la.

Se Mino não houvesse aparecido na estação abandonada aquele dia, Bobby seria morto do mesmo jeito. O líder fora inteligente ao jogar Bobby como laranja para cegar momentaneamente as investigações. Estavam tão preocupados atrás de Bobby, que sequer cogitaram a ideia da farsa.

 Isso só o deixou ainda mais irritado.

- Hyung, onde você está?- o tom urgente predominou a fala.

- Estou a caminho de Bukhansan. Peguei carona com o seu irmão. Por quê?

- Meu irmão?- estranhou.

- Fala aí, maninho.- a voz de TaeYang surgiu do outro lado, deixando-o abismado.

 - O que você está fazendo aí?!- desesperou-se.

A conversa foi interrompida pelos pneus cantando e o som de um estrondo. A voz alterada de Hoon veio em seguida, pedindo para que TaeYang acelerasse.

- Serins estão na nossa cola.- avisou.- TaeYang, eles estão atirando! Me dá a arma!- uma pausa.- Como assim você não sabe usar uma arma?!

Todo o escarcéu só deixou Mino a beira de um colapso, imaginando a cena que se desenvolvia do outro lado da linha.

- Se alguma coisa acontecer com meu irmão, eu te mato.

 - Aiiish! Desse jeito o chefão não vai me aceitar de volta.

 Foi a última coisa que ouviu, e a ligação foi finalizada.

 

- - -

           

- Os anjos e demônios estão chegando, mestre. Parece que antes querem fazer uma proposta. Nossos homens estão guardando os arredores também.- o serim informou, fazendo uma breve mesura ao líder, quem examinava cuidadosamente a taça de vinho que recebera os lábios de sua preciosidade.

SeungHyun maravilhou-se com a potência do entorpecente que colocara na taça dela antes de lhe servir a bebida. Ficou satisfeito com o resultado, embora fosse só o começo.

No fundo, não se importava com a guerra, tampouco com a tropa que já se preparava para combate. Como líder supremo dos serins, deveria prezar por todos aqueles que lhe juraram lealdade. Era o certo a fazer, mas nadar contra a correnteza sempre lhe pareceu mais divertido.

Três ou quatro seguidores fiéis já eram o bastante, e era o que possuía.

Mesmo que a guerra acontecesse, as coisas não mudariam. Os serins não poderiam ir para o céu ou inferno, continuariam fadados a vagar pela Terra como os renegados que eram. As raças pioneiras no mundo jamais os aceitariam, eles, seres sem identificação, uma mistura genética de todo o pecado do mundo e com resquícios de uma vertente celestial.

Uma bagunça sempre se tornaria lixo.

 Ao invés de confrontar o sistema sem nenhuma tática e apenas com a força brutal, SeungHyun decidiu pela criação de uma nova raça. Serins mais fortes, livres da maldição sexual, e que poderiam dominar os céus, o inferno e até mesmo a Terra.

Um plano a longo prazo que teria efeito irreversível para sempre.

- Uma proposta? Estou surpreso.- as sobrancelhas se arquearam ligeiramente, acompanhados pelo olhar sereno, porém mordaz.- O medo é algo que não se pode controlar, não é mesmo? Eles temem a nós.

- O senhor os ouvirá?- indagou curioso.

- Tenho coisas importantes para resolver. Deixarei que decidam por si mesmos, que tal?- sugeriu, fazendo um sinal sutil em direção a porta.- Reporte-me mais tarde sobre isso.

O rapaz curvou-se antes de sair e sumiu pela porta. O ar fresco da montanha aliviou a tensão que se apossara de seus atos. Um local como aquele, no meio do nada, foi ideal para o andamento de seus projetos. O treinamento da tropa foi feito ali, bem como seus planos.

SeungHyun caminhou a passos vagarosos pela adega. Estantes do tipo colméia cobriam as paredes para abrigar todo o produto fabricado ali e alguns barris habitavam o centro do espaçoso cômodo. O tom de madeira servia de palco para a variedade de lacres coloridos e rótulos, os quais o rapaz analisava com total admiração.

Era uma paixão cultivada há anos.

Os dedos deslizaram pelas últimas garrafas da fileira próximas ao teto até se deterem na garrafa que lhe agradara. Esta, por sua vez, trazia um formato simples, o vidro translúcido traduzindo o significado dos olhos acinzentados que o fitavam de dentro dela, imerso num líquido de conserva. Os olhos de Bobby eram seu troféu. Arrancara-os no dia de sua morte. Uma pequena lembrancinha para fazê-lo se lembrar do porque estava ali e do que fizera.

