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História Reprise - Interativa - 033 - Começa a Segunda Guerra


Escrita por: _Stilisnki_

Notas do Autor


Olá meus amores, como vocês estão?

Esse é o nosso penúltimo capítulo, aproveitem porque depois do capítulo de Quarta, irei tirar umas férias.

Não será muito tempo, talvez um mês, mas prometo postar algo para vocês não ficarem sem nada.

Enfim, fiquem com o capítulo.

Capítulo 33 - 033 - Começa a Segunda Guerra


21 de Junho de 1996

Escócia - Hogwarts

"Aquele-que-não-deve-ser-nomeado retorna"

Em uma breve declaração na sexta-feira à noite o Ministro da Magia, Cornélio Fudge, confirmou que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornou a este país e está novamente na ativa.

"É com grande tristeza que eu venho confirmar que o bruxo que se autodenomina Lord... Bem, vocês sabem de quem eu estou falando... Está vivo e entre nós novamente', disse Fudge, parecendo cansado e confuso enquanto falava com os repórteres. "É quase com o mesmo pesar que eu comunico a revolta em massa dos dementadores de Azkaban, que decidiram não continuar mais a serviço do Ministério. Nós acreditamos que os dementadores estão agora sob comando de Lord... Você-Sabe. Nós pedimos encarecidamente que toda população mágica se mantenha vigilante. O Ministério está, no momento, publicando guias básicos de defesa pessoal e defesa da casa que serão entregues gratuitamente em todas as casas de bruxos durante esse mês."

O depoimento do Ministro foi recebido com medo e alarme pela comunidade mágica, que recentemente - na última quarta-feira - recebeu afirmações do Ministério de que "não são verdadeiros os rumores persistentes de que Você-Sabe-Quem está operando entre nós novamente".

Os detalhes do evento que levaram o Ministério a mudar de opinião ainda estão confusos, embora se acredite que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e um seleto grupo de seguidores - conhecidos como Comensais da Morte - conseguiram entrar no Ministério da Magia quinta-feira à noite.

Alvo Dumbledore, recentemente renomeado diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, renomeado membro da Confederação Internacional de Bruxos e Bruxo Chefe Cacique Supremo da Confederação Internacional de Bruxos, esteve indisponível para comentários até o momento. Ele insistiu durante o último ano que Você-Sabe-Quem não estava morto como se acreditava, mas sim, recrutando seguidores novamente para mais uma tentativa de conquistar o poder. Enquanto isso, O-Menino-Que-Sobreviveu..."

— Ariana me deve dez gaelõs, eu sabia que eles iam meter Harry de algum jeito nisso — disse Medusa, interrompendo a leitura de Ariana.

Estavam na ala hospitalar. Harry estava sentado na ponta da cama de Rony e estavam ouvindo Ariana ler a primeira página do Profeta Diário. Bianca, cujo tornozelo tinha sido colocado numa tipóia por Madame Pomfrey, estava curvada ao pé da cama de Yvaine, que por sua vez, já havia parado de rir; Neville, cujo nariz tinha retornado ao seu tamanho e forma normal, estava em uma cadeira entre as duas camas; Adhara havia deixado sua cama para ir se deitar com Noah, esse estava com os olhos fechados e as mãos por trás da cabeça; Ariana e Hermione se recuperaram aos poucos graças a Madame Pomfrey; Gina estava encolhida ao lado de Cameron, que aconchegava a amiga ruiva em um abraço; Sirena estava jogada na poltrona ao lado da cama de Medusa; Coralinne estava quieta na cama ao lado da de Adhara, que agora era ocupada por Alisson; Luna foi a primeira a sair da ala hospitalar, mas apareceu lá pela tarde, segurando a última edição do Pasquim, estava lendo a revista de ponta-cabeça e aparentemente não ouvia nada do que Hermione dizia; Cedrico Diggory também havia aparecido para uma visita, estava em pé ao lado de Lily; Nathair e Mérida não estavam tão machucados, por isso, não demoraram muito tempo na ala hospitalar. O que, de certa forma, foi bom para todos eles.

— Então agora ele voltou a ser "O-Menino-Que-Sobreviveu", né? — Cedrico brincou — Não é mais o doido metido?

