-- Você gosta dela, Luana? - Perguntou dirigindo. -- Dessa Maisa?
-- Gosto, vovó. - Sorrir. -- Ela joga muito futebol.
-- E você gosta dela por que ela sabe jogar futebol? - Rir.
-- A mamãe nunca mais jogou comigo. - Disse triste. -- Ela só vive trabalhando.
-- Heloisa não te leva mais no parque como fazia?
-- Nunca mais levou. - Baixou a cabeça. -- Ela é muito ocupada.
-- É, as vezes é complicado. - Tenta confortar. -- Eu posso brincar com você. Claro, se cê quiser.
-- Vovó, a senhora odeia futebol. - Riram. -- Tudo bem. Será que minha mãe deixa eu brincar com a tia Maisa?
-- Num sei, meu amor. Talvez sim.
-- Acho que a mamãe não gostou muito dela.
-- Por que você acha isso, Lua? - Bianca indagou. -- Ela que te contou?
-- Eu percebi na praia, vovó. - Balançou a cabeça. -- Ela não gosta da tia Maisa.
-- Você ta bem espertinha, hein. - Brincou. -- Já está até bancando a detetive
-- Eu vejo as coisas, vó. - A olhou. -- Vocês acha que não. Mas eu vejo sim.
-- Eu imagino. - Não quis estender o assunto pra neta não se chatear mais.
★
Samantha estava deitada no sofá quando ouviu as chaves na porta. Heloisa entrou e nada falou. Foi até a cozinha. Passou alguns minutos e fez um barulhão. Samantha correu pra ver o que tinha acontecido.
-- O que foi isso? - Chegou perto. Heloisa tinha derrubado uma garrafa de vidro com água. -- Você se machucou?
-- Não! - Se afastou. -- Eu tô bem. Pode ir! Eu resolvo aqui.
-- Eu te ajudo, Lica. - Tentou se aproximar. -- Não tem problema.
-- Samantha, pode voltar a dormir. - Lavou o corte do dedo e sentiu o ardor. -- Caralho!
-- Quê? - Pegou sua mão. -- Você se cortou!
-- Não foi nada.
-- Eu sei. Foi superficial. - Afirmou. -- Você precisa só estancar o sangue.
-- Eu sei Samantha! - Falou ríspida. -- Não precisa tentar me ensinar.
-- Calma. - Sentiu o cheiro forte de vodka. -- Você bebeu, Lica?
-- Não enche, Samantha. - Caminhou até a sala. -- Não fala nada!
-- Por que, Lica? - A Seguiu. -- Onde você tava?
-- Não é da sua conta! - Sentou no antebraço do sofá. -- Caralho!
-- Não grita... - Pediu. -- Porque você grita tanto? Onde você tava Heloisa?
-- O que você quer saber, Samantha? Vai, fala. - Se aproximou. -- Se eu bebi? Bebi mesmo. E muito por sinal!
-- Você dirigiu assim?
-- Mateus me trouxe. Não que isso seja da sua conta, lógico.
-- Claro que é da minha conta. - Disse. -- Você chega nesse estado em casa e não quer que eu me preocupe?
-- Você quer converse? - Ergueu a sobrancelha. -- Então vamos! Sentar aí. - Indicou poltrona.
-- Não tem condições de conversamos agora. - Samantha se manteve em pé. -- Você está bebada e cheirando álcool puro.
-- Você nunca reclamou.
-- Você ta ficando louca? - Riu em total descrença. -- Olha os absurdos que você esta me falando! Logo pra mim, que sofri horrores em relação a isso.
-- Me fala... - Pensou um pouco. -- Como foi beijar aquela garota? - Enrolou as palavras.
-- Heloisa... Para! Eu já disse milhões de vezes que não teve nada.
-- E o sexo? - Fingiu não ouvir. -- Vocês transaram na viagem? Como foi?
-- Lica... - Sussurrou. -- Para de falar assim.
-- Ah é? - Alisou seu braço. -- Por que eu deveria acreditar em você?
-- Porque é a verdade, Lica! - Suplicou. -- Acredita em mim, amor. Eu nunca faria uma coisa dessas. Principalmente com você! Caralho! O que eu preciso fazer pra acreditar em mim?
-- Tire a roupa.
-- Quê? - Perguntou confusa. -- Como assim?
-- Tire a droga dessa roupa, Samantha! - Se exaltou. -- Agora!
-- Eu não vou fazer isso! - Avisa se afastando. Heloisa segurou seus braços. -- Me solte, Lica!
-- Por que? Vai correr pra mamãe como sempre fez? - Falou com desdém.
-- Por favor, Lica... - A olhou nos olhos. Sabia que aquela não era sua esposa. -- Você ta me machucando. Me solta...
Como se tivesse sido despertada de um transe, Heloisa largou seus braços e se afastou bruscamente. Nunca machucou Samantha. Não seria agora que machucaria.
Samantha sabia que Lica nunca a tocaria sem sua permissão, ou muito menos, a agrediria. Heloisa parecia esta no automático. Samantha sabia que não adiantaria nada falar com ela nesse estado.
