História Relearning - Recomeçar.

Eu tentava evitar, Simon também, mas as nossas discussões estavam cada vez piores e as crianças começaram a nos ver discutindo de vez em quando. A falta de carinho entre a gente também chamava a atenção e de vez em quando ouvíamos um “você não vai beijar a/o mamãe/papai?”.

Meu pai passou aqui mais vezes durante a semana, sempre contando histórias do quanto Simon é maravilhoso, Delfi estava igualzinha. Os dois estavam em pânico pelo divórcio e avisei aos dois que foi só uma ideia que cogitei, mas que não iria me precipitar, o que deixou os dois visivelmente aliviados.

Mônica pegou algo no ar e foi me visitar na empresa uma vez. Como a mulher maravilhosa que é, ela teve muito tato, mas deixou bem claro para mim que não está feliz com tudo que está acontecendo entre Simon e eu e que isto está afetando as crianças, que tudo isso não era uma questão sobre a minhas memórias e que devíamos começar a tratar tudo como adultos.

Josh

- Harry, o que você está fazendo aqui? – Era noite. Harry estava em cima da minha cama tentando puxar a minha coberta.

- Quero dormir com você irmão. – Ele fala e chego um pouco para o lado deixando um espaço para ele deitar.

- Pronto? Confortável? – Pergunto a ele.

- Sim. Queria dormir com o papai e a mamãe, mas eles não estão na mesma cama. Por que Josh? – Ele me pergunta.

- Eu não sei irmão. Eu não sei. – E então ficamos quietos.

Simon 

- Papai! – Sophi fala da porta do meu quarto. Ela está vestida com um pijama de bolinhas e pelo horário já deveria estar dormindo.

- Oi princesa. Aconteceu alguma coisa? – Ela entra e se deita ao meu lado na cama, me abraçando.

- Não sei, talvez. Não consigo dormir. – Ela filósofa.

- E o que está tirando o sono da minha princesa? – Falo sério.

- Você e a mamãe. – Um nó se instala em minha garganta.

- E por que? – A questiono.

- Vocês agora estão sempre brigando, não se abraçam mais, não dão beijinhos quando pensam que não estamos vendo, não sorriem e só brigam mais. Conversei com meu melhor amigo do colégio e ele disse que isso só acontece quando os pais estão perto de se separarem. Isso é verdade pai? Porque eu não quero que seja verdade. – Solta em um único fôlego. – Além disso você está dormindo aqui e não lá no seu quarto com ela.

- Meu amorzinho isso é coisa de adultos. Muito complicado para sua cabecinha. – Não quero ter essa conversa com a minha filha porque não tenho a resposta para a pergunta que ela me fez. Ela tem razão, meu casamento está desmoronando e isso me destrói.

- Não, pai, não é. Vocês só tem que parar de brigar e voltar a dormir no mesmo lugar. Vovó Miguel disse que o segredo para um casamento feliz é sempre fazer às pazes antes de dormir, então você tem que ir lá papai e perdoar a mamãe. – Ela fala.

- Filha, as vezes só isso não é suficiente... – Tento explicar.

- Tudo isso aconteceu porque a mamãe viajou sem a gente. Se ela tivesse nos levado nada disso teria acontecido. – É irônico isso. Se Âmbar não tivesse esquecido da gente nada disso estaria acontecendo.

- Princesa, não é assim, as coisas são mais complicadas do que você está pensando. Eu não sei o que vai acontecer, mas eu te prometo que eu vou fazer até o impossível para ficarmos juntos. Tudo bem? – Ela assentiu ainda um pouco hesitante. – Agora, por que a senhorita não vai dormir? Você tem aula amanhã. – Pergunto.

- Quero dormir com você aqui, pai. – Ela fala se aconchegando melhor ao meu lado.

- Claro princesa! Boa noite! – Beijo sua cabeça.

- Boa noite pai! – Ela me devolve e caímos na inconsciência.

Ámbar 

Levanto cedo e vou acordar as crianças. Harry e Josh estavam embolados um no outro como se fossem um só. Sophi não está em sua cama, não a encontro em lugar nenhum e começo a ficar um pouco desesperada. Passo pelo quarto de Simon e me tranquilizo. Ela estava lá.