Yvaine encheu a mão com os sapos de chocolate que estavam em seu criado-mudo, jogou alguns para seus amigos e rasgou seu pacote com as mãos. Ainda existiam marcas profundas em seus antebraços, onde os tentáculos dos cérebros haviam se enrolado. De acordo com Madame Pomfrey, pensamentos podiam deixar cicatrizes mais profundas do que qualquer outra coisa, mesmo que parecesse ter tido melhora desde que ela havia começado a aplicar doses de Unguento do Olvido do Dr. Ubbly. Sirena, Cameron, Coralinne, Gina e nem Rony - para a surpresa de todos - aceitaram o chocolate.

— Eles estão te elogiando bastante agora, Harry — disse Hermione, dando uma olhada no artigo. — "A voz solitária da verdade... Perseguido como desequilibrado, mas sem nunca hesitar em sua história... Forçado a aguentar calúnias e ridicularizações..."

— Hm... — Yvaine resmungou — Notei que eles não mencionaram o fato de que foram eles mesmos que fizeram todas essas calúnias e ridicularizações no Profeta Diário…

Ariana recuou levemente e colocou as mãos em suas costelas. O feitiço que Tommy tinha usado contra ela, mesmo que menos efetivo do que se tivesse dito em voz alta, tinha causado, nas palavras de Madame Pomfrey, "danos o bastante". Ariana tinha que tomar dez tipos diferentes de poções todos os dias, estava melhorando aos poucos e já estava entediada com a ala hospitalar.

— Me dê isso aqui — Lily pegou o exemplar da mão da menina, passando os olhos rapidamente pelas páginas viradas somente para ler os títulos — A última tentativa de dominação de Você-Sabe-Quem, página dois a quatro. O que o ministro devia ter dito a população bruxa, página cinco. Por que ninguém deu ouvidos a Alvo Dumbledore, página seis a oito. Entrevista exclusiva com Harry Potter, página nove... Bom — comentou Lily, fechando o jornal e atirando-o para atrás de suas costas —, isso certamente deu a eles muito que o escrever.

— Não deu tempo para Harry fazer uma entrevista, aposto que eles pegaram a do Pasquim que foi publicada há meses… — Cameron resmungou, acariciando os fios ruivos de Gina.

— Papai vendeu para eles — disse Luna sem interesse, virando a página do Pasquim. — Ele conseguiu um ótimo preço por ela, aliás... vamos fazer uma expedição à Suécia no verão para ver se capturamos um Bufador de Chifre Enrugado.

Hermione pareceu lutar consigo mesma por um momento, então disse:

— Isso parece ótimo.

Noah deu uma risadinha, ainda com os olhos fechados.

— Então, de qualquer forma — Bianca disse, fazendo uma careta. — O que está acontecendo na escola?

— Bom, Flitwick se livrou do pântano dos gêmeos — disse Alisson. — Ele limpou tudo em três segundos. Mas deixou um pouco debaixo da janela, em destaque…

— Por quê? — perguntou Adhara, espantada.

— Ah, ele só disse que foi uma mágica muito bem feita — disse Alisson, encolhendo os ombros.

— Acho que ele deixou lá como um monumento para eles — disse Rony, baixinho — Eles nos mandaram todos esses chocolates, sabe? — disse, apontando para a pilha de sapos ao lado de Yvaine. — Eles devem estar se dando bem com a loja de logros, né?

— Estão sim. — Coralinne garantiu, sem olhar os amigos.

Eles ficaram quietos por um momento, um clima estranho pairando ao ar, Sirena resolveu quebrar o silêncio.

— Então... quer dizer que os problemas acabaram agora que Dumbledore está de volta?

— Terminaram — disse Neville —, tudo voltou ao normal.

— Nem tudo. — Gina sussurrou, quase inaudível.

— Eu suponho que Filch esteja feliz, não? — perguntou Medusa, jogando sua figurinha de Dumbledore em Ariana, que resmungou.

— De jeito nenhum — disse Cedrico. — Ele está muito deprimido, na verdade... — diminuiu seu tom de voz. — Ele fica dizendo que Umbridge foi a melhor coisa que já aconteceu para Hogwarts…

Todos olharam para o lado. A professora Umbridge estava deitada em uma cama do lado oposto da sala, olhando fixamente para o teto. Dumbledore foi sozinho até a Floresta para resgatá-la dos centauros; como ele tinha feito isso - como tinha saído do meio das árvores carregando a professora Umbridge sem nenhum arranhão - ninguém sabia e Umbridge certamente não diria. Desde de que voltara ao castelo ainda não tinha pronunciado uma palavra sequer, ao menos, não que algum deles soubesse. Ninguém sabia, tampouco, o que estava errado com ela. Seu cabelo, de um castanho acinzentado e normalmente organizado, estava desarrumado e ainda havia pequenos ramos e folhas nele, mas fora isso ela parecia estar ilesa.

