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História (Reescrita) A Senhora das Sombras - O Despertar


Escrita por: AndreiaPaz

Notas do Autor


Olá, amores!
Queria fazer dois lembretes básicos rs
1. Esta estória é totalmente passível de alteração, minha intenção é lapidar até virar uma pedrinha preciosa que me deixará satisfeita, então a opinião de vcs é muito relevante para mim. ❤️
2. Teremos sim fatos históricos aqui, mas não todos. Ok? Não levem ao pé da letra, algumas coisas eu inventei e outras eu "romanceei" para encaixar no roteiro rs.
É isso, boa leitura! Quem puder deixar sua opinião será muito bem-vindo(a)😘😘😘❤️🍷

Capítulo 8 - O Despertar


Fanfic / Fanfiction (Reescrita) A Senhora das Sombras - O Despertar

OS DOIS CORPOS FORAM ARRASTADOS ATÉ A CALÇADA. O brasão em seus medalhões não deixava dúvidas sobre suas identidades. O escudo de ouro tinha três cortes que simulavam garras e iam de uma extremidade à outra, as marcas eram mais profundas no centro, onde estava o desenho de um lobo. Quando decidiam se mostrar, os Licades não tinham a menor sutileza.

 Para o seu azar, não estavam transformados, não contavam com a presença dos Cavaleiros ou com qualquer outra resistência realmente significativa. Pecaram pelo excesso de confiança e o erro lhes levou à uma morte brutal.

Isaac, o mais velho dentre os cinco Cavaleiros, ordenou que os corpos fossem postos dentro de um dos carros antes de serem enfim cremados. Acender ali uma pira seria chamativo demais. Augusto, o mais novo, já estava quase no limite para evitar que os moradores vissem a cena. Era um grande guerreiro, apesar da estatura baixa, porém, quando usava seus dons, o vigor físico ficava drasticamente reduzido. Ele poderia desencorajar aqueles que não tivessem um bom controle mental a prosseguirem, ou o inverso, poderia facilmente arrastar algumas dezenas para o local que preferisse.

Do outro lado de Brasov, um garçom já tinha servido uma rodada de cerveja para Abraham e se virado para buscar a garrafa de uísque que Vlad pedira.

— Recebeu o meu recado?

Abraham perguntou depois de tomar um bom gole. Até então não tinham trocado uma palavra entre si.

— Impossível não receber.

Desdenhou o Príncipe. Abraham havia mandado o mesmo recado para oito Cavaleiros e para o Suserano da Romênia.

 — Não ache que eu me daria ao trabalho de te procurar se isso não fosse importante.

Rosnou o outro depois de alguns segundos de reflexão. O garçom enfim voltou com o uísque e um copo, o qual Vlad encheu até a borda. Parecia fazer um grande esforço para se manter sentado ali.

— Acaso acha que não conheço a tua índole?

Ele rebateu sem se importar em esconder a raiva que havia se alastrado por séculos a fio. Quem os visse agora jamais diria que um dia foram como irmãos. Esse fato era tanto o que inflava o ódio de ambos quanto o que os impedia de sucumbir à cólera.

— Não vim para lembrar do passado. — Abraham respondeu enquanto Vlad tomava o uísque como se fosse suco. Então retirou um bloco de notas pequeno e gasto do casaco e o estendeu para o Príncipe. — Faça bom proveito.

— Vai voltar para a Grécia?

A pergunta de Vlad saiu tão afiada que mais parecia uma acusação. Ele pôs o bloco no balcão e terminou o copo de uísque, só para enchê-lo novamente segundos depois.

— Medo de competir, milorde? Não é do seu feitio.

Desdenhou Abraham enquanto segurava o riso. Vlad puxou alguns leus da carteira e jogou no balcão, pegou o bloco de notas e, antes de sair, focalizou seus olhos, agora envoltos na mais intensa escuridão, em Abraham. Estavam frios, como o rigor do inverno, capazes de fazer tremer o mais corajoso dos homens e rebateu:

— Perdoar também não é, traidor.