- Sophi, querida. Acorde. – Falo baixo, mas acabo despertando os dois.

- Bom dia mamãe. – Ela falou se espreguiçando.

- Bom dia meu amor. – Falo e ela pula da cama, ia a seguir quando Simon segurou minha mão.

- Precisamos conversar. Vou pedir a minha mãe para levar as crianças à escola. Tudo bem? – Ele fala e estava sério.

- Certo. – Assinto.

Desço para organizar o café da manhã e uma a uma as crianças vão descendo. Harry ainda está despenteado, mas acertou na roupa. Mônica chegou não muito tempo depois. Harry demorou em mais ou menos duas semanas para se convencer de que quando ele voltasse para casa eu estaria aqui, então hoje ele já está mais confiante e vai para a escola sem problemas.

- Sobre o que quer falar? – Pergunto a Simon assim que ficamos sozinhos.

- As crianças. – Ele suspira. – Eles estão pensando que vamos nos separar. Sophi me interrogou ontem à noite e eu não soube respondê-la. Então Âmbar, vamos nos separar? – Ele pergunta direto e mesmo já tendo pensado sobre isso sinto um aperto. Tudo está muito real.

- Eu não sei. – Sou sincera. – Mas sei que não podemos continuar como estamos. Eu já percebi que nossas brigas estão afetando as crianças.

- Quero te propor uma trégua. – Ele fala. – Primeiro quero me desculpar por tudo o que fiz no passado, eu era realmente um babaca. Já fiz isso antes, mas juro a você que eu sou um novo homem e me arrependo sinceramente de tudo o que fiz. – Fico chocada.

- Bom acho que eu deveria pedir desculpas também. Eu tenho sido uma cadela infantil nos últimos tempos, presa ao passado. Eu percebo que você mudou, mas não consigo separar as coisas, mas vou tentar. Prometo. – Falo.

- Que bom. Porque minha proposta é que sejamos amigos. Acho que devemos fazer isso pela crianças. Então amigos? – Ele fala me estendendo a mão.

- Amigos! – Eu pego a sua mão.

Depois de fazer uma trégua com o Simon as coisas ficaram um pouco mais leves, ele sabia muito sobre mim e quando conseguimos ficar mais de quatro horas em um mesmo ambiente sem brigar eu percebi que ele era a pessoa perfeita para conectar as minhas memórias. Passamos a conversar por horas, mas aquele clima de desconforto parecia sempre pairar entre nós, não importa o quão amigos ficávamos.

Entro no closet apressadamente e coro. Simon está só de cueca na minha frente e mesmo percebendo minha presença não está nem um pouco desconfortável.

- Perdão. Não sabia que você já tinha chegado. – Eu falo desviando o olhar.

- Eu vim mais cedo do trabalho, ia falar com você, mas você estava ao telefone com alguém e Harry já estava tentando chamar sua atenção. – Ele responde e não consigo conter a vontade de dar uma espiada. O maldito é lindo, sempre foi.

Ele se aproxima de mim e acaricia meu rosto, tenho certeza que nesta hora estou mais vermelha que um pimentão. O ar de repente estava elétrico a nossa volta. Ele diminui ainda mais a distância entre nós e seu corpo encosta no meu. Seu cheiro me invade, eu nunca quis tanto beijar alguém como quero beija-lo agora. Ele aproximou mais o rosto do meu e nossos lábios estavam quase se encostando.

- Mãe. – Me sobressaltei pulando para trás, assim como Simon. Sophi estava na porta olhando para nós.

- Eu preciso de ajuda com um trabalho da escola. – Ela fala.

- Claro. Vamos até o seu quarto. – Falo indo até ela.

- Viu só pai?! Eu falei que se você pedisse desculpas tudo ia ficar bem. – Ela está séria.

- E como você sabe que eu pedi desculpas? – Ele pergunta levantando as sobrancelhas.

- Tio Matteo disse que as coisas só se resolvem depois que o marido pede desculpas sendo culpa dele ou não. E olha as coisas se resolveram. – Ela fala me puxando para o seu quarto.

Talvez as coisas não estejam tão resolvidas assim.