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História Reflexões da Alma - Auto-perdão


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!
Postando com muuuita antecedência pois irei 'fugir' do carnaval para o interior de MG.
Não sei se conseguirei postar de lá, mas retornarei 06 de março.
Por isso, postei um capítulo maior hoje...
Se não conseguir postar de lá, tenham certeza que estarei me dedicando a esta e à próxima fic...
Já escrevi umas 15.000 palavras, então, poderei postar no fim de RDA.

Enfim... Vamos às reflexões de hoje...
Bjs!

Capítulo 27 - Auto-perdão


Os ensinamentos da amorosa mãezinha pareciam manter-se em sua mente, vívidos como se os ouvisse ecoando, contudo, seu coração queria acreditar que quando visitava o corpo que ela desposara na Terra, era a ela própria a quem visitava. Leda ilusão. Queria acreditar em algo que sua consciência gritava não ser a verdade. Tantas rosas levara acreditando visita-la verdadeiramente, no entanto... Sua alma sabia que, um dia, precisaria acordar e seguir em frente. Era o que Shun estava tentando ajuda-lo a fazer. Seguir e frente, liberto.

-----*-----

Em sua mente, Hyoga recriminava a atitude do amigo, enquanto conversava consigo mesmo, revoltado pelo que acontecera algum tempo antes.

Quem ele pensa que é para vir me dar lição de moral?

Esse cosmo aflito dele não me comove!

Que fique mesmo bastante preocupado, pois o que ele disse não tem perdão!

Talvez eu devesse abandonar tudo e fazer como Ikki...

Esse negócio de andar em bando realmente é uma merda!

Bosta! Estou ficando desbocado igual àquele cavaleiro da armadura de frango!

Convivência é uma porra!

Agora, tenho que dar satisfação do que penso e do que sinto?

E ainda para um moleque mais novo que eu, que nem consegue parar de chorar!

 

O vento uivava por entre os altos pinheiros, que acumulavam neve em seus longos galhos. Pareciam bailar ao sabor daquela tempestade que se aproximava. Uma turbulência pior era encontrada no ambiente e no âmago do Ciste, que caminhava sem olhar para trás, mesmo escutando cada vez mais ao longe a voz doce mesclada de aflição do amigo.

Discutia consigo mesmo, como se estivesse tentando ouvir a própria consciência.

Como ele pode dizer que sente o que minha mãe pensa?

Ele não conheceu a mãe dele, não sabe o que é sentir uma saudade dessas!

Será que estão todos contra mim, agora?

Me matando dia a dia... Que coisa mais absurda de se dizer!

Ele é que não sabe o que diz, desde criança falava essas coisas para mim...

Igual naquele dia de chuva, no orfanato.

Eu mandando ele entrar e ele querendo transformar chuva em neve. Uma estupidez. Infantilidade.

E ainda achava que um punhado de flores iam amenizar essa dor que só crescia...

Quanto mais o tempo passa, maior o vazio...

Maior o abismo que sinto abrir-se em meu peito...

Será que um dia essa dor irá acabar?

Quem sabe se eu me juntasse a ela, agora que as guerras acabaram...

Eu ficaria em paz, junto de minha mãe...

Mas aí eu estaria desistindo da vida, de Athena, dos meu mestre, dos meus amigos...

Estaria desistindo da minha missão...

A missão da constelação de Aquário na nova era, de proteger aquele que transita entre a luz e a sombra...

De proteger o Shun...

Para proteger ele, preciso me libertar desse sentimento de perda...

Foi o que Camus me disse hoje de manhã...

Eu protegeria Shun, mas ficaria sem ela...

E se eu me permitisse... Se eu...

Não! Eu preciso honrar a memória dela!

 

As altas coníferas balançavam intensamente, como se estivem sintonizadas na angústia que Hyoga sentia. Como se refletissem as emoções do jovem, deixando despencar, vez por outra, um bocado de neve que havia se acumulado, formando alguns pequenos morrinhos brancos, feito de puros cristais opacos de gelo.

Uma brisa menos fria, quase morna, passou por sua nuca, arrepiando-lhe os fios dourados, como a chamar-lhe de volta à razão. Como a chamar-lhe a encarar a verdade que tanto temia enxergar.