Sua mão agora apertava com força o ombro de Abraham, que se fosse um homem comum, teria gemido de dor. Ele então relaxou a mão e soltou o outro, olhando para ele mais uma vez e fazendo questão de dar uma sutil amostra de seus poderes. Em segundos, Abraham reviveu séculos de catástrofes e dor. Ainda assim, permaneceu firme.

Uma amizade antiga e uma promessa feita fora o que unira o escudeiro e o Príncipe. Uma traição fez tudo isso se romper quase que por completo, Vlad nunca mais confiou em Abraham, ainda assim, ele era o único a circular livremente por conta de uma promessa feita por ambos, depois de repetidas vezes terem encarado a face da guerra e da própria morte para salvar um a vida do outro.

 

 

Tirgoviste, Valáquia, 1448

 

         Quando o Príncipe Vlad entrou em seus aposentos estava com pressa, queria ter uma conversa com seu professor de esgrima, atual general da Hungria, antes que a reunião começasse. Quando se deparou com sua armadura em cima da mesa, tão bem polida que a mais vaidosa das mulheres poderia usá-la como espelho, a pressa cessou e ele começou a rir.

— Temo ter descoberto o motivo pelo qual o céu está tão revolto. Eis o milagre em plena ação!

Debochou ele. Uma tempestade poderosa se formava no céu realmente. Abraham ergueu a cabeça e pôs na mesa o elmo do príncipe. O quarto nunca fora tão bem arrumado por ele, nem Lady Vassilissa, mãe de Vlad, encontraria ali um defeito que fosse. E ela era do tipo de mulher que não poupava esforços em manter o castelo em perfeita ordem.

— Como se eu me esquivasse de minhas obrigações.

Retrucou o outro. Vlad pegou a espada conferindo se não havia ali uma mancha que fosse. O metal reluzia à luz da tocha.

— És um servente deplorável. — Ele tornou a rir.

Abraham encarou como uma piada rotineira. Ele mesmo não via motivos para ter que polir armaduras todos os dias. Quem ligava para aquilo? Acaso não havia espelhos na corte?

Se tornara escudeiro aos dez anos, época em que seu pai morreu e que o Regente da Valáquia o trouxe para o castelo sobre a condição de que ele servisse a um de seus filhos, como Radu já tinha um escudeiro, restou Vlad.  Seu pai fora por muito tempo amigo do Príncipe Regente, de modo que foi seu último pedido que este não deixasse seu filho e sua mulher totalmente desamparados.

A mulher ganhava uma pequena pensão, e Abraham um ordenado simbólico, aumentado gradativamente conforme crescia. Não morava no castelo, mas ia até lá todos os dias. Era apenas dois meses mais velho que Vlad, agora tinham os dois dezessete anos.

— Está ansioso para o alistamento de amanhã, milorde?

Perguntou Abraham abrindo caminho para o que realmente queria pedir. E sem nem se dar ao trabalho de rebater o insulto como costumava fazer. Motivo que fez o Príncipe ter ainda mais certeza de que havia algo mais naquele súbito surto de eficiência.

— Não. — Vlad respondeu de pronto, pondo a espada na bainha.

Todos os anos, os filhos dos nobres, na Valáquia chamados de boiardos, tinham a chance de mostrarem seu valor e entrarem na Cavalaria caso houvesse um deles para tentar, o teste parecia simples: sobreviver dois minutos em um duelo contra o líder da Cavalaria, naquele contexto, era temporariamente Vlad.

— Acaso estás nervoso? — Prosseguiu o outro.

Vlad negou com a cabeça. Crescera no meio dos atritos entre Hungria e Império Otomano, tinha a guerra como uma amiga íntima, um duelo ou vários, não havia diferença. Era filho do Regente, seu povo não esperaria menos.

— A lei de aceitar para teste apenas os boiardos enfraquece a Cavalaria. Vi alguns deles pelo caminho, são tão eficientes quanto você polindo a minha armadura.