-- Samantha, eu... - Gaguejou. -- Eu...n...
-- Vai tomar banho, Heloisa. - Falou sem olha-lá. -- Vai tomar um banho... - Um soluço escapou de seus lábios. -- Sai da minha frente, Lica!
-- Desculpa, eu...eu não queria...Eu não queria te machucar! - Lágrimas desciam descontroladas. -- Me perdoa...
-- Você não machucou. - Garantiu. -- Você me assustou... - Sussurrou. -- Me deixa sozinha.
-- Desculpa... - Limpou o rosto. -- Eu não queria. Desculpa.
Heloisa entrou debaixo do chuveiro e chorou. Chorava e tremia. Sentou no piso gelado e abraçou os próprios joelhos. Não conseguiu precisar por quanto tempo ficou naquela posição. Só levantou quando não sentia mais o próprio corpo. Era isso que ela queria. Fugir do próprio corpo.
★
No dia seguinte, Samantha acordou mais cedo. Limpou a cozinha e fez um café da manhã reforçado pra Heloisa. Decidiu que não passaria o dia com ela naquela casa. As duas precisava de um tempo e foi isso que fez. Ligou para Hugo, e marcaram um encontro na casa dele.
Tome café! Está forte. O remédio ta do seu lado, no criado mudo. Volto depois. - Samantha
★
-- Nossa! Wow! - Hugo exclamou assim que deu de cara com sua amiga. -- Você ta parecendo um zumbi.
-- Vai tripudiar mesmo? - Perguntou com a voz rouca pelo choro preso. -- Já não está ruim o bastante?
-- Oh, meu bem. Vem cá! - Puxou-a para um abraço apertado. Samantha tremia em seus braços. -- Vai ficar tudo vem.
-- Eu não tenho mais tanta certeza, Hugo... - A voz saiu abafada contra o peito do rapaz. -- Por que tem que ser tudo tão difícil! - Era uma mais uma constatação do que uma indagação.
-- Eu não sei, Sam. - Acariciava seus cabelos. -- Eu realmente não sei...
-- Eu a amo demais! caralho... - Sussurrou. -- Eu amo aquela, idiota.
-- Por que vocês não conversam?
-- Você não a conhece? - Falou enquanto sentava no sofá. -- Ela é teimosa. Sempre foi...
-- E ciumenta, né!
-- Aquele dia, ela teve motivos. - A defendeu. -- Aquela louca tentou me beijar na maior cara de pau.
-- E ela partiu pra cima dela. - Disse. -- Precisou de três seguranças pra tirar a Lica de cima da mulher. - Riram da lembrança. -- Agora parece ser diferente, amiga.
-- Agora tudo é diferente. Tudo é motivo pra uma briga entre nós!
-- Vocês eram tão felizes. - Afirmou. -- Dava inveja em muito casalzinho por aí.
-- Quando eu lembro disso, parece que aconteceu em outra vida. - Suspirou. -- Ela não vê que eu a amo demais?
-- Você também não ver que ela te ama demais. - Ela fez uma expressão de dor teatral. Hugo sorriu. -- Ok! O que esta pensando em fazer?
-- Eu tô tão perdida...
-- Vocês não podem continuar assim. Não é saudável.
-- Não é! Ela chegou bêbada ontem. - Contou. -- Foi agressiva. Me assustou...
-- Ela te bateu? - Perguntou assustado.
-- Não! Eu não a reconheci... - Sussurrou. -- Como aqueles dias... Parecia uma repetição! Eu tive medo. - Chorou baixinho. -- Os olhos dela transbordava medo. Não era minha Lica ali...
-- Vocês precisam se resolver logo. Separar ou se a certar. - Falou de forma fria. -- Meios termos não dá.
-- Não quero me afastar dela. - Encolheu os ombros. -- Não queria me separar...
-- Se for preciso, é isso que vai acontecer. - Segurou suas mãos. -- Eu vou esta aqui com você!
-- Eu te amo! - Sorriu. -- Eu tenho sorte de ter você e Guto na minha vida.
-- Eu sei. - Ri convencido. -- Café?
-- Estou sem fome...
-- Samantha Lambertini! - Advertiu. -- Vamos para mesa agora!
-- Ta bom, pai! - Revira os olhos. Seu celular vibra. -- Ahh, não...
-- Que foi, Sam? - Se aproximou. -- É a Lica?
-- Não. - Sorri sem graça. -- Ela nunca deu o braço a torcer. - Sentou a mesa. -- É Minha mãe.
-- Pela sua cara não deve ser coisa muito boa.
-- Ela mandou eu ir lá na casa dela sem falta. - Pensou. -- Ela parecia séria no telefone.
-- Então não vai almoçar aqui?
-- Não. Ela disse que tinha que ir antes do almoço. Ela falou que era um assunto sério.
-- Bianca e assunto sério na mesma frase? Duvido. - Sorriram. - Deve ser sobre seu problema em casa.
-- Provavelmente...Ela disse que Heloisa vai esta la também.
-- Você ta com uma cara. - Analisa a mulher. -- O que foi?
-- Eu tô com medo...
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