História Reign - Capítulo I

O dia ensolarado era visto como um bom presságio para muitos. Porém, para Levy McGarden, provavelmente nada poderia tornar aquele dia minimamente agradável. 

Caminhava sem pressa alguma pelos corredores do castelo, com o rosto inexpressível e os pensamentos distantes. Subiu a escada da Torre Norte, cumprimento alguns sentinelas enquanto continuava a andar pela couraça. Daquela altura, conseguia ver o jardim que foi construído em determinada área do pátio. Era um recanto verde, com árvores frutíferas, arbustos floridos e uma fonte de água cristalina no centro, onde uma escultura em mármore branco no formato de um Tsuru repousava. 

E como imaginava, lá estavam o Rei Montoku e a Rainha Jito, desfrutando de um tranquilo e despreocupante passeio. Em determinado momento, ele se abaixa e tira uma flor vermelha do solo, entregando à sua esposa que sorri brilhantemente, aceitando o presente como se fosse uma joia preciosa. Os dois conversavam e riam como se fossem dois adolescentes apaixonados, e embora a princesa os ame profundamente, não consegue deixar de pensar o quão tolos são. 

Não sabem que a possibilidade de uma guerra está se aproximando. 

Bem, ela não os culpa. O povo denominou de 'Época Dourada'  os últimos 20 anos, pelo fato da paz e prosperidade reinarem em Magnólia. Seu pai jamais precisara usar uma arma contra alguém e sua mãe criava políticas 'anti-violência', então era perceptível que os dois não conseguiriam lidar com o fato de que havia um inimigo à espreita. 

-Quando olho para os dois, lembro de joão-de-barros. - ela girou o rosto em direção à voz familiar. O homem baixinho, quase na casa dos 80 anos, estava sentado no topo da muralha de pedra. - Sempre preocupados em construir seus ninhos, que, vivendo em função deles, se esquecem do mundo afora. 

-Concordo plenamente contigo, Mestre. - desviou o olhar brevemente para o casal que agora, estavam sentados em um dos bancos brancos do jardim. 

-A Princesa sabe, não é? - arqueou uma sobrancelha. Ela compreendeu. 

-Sim, eu sei... - suspirou profundamente. - Se uma guerra acontecer, os dois não saberão o que fazer. Não consigo lembrar a última vez que meu pai chegou a pegar em uma espada. 

-Longos anos, lhe garanto. - alisou a barba já branca pela idade. - Quando se está no topo, os que estão lá embaixo parecem não ter a mínima importância. É como anuncia o antigo ditado de seu povo...

-Não importa quanto o vento sopre, a montanha jamais se curva diante dele. - completou a frase que ouvia desde sua mais tenra infância. - E o fato de eu realmente estarmos em cima das Montanhas Kisokoma parece fazer meus pais acreditarem que ninguém terá audácia de nos ameaçar. 

-O Império Alvarez não faz ameaças, ele as cumpre. - seu olhar se tornou intenso. O homem desceu do peitoril e começou a andar, sendo seguido pela Princesa. - Já lutei contra eles antes. Faz tempo, é verdade, porém sei de seu poder bélico, que visivelmente supera os nossos. 

-A Montanha é nossa vantagem, foi isso que me ensinou. - comentou. 

-Mesmo com o terreno, um só guerreiro não pode vencer um exército. Entendo tais pontuações, mas deve entender as minhas. Seu povo não poderá vencer, ao menos não sozinho. 

-Temos diplomacia com alguns reinos poderosos. - lembrou. - Jude Heartifilia possui uma vasta cavalaria, os arqueiros de Küki são os melhores e...

-Princesa, diga para mim: realmente acredita que algum deles, por mais amigo que seja, irá se prontificar a lutar contra o Império Alvarez? - virou-se para ela, sem levantar a cabeça para olhá-la. - Se for vosso desejo, podemos contatar seus aliados e pedir ajuda, porém acha mesmo que irão se prontificar a enfrentar Acnologia?

Ela estremeceu. Afinal, ele tinha a fama de Imperador Negro por um motivo. Seu nome dificilmente era conjurado e todos o temiam profundamente. Os mais velhos a alertavam para jamais cruzar seu caminho, enquanto seu Mentor, Makarov Dreyar... ele apenas dissera para ter cuidado. Muito cuidado, pois o que o homem queria, conseguia.

-Então o que devo fazer, Makarov-sensei? A decisão recairá sobre mim, visto que meus pais não se deram o trabalho de descobrir o que nosso Mensageiro Real trouxera horas atrás. 

