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História Retrovertigo (Yoonseok) - Sleep tight, I'm not afraid;


Escrita por: euphosuck

Notas do Autor


Boa leitura! <3

Capítulo 4 - Sleep tight, I'm not afraid;


Abriu os olhos lentamente sentindo como as pálpebras pareciam pesadas, as orbes doeram com o excesso de claridade do lugar. Seu corpo assim como a cabeça parecia pesar muito mais do que antes e por um momento teve o pensamento bobo de não conseguir se levantar. Tentou sibilar alguma coisa mas a voz não saía e quando ouvia algo era muito distante de si, sentiu sede e ao tentar engolir a própria saliva quase gemia de dor pela garganta seca ter doído tanto. 

Queria se levantar e saber onde estava, mas seu corpo e sua mente não deixavam, pensava em coisas aleatórias mas nada com o mínimo de coerência para explicar como havia chegado ali. Tudo parecia tão calmo, estava em um local todo branco e limpo, remexeu-se desconfortável e aos poucos foi se acalmando, como sua própria tentativa de recobrar parte de sua memória apagada, claro a estranheza da situação ainda existia para si mas se desesperar não era o melhor a se fazer. 

Sua mente já cansada se tornara ainda mais preguiçosa quando mesmo forçada ao máximo não conseguia recordação alguma, por isso após poucos minutos naquela batalha dentro de seu cérebro, apenas desistiu, mesmo que momentaneamente. 

Olhou em volta e só via o branco das paredes e do teto, não haviam móveis ou janelas, nada que pudesse lhe indicar a presença do dia ou da noite. Isso foi o suficiente para que a agonia lhe tomasse e foi movido por ela que decidiu levantar-se devagar indo até a porta, que até então não havia percebido que estava aberta. Sua curiosidade o levou para o corredor vazio e igualmente iluminado. 

Caminhava em passos curtos evitando fazer barulho, mesmo que não soubesse o que exatamente haveria para temer. Passou por várias portas reforçadas com números que mais pareciam códigos de barra, não tentou abrir nenhuma, afinal tinha medo do que poderia encontrar lá. 

Atravessou a primeira porta dupla de acesso que encontrou logo mais a frente e se deparou com mais um corredor idêntico ao que acabara de passar, mas dessa vez estava cheio. Pensou em voltar, mas ao analisar o ambiente sentiu como se não estivesse ali, já que mesmo com o falatório e toda a movimentação ninguém havia se importado em observá-lo. Baixou a cabeça e seguiu.

Continuou em passos lentos, mas ao notar a forma como mais pessoas apareciam e como aquilo de certo modo o sufocava, decidiu caminhar um pouco mais rápido até esbarrar em alguém. 

- M-me desculpe! - desesperou-se ao observar que havia derrubado uma criança. - Meu deus você está bem??

- Ah você precisa olhar por onde anda. - se levantou de costas com a ajuda do mais velho e sorriu. - Mas eu estou bem sim! 

Assim que ela ficou de frente para si, ele levou um susto quando viu que parte do rosto e do cabelo estavam manchados de vermelho mas logo que a menina mostrou as mãozinhas também pintadas da mesma cor, aliviou-se, era apenas tinta. 

- Eu fiz um novo amigo, você quer conhecer? - disse de repente animada. - Ah! - limpou uma das mãos no vestidinho branco e estendeu em um cumprimento. - Meu nome é Dood!* 

- Ah muito prazer. - apertou de leve a mão pequena, percebendo que ela não era asiática. - De onde você é? 

- Eu sou de qualquer lugar, basta que me chamem. - sorriu apertando as mãozinhas juntas em frente ao corpo. - Você não quer brincar com o meu amigo? - perguntou curiosa.

- Ah não obrigado, estou com pressa. - disse sem jeito já saindo de perto dela. - Mas foi um prazer. - acenou virando de costas e seguindo. 

- Mas aí não é a saída. - falou baixinho chamando a atenção do outro. - Se você for comigo eu te mostro onde fica. - se aproximou novamente e o pegou pela mão, puxando levemente para a direção contrária. 

Precisava sair dali, ou pelo menos encontrar alguém que pudesse ajudá-lo, mas estava sozinho, não conhecia ninguém e nem ao menos sabia pra que lado ir, ele não tinha opções afinal. Olhou-a com uma expressão animada e mesmo relutante decidiu deixar-se levar por ela, talvez a pequena garota realmente soubesse da saída ou pelo menos na caminhada ele pudesse achar uma outra saída. 

Foi guiado entre corredores que não se recordava da existência, mas sabia que já havia passado por ali. Quando pararam de frente à uma porta dupla. 

- Eles não deixam entrar aí. - falou a pequena Dood com uma expressão cabisbaixa. - Mas você pode olhar pela janelinha. - apontou para cima, onde de fato havia uma janela de vidro, assim como nas portas que davam acesso à salas semelhantes as de blocos cirúrgicos. 

Sentiu ela soltar de sua mão e correr até um outro local perto, de algum modo teve medo do que poderia encontrar do outro lado, mas a curiosidade o tomou e foi movido por ela que suas pernas o guiaram até perto da porta. 