— Então está tudo certo. Vê como reluz?

— Isso não é mérito teu, não ouse me comprar como tolo. Sempre tenho que te mandar fazê-lo ao menos duas vezes mais, hoje, no entanto, deste um jeito de acertar. — Os olhos de Vlad correram por todo o quarto, até por fim pararem em Abraham, que se manteve calado tentando a todo custo não sucumbir a tensão. — Diga-me de uma vez o que queres.

— Acaso tens tão pouca fé em mim, Vlad? — Perguntou o escudeiro ainda tentando se manter centrado. Precisava de cautela se quisesse ampliar suas chances de conseguir.

— Quer mesmo que eu responda?

— Me consegue uma audiência com teu pai? Necessito urgentemente falar com Sua Alteza.

Abraham respondeu ignorando mais uma vez o comentário do Príncipe.

— E o que tens a dizer a ele que não diz a mim primeiro?

Vlad perguntou perambulando pelo quarto até parar defronte a um pequeno baú.

— O Regente tem andado muito ocupado, é certo que não conseguirá.

Desdenhou o outro como se fosse atiçar assim em Vlad o desejo do desafio. Era infantil, verdade, mas era também um jogo o qual os dois já haviam compartilhado diversas partidas. O Príncipe riu da tentativa de Abraham, abriu o baú e nada disse até ter em mãos um pergaminho que havia pegado dos documentos de seu pai, era o brasão da família do escudeiro, dado ao Regente quando o pai dele fez o teste para se tornar um Cavaleiro.

— Espero que ainda consiga segurar tua espada depois de ter a cara exposta ao chão. Nossos números estão baixos. — O Príncipe murmurou ao entregar o pergaminho para o escudeiro, aquilo havia sido confiscado e recuperá-lo exigiu bastante persuasão por parte de Vlad. Aquele reconhecimento era o que dava direito à prova, sem ele, Abraham não poderia participar. Por alguns instantes para o escudeiro a angústia que estava carregando em si cedeu lugar para a gratidão. — Terei que conseguir outro servente.

Riu Vlad enquanto o outro segurava o pergaminho como se fosse a maior das honrarias, a própria Ordenação de Cavaleiro.

— Um que se lembre que a armadura reflete a alma do Cavaleiro que a usa.

Provocou vendo que o outro estava tentando esconder parte da emoção.

— Irá precisar de um para te carregar para fora da arena, milorde.

Abraham devolveu ainda apertando o pergaminho e com um sorriso de uma ponta a outra do rosto. Mesmo que soubesse que não poderia participar, amanhã estaria bem longe dali, seja qual fosse a decisão do Regente.

Vlad havia conseguido a audiência com o pai para Abraham, foi logo após a reunião. Só então ficou sabendo os motivos para seu servente estar tão prestativo.  O vilarejo o qual ele nasceu estava sendo saqueado. Era um lugar miserável, ainda mais do que muitos vilarejos da Valáquia, frequentemente tinha a existência esquecida por ser “dispensável demais”, mas foi ali que ele viveu seus primeiros anos, foi ali a última vez que viu seu pai com vida. É para lá que voltaria seja qual fosse a decisão real. Lutaria ou morreria ao lado dos seus.

— Então é isto, meu senhor. Meu vilarejo vem sendo devastado noite após noite.

Suplicou, ainda ajoelhado em frente ao trono. O Regente estava mais interessado na carta que recebera confirmando a vinda do Rei da Hungria do que em problemas tão pequenos quanto aqueles. Ele queria firmar laços.

— É uma pena.

Disse ele por fim, sem nem sequer a olhar para Abraham.

— O senhor, não mandará para lá a Cavalaria? — Indagou o outro perplexo. Tinha imaginado uma recusa, mas a realidade era ainda mais devastadora.

— Não no momento, a Cavalaria precisa estar aqui para tratar da segurança da corte húngara.

