História Rehabilitation (VHope) - Esperanças

"O sorriso dela sumiu aos poucos... Em cada nuance amena, vi seus olhos perderem o brilho... 

A mão pequena derrubou a rosa branca no chão...

- Qual era o real sentido de entregar-se à algo que iria sucumbir?

Eu realmente não sabia, mas agora meu ser estava morto, como o coração dela!"

*Jayne*

‡‡‡‡

Uma parada de ônibus

O silêncio aterrador

Dois sem noção

Fazendo algo mais "sem noção" ainda: Nada!

- E agora? - o ouvi perguntar, enquanto tentava à todo custo ligar para o único que parecia entender minha mente mirabolante

Taehyung estava sentado em um "resto" de parada de ônibus secular, consumido pela ferrugem, urina de cachorro ( talvez de bêbados ) e sem os bancos - o que deixava o acinzentado sentado sobre um ferro nada confiável, que me dava agonia por vê-lo equilibrado-se ali

Mas, diante ao cenário de fundo - que era um lindo matagal de um terreno baldio, "meio" cercado por arame farpado - que Yoongi denominava "Motel Calango 24 horas, para quem não tem grana" - não era para menos

- Estou tentando ligar para o Suga, mas ele não atende! - admiti, vendo o Taehyung respirar fundo, como se não desse a mínima - Só queria lhe tirar um pouco de casa, Tae! Que se divertisse um pouco!

- É... Está sendo muito divertido! - olhou para os lados, parecendo calmo - Sabia que aqui roubam as pessoas à cada dez minutos? E que a área é cheia de "alma sebosa"? E você, inteligente, está com um iPhone lindamente procurando o dono dele, não é?!

- Mas eu sou o dono dele! - inquiri, ligando novamente para o loiro

- Se continuar com ele exposto assim, não será mais! - devolveu, tentando tirar o telefone de minhas mãos, mas antes ouvi a voz entediada do lado oposto

- Olá, Hoseok! Pode começar a baixaria! - a voz azeda me "saudou" do lado oposto

- CARALHO YOONGI! TAVA COM O CELULAR NO CÚ? - me adiantei, ouvindo-o bufar, enquanto Taehyung revirava os olhos, logo se apoiando em um poste de luz ao lado

- Não, mas posso ir bem aí e enfiar tanto o meu, quanto o seu no seu rabo, e girar ele até você aprender a cantar galinha pintadinha de trás pra frente em ópera! - sussurrou de modo ameaçador - E o que você quer? Eu estava ocupado!

- Tá, chega! - olhei para os lados da enorme rua, sem um "ser humano" à vista ( já que Taehyung não se enquadrava nesse nível ) - Estou em um fim de mundo, com o Taehyung... Acabei arrastando o coitado pra irmos no parque aqui perto, mas não sei onde é o parque que passei quando vinha pra cá... E olha o máximo... nem ele sabe!

- QUÊ?! - gritou, parecendo finalmente ter se interessado - VOCÊ ARRASTA O RESTO DE PARTO PRA FORA DA TOCA, SÓ PRA SE PERDER NAS TUAS DOIDICES... E O COITADO PRA COMBINAR AINDA É MAIS "AMEBADO"?

- Ei! Eu não disse isso! - me defendi, após ganhar um olhar nada bom do acinzentado - Olha, eu só queria tirar ele de lá!

- Porque? Não era você que odiava ele?! - o tom de voz sugestivo já me irritava - Ou agora quer virar monge e atingir o sétimo nível de espiritualidade ajudando almas carentes?

- MISERICÓRDIA! EU SÓ QUERO AJUDAR, SEU PERTURBADO! - bufei, batendo o pé no chão

- EU NÃO SOU PERTURBADO... Apenas o resto das pessoas que são normais demais! - tentou explicar, me deixando ainda mais irritado - 'Tá, como esse teu "amiguinho" não sabe de um parque perto da casa dele? - indagou, parecendo inquieto - E eu que pensava que você era antissocial!

