A cura funcionou.
Jimmy voltou para Agrabah como um novo garoto.
Nos outros dois meses que se sussederam, ele se tornou um verdadeiro príncipe. Como deveria ser, desde o começo.
Ia ao mercado e era aclamado enquanto beijava bebês.
Brincava e tinha aulas divertidas.
Como passou tanto tempo na cama, Jimmy recebeu o dobro de liberdade que devia. Ainda mais agora, que o irmão podia nascer a qualquer momento. Os olhares ansiosos se dirigiam a Elle e seu barrigão, enquanto Jimmy saltitava por aí.
Um belo dia não tão belo assim, Jimmy, após ouvir o pai resmungando sobre a frágil saúde da esposa, ele ficou extremamente preocupado e resolveu desbravar o mundo, para aliviar essa preocupação angustiante.
Começou pela própria casa. Afinal, o palácio de Agrabbah era exuberante e Jimmy sempre descobria novos cômodos.
Seu preferido até aquele momento era o Salão do Tesouro Real. Lá era onde mantinham os pertences do Sultão. — dinheiro, jóias e afins.
Jimmy simplesmente se sentava na frente de tudo aquilo e ficava olhando aquele salão brilhante. Era mágico. Era dele.
Naquele dia em particular, Jimmy pegou o manto do pai e o cetro, e saiu por um cômodo aleatório, fingindo ser o Sultão das almofadas. Dava castigos cruéis para as almofadas de penas de ganso más e recompensava as almofadas de enchimento.
Seu olhar agitado e despretensioso bateu na velha lareira que tinha ali, numa parede afastada.
Aquela lareira simples, estranhamente atraiu o olhar de Jimmy; o que era anormal, afinal, ele gostava de coisas brilhantes, tudo que aquela lareira não era.
— Estranho. Essa palede é muixtu lisa... E oca — falou consigo mesmo, esperto, enquanto observava e tateava a parede e a lareira.
Ele pegou as almofadas escravas e empilhou uma em cima da outra, para poder observar melhor o topo da lareira.
Tinha vários bibelôs de madeira lascada ali. Mostrava todos os Sultões de Agrabbah, desde o começo. Seus antepassados. Papai Hamed era o mais recente.
Aos pés dos Sultões, estava a data de governo deles, empoeirada.
Após de deslumbrar imaginando quando teria o seu próprio enfeite, Jimmy tentou tirar o enfeite de Hamed, para poder brincar, porém, notou que os bibelôs estavam presos na lareira, como se fossem entalhados ali.
“Droga”.
Jimmy, apesar de frustrado, continuou analisando tudo.
O mais curioso era um velho senhor, que foi Sultão em 1783.
Aliás, ele nem parecia um Sultão. Na imagem, estava curvado, usando uma bengala. Era careca e tinha um extensa barba que mais se parecia com a de Dumbledore (exceto pelo fato de que Dumbledore ainda não tinha sido criado na época). Tinha uma expressão facial cansada.
Aquilo interessou Jimmy, e ele envolveu o bibelô com as mãos, fascinado.
Quando fez isso, escutou um rangido. Um segundo depois, a parede simplesmente se... Moveu.
Jimmy, surpreso, caiu da pilha de almofadas.
O ruído da parede era preguiçoso, como se a parede não tivesse pressa. Ela apenas deslizou para o lado.
O jovem garoto estremeceu.
A parede estava escondendo uma escada em espiral, iluminada por tochas que brilhavam incessantemente, provavelmente por serem feitas com magia.
Ele resolveu entrar. O brilho das tochas e o avermelhado tom áspero dos degraus pareciam chamativos.
E claro, Jimmy era curioso, como toda criança.
Subiu um, dois, três degraus. A parede deslizou para o lugar, novamente, deixando-o preso ali; porém Jimmy não se exasperou, já que uma avalanca estava presa num canto. Provavelmente ela abriria a porta.
Ele tratou de subir mais rápido.
A escadaria parecia não ter fim; mas seu ânimo também não tinha.
Quando subiu toda a escada — que até aquele momento, parecia infinita. —, Jimmy chegou ao que parecia a entrada para um cômodo.
Ratos chiavam, escondidos nas sombras e, estava tão escuro que Jimmy podia ouvir o farfalhar das aranhas trabalhando em intermináveis metros de seda.
Respirando fundo, engoliu o medo e abriu a porta.
Afinal, Jimmy estava no próprio castelo. Que mal teria uma passagem secreta?
Lá dentro, estava ainda mais empoeirado.
Jimmy atravessou a sala feita de tijolos — sem espirrar — e chegou perto de uma tocha mágica pendurada na parede. Pegou-a na mão e começou a analisar a sala.
As paredes estavam abarrotadas de prateleiras com livros, frascos coloridos (alguns cheios, outros vazios) e quadros retratando momentos históricos de diversos Sultões ao longo do tempo, especialmente os mais antigos.
Jimmy se virou e notou alguma coisa no centro da humilde sala e se aproximou.
Era um mecanismo grande, que chegava até o teto.
Parecia duas bolas de cristal, uma em cima da outra, formando uma figura parecida com uma ampulheta. Colocando a tocha na frente das bolas, Jimmy percebeu que realmente havia uma areia esbranquiçada ali.
Ao lado da tal “bolalheta”, havia um livro, uma pena apoiada numa caixinha de tinta e algo que parecia uma bicicleta. Jimmy concluiu que a geringonça fazia a aquela ampulheta de cristal funcionar ou algo do gênero.
Ficou dividido entre abrir o livro ou sentar na geringonça. Como supôs que o livro devia ser tedioso, preferiu a segunda opção.
Sentou-se no aparelho e começou a exercitar as pernas, com seu novo fôlego. Quando mais pedalava, mais a ampulheta de cristal girava, lentamente.
Porém, uma hora, cansou e uma gota de suor pingou no guidão da bicicleta. Só assim a ampulheta criou ânimo e começou a rodar sem Jimmy. Após um tempo, parou bruscamente.
— Olá Jimmy. Obrigada por me despertar. — Uma voz fria e macabra invadiu a sala, em um tom firme, embora tentasse ser gentil. — Creio que quer ver alguma coisa, não é?
Pela primeira vez, a segurança de Jimmy se abalou e o mesmo começou a gaguejar.
— Que? N-não me mate, por... Por favor.
A voz riu.
— Matar? Nada disso. Estou aqui para atender seus desejos. Bem, pelo menos mostrá-los.
Jimmy recuperou a calma e inflou o peito.
— E o que eu quero agora?
— Entender tudo isso. E sei como vai conseguir.
Continua...
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