— Madame Pomfrey diz que está apenas em choque — sussurrou Hermione.

— Parece mais rabugenta que o normal, isso sim — resmungou Ariana com uma careta.

— Pode até ser, mas ela mostra sinais de vida se você fizer isso — disse Alisson, e com a língua fez um som de trote. Umbridge se levantou de repente, ereta e alarmada, olhando ao redor desordenadamente.

— Algum problema, professora? — perguntou Madame Pomfrey, colocando a cabeça para fora da porta do seu escritório.

— Não... não... — respondeu Umbridge, afundando novamente em seus travesseiros. — Não, devo estar  sonhado acordada...

Eles abafaram as risadas nas cobertas.

— Falando em centauros — disse Bianca quando parou de rir —, quem vai ser o nosso professor de Adivinhação agora? Firenze vai continuar aqui?

— Tem que continuar — respondeu Harry —, os outros centauros não querem aceitá-lo de volta.

— Parece que os dois, ele e Trelawney, vão ensinar a disciplina — comentou Cedrico.

— Aposto que Dumbledore queria ter se livrado da Trelawney de vez — disse Medusa, mastigando seu décimo quarto Sapo. — Se vocês querem saber, a matéria toda é inútil, Firenze não é muito melhor…

— Como você pode dizer isso? — Hermione a olhou incrédula. — Depois que nós acabamos de descobrir que existem profecias de verdade?

O coração de Harry começou a acelerar. Ele não tinha contado aos seus amigos ou a qualquer outra pessoa qual era a profecia. Neville contou a todos que ela tinha se quebrado enquanto Rony o puxava na escada da Sala da Morte e Harry ainda não tinha corrigido essa impressão. Ele não estava pronto para ver a expressão de seus amigos quando lhes contasse que ele tinha que ser um assassino ou a vítima, não havia outra maneira…

— É realmente uma pena ter quebrado — comentou Gina em voz baixa, balançando a cabeça.

— Foi — concordou Rony.

— Mas pelo menos Voldemort não descobriu o que diz... aonde você vai? — acrescentou Sirena, parecendo surpresa e desapontada ao ver Harry se levantar.

— Hum? Ah, preciso ver... Hagrid. Ele acabou de chegar e prometi que iria vê-lo e dar notícias de vocês.

— Gostaria que a gente pudesse ir também. — Comentou Cameron, olhando para o céu azul pela janela.

— Dá um alô a ele por nós! — falou Yvaine, quando Harry ia saindo da enfermaria.

— E pergunte como está... o amiguinho dele! — Hermione acrescentou.

Harry acenou para indicar que ouviu e foi embora.

O castelo estava muito silencioso, mesmo para um domingo. Todos estavam, com certeza, do lado de fora, nos campos ensolarados, aproveitando o fim das suas provas e os últimos dias do ano letivo livre de lições de casa ou revisões. Harry andou lentamente pelo corredor desertos, observando através das janelas pelas quais passava; via pessoas voando despreocupadas pelo campo de quadribol e alguns alunos nadando no lago, acompanhados pela lula gigante.

Estava achando difícil decidir se queria ficar com as pessoas ou não; quando estava com outras pessoas queria ficar só, mas quando estava sozinho queria a companhia de outras pessoas. Mas pensou em realmente ir visitar Hagrid, afinal, Harry ainda não havia conversado com ele desde que tinha voltado…

Harry tinha acabado de descer o último degrau da escada de mármore em direção ao Saguão de Entrada quando Draco, Nathair e Mérida saíram de uma porta à direita que Harry sabia que dava na Sala Comunal da Sonserina. Harry parou abruptamente; o mesmo fez Malfoy e os outros dois. Os únicos sons eram os gritos, risadas e o som de água vindo dos campos que invadiam o local pelas portas de entrada que estavam abertas.

Draco Malfoy olhou ao redor - Harry sabia que ele estava procurando por sinais de professores - então olhou novamente para Harry e disse em um tom baixo:

— Você está morto, Potter.

Harry ergueu as sobrancelhas.

— Engraçado, então eu não deveria estar andando por aqui…

— Vamos embora, Draco — Nathair disse baixinho, mas Draco negou com cabeça.

Malfoy parecia realmente irritado; sentiu uma espécie de satisfação à vista daquele rosto cruel contorcido de raiva.

— Eu vou fazer você pagar pelo que fez com meu pai… — Disse Malfoy.