Assim que seus olhos focalizaram o que havia lá dentro, o grito rasgado de sua garganta foi inevitável. Bateu inúmeras vezes na porta e ninguém o escutava, as lágrimas corriam pelo seu rosto na mesma intensidade que sentia seu peito doer. Esmurrou, chutou e cravou as unhas na porta de madeira, mas ela não movia-se um milímetro sequer nem as pessoas que lá estavam lhe davam atenção. 

Ali dentro estava Hoseok desacordado, rodeado de médicos, a pele antes dourada estava completamente arroxeada e de sua testa escorria muito sangue. 

Aos poucos foi se abaixando de olhos fechados ainda encostado à porta, enquanto percebia que os seus esforços eram completamente em vão. Quando abriu as orbes avermelhadas percebeu a menina voltar ainda mais suja para perto de si, cantarolando uma canção que apesar de ser cantada em sua língua ele não conseguia entender.

- Você não quer brincar comigo? - disse se sentando ao seu lado batendo as palmas sujas em um parabéns macabro. - O meu amigo deixou muita tinta pra nós, olha. - apontou para o lado onde estava antes, sorrindo largo. 

Yoongi emudeceu quando começou a prestar atenção na canção:

"O peixe que não nada não é de ouro e pó, é de sangue e prata, sangue e prata, sangue e prata..." 

Arriscou-o olhá-la mais uma vez percebendo a forma como ela cantava e como a tinta era mais viva, fechou os olhos e chorou ainda mais alto.

Aquilo era sangue, sangue de Hoseok.

...

Abriu os olhos mais uma vez sentindo os primeiros sinais do despertar lhe acordando, ao que parecia estava no mesmo lugar de antes mas a luz já não existia mais naquele ambiente, o que ele agradeceu, demorou, mas pouco tempo depois se acostumou com a escuridão a ponto de enxergar o que havia ali, e se assustou pela forma como parecia diferente. Era um quarto todo branco com uma cristaleira também branca antiga do seu lado direito, no lado esquerdo havia um sofá que era o único móvel de cor diferente ali e era marrom, e por fim virando um pouco sua cabeça encontrou de onde vinha o vento gélido, e era da janela ao seu lado que mostrava que já havia anoitecido onde quer que ele estivesse. 

Passou a mão pelo rosto e sentiu a forma como a testa estava suada e como seu corpo inteiro parecia transpirar mais do que o normal. 

Mexeu os dedos devagar sentindo que já não pareciam tão pesados quanto antes, fez um esforço para levantar-se e gemeu de dor ao sentir a agulha espetada em seu braço apertar, ao olhar para cima verificou o soro que escorria em uma lentidão absurda e arregalou os olhos. 

Estava em um hospital. 

Sua cabeça voltou a doer quando sem calma alguma se ergueu depressa demais, segurou-a com o braço que não recebia a dose intravenosa e fechou os olhos esperando que o efeito do peso terrível passasse logo. Ao perceber que sua condição não era das melhores se deitou novamente e tentou forçar sua mente a recuperar as memórias de como havia parado ali de novo, se lembrava de poucas coisas apenas flashes em sua mente cansada, mas isso não lhe dava uma resposta, suas pálpebras queriam fechar-se novamente, mas antes que elas pudessem descansar do curto período de esforço a porta foi aberta e a luz antes apagada foi ligada.

- Min Yoongi, levante-se. - ouviu a voz bruta o ordenar mas congelou no lugar. - Não finja que está dormindo, essa sala é monitorada 24h e eu sei que não está. 

- O que você está fazendo aqui? Onde está o Hoseok? - disse se levantando devagar.

- Uma pergunta de cada vez. - arrumou o terno e sentou-se no sofá. - Vim ver como você estava. A enfermeira disse que você estava ofegante, achei que estivesse morrendo, então como está?  

- Morto. - o olhou sentindo a visão embaçar pelas lágrimas recentes. - Onde está o Hoseok? Eu quero ver ele. 

- Se tiver sorte, morto também. - estalou a língua no céu da boca. - Mas já que você é Deísta, eu recomendo que peça para a entidade em que acredita protegê-lo, se ainda puder é claro. 

- Eu sei que ele não morreu, por que insiste nisso? Ele já saiu da sala de cirurgia? 

- Ele não está aqui. - bufou impaciente. 

- Eu vi! Ele estava na sala de cirurgia sangrando muito, vocês deixaram ele morrer? - desesperou-se batendo na própria cabeça, estava esquecendo de algo mas não sabia oque. 

- Esse efeito colateral é uma droga, tsc. - colocou as mãos na cintura observando. - Você estava sonhando, começou a suar e a gritar e eu vim vê-lo.  

- O que? - perguntou apenas para confirmar, mas não obteve resposta, no entanto a cara de poucos amigos do outro já havia lhe dado a confirmação. 

Era um pesadelo. 

Quase sorriu de alívio ao pensar que todo o seu desespero não passava de um sonho ruim. Mas antes de passar as mãos no rosto em alívio sentiu o incômodo mais uma vez em seu braço.

- Odeio isso. - aproveitou para arrancar a agulha que lhe incomodava.  

- Como pode odiar agulha se tem tatuagens pelo corpo? - disse arqueando a sobrancelha. 

- E como você sabe disso? - limpou o sangue que escorreu do furinho. - Vai me usar pra teste biológico? - riu com desdém. 