Mas ela não está lá... Nisso, Shun tem razão...

Somente o corpo que um dia foi dela...

Se minha mãe não tivesse morrido nesse mar congelado, talvez eu nem tivesse um lugar para visitar ou para levar flores...

Eu deveria escutar a voz dela em minha alma onde quer que eu estivesse... Mas simplesmente não consigo!

Talvez... Se eu me acalmar, a escuto em minha mente, como se fosse ainda uma criança...

Quando eu era mais novo, parecia que ela falava à minha alma todas as vezes que eu a buscava...

É como se me visse criança outra vez, observando minha mãe rezar...

É como se ela rezasse por mim...

Se eu me esforçar...

Se eu me acalmar...

Se eu respirar fundo e tentar...

Consigo ver seus olhos em qualquer momento que eu olhar para céu...

Consigo sentir o cheiro de seus cabelos todas as vezes que...

Todas as vezes que...

Não pode... Será?

Como pode ser isso?

Todas as vezes que abraço Shun...

 Meu mais querido e amado amigo...

Consigo ouvir, mãe...

Sua voz quente e melodiosa, querida mamãe...

Todas as vezes que meu...

Ah, meu anjo...

Todas as vezes que me abraça e repete que sou seu melhor amigo, deixando o irmão em fogo com ciúmes...

Todas as vezes que eu te consolava, era como se eu me sentisse consolado...

Cada pouco de paz que eu te oferecia, eu recebia a paz que nunca fora minha...

Ah, Shun...

Seu olhar gentil me cativou na primeira vez que te vi, no orfanato.

Mais gentil que qualquer pessoa que conheci...

Definitivamente, você não é um fraco, nem sentimentalista...

Só não gosta de demonstrar o poder que possui...

Me perdoe... Eu não devia ter falado com você jeito...

Você tem razão... É o corpo dela que jaz naquele navio, não sua alma...

Sua alma é livre e está comigo sempre que preciso... Sempre...

Ah, Shun... Eu não devia ter feito aquilo, não devia ter de dado aquele tapa...

Eu que merecia um tapa na cara por não escutá-lo...

Há tantos anos que você me fala o que me disse hoje...

Desde que éramos crianças, desde aquele dia na praia...

 

– Ah, Shun, eu lamento... – A última frase saiu como um pensar em voz alta, como se outro pudesse escutar seus pensamentos.

Não percebera o quanto a ventania se intensificara, a tempestade parecia ter alcançado os dois cavaleiros de bronze sem que o aquariano percebesse. Estava tão imerso em seus próprios pensamentos que somente naquele momento constatou que não sentia mais o cosmo do virginiano.

Olhou para trás, procurando pelo amigo, e o que via era apenas a neve branca a cobrir o solo.

Um sentimento de temor tomou-lhe o peito, quando não conseguia identificar nem suas próprias pegadas atrás de si, tamanha quantidade de neve que caía.

Procurava vislumbrar o sobretudo marrom, lembrando-se do que o mestre havia dito mais cedo.

Se não conseguisse encontrar Shun pelo cosmo, encontraria pela roupa.

Porém, a tempestade apertava cada vez mais, enquanto fazia o caminho novamente na direção das águas congeladas, onde vira o menor pela última vez.

– Shun, onde você está?! – Gritava com a plenos pulmões e repetia o nome no menor com esperança de encontra-lo logo.

A nevasca não oferecia trégua. Chegara com toda sua força e imponência, deixando o ambiente com muito pouca visibilidade. Como se o próprio céu siberiano se revoltasse assim como revolta da alma de seu fiel cavaleiro.

– Shun, me responde! Shun!!!

O aquariano somente escutava o angustiante som da tempestade. Seu coração apertava cada vez mais, temendo pelo pior. Aquela era uma situação de risco de vida para qualquer ser humano, mesmo um cavaleiro de Athena. Até os que treinavam naquelas condições climáticas sentiam-se incomodados pelo extremo frio.

Os olhos buscavam qualquer sinal do amigo que deixara para trás. A raiva e a culpa davam lugar à preocupação sincera.

Já havia sido parcialmente congelado por seu mestre durante os treinamentos, e lembrava bem como ele e Isaak sofreram na infância até se tornarem mais resistentes ao inverno russo.