— Bom, eu realmente fiquei com medo agora — disse Harry sarcasticamente. — Lord Voldemort foi apenas um aquecimento comparado a vocês...

— Você se acha tão corajoso, Potter — disse Malfoy, se aproximando perigosamente. — Pensa que pode meter meu pai na prisão...

— Achei que tivesse acabado de fazer isso.

— Quanto testosterona. — Mérida resmungou, revirando e olhos e pondo a mão no ombro de Draco — Vamos embora, agora.

— Os Dementadores deixaram Azkaban, Draco — disse Nathair sem se alterar, cansado — Eles logo estarão de volta, deixe o Harry ir fingir ser debochado com outra pessoa.

— É, talvez saiam mesmo. Mas, pelo menos, todos já sabem a escória que são.

A mão de Malfoy voou em direção à sua varinha e Harry para a dele, apontando para Draco rapidamente.

— Potter!

A voz soou através do Saguão de Entrada. Snape acabara de subir a escada que dava ao seu escritório nas masmorras e ao vê-lo, Harry sentiu uma fagulha de ódio mais forte do que qualquer coisa que sentia por Malfoy... Não importava o que Dumbledore dissesse, nunca perdoaria Snape... Nunca…

— O que você pensa que está fazendo, Potter? — disse Snape, frio como sempre.

— Estou tentando decidir qual feitiço lançar em Draco, senhor — disse com ferocidade.

Snape encarou-o.

— Guarde essa varinha agora — disse secamente. — Dez pontos a menos para Grif...

Snape olhou para as ampulhetas na parede e sorriu com desdém.

— Bem, eu vejo que não há mais pontos para serem retirados da ampulheta da Grifinória. Nesse caso, Potter, nós simplesmente teremos que…

— Acrescentar mais alguns?

A professora McGonagall acabara de subir, com certa dificuldade os degraus do castelo, carregava uma bolsa de viagem xadrez em uma mão e se apoiava pesadamente em uma bengala com a outra, fora isso, parecia muito bem.

— Professora McGonagall! — exclamou Snape, indo em sua direção. — Vejo que teve alta!

— Sim, professor Snape, estou quase nova — disse ela, tirando a capa de viagem — Muito bem, então — murmurou, olhando para as ampulhetas na parede. — Bom, eu acho que Potter e seus amigos devem receber dez pontos, cada, por alertarem o mundo sobre a volta de Você-Sabe-Quem! O que você acha, professor Snape?

— Desculpe? — retorquiu Snape, embora Harry soubesse que ele ouvira perfeitamente. — Hum... bom...

— Então, são dez para Potter, para os dois Weasley, para Longbottom, Lupin, Targaryen, Scamander e a Srta. Granger. — uma chuva de rubis desceu para a bolha inferior na ampulheta da Grifinória enquanto ela falava. — Ah... dez pontos para a Srta. Lovegood e Bittencourt, também para o Miller, suponho — acrescentou, e o número mencionado de safiras caiu na ampulheta da Corvinal. — Também tem a Srta. Black, Weasley e a Jonnes — Diamantes amarelos caíram na ampulheta da Lufa-lufa — E, por fim, dez para a Srta. Fletcher, Lestrange e... Malfoy — as esmeraldas encheram a ampulheta - já cheia - da Sonserina. McGonagall pigarreou, se virando para Snape —  Agora, o senhor queria descontar dez pontos do Sr. Potter, aí estão...

Alguns rubis voltaram para a bolha superior, mas deixaram uma respeitável quantidade em baixo.

— Bem, eu acredito que vocês deveriam estar lá fora aproveitando um dia maravilhoso como esse — continuou a professora com energia.

Harry não precisou ouvir duas vezes; enfiou sua varinha de volta no bolso e se direcionou para a porta de entrada sem olhar para trás. As últimas pessoas com quem ele gostaria de conversar era a família Malfoy.

O sol quente o atingiu como uma rajada enquanto atravessava o gramado em direção à cabana de Hagrid. Alunos deitados à sua volta na grama, tomando sol, conversando, lendo o Profeta Diário e comendo doces, olhavam para ele enquanto passava; alguns o chamavam ou acenavam, claramente tentando mostrar que eles, assim como o Profeta, tinham decidido que ele era um herói. Harry não disse nada a nenhum deles. Ele não fazia idéia do quanto sabiam sobre o que acontecera três dias atrás mas ele, até agora, tinha tentado evitar ser questionado e continuaria a fazê-lo.