- Não, você tem um corpo fraco pra isso. Aliás estou lhe achando até bem engraçado para quem dias atrás estava com uma arma na cabeça implorando pra morrer. - cruzou os braços. 

Dias? Ele havia dormido por dias? Para si pareciam horas, não era possível isso, tinha certeza de que o outro estava blefando. 

- O sonífero que você me deu despertou isso em mim, já ouviu falar em teatro da tragédia? 

- Sim. - deu de ombros. - Mas duvido muito que você fizesse sucesso com isso. 

- Vai pro inferno. - baixou a cabeça e respirou fundo sentindo o enjoo típico lhe tomar. 

- Vou. - sorriu. -  Mas antes quero responder a sua pergunta. - levantou-se caminhando devagar pelo quarto. - Eu investiguei cada mísero passo da sua vida, Min. Desde suas notas escolares péssimas até o surpreendente desempenho na faculdade de Gastronomia. - cruzou os braços. - Também visitei seu restaurante que tem um nome bem peculiar, Elements não me parece um nome muito convidativo o que é completamente incoerente com o quanto de lucro você ganha com ele. - deu de ombros. - Ah, descobri algo interessante também. - tirou do bolso uma foto antiga que ele havia tirado beijando Hoseok no dia que visitaram o parque de diversões pela primeira vez. - Quando você me disse que eram próximos, eu não imaginei o quanto. 

- O que você quer com isso? - disse se levantando devagar. - O que fez comigo? Por que eu estou aqui?! - falou alto fechando os olhos pela dor em sua cabeça ter voltado. - Que droga!

- Eu sugiro que você fale baixo, esse anestésico é forte e não quero ninguém ficando louco porque estragou a recuperação. - revirou os olhos. - Pegue. - jogou a foto em cima da cama. - Bem, já que está acordado vou pedir para a enfermeira trazer o seu jantar. - caminhou até a porta e olhou de relance.

- Vai me envenenar de novo? - seus olhos se encheram de lágrimas novamente. - Por que não me mata logo? 

- Porque eu prometi que ninguém sairia machucado. 

...

Rodou pela sala durante toda a noite após o jantar em que ele mal havia tocado na comida, estava sem fome, fraco, não sabia onde Eujin e Wheein estavam, não sabia onde Hoseok estava também, nem ao menos tinha certeza de onde ele próprio estava já que apesar das janelas estarem abertas havia uma proteção de grades brancas que tapava a visão do lugar, a única coisa que se recebia era o vento e se podia diferenciar o dia da noite. Somente. 

Caminhou até a janela que ficava ao lado da sua cama em passos lentos, quase que tropeçando na farda hospitalar. Também não sabia onde estavam suas roupas, queria ao menos tomar um banho, assim, com a cabeça fresca poderia pensar melhor mas nem forças para isso tinha naquele momento. 

Só conseguia pensar na besteira que havia feito. 

Não, ele não se culpou por ter saído às pressas em busca de notícias, ele faria todo aquele trajeto com todas as dificuldades mil vezes se fosse preciso. Mas pelo resultado de tudo isso. Em suas contas mentais ele havia arrastado duas amigas que agora não sabia onde se encontravam ou se estavam bem, ainda não sabia se Hoseok estava vivo ou não, e apesar de suas esperanças lhe responderem que sim tudo aquilo fez com que o seu otimismo fosse por água abaixo, assim como as lágrimas que rolavam em sua bochecha ao receber o vento da madrugada em seu rosto. Estava praticamente preso ali e nem sabia porque, o que ele havia feito de tão errado para aquilo? 

Essa e outras milhares de perguntas rondavam sua mente, e o pior de tudo era ter a certeza de que não sabia a resposta para sequer uma delas. 

Pensando em tudo o que aconteceu no fundo a única coisa que concluiu era que mesmo com tudo dando errado e ele sem saber de nada, preferia o silêncio das incertezas do que o grito gutural de uma verdade que seu peito começara a cogitar, mas se recusava a se aprofundar. 

Não dormiu, apenas deu leves cochilos na madrugada, porém pouco demais para dizer que teve ao menos uma hora de sono. Na manhã seguinte a porta foi aberta e viu uma mulher entrar com uma muda de roupas e um café da manhã reforçado, haviam guardas na porta e olhando de relance ele percebeu salas semelhantes à sua, mas não conseguia ver quem se encontrava lá. 

- Bom dia rapaz, aqui está roupas limpas e um kit para que você possa tomar um banho. - deixou em cima do sofá. - seguiu pelo quarto mexendo no banheiro. - Temos água quente apenas pela manhã, economia sabe? - ele assentiu. - Então se quiser um banho quente é melhor ir logo. 

- Obrigado. - fez uma reverência e mexeu na sacola, coçou um pouco o queixo e aproveitou a oportunidade que o guarda estava distraído e seguiu para perto dela. - Eu sei que você sabe então por favor me diga onde estou. - sussurrou.

Ela suspirou fundo parecendo pensar um pouco sobre aquilo. 

- Rapaz, isso está horrível, deixe-me ver. - falou audível chamando a atenção do guarda que logo ignorou. Fingiu olhar o braço arroxeado de Yoongi, mas aproveitou para virar o seu crachá.