- Olha Yoongi... Pra ser sincero, descobri que o Taehyung não parece em nada quem eu imaginei ser... E acho que até o que você concluiu dele! O garoto pelo que notei, não sai do próprio quarto! - ouvi um murmúrio de surpresa do lado oposto, avaliando o acinzentado a mais de um metro de mim, encarando algum ponto pensativo - Ele não fala muito, e muito menos quando perguntei o que ele realmente têm! É difícil lidar com ele! Mas não posso deixá-lo lá, algo me diz que tenho que ajudar ele! Acho que porque sei o que é viver preso...

- Sim, você sabe! Depois do que aconteceu com você da última vez... Não me surpreende você tentar ajudar ele! Mas... Hoseok... Antes de você ajudar alguém, primeiro tente saber "quem" você está ajudando!

- Eu sei, Yoongi! - afirmei, já irritado - E acha que estou tentando fazer o quê?

- Colocando o "animal" para passear fora do Habitat dele não é uma boa escolha, Dom Hoseok! - riu, me fazendo murmurar - Olha, me manda tua localização logo filhote de Cruz Credo, antes que eu lhe mande tomar na baixa da égua com teu namorado!

- Ele não é meu namorado, porra! - ditei, antes de me adiantar até o "LINE" e enviar a localização - Pronto, vê aí!

Após alguns segundos, só escutei um "puta merda", já sentindo uma má sensação pelo tom de voz do outro

- Hoseok, você está na rua, certo? - ditei um sim, ouvindo o outro xingar - Que inferno! O Tae está aí também, posso presumir! Pelo que notei, vocês estão no fogo do inferno, e pelo que ouvi à respeito do Taehyung ele não é amigo do "capeta"... Então, só tenho algo pra dizer pra você, caro amigo! Fudeu, corre!

- QUÊ?! É ISSO QUE VOCÊ ME DIZ? - interroguei, abismado

- VOCÊS ESTÃO EM UM LUGAR CHAMADO "MORRINHO DO URUBU", E É LITERALMENTE UM PEQUENO MORRO CERCADO POR TRAFICANTES! - ditou, antes de respirar fundo - Esse parque fica mais à frente, como é um "morro" a elevação vai fazer vocês verem as luzes provavelmente! É só andar reto, mais à frente, dobrando algumas ruas e você verá um declínio! É o único lugar por aí que tem espaço pra essas coisas! E outra, desliga a porra desse celular que pelo vento aí batendo no fone, vocês estão na rua, cérebro de doninha!

- Nossa, Yoongi! Porra! - ditei, coçando minha nuca, ainda vendo o mais novo parado, encarando algum ponto - Não tem como você vir aqui?

- Olha, eu até queria! Mas eu não estou em casa! - afirmou, parecendo irritado - Já dizia o sábio: "É muito filha da puta, pra pouca puta que pariu!" Estou na casa da minha avó, bem longe do meu querido quarto! E ainda enfiado na varanda, tentando não ser contaminado pelas músicas de "corno manso" do meu avô! Pode ter certeza, que preferiria estar debochando da humanidade, do que aqui!

- Caralho, ele tá colocando "Reginaldo Rossi"? - o outro concordou, me fazendo rir - Mano, meus pêsames!

- Hoseok, eu tô prestes à cometer um crime de ódio! - lamentou - Agora vai cuidar do teu macho, e bom encontro, bicha encubada!

- QUÊ?! - mas já era tarde, o tratante havia desligado, e a única coisa que estava à vista, era uma avenida estreita, com uma curva escura, onde postes de luz escassos, mau iluminavam o percurso

"Aviso: morto, violado, sequestrado, vendido, explorado, extração de órgãos, clonado... Quais das alternativas eu passaria após dobrar a esquina?"

- Hoseok? - olhei para o mais novo, que havia se "produzido" antes de vir, e agora me deixava um tanto nervoso pela repentina proximidade

Na realidade, o acinzentado havia apenas penteado os fios, e trocado os trajes por uma camisa azul claro folgada, e uma calça de algodão ainda mais folgada, em tom marrom

E sim, ele estava lindo...