Achou que Hagrid não estava quando bateu na porta da cabana, mas então, Canino veio correndo pela lateral e quase o derrubou, tão grande era seu entusiasmo com a chegada do garoto. Hagrid transpirava - estava pegando feijões corredores no jardim que ficava atrás de sua cabana.

— Tudo certo, Harry? — disse ele, sorridente, quando Harry se aproximou da cerca. — Entre, vamos tomar um suco de ervas... Como estão as coisas? — Hagrid perguntou, enquanto sentavam à mesa de madeira, cada um com um copo de suco gelado. — Você... Hum... Está bem?

Harry sabia pelo olhar de preocupação na cara de Hagrid que ele não estava se referindo ao seu bem estar físico.

— Estou bem — disse Harry rapidamente, porque sabia o que passava pela cabeça de Hagrid e não ia aguentar falar sobre isso. — Então, onde você estava?

— Ah, andei me escondendo em uma caverna nas montanhas. Arthur me ajudou a…

Hagrid parou, limpou sua garganta de forma grosseira, olhou para Harry e tomou um longo gole de suco.

— De qualquer jeito, estou aqui, não é? — ele deu uma risadinha sem graça. 

— Você me parece estar bem melhor... — continuou, decidido a manter a conversa afastada do Sr. Weasley.

— O quê? — disse Hagrid, levantando sua mão pesada e sentindo sua face. — Ah, é. Bem, Grope está se comportando bem melhor agora. Na verdade, ele pareceu muito feliz em me ver quando eu voltei. Ele é mesmo um bom rapaz... De fato, eu estive pensando em arrumar uma amiga pra ele…

Normalmente Harry teria tentado persuadir Hagrid a tirar essa ideia de sua cabeça; a ideia de um segundo gigante tendo a Floresta como residência era, definitivamente, alarmante. Mas, por algum motivo, Harry não conseguia encontrar a energia necessária para argumentar seu ponto de vista. Começou a desejar estar sozinho de novo e pensando em acelerar sua partida, tomou longos goles de suco, esvaziando seu copo pela metade.

— Agora todos sabem que você sempre falou a verdade, Harry — disse Hagrid inesperadamente.

Harry encolheu os ombros.

— Olha... — Hagrid se debruçou sobre a mesa, na direção de Harry. — Eu conhecia Arthur há mais tempo que você... Ele morreu na batalha e é dessa forma que gostaria de ter ido…

— Ele não queria partir! — disse Harry, zangado.

Hagrid curvou sua grande cabeça desgrenhada. Harry se ergueu antes que Hagrid voltasse a dizer outra coisa.

— Tenho que ir visitar os outros na ala hospitalar — disse no automático.

— Ah! — exclamou Hagrid parecendo muito chateado. — Ah... tudo bem então. Cuide-se e dê uma passada aqui se tiver um tem...

— Ok.

Harry foi até a porta o mais rápido que pôde e a abriu; estava do lado de fora, sob o sol, antes mesmo que Hagrid pudesse terminar de se despedir, foi andando pelo gramado. Mais uma vez as pessoas chamavam por ele enquanto passava. Fechou os olhos por algum tempo desejando que todos sumissem, que quando abrisse os olhos estivesse sozinho no gramado…

Alguns dias antes, antes das provas finais terem acabado e antes de ter a visão que Voldemort colocou em sua mente, teria dado quase tudo para que o mundo mágico soubesse que estava dizendo a verdade, que Voldemort estava de volta e que não era nem mentiroso nem louco. Agora, no entanto…

Andou um pouco na beira do lago, viu Júpiter sentada à sua margem e observou a garota por algum tempo. Júpiter estava com os braços apoiados no joelho e o queixo apoiado ali, fazendo com que ela tivesse uma boa visão do lago. Ela estava em um canto mais afastado, protegido por arbustos e dos olhares das pessoas que passavam.

— Eu vou te azarar se continuar me encarando escondido. — a garota resmungou, sem olhar ele. 

Harry bufou, se sentando o mais afastado que pode da garota. Queria ficar sozinho, mas seria impossível com a garota ali. Talvez o motivo pelo qual queria ficar sozinho era que tinha se sentido isolado de todos desde a sua conversa com Dumbledore. Uma barreira invisível o separava do resto do mundo. Ele era - sempre tinha sido - um garoto marcado. Apenas nunca tinha entendido o que isso significava. De uma maneira estranha, Harry parecia se sentir confortável na presença de Júpiter - quando ela estava calada, obviamente.

— Você está bem? — A garota disse baixinho, fazendo com que Harry olhasse para todos os lados, estranhando a pergunta de Júpiter Malfoy.