E mesmo a miopia do mais novo não permitindo que ele conseguisse enxergar com muita clareza, conseguiu focalizar o nome central na parte superior. 

"Instituto Hee-Young." 

O antigo orfanato desativado.

Ele já tinha ouvido rumores de que essa era a base secreta do exército mas não acreditava até aquele momento, isso explicava o fato de ser tão bem fechado, nunca havia o visto mas todos que moravam ali perto sempre disseram que estava abandonado há anos, porém por dentro parecia tão novo quanto se estivesse sido acabado de ser construído. Era compreensível que ele estivesse ali, algo havia acontecido com toda certeza, mas o qual grave poderia ser tendo em vista que esse instituto se localizava em Busan, tão distante da capital?

Logo que a mulher saiu tratou de tomar um banho praguejando pelo ardor que sentiu onde estava o furo no braço e no pescoço, este último que ainda não havia percebido, mas passando as mãos molhadas sentiu uma pequena crosta que indicava a recuperação da ferida e se impressionou com o tamanho daquilo, com certeza era onde havia recebido a bala sedativa que o outro disparou. Lavou-se mais de uma vez apenas para garantir que a pele estaria muito limpa, já que aparentemente havia dormido por dias. Comeu sem muito ânimo, mas após o banho parecia um pouco mais desperto, mais vivo arriscaria dizer. 

Na hora do almoço não estava com fome, então apenas devorou o pudim de chocolate que havia recebido como sobremesa, não estava dos melhores mas era algo que ele comia com certa frequência então de certa forma ficou feliz em receber aquilo e mesmo sem gosto comeu com vontade. Ao dar a última colherada, lembrou-se mais uma vez de Hoseok, e olhou triste para o potinho, sabia o quanto o outro amava quando o Min inventava de fazer doces. Mesmo sem muito jeito na cozinha sempre tentava ajudar, mesmo que fosse apenas pra raspar as panelas. Sentiu tanta falta dele que jurou aspirar seu perfume, fazendo com que inutilmente se levantasse e fosse até a porta, esperando que ela fosse aberta por quem tanto aguardava, mas nada aconteceu. 

Aquele era o primeiro convite ao início de sua loucura trancado naquele lugar sozinho. 

...

Mais um dia, deitado no sofá contando as poucas rachaduras que havia no forro do teto, concentrado em sua metáfora sobre como as falhas na estrutura pareciam caminhos, nem sempre retos e por vezes tortuosos, mas era um caminho além de tudo. O importante era caminhar não é?

Negou com a cabeça, percebendo a armadilha de sua mente e tratou de se levantar rápido encarando a cristaleira e só então percebeu que havia algumas coisas ali, se perguntando como não havia visto aquilo antes. 

Ignorou sua total falta de atenção a ponto de deixar aquilo passar e moveu-se até o móvel, abrindo as pequenas portas de vidro devagar. 

Ali encontrou sua box de livros da coleção Chapter, eram um total de quatro que contavam a mesma história em universos paralelos com escolhas distintas e finais surpreendentes, havia ganhado do mais novo pouco depois do primeiro ano juntos e até hoje era sua coleção favorita. Ao lado estavam seus óculos de grau redondo, que ele quase quebrou ao colocar rapidamente no rosto e sentir o alívio que era enxergar tudo com foco, e um saquinho vermelho onde estava a aliança de Hoseok e a sua, que até então ele não sabia onde se encontrava. 

Colocou as duas no mesmo dedo e deixou um selo rápido em ambas, se perguntando quando aquela mais folgada voltariam aos dedos do seu amado. 

...

Ele não conseguia contar exatamente os dias por não saber quando chegou ali, mas a partir do momento em que acordou naquela manhã contou quatro dias. 96 horas trancado ou escondido naquele lugar, não tinha informações sobre ninguém ainda, mas já havia descoberto algumas poucas coisas do local. 

A primeira era que não poderia fugir pela janela. Em um de seus dias de tédio cogitou de que forma conseguiria entortar a barra de ferro e pelo menos pedir alguma ajuda, mas buscando pelas extremidades dela achou um pequeno buraco mais embaixo que conseguia lhe dar uma vaga visão do mundo lá fora, e assustou-se com a altura em que se encontrava, com certeza estava há mais de 20 metros do chão, então fugir por ali não era uma opção. 

A segunda coisa era que a guarda que aparecia na hora das refeições era sempre a mesma, os mesmos homens que evitavam olhar nos olhos e monitoravam o tempo que as enfermeiras estavam ali. 

A terceira e com certeza a mais importante para si foi constatar que não estava sozinho, em uma noite em que o sono havia dado espaço à vontade de ler um de seus livros conseguiu ouvir ao longe um choro de criança, ela também dizia algumas coisas que ele não conseguia entender em um coreano embolado, natural para alguém de tão pouca idade.

No começo apenas ignorou e continuou sua leitura, concentrado em saber como o personagem havia atravessado as realidades paralelas. Mas aquilo o deixou perturbado. A forma como a garganta rasgava lhe parecia como desespero, não sabia com que propósito aquela criança estava sendo mantida ali mas temeu que alguém pudesse estar machucando-a. Suspirou fundo tentando se acalmar e não entrar em desespero, mas o choro continuava, mais alto, mais forte, mais sofrido. 