O que me deixava ainda mais confuso em relação à si, pois o contraste alegre de suas roupas, e de sua personalidade, bagunçavam minha mente

- Ele disse que é só seguir em frente até atingir uma espécie de declínio, e iremos ver o parque! - afirmei, não encontrando nenhuma motivação em sua face de seguir em frente - Mas, se você quiser voltar pra casa...

- Não! - sacudiu a cabeça, olhando para trás por alguns segundos - Jimin já vai discutir de qualquer modo...

- É... Difícil entender porque toda essa cisma em lhe manter dessa forma... É pior que minha mãe! - fui sincero, vendo-o analisar meu rosto, antes de tomar à dianteira

- Com o tempo você entenderá! - foi sincero, comigo ao seu encalço - Ele tem razão, e não à tiro!

- Mas, ele te prende! - fui incisivo, observando que o mesmo não havia mudado sua expressão - Por mais que você tenha problemas isso não justifica!

- Olha, Hoseok! Eu já lhe disse que não quero falar disso agora! - ditou, parando por um momento, antes de retornar à andar mais rapidamente, como se fugisse - Agora vamos!

Eu havia pressionado à assumir o seu problema, antes de sair consigo em meio àquela loucura - sim, loucura - mas, agora já não sabia se era uma boa ideia

A avenida não dava sinais de vida à um Km de distância, e as portas e janelas exibiam grades, o que denunciava que os próprios moradores às 10 da noite, não se aventuravam à sair de suas casas - coisa que agora eu deveria ter feito

- A gente devia voltar... - assumi, ao ver um declive à frente - Cadê as pessoas?

- Sinceramente... Você não devia se importar com isso! Têm tanto medo da morte assim? - foi incisivo, me deixando pensativo - Os bandidos daqui são em maioria moleques menores de idade mandados por traficantes que têm medo de mostrar a cara... Um bando de covardes em cadeia!

O mais novo ditava isso sem nenhuma expressão, antes de se voltar para mim, com as mãos no bolso da calça

- No fim, se a polícia não os mata, eles matam à si mesmos por disputa de território... Isso, se não tiverem a sorte de serem presos... O que no máximo é algo bom! - revirou os olhos

- Você não acha isso cruel demais? Para dizer coisas assim com tanta naturalidade? - o garoto deu de ombros, aproximando-se cada vez mais do declive à frente, quando me adiantei, puxando seu pulso, fazendo-o me olhar

Com o mesmo semblante apático

- Estamos falando de pessoas que tiveram sua infância tomada pelo crime... De jovens que em breve podem ser baleados na rua ou...

- De adolescentes sem humanidade alguma que estupram crianças menores de idade... - interrompeu, com a voz ácida - Que batem nas próprias mães... Que tatuam uma arma na perna, e carregam outra no bolso... E xingam qualquer doutrina e o demônio com a mesma intensidade, como se eles fossem o novos "deuses" da humanidade, onde todos devessem se curvar à eles! - afirmou, me deixando assombrado ao soltar seus pulsos - Qual foi a parte de isso tudo ser uma "cadeia" de destruição você não entendeu? Quem cresce em meio a crueldade, tende à ser desumano se não aprender algo bom à tempo!

- E com você foi assim? - inquiri, vendo por um instante fitar meu rosto pensativo - Você fez alguma crueldade?

"E aquilo certamente era um 'sim' cálido, o que não sabia deduzir com clareza como era possível... Mas percebendo o modo como o mesmo tornou à andar, sem dar a mínima atenção a minha interrogação, estimei a realidade... Não evitando sentir medo!"

E mesmo possuindo uma certa dormência em minhas pernas por acompanhá-lo em meio a escuridão daquela avenida, o vi parar, olhando algum ponto curiosamente, antes de tornar à me olhar com certa insegurança, e ao me aproximar, pude concluir do que se tratava ao longe

- O parque! Vamos! - andei à frente, mas logo girei nos calcanhares, vendo o mais novo ainda parado, olhando o ponto ainda longe com o cenho franzido - Taehyung?