— E não será tarde quando os nobres da Hungria partirem?

Rebateu. O que o Regente apenas respondeu com:

— Possivelmente. Sacrifícios não teriam valor se não causassem dor.

Então se levantou. Tinha muito o que preparar para a chegada de seus aliados. Incumbiria a esposa de cuidar dos preparativos do banquete, sim, teria que dar um, tinha outras questões a tratar.

— Entendo, meu senhor — a frase saiu ríspida, porém, a carta havia deixado o Regente surdo — ao menos dá-me a licença para que eu vá ficar junto aos meus?

— Tuas obrigações não são para comigo.

O Regente julgava ter cumprido o desejo do falecido pai de Abraham, o menino já era um homem, que se virasse. Ele se levantou e olhou para Vlad, que estava em pé do lado esquerdo do trono do pai, pedindo autorização para partir. Vlad assentiu, foi para o lado direito onde estava seu irmão mais velho, Radu e deu-lhe um tapinha nas costas murmurando “boa sorte amanhã” e seguiu o amigo para fora da sala do trono sem nem olhar para a cara de espanto do irmão.

— O que pensa que está fazendo?

Bradou o regente antes mesmo que um dos dois cruzasse metade do caminho. Era verdade que Vlad deveria estar no castelo amanhã, que deveria ser ele a duelar, não Radu, todavia acima do protocolo estava a vida do único que considerava como amigo naquele castelo, a exceção é claro, de seu professor de esgrima. E a de uma mínima parte de seu povo, que ironicamente, representava um todo.

— Dando a meu irmão a chance de mostrar seu valor.

Vlad respondeu calmante se virando novamente para olhar para o pai.

— Você não irá sair desse castelo sem minha previa autorização.

Decretou o Regente, Vlad cuja raiva do pai aumentara logo cedo quando ouviu uma conversa entre ele e alguns conselheiros, prestou uma irônica reverência e disse:

— Meu pai, acaso não disseste logo cedo que minhas ações não refletem a vossa vontade? A Cavalaria fica, vou-me eu.

Dito isso, seguiu caminho até a porta, cheio de cólera, enquanto o olhar de Radu alternava preocupado entre o pai e o irmão. Não era a primeira vez que Vlad desafiava o pai, mas nunca o tinha feito tão abertamente.

— Vlad!

         Gritou outra vez o Regente, que chegou a apertar a espada, porém, lembrou-se que o Rei húngaro só tinha aceitado seu convite depois da carta que Vlad o havia enviado, então relaxou a mão.

— Volto em breve.

         Foi tudo o que o Príncipe disse antes de sair sem nem mesmo saber direito para onde.

         Abraham havia ficado esperando do lado de fora da sala do trono e olhou perplexo o Príncipe mandá-lo se apressar.

— Ele vai te matar. — Comentou enquanto caminhavam rumo aos estábulos.

Vlad riu como se aquilo agora não lhe importasse de nada e comentou:

— Ele adoraria poder fazê-lo, não duvido. Quantos temos?

Perguntou agora voltando a seriedade. Sem a Cavalaria, Abraham não via muito o que pudesse ser feito.

— Algumas dúzias de camponeses que nunca tocaram uma espada.

Murmurou cabisbaixo, Vlad suspirou e depois de ordenar que preparassem seu cavalo e um para o escudeiro decretou:

— Vai me pagar com juros, Abraham. Irei cobrar.

Nisso foram os dois comprar o apoio armado que precisavam, se não havia Cavalaria, sempre dava para contar com os serviços dos mercenários, isso claro, se tivesse dinheiro envolvido.

 

Brasov, Romênia, atualidade

 

Giselle sonhou grande parte da noite com um lírio branco sendo lentamente consumido por uma chama azul. Se estivesse consciente, teria percebido que sua própria temperatura tinha se elevado tanto que ela acordou com os cabelos úmidos de suor. Nem nas vezes em que teve febre de quarenta graus suou tanto. A cabeça tinha parado de doer, mas ela se sentia muito fraca. A visão um pouco turva, foi melhorando com o passar do tempo. Tateou até o banheiro, Mina não estava no quarto.