Lentamente deixou o livro de lado e encolheu-se abraçando as pernas em cima da cama, com os olhos fechados com força e a boca sibilando silenciosamente que ela parasse de chorar, aquele choro que antes parecia ao longe agora era como se fosse dentro de sua cabeça, e trouxe para si lembranças de sua própria infância que há muito tempo estavam engavetadas em sua mente. 

- "Você não vai ficar com a guarda do meu filho!" - gritava a mulher enquanto puxava o pequeno garoto pelo braço. - "Eu não vou perder a herança do meu tio!"

- "Você nem se importa de criá-lo, como pode ser tão imunda desse jeito?" - vociferava o homem puxando-o de volta para perto de si. 

- "Sabe, nunca será líder da empresa do seu pai, porque eu nunca vou deixar que leve embora a minha fonte de dinheiro." - puxou-o de uma vez colocando-o no braço e entrando no táxi. 

Chorou forte, chorou alto, o menino em si despertara naquele momento depois de anos trancado no porão assim como no conto de Omelas, havia tempos em que ele não ouvia a sua criança interior chorar, mas ela pediu por um socorro mesmo quando o Min jurou que no silêncio do quarto escuro de sua mente estava tudo bem. 

Naquele momento só queria o peito quente de Hoseok sendo seu abrigo, as mãos com uma delicadeza cirúrgica afagando seus cabelos e cantando a única canção no mundo que lhe acalmava, esta que aprendeu desde que havia assistido sua animação favorita. No entanto infelizmente ele só tinha a si mesmo para se segurar, ele era o seu próprio consolo naquela hora e por mais que o outro lhe desse amor e abrigo uma hora ele precisaria enfrentar seus próprios demônios sozinho. E essa hora chegou. 

Com o pouco de força que ainda lhe restava abraçou seu livro deitando-se na cama todo encolhido, abriu a boca por diversas vezes mas nada saía, com muito custo começou a cantarolar baixinho tentando se acalmar.  

[Para uma melhor experiência recomendo que ouça a música I Need Some Sleep - Eels]

I need some sleep 

(eu preciso dormir um pouco)

It can't go on like this 

(Não dá pra continuar assim)

I tried counting sheep

(Eu tentei contar carneiros)

But there's one I always miss

(Mas há um que eu sinto falta)

Everyone says: 

(Todo mundo diz:)

"I'm gettin' down too low"

("Que eu estou deprimido demais")

Everyone says:

(Todo mundo diz:)

"You just gotta let it go"

("Você só tem que deixar ir") 

"You just gotta let it go." repetiu a frase mais vezes do que a música pedia, tentando convencer sua mente de aquilo era o certo a se fazer. Apertou ainda mais o livro no peito e aos poucos enquanto cantava ainda com dificuldade foi se acalmando, o choro da outra criança ao longe já havia passado, o da criança interna estava passando também. Ele só queria que ambas pudessem descansar em paz. Cantou novamente a primeira parte, agora com mais calma, já que não lembrava bem do resto da música, a única frase que lembrou-se antes de cair em sono profundo foi aquela que para si era o seu único desejo naquele momento. 

"Time to put the old horse down"

(Hora de colocar o velho cavalo para descansar)

...

Na manhã do quinto dia levantou-se cedo, sentindo uma forte dor no pescoço por ter dormido de forma desconfortável, mas eram coisas que nem ligava mais, os dias ali eram tão iguais que qualquer coisa mesmo que incômoda porém diferente já era algo. Lavou-se rapidamente no banheiro e estranhou voltar ao quarto e ver em cima de sua cama uma muda de roupas suas, e um outro pacote preto diferente daqueles que recebia. 

Ainda de toalha caminhou e percebeu que eram as roupas que havia saído de casa, sorriu fraco e vestiu rapidamente, estavam lavadas e quentes mas ainda conservavam o seu perfume forte amadeirado, coisa que o fez inocentemente cheirar a gola de sua camisa e rir-se de sua besteira depois. Secou os cabelos rapidamente e sentou-se na cama contemplando a sacola preta lacrada e um pouco empoeirada, abriu com afobação e encontrou ali seu celular e sua carteira, mexeu no botão lateral pedindo aos céus que tivesse bateria, assim poderia pedir ajuda ou pelo menos falar com alguém. Comemorou como uma criança quando viu a tela se acender, mas murchou ao perceber que ali não pegava sinal, no entanto pelo menos poderia saber em que dia estava.

Era uma sexta-feira e pela data contou que estava ali há 7 dias já. 

Assustou-se lembrando do que Seokjin havia dito, então ele realmente dormiu por 48h seguidas. 

- Meu deus. - arregalou os olhos e começou a mexer no celular buscando por algo diferente do usual, mas tudo estava do jeito que ele havia deixado. 

Não sabia o porque haviam devolvido suas coisas e o que isso significava, mas pelo menos tinha uma distração a mais já que havia terminado seus livros e já pensava em recomeçar. 

...

Mais um dia. Ele parou de contar e não tinha certeza se aquele era o oitavo ou nono, já que havia passado o último dormindo por longas horas, passou as mãos pelo colchão tentando inutilmente olhar as horas no celular, mas este havia descarregado. 

- Ótimo. - resmungou com a voz rouca e se levantou sem nenhuma força de vontade indo até o banheiro.