- Devíamos voltar! - falou, remexendo os dedos das mãos, encolhido, e aquilo era realmente perturbador

Pois à alguns instantes o mesmo estava ditando sobre um assunto de forma aberta, sem parecer sentir medo ao perigo e agora se fechava à ir em um simples parque

- Não têm problema algum, Taehyung! - falei, tentando não soar mal - Vai ser divertido, você vai ver... Até parece que nunca foi à um parque! - ri, mas logo minha 'ironia' deu-se por correta ao vê-lo colocar as mãos para trás, olhando para os próprios pés - 'Pera, você nunca foi para um parque?

- É... Não! - foi firme, soando com certa arrogância - Mas já vi em filmes, achei bem hipócrita! Mas quem sou eu para julgar!

- Hipócrita? - indaguei vendo-o passar à minha frente, com as mãos ainda nos bolso - Você acha que diversão é hipocrisia?

- Hoseok, pense bem... - adiantou-se, andando na frente - A maioria dessas pessoas fazem coisas ruins o dia inteiro... Mentem, manipulam, roubam, exploram... Mas estão ali, rindo junto às outras, como se fossem cidadãos de bem!

- O que há de errado nisso? - o mesmo olhou por sobre o ombro em minha direção, apertando os olhos

- Eu não disse que é errado! Mas pense bem... Você gosta de estar cercado por lobos sorridentes em peles de cordeiro? - indagou, sem diminuir o passo

Mas isso estava longe de ser a real preocupação por notar algo que havia se mostrado uma característica horrenda de Taehyung : "o talento extraordinário de fazer coisas boas, tornarem-se ruins, em um piscar de olhos!"

- Qual o seu problema? - inquiri, vendo-o andar despreocupadamente naquele terreno baldio, como se não pudessemos ser mortos à qualquer instante - Alguém já foi morto aqui, sabe me dizer?

O matagal seguia ao redor da trilha estreita, erguendo-se em ambos os lados, enquanto via o contraste do parque à frente alegremente; mas segundo Taehyung, "hipocritamente"

- Sim... Já acharam alguns corpos por aqui! Mas, não se preocupe, a maioria foi por "acertos de contas"! - a voz do acinzentado era calma, como se dissesse que aquele lugar era o "mundo mágico dos pôneis coloridos" e não um cemitério temporário

- QUÊ?! - o mesmo parou à frente, retornando até mim, pegando em minha mão e logo me puxando com certa indelicadeza

- Fantasmas não existem, Hoseok! Gente ruim sim, então se não quiser ver uma em ação, ande rápido! - as palavras do mais novo agora soavam friamente em minha mente, com certa dualidade em seu significado

"Afinal, a pessoa ruim era ele, ou alguém que poderia intervir em nosso caminho?"

O parque aos poucos tomou conta de nossa visão, não possuía um requinte de modernidade ou segurança, mas pelo menos servia para entreter pessoas como eu, ou para fazer pessoas como Taehyung serem mais "humanas"

Ao menos eu conclui, ao vê-lo olhar para a enorme fachada colorida, com certa curiosidade

- Será que têm montanha russa? - o ouvi perguntar, me lançando um olhar interrogativo em seguida - Sempre quis ir em uma!

E aquilo foi o suficiente para me fazer engolir em seco... Torcendo para que não houvesse uma! Não estava à fim de pagar vergonha com algum ataque de "frango", logo na frente do Taehyung - se bem que achava que ele não daria à mínima, e isso de certa forma me deixava deprimido

"Ele não parecia ter consideração ou sentir algo por coisa alguma que não fosse desprezo..." - pensei, vendo-o entrar abaixo do arco luminoso, me olhando uma única vez, quando me aproximei

Estava tumultuado, pessoas indo e vindo, rostos desconhecidos, risadas, crianças correndo em busca de algum doce, arrastando seus pais para a fila de algum brinquedo... Jovens enfrentando enormes filas, conversando bobagens

E casais sorrindo, beijos soltos no ar... Risos apaixonados...