– Não faça isso comigo! Por Athena!

Tanto gritara o nome do amigo que a voz parecia sumir, ante o desespero que, agora, inundava sua alma.

Então, quando as esperanças pareciam esvair-se, lembrou-se do que o amigo tantas vezes lhe falara em suas conversas.

Aqueles que amamos nunca somem, apenas partem antes de nós.

E, como um balsamo cálido, sentiu uma chama acendendo dentro de sua mente.

Mãe...

Ah, mãezinha...

Por favor me ajude...

Shun me disse que sempre me escutas, que estas sempre comigo...

Então me ajude agora...

Preciso encontrar meu amigo...

Nunca me perdoarei se algo de ruim acontecer com ele...

Eu preciso dele...

Preciso da companhia dele...

Da sua voz doce...

Do olhar cúmplice como se entendesse tudo e a todos...

Daquele brilho de esmeralda que ilumina meu caminho toda vez que me sinto só...

Me perdoa, mamãe...

Por não ter percebido antes sua voz dentro da minha alma...

Me perdoa, mamãe...

Por não ter cumprido a missão que me fizera prometer que cumpriria...

A missão de ser feliz sem você...

Mamãe, eu te amo tanto...

Sinto tanto a sua falta...

Eu serei feliz, agora...

Me ajude a encontra-lo... Por favor...

 

Na espaçosa sala da morada de treinamento dos cavaleiros do gelo, ao calor da lareira, Afrodite organizava, em uma caixa, os potes de vidro com as amostras das plantas que coletara, conversando e explicando a Kiki o que estava em cada recipiente, pois o menor já havia se confundido ante aquela quantidade de coisas. Com um rolinho branco e uma tesoura, auxiliava o pisciano, enquanto este usava pequenos pedaços do esparadrapo como etiquetas.

– O senhor Camus não vai ficar aborrecido de usarmos o esparadrapo? Eu posso achar papel e cola...

– Não conhecemos a casa, pequeno, e não devemos ficar procurando por aí, é falta de educação. Com certeza, tem papel e caneta em alguma gaveta, mas vamos usar que o encontramos na caixa de primeiros socorros.

– Como vc vai diferenciar os potes? Eu já confundi tudo...

– Vou colocar um pedacinho de esparadrapo para as amostras de abeto-branco, dois pedacinhos para as de lariço e três para as de bétula. E eu consigo identificar as amostras pelas características visíveis de cada uma, são muito peculiares, cada uma tem... cada...

– Dite, o que foi?! Você está pálido!

 

Na arena de treinamento do Santuário, os cavaleiros iniciavam um novo dia de atividades. Alguns alongavam-se, outros meditavam com o cosmo. Alguns gostavam mais de começar com treino mais pesado, no sentido físico. Esse era o caso da dupla de leoninos, que procurava um local afastado para exercitarem-se.

As colunas de pedra rachadas ou mesmo quebradas, espalhadas por todos os lados, expunham a característica do lugar. O solo repleto de falhas e buracos era testemunha do que já fora a área de treinamento mais terrível de uma época.

O dourado golpeava o ar com o punho em uma velocidade tão rápida que rompia a atmosfera de forma a acertar Fênix com potentes esferas de energia. O jovem defendia-se com sua própria energia eficientemente, até que começou a se esquivar. Aiolia, percebendo a mudança de atitude, concentrou seu cosmo e, em um momento de distração do mais novo, lançou-o contra uma das pilastras que ainda teimava de pé. Ikki ainda tentava se levantar, meio atordoado, escorando-se em uma das pedras, quando Aiolia se aproximou dele, e perguntou, com voz calma e paciente.

– Afinal, por que está tão distraído?

– Não estou! Foi pura sorte você me acertar com seu Relâmpago de Plasma!

– Ah, sim... Sorte... E ontem também? Foi sorte eu te apagar lá em Peixes...

– Que porra! Não estou com paciência! Só isso!

– Olha, tenho certeza de que ele está bem.

– Do que está falando?

– Meses de treinamento como seu mestre e acha que não percebo quando está preocupado com Shun?

– E por que eu haveria de me preocupar? Ele tá lá com aquele picolé de limão e com a florzinha do campo... e ainda aquele chato do pato, e o cabecinha de fogo...