— Você está falando comigo? — perguntou.

— Não, eu gosto de falar sozinha — A garota revirou os olhos, bufando.

— Não — respondeu simples — Você está? — Harry devolveu a pergunta, fazendo com que a garota fizesse uma expressão estranha e risse.

— Não.

Nenhum dos dois voltou a falar. Sentados ali, à beira do lago, ambos com um peso terrível tomando conta deles; Harry com o sofrimento, com a perda de Arthur tão próxima e crua dentro de si; e Júpiter com medo do futuro, sabendo que algo ruim vinha pela frente. Fazia sol e os campos ao redor estavam cheios de pessoas felizes, mesmo se sentindo tão distante dessas pessoas como se fosse de uma outra raça, ainda era muito difícil acreditar que sua vida devesse incluir ou terminar em assassinato.

Ficaram sentados ali por muito tempo contemplando a água. Harry tentando não pensar nos Weasley e Júpiter tentando apagar qualquer pensamento de sua mente observando o lugar que mais gostava de Hogwarts. O sol já tinha desaparecido quando perceberam que estava frio. Ambos se levantaram e tomaram direção opostas para irem ao castelo, sem se despedir. Júpiter não viu, mas Harry enxugava os olhos com a manga das vestes. Talvez, se ambos tivessem iniciado uma conversa ali sobre o que os afligia, as coisas não teriam ficado tão difíceis no final.

Seus amigos, completamente curados, deixaram a ala hospitalar três dias antes do final do ano. Harry ainda não tinha certeza se queria falar sobre o que aconteceu; sua vontade dependia do seu humor. Mas uma coisa sabia: Por mais infeliz que estivesse agora, sentiria falta de Hogwarts por alguns dias, já que estaria de volta a rua dos Alfeneiros número quatro. Mesmo que agora entendesse exatamente porque tinha que voltar para lá todo verão, não se sentia melhor em fazê-lo. Na verdade, ele nunca havia temido o retorno tanto quanto agora.

A professora Umbridge deixou Hogwarts um dia antes do fim do ano. Aparentemente saiu mancando da ala hospitalar durante o jantar, evidentemente, tentando partir sem que ninguém a notasse. Mas para a sua infelicidade, encontrou Pirraça no meio do caminho. Ele reconheceu essa como sua última chance de cumprir a ordem dos gêmeos, perseguiu-a por todo o caminho, batendo em sua cabeça ora com uma bengala, ora com uma meia cheia de giz. Muitos alunos correram para o Saguão de Entrada para ver a professora fugir e os diretores das casas tentavam barrá-los sem muito esforço. De fato, a professora Minerva afundou em sua cadeira na mesa dos professores, depois de alguns protestos desanimados e expressou claramente seu arrependimento por não conseguir correr atrás de Umbridge também, visto que Pirraça pegara sua bengala emprestada.

A última noite na escola chegou; a maioria das pessoas já tinham terminado de fazer as malas e estavam descendo para o banquete de despedida de fim de ano, mas Harry ainda nem começara e Rony parecia não querer fazer.

— Terminem isso amanhã! — disse Ariana, que entrou - aos protestos de Dino e Simas, que ainda se arrumavam - para esperar os dois. — Andem logo, estou morrendo de fome.

— Não estou com fome — Rony se virou na cama, dando as costas para a menina. 

Ariana encontrou o olhar de Harry, trocando um olhar ansioso. Ariana deu a volta na cama de Rony, ficando de frente para o garoto, se abaixando para ficar na mesma altura que ele.

— Vamos, por favor — ela sussurrou. Rony encarou os olhos azuis, ficando desnorteado por algum tempo. — Prometo que faço o que você quiser, você está há dias sem comer… vamos, Rony.

— Não prometo nada — ele resmungou, se sentando na cama. Ariana não deu tempo para que ele resmungasse mais, puxando ele para a porta do dormitório. — Você não vem, Harry?

— Não vou demorar... podem ir na frente.

Mas quando a porta do dormitório se fechou atrás dos dois, Harry não se esforçou para arrumar as malas mais depressa. A última coisa que queria fazer era comparecer ao Banquete de Despedida. Estava preocupado que Dumbledore fizesse alguma referência a ele no seu discurso. Iria mencionar o retorno de Voldemort; afinal, ele havia falado sobre isso durante todo o ano anterior…

Harry tirou algumas vestes amarrotadas do fundo da mala para colocar as que estavam passadas e dobradas. Mas então uma idéia veio à sua cabeça, como ele nunca havia pensado nisso antes - Por que ele nunca havia perguntando?