- Hoseok? - o ouvi me chamar, vendo sua face inquieta - E agora?

Os olhos vigilantes de Taehyung circundavam todos os lados, como se monitorassem tudo, ou desconfiasse de algo

- Calme! - toquei seu pulso com calma - É só escolher algum brinquedo!

O mais novo pareceu pensativo, antes de olhar em volta, parecendo entediado, ao me lançar um olhar nada motivado, franzindo os lábios

- Affss... - o puxei, andando por entre as pessoas, e para minha surpresa ( ou nem tanta ), alguns olhares íam em direção ao acinzentado

"Sim! O mais novo automaticamente, era alvo da atenção das pessoas por onde passava, mulheres, idosos, ou seja, até mesmo homens, e ao lhe lançar um olhar inquiridor, percebi de imediato a razão"

Taehyung era lindo, inegavelmente lindo!

- Affs... - parei, ao ver dois garotos passarem ao lado, olhando o mais novo com admiração, e este devolvendo com um ar de tédio, o que me fez automaticamente rir - Caramba!

- O quê?! - inquiriu, indiferente

- Você acaba com as chances de alguém, sem dizer uma palavra! - o mesmo deu de ombros, parecendo ter entendido, o que me deixou indagativo à um fator

"Ele gostava de homens?!"

- Nossa! - o ouvi dizer, com o olhar elevado, e ao seguir sua atenção, percebi de imediato a razão - Será que alguém já caiu lá de cima?

O olhei estupefato por tal pensamento, ao ver sua expressão ainda pensativa, em direção à roda gigante

- Porque está perguntando uma coisa dessas? - interroguei, enquanto o mesmo parecia pensar alto

- Isso não parece nada seguro! - apontou, logo virando-se em minha direção - Vamos nele?

- QUÊ?! - acabei por gritar, olhando novamente para a roda gigante - Você acabou de dar à entender que podemos morrer!

- E daí? - deu de ombros, andando despreocupado até a fila, quando o segurei - Me larga!

- Viemos juntos, não é? - o mesmo me fuzilou com um olhar frio - Temos que ficar juntos!

Por um instante o olhar de Taehyung pareceu vacilar me encarando minunciosamente, e uma fagulha de motivação me preencheu

"O que se passava em sua mente?"

- Então vá na frente! - simplesmente disse, me puxando para o fim da fila que se estendia, um tanto grande

Literalmente, a enorme roda gigante, devia ter mais ferrugem que o carro roubado de Yoongi semana passada... E surpreendentemente ainda funcionava, e para piorar a situação caótica, as pessoas ainda se aventuravam naquilo

Em meio às minhas encaradas medrosas, bater de mãos nervosas, rodar no mesmo lugar, murmurar palavrões inaudíveis e ainda transpirar como um porco, continuei vendo Taehyung indiferente, como se caso sofresse um acidente, não fizesse diferença

- Senhores? - ouvi o homem que controlava a "central de tétano" ou "brinquedo do diabo" como apelidei o troço, me encarando sem sair do local, quando subitamente senti o puxão do acinzentado com força, me forçando à entrar dentro da cabine

- Vamos! - me empurrou, aproximando seu rosto do meu, quando me segurei na porta, ainda tremendo - "deveria ser uma cena humilhante"

Podia ouvir alguém rindo ao lado, - provavelmente até o Satanás que comandava o brinquedo - mas estava ocupado demais, vendo Taehyung empurrando meu peitoral para entrar, com o rosto à centímetros do meu, enquanto agarrava a lateral da cabine com uma fagulha de esperança

- Hoseok! - senti o hálito dele bater em meu rosto, com a expressão séria - Vamos, tem gente querendo usar o brinquedo!