Tentando relevar a falta de respeito com que o jovem se referia aos dourados e aos amigos, o mestre tentava dialogar com o discípulo, que parecia não querer escutar.

– Sim. Camus, Afrodite, Hyoga e Kiki estão com ele. Então, por que essa ansiedade? Você não confia em seu irmão?

– Não é isso...

Ainda apoiando-se no pedaço de pilastra no qual se escorava, Ikki lançou um melancólico olhar aos céus, como a procurar por algo. Uma brisa fria esvoaçou seus cabelos escuros, enquanto o loiro de olhos verdes o fitava, curioso. Desde o incidente ocorrido no solstício, o pupilo parecia incomodado e arredio, como se tudo que aprendera houvesse sido esquecido em poucos dias.

– Então, você nem se preocupou com ele quando Athena o convocou, tampouco invadiu a décima segunda casa para ir com Afrodite. E hoje, foi só desatenção...

– Será que Saori e Shion sabem do tal plano secreto?

– Acho que se o Mestre soubesse, já estaria atrás de todos nós, para nos dar uma bela bronca.

– Então eles não sabem de nada, mesmo...

– Não acho que seja assim. Athena sente o cosmo de cada um aqui no Santuário. Com certeza, ela pressentiria se algo de ruim acontecesse. Eles foram em missão diplomática, lembra?

– Então, por que estou sentindo essa angústia que sempre sinto quando Shun está em perigo? Se estivéssemos em guerra, eu já teria sumido daqui... ido atrás dele, mesmo que fosse no inferno. Se bem que esse eu conheço como a palma da minha mão...

– Então vamos continuar o treino... Pode ser apenas uma sensação pela ausência dele. Precisa permitir que ele voe com as próprias asas... Recomeçaremos daqui a pouco.

– Não!  Tem algo estranho, o cosmo dele... Não interessa mais o que você vai dizer, nem com quantos golpes vai me atacar, não conseguirá me impedir de alcançar o Shun agora, onde quer que ele esteja. – Dizia, dando as costas para o dourado, saindo do local de treino.

Antes que Aiolia pudesse expressar alguma insatisfação, outro dourado surgiu bem na frente de Ikki, e com um levantar da palma da mão e um sussurro, anestesiou o rapaz, que praticamente não percebeu o que acontecia, e caiu sem consciência no chão.

Não houve tempo para que o mestre o segurasse e aquele que impedira o jovem de prosseguir tampouco se preocupou com o rapaz, que agora jazia inconsciente aos seus pés.

– Por que fez isso?! Eu dava conta de segurar ele muito bem!

– Sempre fostes tão impulsivo como Fênix, não é, Leão? Athena deve estar usando o princípio da semelhança para educar vocês dois...

– Quem pensa que é para se intrometer no meu treinamento com Ikki?

– Sou o mestre do irmão dele e ele atrapalharia a missão de Shun e Camus. Isso não posso permitir.

– Do que você está falando? Claro que eu não deixaria ele sair do Santuário!

– Eu não preciso dar explicações. – Afirmou tranquilo, como era de sua característica, e parecia que sairia do local, se não fosse segurado pelo braço. – Solte-me, ou Aiolos precisará deixar Pégasus sozinho para te auxiliar.

– Me explique, Shaka... O que está havendo que também deixou você preocupado?

O indiano apenas ofereceu um sorriso de canto, lembrando do que o leonino já fora capaz de realizar e superar. Talvez ele tenha alguma a razão. Contar a ele o que me intriga talvez auxilie... Meditava, antes de responder a pergunta do amigo de armas.

– O cosmo de Shun, que se encontrava estável até agora, oscilou de uma forma muito intensa, quase desaparecendo. Se Ikki fosse atrás dele, perderíamos a chance de permitir que ele desperte potenciais que ainda estão adormecidos. Precisa ser forçado ao máximo para que consigamos cumprir o prometido a Athena e treiná-lo de forma que se torne apto a caminhar entre a luz e as sombras sem afetar-se por nenhuma das duas. Fênix não ajuda sendo superprotetor com Andrômeda. Atrapalha, somente. Assim como Aiolos quase atrapalhou seu desenvolvimento, protegendo-te por demais. E aquele teimoso discípulo de Camus precisa compreender definitivamente a função dele ante a nova realidade que se forma em nossas vidas.