- Senhor?- a voz enevoou seu orgulho farfalhante.

SeungHyun virou-se com um sorriso sutil incutido nos olhos. Sentia na boca o sabor de um dos maiores pecados do mundo ao ver aquele homem: a traição.

- Me surpreende que não esteja morto, B.I. O vi na estação aquele dia e pensei em dar seus destroços aos porcos.- maneou a cabeça num sinal negativo.- Seria perda de tempo.

- Custou-me algum tempo para me regenerar. Um trem não faz tanto estrago quanto uma bala de festim abençoada pelos deuses.- o semblante vago, sem emoções.

SeungHyun nunca sabia de que lado aquele homem jogava. Assim como ele, não passava de uma sombra que ia e vinha entre os campos inimigos. Jurou lealdade a Bobby do mesmo modo que lhe jurara, sem exceção de trair a própria raça de íncubus puros.

- E o que veio fazer aqui? Vingar Bobby?

 - Não possuo quaisquer ligações com ele, senhor, até porque está morto.

 - Você prefere estar ao lado dele, pelo que vejo.

- Não lhe dei informações sobre nossos passos se possuísse preferências.- rebateu. Um tom monótono que incomodou SeungHyun.

O rapaz devolveu a garrafa com os olhos de Bobby ao seu devido lugar e limpou as mãos sujas de poeira nas laterais da calça. B.I acompanhava cada movimento, atento.

- Não respondeu o que veio fazer.- insistiu ele.

- Aguardo a guerra. Em breve a legião de anjos e demônios tomará os arredores. Me parece um bom programa para assistir, não acha?- veneno escorreu de suas palavras, e então o rapaz se dirigiu a saída.- Se precisar de algo, estarei nas plantações.

E então partiu.

 

- - -

 

Sucata.

Hoon e TaeYang observaram o que um dia fora um carro com o coração partido. A lataria estava toda deformada devido às batidas e as marcas de tiros. Os vidros despedaçados cumpriram sua função de lhes ferir a pele onde tocavam.

As mãos de TaeYang ainda tremiam devido a loucura que vivenciara. Estava passeando por acaso quando encontrou Hoon e este lhe pediu uma carona no auge de um desespero do qual ele não sabia o motivo. Hoon apenas disparou de dentro do cemitério em direção a avenida, olhando constantemente para trás como se estivesse fugindo de algo ou alguém.

Somente no meio do caminho que ele lhe explicou o que acontecia, e foi o suficiente para tomar a missão como sua.

Assim como Mino, TaeYang e JiYong sabiam do motivo e a causa da morte de HyeJin. Não era humano, não era misericordioso. Um monstro. Mas preferiram se acomodar no esquecimento, nas ilusões agradáveis que os privavam da lenda viva; ao contrário de Mino, que declarou vingança e se afundou no sobrenatural.

Soava, no mínimo, irônico que o destino movesse suas peças e o colocasse exatamente ali, diante de um caso semelhante e que se recusava a acreditar.

- Você pode ficar aqui até JiHo e a polícia chegarem.- Hoon apontou para uma área de vegetação alta.- Me perdoe por tudo. Não pensei que eles iriam tão longe atrás de mim.

Não esperou uma resposta, pois TaeYang ainda parecia meio desorientado.

Desde que soubera de toda a confusão e da identidade do verdadeiro líder, SeungHoon planejou resgatar HyoMin sozinho. Daesung ordenou que nenhum humano se envolvesse e que o caído não participasse da guerra, e era isso o que faria. Concordara em se manter fora da guerra, mas não era um humano para deixar de intervir e salvar a amiga.

- O que vai acontecer com a garota?- ele perguntou, e Hoon hesitou.

- Nada, se tivermos muita sorte.- Mino respondeu assim que os encontrou, ofegante.

Abraçou o irmão, aliviado que o pior não tivesse acontecido.

- Por que está aqui?

 - A culpa é minha. Serins estavam me seguindo desde o cemitério e ele me ajudou a escapar. Bom... não por muito tempo.- explicou, esperando que Mino não desse um chilique e apenas aceitasse sem mais perguntas.

Por um milagre, ele não questionou. Não tinham tempo.

O anjo caído ergueu a cabeça e contornou o pé da montanha sorrateiramente com Mino em seu encalço, percebendo que dois serins –os quais não conheciam- arrastavam dois corpos desacordados pelo vinhedo. Logo reconheceu o irmão de HyoMin e uma outra garota junto deste.

- Eu acabei com a raça de alguns que me perseguiam, mas não sei se consigo dar conta de vários deles.