Ele saiu correndo para fora do dormitório, desceu a escada em espiral batendo nas paredes sem notar enquanto corria; atravessou a sala comunal vazia, passou pelo buraco do retrato e seguiu pelo corredor, ignorando a Mulher Gorda que gritou para ele: "O banquete já vai começar, sabia? Você vai perder!"

Mas Harry não tinha a menor intenção de ir ao banquete...

Era inacreditável que o castelo estivesse cheio de fantasmas e quando mais precisava de um, nenhum deles aparecia.

Correndo pelos corredores de Hogwarts, Harry não encontrou ninguém, vivo ou morto. Provavelmente todos estavam desfrutando do jantar de despedida no Salão Principal. Parou perto da porta da sala de Feitiços, desconsolado, imaginando que teria que esperar o banquete acabar.

Mas assim que essa ideia passou pela sua cabeça, ele viu: flutuando translúcido no fim do corredor.

— Ei, Nick! NICK!

O fantasma colocou a cabeça para fora da parede em que havia acabado de passar, um chapéu emplumado extremamente extravagante era visível em sua cabeça equilibrada.

— Olá, Harry — cumprimentou, puxando o restante do corpo para fora da pedra sólida — Parece que não sou o único atrasado, não é? Mesmo que tenhamos motivos diferentes...

— Nick, posso fazer uma pergunta?

O rosto de Nick Quase Sem Cabeça se contraiu em uma expressão estranha. Levou uma das mãos até os babados engomados do pescoço, nervoso, Harry imaginou.

— Ah... — ele suspirou sem jeito. — Não pode esperar até o fim do banquete?

— Preciso realmente falar com você, podemos entrar aqui?

Harry abriu a porta da sala de aula de Feitiços, e Nick Quase Sem Cabeça suspirou.

— Ah, certo — disse ele, conformado. — Não vou fingir que não estava esperando.

— Esperando o quê? — perguntou Harry, fechando a porta.

— Você vir me procurar — disse ele, deslizando até a janela e contemplando a noite. —, quando alguém sofre uma... perda, as pessoas costumam vir me procurar...

— É... — começou Harry, a situação não poderia ser mais desconfortável — bem... você está morto. Mas continua vivo, não é?

— É, eu estou morto— disse em voz baixa. – mas ando e falo, é verdade.

— Você voltou, não é? Isso quer dizer que as pessoas podem voltar, certo? Como fantasmas, claro. Não têm de sumir completamente…

O fantasma hesitou, então disse:

— Não são todos que podem voltar como fantasma.

— Como assim? — Harry perguntou, impaciente.

— Só... bruxos.

— Ah! — exclamou Harry, sorrindo de alívio. — Bom, então tudo vai ficar bem agora. Estou falando de um bruxo, ele pode voltar, certo?

Nick se afastou da janela e fitou Harry, pesaroso.

— Ele não vai voltar, Harry Potter.

— Quem?

— Arthur Weasley.

— Mas você voltou! — insistiu Harry, zangado. — Você está morto e continua aqui...

— Bruxos podem deixar uma ilusão deles na terra, deslizar palidamente por onde andaram quando vivos — explicou Nick, infeliz. — Mas… poucos bruxos fazem essa opção.

— Ham, porque? — perguntou Harry. — Deixa pra lá — ele gesticulou com as mãos — De qualquer maneira, Arthur não vai se importar, acredito que ele ache impressionante, ele vai voltar!

A crença de Harry era tão grande, que ele se virou na direção da porta, esperando que um Sr. Weasley pálido e translúcido passasse pela porta sorrindo para ele.

— Ele não voltará — repetiu Nick. — Terá escolhido seguir em frente.

— O que você quer dizer com isso? — perguntou Harry, impaciente. — Escute... afinal, o que acontece quando a pessoa morre? Por que o castelo não está cheio de fantasmas? Por que...

— Não sei a resposta dessas perguntas.

— Você está morto, não está? — disse Harry, exasperado. — Quem pode responder isso melhor que você?

— Eu tive medo da morte, Harry — disse Nick. — Escolhi ficar. Às vezes me pego pensando se não deveria... bom, isso não é assunto para ser falado com você. Isto que você está vendo não é cá nem lá, de fato, eu não estou cá nem lá... — Ele deu uma risadinha triste. — Não conheço os segredos da morte porque escolhi uma imitação fraca da vida. Acredito que bruxos estudem essa questão no Departamento de Mistérios e...