     Encontrou o vestido perdido, tirou do chão, dobrou e separou para lavar imaginando como ele tinha ido parar ali. Ainda não tinha visto a paleta de maquiagem no chão.

       A jovem teve problemas ao lavar os cabelos, pois toda vez que a água entrava em contato com sua pele ela sentia dor como se houvesse pequenas queimaduras por todo o corpo. Apesar do desconforto, insistiu em ter o mesmo cuidado de sempre com os cabelos e o rosto.

     Se sentiu melhor depois do banho, apesar da fraqueza continuar. Usando nada mais do que a correntinha, olhou seu corpo nu minutos a fio no espelho, tentando encontrar algum machucado que explicasse aquela sensação de queimadura. Não tinha nada visível. Só as duas marquinhas no pescoço, quase imperceptíveis agora. Chegou a supor que poderia ser algum tipo de alergia então.

        Pôs um vestido confortável, verde-água e de alcinhas finas. Era soltinho e com bojo, agradeceu por ter trazido aquele. Nem de longe era um de seus melhores vestidos, porém, continuava dolorida e era uma dádiva não ter nada lhe apertando.

  Secou os cabelos, exalando o perfume de maçã que vinha de seus cremes, era bastante convidativo para uma certa criaturinha, cuja barriga, apesar de ainda aparente, já começava a roncar. Giselle estava disposta a ir ao hospital pela manhã mesmo, a fraqueza não lhe era novidade, nem o mal-estar, mas acordar daquele jeito, sentindo dor de queimaduras sem ter queimado nenhuma parte do corpo? Não, ali já merecia mais do que suas suposições.

Queria fazer isso antes do almoço, ainda estava lúcida o suficiente para saber que aquela era uma oportunidade boa demais para enriquecer seu documentário.

       Deixou o secador na penteadeira, pôs um pouco de base e pó no rosto ainda pálido demais, colocou um batom de um rosa mais forte que o habitual e quando foi procurar por sua paleta de sombras, a viu no chão, com quase todas as sombras quebradas que agora coloriam o piso.

       Não teve tempo de ficar com raiva, assim que ergueu o olhar, viu o duende em cima da cama. Ele estava sentado olhando para ela com os olhinhos cinzas bastante curiosos e travessos. Um grito ficou preso na garganta, outra vez.

      Giselle não tinha ideia de como aconteceu ou que fez exatamente para aquilo acontecer, o pânico tinha tomado conta dela e em questão de segundos sua cama estava pegando fogo. Não qualquer fogo, era azul, do mesmo azul que viu queimar o lírio em seus sonhos.

      O duende soltou um gemido abafado e tentou proteger a cabecinha com as mãos, não conseguia sair dali, o poder das chamas era demais para a criaturinha. O pânico foi se abrandando e Giselle teve pena do arteiro duende, os cabelos dele formavam uma espécie de armadura em torno de si, eram quase do tamanho de seu corpo, muito grossos e de aspecto selvagem, deixou só os olhinhos amedrontados de fora. Não era difícil ver que o coitadinho estava agonizando.

      O coração de Giselle batia descontroladamente, a respiração nunca tinha ficado tão desregulada, o grito a muito preso finalmente saiu, não mais por medo do duende, mas de si mesma por ter feito aquilo. Ela sabia que tinha sido ela a conjurar aquele fogo, embora não soubesse como.

      Giselle correu para a cama e agarrou o duende que chorava copiosamente de dor. As chamas continuaram, e mesmo quando ela as tocou, não sentiu dor alguma e percebeu que, estranhamente, nem queimavam os lençóis. Ela colocou a criaturinha no chão e ergueu as mãos achando que se tinha começado aquele incêndio poderia pará-lo, era estranho como mesmo estando assustada e com a mente a girar desenfreada atrás de respostas, ela sentia que aquele fogo azul a crepitar lentamente em cima da cama era parte dela.