Enquanto Aiolia se recompunha de tantas frases verdadeiras ditas de uma vez, lembrava da alegria de ter Aiolos treinando com Seiya em Sagitário. Conviver com o irmão novamente era uma dádiva que ganhara da deusa e do cavaleiro de Andrômeda. E, por gratidão, faria o possível para ajudar Fênix com seus rompantes de raiva e com sua impertinência tão característicos, cumprindo o que Shaka lhe revelava naquele momento.

– Agora que sabes o motivo de minhas ações, sugiro levar Fênix para sua casa e ficar com ele, pois só vai acordar depois que o irmão voltar de missão. Coloquei ele em uma ilusão que somente desfarei quando Shun voltar. Assim, garantimos que não será um empecilho. – Terminada a explicação, o indiano transportou-se de volta para a sexta casa, pois se mantinha em constante meditação de forma a acompanhar o pupilo.

O jovem Andrômeda o havia ensinado sentir, a perceber as emoções verdadeiras dos outros e a compaixão inerente à simpatia natural que se percebe entre algumas pessoas. Inclusive, por gratidão ao menor, havia colocado Fênix para dormir, pois sabia que Aiolia o castigaria por sua teimosia em ir procurar Shun, e nada disso seria útil.

Com certeza, seu pupilo ficaria entristecido ao chegar e perceber o irmão machucado por ser impedido de sair à sua procura. Aplicando seu golpe em Ikki, tudo se resolvia sem maiores problemas.

Mais uma vez, em menos de um dia, o dourado de Leão carregava o impertinente discípulo nos ombros, feito um saco de cimento, até a quinta casa. Enquanto saía do local de treinos com sua carga, fitava as pilastras de pedras quebradas e lembrava de quando se esgueirava pelos cantos do Santuário buscando observar os treinamentos do irmão.

Enquanto tinha Aiolos por perto, era como se houvesse algo, além dos deuses, a lhe proteger de qualquer dificuldade maior, e, por mais que lhe doesse a ausência do irmão e a suposta traição, sabia que essa dor havia sido uma alavanca que o auxiliou a se desenvolver enquanto cavaleiro. O pensamento no irmão e em como este ficaria orgulhoso em ver o santo dourado no qual havia se transformado, o enchia de esperanças e de forças para prosseguir como guardião de Athena.

Realmente, Shaka parecia estar certo. A completa ausência de Ikki, inclusive de seu cosmo preocupado, deixaria Shun mais livre para alcançar os mais altos fins de sua existência terrena.

Enquanto isso, o irmão do leonino, o dourado de Sagitário, alvo dos pensamentos de Aiolia, aproveitava os treinos para flertar com a irmã mais velha de Seiya, o que deixava o rapaz transtornado de ciúmes, sem perceber o que acontecia além da nona casa. Aiolos fazia sua parte para conter o tal segredo de um certo pisciano. O jovem sagitariano não se preocupava com mais nada além de se esquivar das armadilhas que seu mestre preparava para que exercitasse o raciocínio lógico, para que não fizesse a primeira coisa que lhe aparecesse na cabeça repleta de ventania, incomodado por treinar enquanto o mestre galanteava Seika com seu charme irresistível.

Em outro ambiente do Santuário, mestre Dhoko preparava um exercício de meditação para quando o pupilo chegasse. Sabia que o rapaz chegaria à sétima casa muito incomodado naquela manhã.

O jovem libriano havia aproveitado a passagem pela primeira casa para conversar com o dourado de Áries, que se preparava para o início do dia, após a conversa com os amigos de Câncer e Escorpião, mais cedo, na quarta casa. Algo intrigava o discípulo de Libra.

– Bom dia, Shiryu, tem minha permissão para seguir.

– Bom dia, Mu. Poderíamos conversar um pouco?

– O que houve? – Perguntava o lemuriano, mesmo antevendo qual seria o assunto do diálogo matutino.

– Está tudo bem com Kiki? – O jovem Dragão preocupava-se com o ruivinho com quem dividia o quarto do alojamento, junto com Hyoga. Na ausência deles na última noite, inquietou-se e preferiu saber do ariano se algo havia acontecido.