- O exército deve estar em outro lugar. Apenas alguns estão aqui.- Mino observou.

 - Você tem um plano?- ele perguntou ao amigo, mas já sabia a resposta.

- Não.

 - Ótimo. Até porque sempre fui fã dessa coisa de improvisar.- ironizou.

 

- - -

 

Apoiada na ponta dos pés, HyoMin vagueava pelo quarto como uma ladra prestes a cometer um crime. Tinha cometido um erro terrível e se viu incapaz de enumerá-los. A descrença falava mais alto do que qualquer ideia.

O efeito dos sedativos tinha passado quase por completo, porém ainda se encontrava um pouco confusa e mais lenta do que o normal. O corpo precisava de tempo para se recuperar da dose. E era essa a questão. Não tinha tempo.

Os pensamentos brotavam em sua mente, turbulentos e barulhentos quando o que mais ela precisava era de silêncio para organizar sua própria bagunça nas ferragens mentais. Tudo o que via eram os olhos cinza em todas as curvas do labirinto. Um cinza incomum, diferente dos outros que vira. Um cinza metálico que reluzia a vermelhidão de toda a maldade do mundo.

O cinza e vermelho onde assistiu sua morte.

Quando despertou sozinha no quarto, obrigou-se a adquirir força nas pernas e caminhou até a porta para testá-la. Trancada, assim como previu. Tomou cuidado para não causar nenhum ruído e resolveu seguir seus instintos falhos, apegada a ideia de que haveria alguma prova naquele quarto.

Os lençóis tinham o cheiro do rapaz, logo, deduziu que o quarto pertencia a ele. Seria tão descuidado a ponto de deixar as provas naquele lugar? Apesar de que SeungHyun não precisaria se preocupar, afinal, seria apenas mais uma de suas vítimas. Mesmo se descobrisse seus segredos, não teria a oportunidade de contar a alguém em vida.

Revirou todas as gavetas e buscou por fundos falsos em cada espaço do cômodo. Os sentidos apurados a fim de detectar qualquer ruído de passos se aproximando.

Completo silêncio.

HyoMin olhou para cima, mirando o que havia em cima do guarda-roupa. O baú foi a única coisa ilesa que restou. Se ela fosse uma prova, se esconderia ali, com toda a certeza.

Usou uma das divisórias do guarda-roupa para apoiar um pé e usou o puxador da porta fechada para apoiar o outro. Uma das mãos se agarrava a fatia fina do detalhe de madeira no topo enquanto a outra tentava administrar delicadeza e precisão ao puxar o baú sem fazer nenhum estardalhaço. Por sorte, não era tão pesado, indicando que não havia nada dentro.

Mesmo assim ela resolveu verificar. Pousou o baú no criado-mudo ao lado antes de descer de sua escalada. O nervosismo e a ansiedade pelo que poderia encontrar a deixava ainda mais aflita e desnorteada. Não sabia no que deveria acreditar e se deveria acreditar nas evidências tão óbvias.

SeungHyun era um serim. E isso não poderia ser mudado.

Examinou a fechadura dourada e comparou-a com a chave que JiYong  lhe entregara mais cedo e que carregara no bolso da calça desde então. Sendo sorte ou destino, ela só poderia agradecer. Encaixou a chave e a girou, resultando num sonoro cleck.

Estava aberto.

Respirou fundo e soltou o ar pela boca na tentativa de acalmar os ânimos. As mãos temiam sobre a tampa do baú, hesitantes em abri-lo. Precisava enfrentar o que quer que estivesse ali. Num movimento rápido, como quem arranca um band-aid do machucado, o abriu.

O conteúdo a fez congelar.

Espalhadas pelo fundo, HyoMin encontrou fotos de rostos familiares dos quais se lembrava muito bem. HyeJin, NaHee, Britt... estavam todas ali. Recortes de jornais evidenciando as notícias dos supostos suicídios o acompanhavam, bem como algumas anotações sobre as vítimas e uma lista extensa de nomes marcados com um “x” vermelho ao lado. Nomes de todas as vítimas registradas até então e de mulheres que permaneceram no anonimato.

Os olhos afoitos varreram cada linha e se detiveram na última. “Koo HyoMin”, estava escrito com a caligrafia elegante dentro de um círculo, também vermelho.

HyoMin tentou juntar os fragmentos de tudo o que vira. SeungHyun tinha uma lista de mulheres a atacar, mas algo não estava certo. Nem Britt e nem HyeJin foram mortas por ele, e sim por P.O e Bobby. Todos os serins teriam conhecimento da lista? E por que copilariam todos os nomes, sendo que qualquer mulher lhes serviria de alimento?