Após lavar o seu rosto e encarar o reflexo no mini espelho praguejou mentalmente, aparentava estar doente com sua pele pálida praticamente incolor acompanhada de olheiras fundas, resultado de noites muito mal dormidas. Ao sair do cômodo quase morreu de susto ao encontrar sentada no sofá uma mulher de branco, olhando o que parecia ser um prontuário médico enquanto limpava seus óculos de forma precária em um pano cuja a higiene parecia duvidosa pela cor. 

- Você está aí mesmo ou eu estou alucinando de novo? - disse sem pensar, desconfiado. 

- Creio que o senhor não conhece nenhuma assombração que estude. - deu de ombros colocando a armação. 

- Estudando? - analisou as pastas perto dela. - E por que tá estudando aqui? 

- Estou estudando você. - riu levemente se levantando e estendendo a mão. - Sou a Dra. Ahn Hyejin, sua psicóloga. 

- Prazer. - apertou a mão da mulher ainda meio hesitante. - Sou Min Yoongi, o louco que mandaram você vir conversar. 

- Não fale assim. - soltou a mão dele sentando-se novamente no sofá. - As pessoas que procuram psicólogos não necessariamente tem distúrbios mentais, às vezes só querem alguém para ajudá-los a entender sua própria mente. 

- Mas eu tenho. - sentou na cama. - Estou preso aqui há vários dias, não sei onde minhas amigas estão, meus bichos devem sentir falta de nós, meu amigo pode estar morto e isso me fez sonhar diversas vezes o reencontrando e tenho alucinado com o cheiro dele diversas vezes por dia. É, eu estou louco. 

- Não está. – suspirou buscando um papel em branco e uma caneta. – Vamos conversar, Min.

- Eu não costumo me abrir com outras pessoas que não sejam próximos ou a Dra. Jullie. – deu de ombros mexendo em seus próprios dedos. – Não é nada pessoal sabe?

- Sei sim. – sorriu doce. – É normal que você queira confidenciar certos assuntos à quem considera importante, por isso não vim aqui perguntar sobre a sua vida.

- Não? – a olhou confuso.

- Não. Eu vim aqui tirar suas dúvidas quanto à esse lugar. Então pergunte o que quiser. – acionou a caneta e esperou. – Pode começar.

- Isso é uma brincadeira? - desconfiou. 

- Faça o teste e saberá. - olhou por cima dos óculos séria. 

- Então... - relutou um pouco, pedindo aos céus que não estivesse mesmo alucinando. - Por que estou aqui? – disse de uma vez.

- A situação lá fora piorou muito, para a proteção dos familiares que corriam risco todos que faziam parte do círculo de fogo foram trazidos para essa área secreta. – anotou algo em sua folha.

- Que tipo de riscos? – desconfiou. - E o que é esse círculo de fogo?

- Não posso lhe dar essas informações, pergunte outra coisa.

- Tá. – pensou um pouco. – Você sabe porque devolveram as minhas coisas?

- Eu pedi para que fosse devolvido. – arrumou o óculos e o encarou. – Senhor Min, creio que já saiba que este lugar é monitorado 24h por dia, então posso lhe dizer que estou sempre observando tudo, e tenho percebido o seu comportamento inquieto nos últimos dias, por isso estou aqui.

- E você ainda diz que não quer saber da minha vida? – riu nasalado.

- E não quero mesmo. – deu de ombros. – O que eu vi dias atrás já me disse bastante sobre você.

Calou-se por um instante pensando sobre o dia em que quase teve uma crise de pânico ao ouvir o choro distante de si, ela havia visto tudo e porque não veio ajuda-lo? Essa era uma de suas dúvidas, mas guardou-a para si, era melhor assim.

- Você sabe sobre o meu amigo? – disse hesitante.

- Sobre o seu marido, é isto o que quer dizer. – fechou uma das pastas. – Não posso lhe informar sobre isso, mas quanto à suas amigas elas estão bem posso lhe garantir.

- Ainda bem. – suspirou triste e deixou uma lágrima solitária escorrer em sua bochecha.

- Por que está chorando? – tirou a pasta do colo e se levantou aproximando-se dele.

- O que há com ele? – os olhos marejados a olharam com dor. – Se ele está morto, porque simplesmente não me dizem? Ou vocês ainda não sabem sobre ele? Ele foi capturado? – engoliu em seco com a possibilidade que acabara de assolar sua mente. – É isso não é? – se levantou depressa. – Por isso vocês não querem me dizer! Ele foi levado.

Disparou em choro forte batendo com as mãos em sua própria cabeça, as lágrimas rolando como um rio, a frase se repetindo em sua mente, lhe pregando peças. Imaginou a forma como o outro poderia estar sofrendo nas mãos inimigas, aquilo poderia ser pior do que a morte.

Em um determinado momento chutou a cama para longe, como sua própria forma de evitar a dor e o barulho alto acabou chamando a atenção do segurança lá fora, que abriu a porta de vez e como um vulto sentiu Yoongi correr para longe dele, sem rumo pelos corredores desconhecidos, cada passo largo que dava contribuía para o peso em sua mente aumentar como um alerta para que parasse com aquilo, ao cruzar a primeira porta que daria acesso à recepção a escuridão lhe invadiu, como se tivesse atravessado a linha tênue entre o dia ensolarado e a escuridão da noite, mas nesse caso o puro breu era dentro de si.