 Ainda assim, erguer a mão de nada adiantou. O que aconteceu foi rápido como um estalo, uma coisa que nem se tentasse por anos poderia explicar, o duende não viu. E mesmo que aquele quarto agora comportasse uma multidão, ninguém veria aquilo além dela.

     A fraqueza tinha passado, tudo passou, inclusive o medo e nesse instante, sentiu uma paz tão grande, como se nada mais no mundo pudesse lhe causar dor. Uma mulher estava ao pé de sua cama, aparecera do nada e irradiava uma energia tão calmante que aplacaria a fúria de qualquer pessoa. A mulher era negra, alta e de cabelos castanhos caindo em belíssimos cachos sobre seus ombros. Tinha os olhos mais serenos do mundo, Giselle foi incapaz de dar um único passo até a mulher sorrir para ela.

     Trajava um longo vestido branco, cujas alças e a barra pareciam ser feitas de ouro puro. Ela tinha asas, asas brancas que iam até o chão.

— Q- quem é você?

    Giselle perguntou forçando as palavras a saírem da boca, ainda permanecia parada onde estava. A mulher nada respondeu, apenas ergueu as duas mãos para frente e em um passe de mágica um pergaminho apareceu entre elas, um nome estava escrito ali, em um dourado tão intenso que mais parecia ouro derretido. "Luna", a mulher sorriu novamente, apontado para si.

     Depois sem dizer uma só palavra, caminhou na direção de Giselle e parou bem na frente dela, que mesmo sem entender absolutamente nada, continuava dominada pela aura serena da mulher. Tocou-lhe a testa, e da mesma forma súbita e inexplicável como veio, se foi. Literalmente, em um piscar de olhos.

      Quando Mina chutou a porta e entrou, Giselle saiu do transe. Srta. Hans levou às mãos à boca quando viu as chamas azuis bailarem soltas pela cama. Giselle se sentou no chão, não por mais se sentir fraca ou dolorida, mas para saber como estava o duende. Seu medo havia se perdido por completo, ela estendeu a mão e o pequeno, relutou um pouco, porém, quando ela pediu desculpas, ele foi até ela.

       Era o mesmo duende. Dos cabelos selvagens, dos olhos ameaçadores e das feições nada convidativas, todavia, quando sentiu dor agiu como qualquer criatura normal, gemeu e chorou.

— Você fez isso? Como você...?

          Mina não conseguia nem formar uma frase tão surpresa estava com aquelas chamas, sabia o que estava acontecendo com a amiga, mas imaginar que Giselle faria aquilo estava muito além de seus maiores devaneios.

Sra. Munteanu entrou no quarto logo em seguida. Giselle, depois de constatar que o duende estava bem, embora ainda temesse as chamas e se contorcesse toda vez que olhava para elas, olhou novamente para a cama e ergueu a mão. Dessa vez as chamas obedeceram, desaparecendo sem deixar rastros, como se jamais tivessem estado ali, não havia um único pedaço chamuscado em toda a cama.

      Só então voltou à realidade, o coração acelerou de novo e o medo voltou.

— O que eu fiz?

           Perguntou com a voz trêmula alternando seu olhar entre o notável espanto, tanto de Mina quanto da tia, que ainda estavam boquiabertas com aquele tipo de poder, que nenhum ser mágico conseguiu despertar de forma tão intensa, no máximo algumas faíscas. Todos no "outro mundo" sabiam que aquele fogo deveria ser produzido, não conjurado, no entanto, a moça não tinha à sua disposição nada com o que produzir aquilo, ela tinha conjurado naturalmente, isso já ultrapassava a barreira do surreal, parecia único, o que diriam então quando Giselle lhes falasse da mulher alada?


Notas Finais


O que acharam? Exagero demais no final? Ainda tô pensando nesse capítulo 🤔🤔🤔
Até breve 😘😘😘🍷❤️


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