Pontas soltas das quais ela não conseguia juntar. Havia muito mais envolvido ali. E porque seu nome era o único destacado?

A história de ambos havia começado antes de todos aqueles ataques, e sua vida parecia estar profundamente conectada ao caso. Não deixava de pensar que fora ela o estopim para que as coisas começassem a acontecer.

A mente retornou os anos, as lembranças passando como um filme diante de seus olhos até o momento em que os falsos suicídios começaram a acontecer.

No último ano, SeungHyun fazia visitas constantes a casa da montanha e passava mais tempo do que o necessário. Ela descobrira isso quando seus investidores e fornecedores ligavam a procura dele para terminarem de fechar o negócio, sendo que todo o processo no vinhedo já havia chegado ao fim.

No final das contas, ele estava li com outros propósitos, coisas que ela não suspeitou no decorrer dos cinco anos em que estiveram juntos. Cinco anos em que dormiu com o inimigo.

SeungHyun fora esperto por permanecer por perto, afinal, com HyoMin investigando o caso, ele teria acesso as informações e ao andamento das coisas, e em cima disso pautou seus planos, evitando qualquer empecilho. Ele só não esperava que tudo fosse chegar ao fim.

Tantos anos pautados num sentimento falso. Todos aqueles anos se resumiram a interesse e parasitismo. HyoMin não queria acreditar na versão distorcida e doentia de SeungHyun. A traição a despedaçava por dentro e não queria imaginar quais eram suas pretensões para com ela.

Tomada pela incredulidade e a enormidade da situação, perdeu a noção do tempo. Ao longe, ouviu passos pelo corredor. Mais do que depressa, empurrou o baú envelhecido para debaixo da cama e se deitou, fingindo estar dormindo.

Acompanhando a narrativa ditada pelos sons, ouviu o rapaz destrancar a porta com cuidado, como se não quisesse acordá-la, e seguir rumo a cama. Sentiu o colchão afundar ao seu lado em função do peso do corpo masculino e, em seguida, um silêncio mórbido escorreu pelas paredes.

SeungHyun deliciou-se com a imagem de sua deusa deitada sob os lençóis, os cabelos jogados descuidadamente por sobre o travesseiro e as feições belas durante o sono.

Aos seus olhos refletia a humana mais linda que já conhecera desde que nasceu.

Os dígitos deslizaram pelo braço desnudo dela, gravando com as pontas dos dedos a textura macia de sua pele. Fez o caminho reverso e seguiu para a nuca desprotegida, que se arrepiou ao toque. Uma reação instantânea que ele sempre achou interessante.

 - Se não fosse sua escolha errada, não estaríamos passando por nada disso, meu amor.- disse baixinho, fitando-a com atenção.

Abaixou um pouco o tronco e depositou um selar demorado em sua têmpora, cheio de ternura e um sentimento possessivo que não passaria despercebido nem pela pessoa mais distraída do mundo. HyoMin sempre fora sua, e assim seria para sempre. Mesmo que precisasse matá-la para tê-la.

- Sei que está acordada.- cochichou ao pé da orelha, arrastando os lábios para o lóbulo em seguida, onde mordiscou levemente de forma provocativa.

O corpo dela reagiu, e o modo como ela encolheu o pescoço para evitar o toque do rapaz denunciaram seu estado consciente. Por baixo da aparência serena e adormecida de um anjo, HyoMin se levava ao limite para não transparecer o desespero crescente e a vontade de sair correndo sem olhar para trás ou medir as consequências.

HyoMin não só tinha medo. O choque era muito maior do que qualquer emoção que se mesclava naquele furacão potente e desordenado. O gosto da traição, de ser enganada era amargo demais para suportar. Amou quem desde o início seria seu algoz.

Os olhos permaneceram fechados para evitar o pior. Nada.

Os passos pesados se arrastaram pelo quarto em direção a saída e o som da madeira se chocando contra o batente cedeu espaço para um mínimo resquício de alívio. Estava certa de que ele fora embora mais uma vez.

Quando se virou, todo o corpo congelou ao ver a figura parada na porta, sustentando um sorriso perverso.

- Procurando alguma coisa?


Notas Finais


Eeeeita que agora a porra ficou séria!! Já posso pressentir o perigo o caos ~socoooorrr
É a guerra de um lado, a cabeça da Hyo em jogo do outro. Pois é, pois é... a coisa não tá fácil -v-

Espero que tenham gostado, amores! E até a próxima! \o
Kissus kissus ;** <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...