- Isso é suicídio! - induzi, enquanto suas mãos tentavam desprender as minhas do brinquedo

- Não, isso não é suicídio! É inconsequência! - corrigiu, me fazendo encará-lo incrédulo - Eu já tentei o suicídio e não é assim!

- QUÊ?! - o mesmo aproveitou, me empurrando com força quando o olhei, e logo senti o baque com o chão da cabine com o mais novo sobre mim, o que me deixou ainda mais inquieto por conta da dor

"Para não dizer medo"

O brinquedo balançava à cada tentativa minha de me mover no chão, enquanto Taehyung tentava se ajeitar sobre meu corpo, que ainda tentava segurar em si

- ME SOLTA! - gritou, quando senti o brinquedo mover-se - A PORTA AINDA ESTÁ ABERTA!

- QUÊ?! - tentei me inclinar, para ver a abertura, mas o corpo de Taehyung tentando se erguer, me impedia; e meu medo o impedia mais ainda - NÃO, FICA AQUI!

- A PORTA ESTÁ ABERTA, SEU RETARDADO! - segurei seus braços, juntos a mim, ainda com seu corpo deitado sobre o meu - Alguém tem que fechar a porta, antes que alcancemos o pico!

O rosto do mais novo pareceu entediado quando neguei com um menear da cabeça, vendo-o olhar por sobre o ombro, revirando os olhos, e quando menos percebi o vi içar seu corpo para o lado, me fazendo segurá-lo pela cintura

- Você por acaso quer morrer? - indaguei em um fio de voz, vendo-o sorrir, ao esticar a mão em direção à porta, que o vento insistia em balançar - NÃO FAZ ISSO!

  - Então ajuda! É só me segurar! - avisou, impulsionando seu corpo ainda mais para frente, já com a cabeça fora da cabine

Meu coração estava alteradamente acelerado, junto de minha respiração descompassada e minha mente apenas imaginava o mais novo caindo daquela altura, e virando mingau ao atingir o chão

E quando o vi segurar o ferro, o puxei com força, ouvindo o baque de nossos corpos ao chão e o bater da porta, tendo seu corpo ao lado do meu e - de forma bem sonora - ele estava rindo

- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ RINDO DISSO! - segurei a gola de sua camisa, vendo o sorriso quadrado moldado em seu rosto, remexendo o corpo

- É como nos filmes mesmo, a vista é bonita! - admitiu, mesmo que de forma inacreditável

- Me lembre de nunca mais lhe levar em uma roda gigante! - o mesmo franziu os lábios, olhando meu rosto minunciosamente

- Você têm muito medo, Hoseok! - afirmou, tentando ajeitar-se no pequeno espaço, quando fiz o mesmo - E das coisas erradas!

- E do que eu deveria ter medo? - indaguei, vendo-o erguer uma  sobrancelha, enquanto continuava encolhido - De você?

- Talvez! - deduziu, lançando olhares para cima, por onde a janela trazia uma certa iluminação, mas de modo estranho o lado externo não me interessava no momento - Um dia você perceberá do que falo! O tempo mostra as coisas...

- Tae, você deveria não pensar nisso... Olhe para nós dois aqui dentro! - não evitei sorrir, vendo-o me olhar cético - Caímos igual dois sacos de batatas, gritando um com outro, dentro de uma cabine de uma roda gigante, se desfazendo de ferrugem!

O mesmo desatou à rir, olhando para o lado quando pareceu cansado, com o rosto rubro

- Mas, eu ainda quero ir na montanha russa! - afirmou, quando escutamos a cabine parar
 

††††

"Porquê eu vim mesmo?"

- O nome dele é Hoseok? - uma mulher ao longe indagava

"O que eu estava fazendo da minha vida?"

- Jovem? - uma voz de homem me chamou

"Eu deveria ter seguido as dicas do Yoongi e adotado duas Lhemas e feito criação no Himalaia"

- Ele tem essa cor mesmo? - ouvi um jovem perguntar

"Ou adotado um jabuti e esperado ele crescer... E acabar morrendo antes dele, em paz"

- Não! - uma voz familiar e rouca ditou, e logo senti uma mão sobre meu rosto

"Ou participado da preservação às tartarugas marinhas, junto com algum lunático"

De certa forma aquele toque não era desconhecido, o que me deixava surpreso... Como eu poderia ter sensibilidade a esse ponto?