— Não fale daquele lugar comigo! — exclamou Harry com ferocidade.

— Lamento não poder ajudar — disse Nick com gentileza. — Bom... agora me dê licença…

O fantasma deixou Harry sozinho, contemplando a parede pela qual Nick havia acabado de desaparecer.

Harry se sentiu vazio novamente, como se tivesse acabado de perder Arthur Weasley outra vez, ao perder a esperança que poderia voltar a ver ele com sua família, mesmo que fosse como um fantasma. Caminhou em passos lentos pelo enorme Castelo deserto, se perguntando se voltaria a sentir a sensação de ser uma pessoa feliz ou sempre teria o peso de que - por sua culpa - o pai das pessoas mais importantes para ele havia morrido.

Havia acabado de virar em direção a Sala Comunal da Grifinória quando viu alguém parado mais à frente, pregando algo no quadro de avisos na parede. Olhando novamente, viu que era Luna Lovegood. Harry olhou ao seu redor, não achou nenhum esconderijo realmente bom e Luna certamente havia ouvido o som de seus passos. Harry não conseguia reunir nenhuma energia para tratar alguém mal ou fugir da pessoa, por isso, só se aproximou.

— Olá, Harry — disse Luna vagamente, virando a cabeça para ele depois de se afastar do quadro.

— Por que você não está no banquete? — perguntou Harry.

— Perdi os meus pertences — disse Luna serenamente. — Parece que as pessoas os escondem de mim.

Ela indicou com a cabeça o quadro de avisos, no qual, de fato, havia pregado uma lista com todos os livros e roupas desaparecidos, pedindo que fossem devolvidos.

Uma sensação estranha nasceu e se aprofundou no peito de Harry; uma emoção diferente da raiva e da dor que o dominavam desde a morte do Sr. Weasley. Demorou algum tempo até perceber que estava sentindo pena de Luna.

— É só brincadeira — Luna disse após ver o desconforto do garoto, sorrindo — mas como é a última noite, preciso deles.

— Por que as pessoas escondem suas coisas? — perguntou ele, enrugando a testa.

— Ah... — Luna encolheu os ombros. — Acho que pensam que sou excêntrica, entende.

Harry olhou para Luna e a nova sensação de pena se intensificou dolorosamente.

— Isso não justifica — concluiu ele. — Você quer ajuda para encontrá-los?

— Ah, não — disse ela sorrindo. — Minha mãe sempre dizia que as coisas que pertencem à você, sempre voltam no final — ela indicou com a cabeça para uma das pilastras, onde seus sapatos estavam pendurados no alto — Talvez não da forma que esperamos, mas sempre volta. 

Harry observou os sapatos por um tempo, apreciando o silêncio entre os dois.

— Sinto muito pela sua perda, Harry — ela apanhou a mão dele por alguns segundos, tentando dar um sorriso reconfortante.

Harry fez um breve aceno quando a garota soltou sua mão. Por algum motivo, descobriu que não se incomodava que Luna falasse dos acontecimentos no Ministério. Acabara de lembrar que ela também via Testrálios.

— Você já... — começou ele. — Hum, estou tentando dizer… alguém que você conhecia morreu?

— Morreu — disse Luna com simplicidade —, minha mãe. Eu tinha nove anos quando aconteceu. Era uma bruxa extraordinária, mas gostava de fazer experiências e um dos seus feitiços deu errado, entende?

— Sinto muito — murmurou Harry.

— É, foi horrível — disse Luna informalmente. — De qualquer jeito, ainda vou rever minha mãe um dia.

Harry ficou calado, inseguro. Luna sacudiu a cabeça, incrédula.

— Oras, Harry, vamos. Você os ouviu atrás do véu, não ouviu?

— Você está dizendo...

— Na sala do arco, atrás do véu. Estavam só se escondendo. Você os ouviu.

Os dois se olharam por algum tempo, Luna sorria descontraidamente. Luna acreditava em coisas tão inacreditáveis e extraordinárias, que Harry não sabia o que pensar ou dizer, mesmo que também tenha ouvido os sussurros para além do véu. 

— Você tem certeza que não quer ajuda para procurar suas coisas? — perguntou ele.

— Ah, não — disse Luna, gentilmente. – Elas sempre aparecem no final. Acho que vou descer e comer um pudim... bem, boas férias, Harry.

— É, para você também.

Harry viu Luna desaparecer pelo corredor aos saltinhos, acompanhando a garota com o olhar, sentiu o peso dentro de si diminuindo um pouco.



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