...

Acordou desejando que os três primeiros segundos em que os seres humanos não lembram de nada sobre sua vida após despertarem fosse eterno, mas ao olhar em volta viu que estava no mesmo lugar onde os seus pesadelos eram reais, mais uma vez a agulha espetava seu braço e a mão livre foi preguiçosamente levada até o pescoço, buscando pela marca que o sedativo com certeza havia deixado, mas não a encontrou. Ouviu a porta do banheiro ser aberta e atentou-se a figura baixinha que saía dali bocejando.

- Eujin? – disse com a pouca força na voz que tinha.

- Você acordou! – andou com a lentidão que lhe era permitida pela barriga e afagou os cabelos negros de Yoongi. – Eu fiquei tão preocupada. – encostou a cabeça na dele e fez um carinho leve em seu peito.

- O que aconteceu? – disse baixo e mais calmo pelo carinho que recebia. 

- Você teve uma queda de pressão e acabou desmaiando. – o olhou com curiosidade. – A Dra. Ahn deixou que ficássemos aqui, ela disse que você estava preocupado.

- Vocês estão bem? – apontou com a cabeça para a barriga. - Onde esteve esse tempo inteiro?

- Estávamos aqui, Yoongi, não se lembra? – sua face denotava confusão e a dele estava disso para pior. – O alien tá até acordado olha! – disse de repente mudando de assunto e pegou a mão dele, colocando na parte onde o bebê mexia vendo-o fazer uma cara assustada.

- Ainda acho o fato de mexer tanto, esquisito. – riu levemente lembrando-se de algo. – Cadê a Wheein?

- Ah, ela foi buscar nossos celulares na sala de vídeo. – deu de ombros se afastando para pegar um cobertor embalado. – Não há tomadas aqui, então só dá pra carregar o celular lá.

Acenou com a cabeça vendo-a organizar a coberta no sofá, como se fizesse de lá uma cama e indo até a cristaleira voltando com uma sacola branca.

- Afasta aí. – disse pedindo espaço na cama. – Isso é o seu jantar. – tirou a embalagem de isopor e buscou pela colher de plástico se acomodando na cama pequena. – Vou te dar comida na boca, você vai achar estranho se eu disser que acho isso muito legal porque nunca dei comida na boca de alguém?

- Se fosse outra pessoa com certeza, mas de você eu já espero. – riu largo pela primeira vez em dias. – Você é doida, Eujin.

- Não diria isso quando tem alguém com um garfo na mão pronta para espetar sua garganta. – apontou a primeira porção para Yoongi.

- Tudo bem, eu corro o risco. – abriu a boca e viu a face da outra se iluminar como se estivesse prestes a ir no brinquedo mais emocionante de um parque de diversões.

Comeu pouco, estava enjoado e a dose de glicose no soro não o ajudava. Assim que terminou pediu ajuda para ir ao banheiro já que dessa vez se sentia fraco demais e achou melhor não arrancar seu soro, logo que se deitou novamente viu Wheein voltar com os aparelhos celulares e acenar para Yoongi.

- Está melhor? – perguntou baixo entregando o dele.

- Estou sim, a Eujin cuidou bem de mim, se eu fosse hétero com certeza teria me apaixonado pelos cuidados dela. – riu-se um pouco mais animado.

- Uma das poucas coisas que eu tenho certeza é que você é tão gay quanto eu sou sapatão Min, a menos que você curta uma inversão é claro. - a outra respondeu amassando o recipiente descartável e jogando no lixo.

Wheein apenas riu dos dois, achava bonita a forma como eles tinham certas intimidades, diferente dela que sempre foi tímida demais e nunca sequer tocava nesses assuntos com a única amiga que tinha.

Yoongi fez pouco caso e concentrou-se em acender a tela do celular buscando pelas horas e constatou que passava um pouco das 23h, bocejou levemente sentindo aos poucos o sono lhe invadir mesmo que ainda muito levemente. Olhou rapidamente a galeria e se deparou com a última foto que tirou junto de Hoseok, juntos na cama com os cabelos molhados depois de um longo banho de chuveiro que passou longe de ser apenas um banho.

Sorriu com a lembrança daquele dia que havia sido há cerca de um ano atrás, no último fim de semana de Hoseok em casa. Gastou alguns bons minutos mexendo no aparelho até que bloqueou a tela e colocou ao lado de seu travesseiro, quando sentiu a luz ser apagada e a cama afundar na outra ponta.

- Posso dormir com você? – a voz da mais nova estava calma o que indicava que estava com sono. – Eu canto pra você dormir.

- E como isso pode me fazer dormir? – riu divertido já sentindo o sono bater.

- Só pensei que sim. – se acomodou colocando mais um travesseiro embaixo de sua cabeça. – Conhece True Colors?

- Você quer me fazer dormir com Cindy Lauper? – gargalhou.

- O que tem? Eu escuto Alice Cooper pra dormir sabia? – virou de lado encostando a barriga no braço do outro. - Tô grávida, se você não concordar posso mandar o bebê chutar a sua cara. 

- Com certeza você deve ser a grávida mais agressiva que existe. - riu virando o corpo e ficando frente à frente com ela. 