- Taehyung? - abri meus olhos, ao pegar na mão que tocava meu rosto

"Sim, eu poderia ter feito milhares de coisas mirabolantes, mas estava ali prestes à vomitar o que nem havia comido, apoiado em algum lugar tão sujo quanto o chão... E na frente de várias de pessoas - humilhação gratuita da melhor qualidade"

- Sim, Hoseok! - o mesmo afagou minhas costas, quando me curvei, tentando botar para fora o imaginário

"Pois não havia comido nada para isso acontecer!"

Sim, eu havia ido ao lindo brinquedo que Taehyung tanto desejava - pois, descobri que o abestado aqui, não consegue dizer não para o acinzentado - mesmo que o brinquedo tivesse mais ferrugem que tinta, não parecesse nada seguro, "estalasse" a cada milímetro, e parecesse querer desabar à cada instante ( o que milagrosamente me fazia perguntar como ainda não haviam denunciado aquilo, ou como as pessoas ainda tinham coragem de entrar )

"Será que todas elas tinham um 'embrulho' ( lê-se: Taehyung ) do lado?"

- Porque não me disse que têm o estômago fraco? Ou melhor, porque não me avisou que têm tanto medo de altura? - o mais novo me afastava da aglomeração de pessoas que havia se formado em torno de mim, enquanto ainda sentia meu estômago revirado

- Eu não sabia que isso iria acontecer! - admiti, vendo o mais alto postar-se à minha frente, com as mãos nos quadris

- Você gritou mais que a menina de 9 anos na nossa frente! Bateu em um cara atrás de você quando o carrinho subiu, e não sei como não me atingiu. E pra fechar com chave de ouro, desmaiou na melhor parte, quando o carrinho ia descendo! - o acinzentado ditou me fazendo ir para trás, tamanha sua fúria, quando de repente senti uma parede atrás de mim

Eu ainda estava tonto, com o estômago embrulhado, meu rosto deveria estar vermelho pelo aquiescer da pele, e agora após ter consciência do tão ridículo havia pagado, percebi uma coisa inacreditável, mas só faltava ter certeza

- Então porque simplesmente não me deixou lá, e voltou para casa? Se estava tão irritado, era só me deixar! Você mesmo disse que é ruim! Está sempre indiferente à tudo! - bufei, vendo-o arregalar os olhos

- Eu... - passou as mãos nos fios - Fiquei sem ação!

- Sabe porquê? Você se importou! Ficou preocupado! - o garoto parecia transtornado, enquanto me ouvia - Porquê está tão assustado com uma coisa simples?

E aquilo realmente não fazia sentido, enquanto eu tentava entendê-lo

- Isso não deveria acontecer! - sussurrou, olhando para as próprias mãos - Isso nunca acontece!

- É tão ruim assim se preocupar comigo? - dei um passo a frente, vendo-o arregalar os olhos

- Não é isso, Hoseok! - sacudiu o rosto, deixando um sorriso de lado - E não é ruim, ou talvez seja! Eu já não sei! Mas, é um avanço!

Senti meu cenho franzir, enquanto minha cabeça doía, e por mais que eu tentasse compreender, não conseguia

- Desculpa, Taehyung! - admiti, percebendo a confusão em seu rosto - Mas, eu não consigo lhe entender! Você por acaso tem problemas para sentir emoções?

O mesmo pareceu pensativo, antes de olhar para cima quando alguns fogos de artifícios cortaram o céu, iluminando seu rosto simétrico, e por um instante me fazendo perder os sentidos

- É... Hoseok! Eu tenho esse problema... - afirmou, antes de me olhar misteriosamente - Mas, pelo visto você conseguiu encontrar um modo de burlar ele! E não sei se isso realmente é bom...

Continua....