– Ah, Shiryu... Ele saiu ontem à tarde para coletar umas plantas para a coleção de Afrodite. Deve voltar hoje ou amanhã...

– Ele saiu sem falar comigo, não é do feitio dele não se despedir...

– Coisa de criança... Ele estava empolgado...

O ariano esmerava-se em responder a verdade sem comprometer a promessa que fizera ao amigo de guardar segredo daquela viagem. Mas o outro parecia saber como perguntar. Antes que não conseguisse fugir à verdade, pediu licença. Esquivar-se parecia o mais sábio a se fazer naquele momento.

– Preciso ir para arena treinar os aspirantes. Sem o Kiki, terei mais trabalho com eles. Deseja me acompanhar?

– Obrigado, Mu, mas irei treinar com mestre ancião, terminamos os treinos tão tarde ontem, e hoje ele pediu que não me demorasse a chegar. Sabes de algum conflito que esteja acontecendo e para o qual precisamos nos preparar?

– Não fui informado de nada a respeito desse assunto. Tenho certeza que mestre Shion nos avisaria. Mas Dhoko não é muito novo, agora, para ser chamado de ancião?

– Força do hábito, Mu... Obrigado pela conversa. Até mais.

O ariano suspirava profundo, ainda estava preocupado com a ansiedade que sentira no cosmo de Kiki e perguntava-se internamente como haveria de estar seu pequeno aprendiz.

 

Enquanto isso, na ampla e aconchegante sala de estar da morada dos cavaleiros de gelo na Sibéria, o pequeno ruivinho balançava levemente o braço de Afrodite e o chamava, como a tentar acordá-lo de seus devaneios.

– Dite, o que foi? Acorde!

– O Shun...

– Que tem ele?

– O cosmo dele... Está esvanecendo... Precisamos encontra-lo, Kiki!

– Mas ele saiu com o Hyoga! O que será que aconteceu? Será que foi outro inimigo? Ou a tempestade? Será que...

– Fique quietinho, estou me concentrando para encontra-lo...

Em questão de momentos, localização de seu amado kerub veio ao pisciano.

– Sei onde ele está! Consegue ver pela minha mente?

O ruivinho apressou-se a tocar as têmporas do loiro, e procurou a informação de que precisava.

– Kiki, consegue se transportar e busca-lo?

– Sim, sei onde ele está!

– Pegue seu casaco, irá precisar!

Em poucos segundos, o pequeno lemuriano sumia no ar, deixando Afrodite em compasso de espera, quase sem respirar. O cosmo do seu pupilo sumia gradualmente e parecia que não poderia fazer nada para ajuda-lo. A nevasca chegara antes da previsão do amigo dourado e o vento batia nas janelas como se fosse arrebentá-las. 

O celeste olhar marejava-se enquanto fechava-se em prece fervorosa à deusa.

Oh, Athena...

Depois de tudo que passamos...

Por favor, traga meu kerub de volta aos meus braços em segurança...

Sei que eu talvez não devesse ter vindo, mas agora que estou aqui...

Por favor, não me deixe voltar ao Santuário sem ele...



 "Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:
 Chore o quanto quiser, mas não brigue comigo.
 Se não quiser chorar, não chore;
 Se não conseguir chorar, não se preocupe;
 Se tiver vontade de rir, ria;
 Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão;
 Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
 Se me criticarem demais, defenda-me;
 Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam;
 Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo...
 E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
 – Foi meu amigo, acreditou em mim e sempre me quis por perto!
 Aí, então derrame uma lágrima.
 Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
 Outros amigos farão isso no meu lugar.
 Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.
 Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
 Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu.
 Ser seu amigo, já é um pedaço dele..."

(Continua)


Notas Finais


O texto que encerra o capítulo é atribuído a Vinícios de Morais no link:
http://mais.uol.com.br/view/ot81ehl885qt/mensagem-sobre-deus-vinicius-de-morais-04024C19326CD0C94326?types=A&

Muito obrigada pelo carinho dos comentários, vcs são uns amores.
Quando penso no que vou escrever, sempre lembro das carinhosas palavras de apoio e me sinto muito feliz.
Obrigada tb aos que favoritam e aos que leem em suas bibliotecas. Muito obrigada.
Bjs!
Até o retorno!


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