Ela se lembrou o quanto seu dia começara bem, e de como foi arruinado com o pergaminho que Sarosuke trouxera. Foi a primeira a ler e até agora, continuava assustada. Fiore possuía muitos reinos e vilas construídos em vales ou planícies, tanto pelo terreno apropriado para o plantio quanto pela facilidade de locomoção, comércio, acessibilidade. Já Magnólia se situava no cume das Montanhas Kisokoma, que era rodeada de um lado pelo Mar Sagami e pelo outro, a Floresta Misuto. A única forma de chegar e sair do Reino, era por uma única passagem chamada Desfiladeiro Kurobe, muito procurado por comerciantes e aventureiros. 

O Império Alvarez, que se situava no extremo sul de Misuto, havia lhe mandado um comunicado, exigindo - não pedindo - acesso aos outros reinos de Fiore através de Kurobe. Isso, em pormenores, queria dizer que eles não almejavam apenas o acesso e sim obter Magnólia.

-Você sabe o que deve fazer. - ele respondeu, finalmente a olhando. A McGarden arregalou os olhos. - Não queria ter que levantar essa possibilidade, mas diante dos fatos eu não vejo outra saída para salvar Magnólia. 

Ele começou a descer pela torre de vigia. Ela, por um instante, olhou para o jardim novamente. O casal real ria de alguma trivialidade, e Levy se lembrou da história dos dois.

Há 25 anos atrás, dois Reinos ocupavam as Montanhas Kisokoma. Um, ao Norte, era governado pelo Rei Yozei e a Rainha Gensho, cuja filha era Jito, enquanto o outro, ao Sul, pertencia ao Rei Sujin e da Rainha Meisho, que tinham um filho chamado Montoku. Os Reinos sempre disputavam espaço com o outro, o caminho pelo Desfiladeiro sempre foi motivo de discussões. Então, um dia, o Príncipe do Norte e Princesa do Sul se conheceram por acaso do destino em um baile. Segundo ambos, foi amor à primeira vista. Insistiram tanto aos progenitores que ganharam a permissão de se casarem. Após serem coroados, decidiram juntar os dois Reinos e assim surgiu a pacífica e próspera Magnólia. 

Sua mãe, romântica incorrigível, sempre dissera à filha que, da mesma forma que acontecera com ela, um dia, chegaria a sua vez de encontrar e se casar com sua alma gêmea, seu amor verdadeiro. 

Infelizmente, Levy McGarden não acreditavam mais nisso. 

Gostando ou não, querendo ou não, e apesar daquilo lhe deixar um sentimento ruim no estômago, sabia que se arranjasse um noivo, pelo código de conduta, caso ela viesse a ser atacada por quem quer que fosse, ele teria que lhe ajudar com o poder bélico que dispunha no momento. Ou seja, se entrasse em guerra, teria alguém para lutar ao seu lado. 

Despertou de seus pensamentos e avançou rapidamente pela escada, encontrando Makarov lhe esperando no pátio, provavelmente deixando-a propositalmente para trás a fim de considerar suas palavras. E pelo olhar em seu rosto, sabia que havia decidido-se. 

-Sabe que está fazendo o melhor para seu Reino e pelo seu povo. - disse gentilmente.

-Agradeço as palavras, Mestre. Todavia, ainda gostaria de enviar alguns pergaminhos à nossos reinos aliados requisitando armamento e guerreiros. Se não obter resposta, então... - respirou fundo. Aquela ideia ainda lhe deixava tensa.  

-Queria que Vossa Graça soubesse que, juntamente com alguns informantes, obtive uma lista de pretendentes para serem analisados por sua pessoa. É claro, após ter conversado com o escriba real sobre toda a situação. - por conta da sua vasta experiência, sabia que as chances de que tivessem algum apoio era muito pequena. Mesmo assim, faria segundo a vontade da Princesa. 

-Sim, falarei com o senhor Justine agora mesmo. E por favor, prefiro que nem o Rei nem a Rainha saibam de nada do que está acontecendo. 

-Entendo perfeitamente. - ele a conduziu pelos corredores em direção à seu escritório. Parou na metade para pedir a um criado que passava por ali para chamar Freed Justine, o escriba real, e seu único neto, Laxus Dreyar. Os dois seriam vitais naquela conversa e seriam de grande auxílio para a Princesa. 

Enquanto Levy o seguia, não deixava de pensar que, se não fosse acudida pelos aliados,  independente do que decidiria para seu futuro, tinha colocado em sua cabeça que Iria entregar sua mão em matrimônio apenas para salvar Magnólia e jamais chegaria a amaria o homem com o qual fosse se casar.