- Sabe, acho que vou sentir falta da barriga. - fez um carinho de leve perto do umbigo. - É tão legal saber que tem alguém aqui dentro. 

- Eu ainda acho assustador. - deu de ombros. 

- Não é assustador, é legal. - beliscou o braço dele de repente. 

- Se você diz. - desistiu fechando os olhos mas lembrou de algo de repente. - Ainda não tem nome pra ele ou ela. - arregalou os olhos. 

- Eu queria algo que tivesse a ver com mitologia. - virou-se de barriga pra cima. - Tenho muita admiração pelo significado da existência dos deuses. O que você acha? 

- Desde que não se chame Zeus ou Athena, qualquer outro está ótimo. 

- O que você tem contra eles? - o olhou incrédula. - São nomes lindos tá? 

- Primeiro que Zeus é nome de cachorro e Athena é muito superestimada. Sabe, tudo bem ela é super inteligente e articulada e isso é incontestável. - apontou antes que a outra protestasse. - Mas porque quando se cita "mitologia" é sempre ela que vem à cabeça? Aliás há milhares de contos mitológicos pelo mundo também, porque sempre o grego? 

- Você disse que estava com sono, então porque está militando agora? - se apoiou no cotovelo e o encarou. - Me fala então um nome que não seja coreano. 

- Os deuses coreanos devem estar querendo te matar por não fazer jus às suas origens. - bocejou. 

- Mas eu sou metade estrangeira e o sobrenome é coreano de qualquer forma. - deitou-se novamente. - Falando nisso eu estava pensando sobre algo da mitologia romana, eu gosto de assistir documentários e eu vi algumas coisas interessantes, fiquei pensando sobre. 

Ambos se calaram por um período curto, apenas olhando para pontos aleatórios do quarto, quando Min acabou por ser lembrar de algo. 

- Ei. - chamou baixinho. - Você já sabe o que vai fazer depois que a criança nascer? 

- Sei sim. - sorriu olhando para o lado apenas para se certificar que a outra dormia. - Eu quero levar à Wheein pra Paris, sempre foi o sonho dela viver por lá e eu meio que inscrevi ela escondido pra uma agência de modelos fotográficos. 

- O que? - colocou a mão na boca contendo o risinho. - Você sabe que ela vai te matar não é? 

- Não vai não. - deu de ombros. - Eu mandei as fotos para a agência e só vou contar se ela for aprovada, sabe, não quero que ela crie expectativas ou que pense muito sobre isso. Independente de passar ou não ela ainda é a mulher mais linda desse mundo, não quero que um simples teste faça com que ela pense o contrário disso. 

- O amor de vocês é tão lindo. - disse suspirando. - Engraçado como as coisas mudam com o tempo, eu nunca imaginei te ouvir falar de alguém com tanto amor nos olhos. 

- É porque nunca se viu no espelho falando do Hoseok. - o olhou séria. - Até a menção do nome dele te traz brilho no olhar. 

- Será que eu ainda vou poder vê-lo mais uma vez? - baixou o olhar começando a entristecer-se. - Sabe, a gente vive a vida de uma forma tão vaga não é? Desde pequenos somos ensinados a buscar por coisas fúteis e deixamos o que é importante de lado. - fugou. - Vivemos procurando uma estabilidade em um "depois" mas e se esse depois nunca chegar? - fitou os olhos dela. 

A mais nova virou-se em sua direção e limpou com os dedos pequenos as lágrimas ainda tímidas que escorriam. 

- Eu planejei a minha vida inteira junto dele. - continuou. - Cada passo que daríamos e cada sonho que eu queria realizar ao seu lado, e o que eu fiz? Passei tanto tempo planejando que esqueci de fazer o principal. Viver. 

- Sabe o que eu vejo? Vocês vivendo a sua história linda juntos como a família que deve ser, rindo de tudo isso depois. - calou-se um pouco. - Pode achar esquisito mas é como se eu sentisse isso, dizem que é porque tô grávida e com isso se ganha esses poderes que ninguém sabe de onde vem. 

- Eu acho que você é muito louca, isso sim. - limpou os últimos resquícios de lágrimas em seu rosto, rindo. 

- Tô falando sério, idiota. - revirou os olhos. - Sinto mesmo que isso possa acontecer. 

- E se não acontecer? - ficou sério novamente. - O que eu faço sem ele? 

Então ela se aconchegou o tanto que conseguiu devido a barriga e o abraçou, ficando ambos quietos por muito tempo. Ali dentro daquele afeto não era preciso que palavras fossem ditas, Yoongi entendeu a resposta de Eujin, ele sabia que mesmo agarrado ao último fio de esperança o tempo passava e a falta de respostas só lhe confirmava o que temia, aquilo doía de tal forma que ele poderia sentir como se aos poucos estivesse sendo levado também. Mas ele sabia que independentemente do que houvesse com o seu "depois" precisaria continuar, e não era apenas por ele agora. Suspirou calmo sentindo o sono antes tímido se fazer ainda mais presente. 

- Ei eu disse que ia cantar, não durma antes de ouvir! - cutucou os olhos do outro que os abriu instantaneamente. - Pode ficar bem desperto pra ouvir, mas já aviso logo que só sei até o refrão.

Começaram a cantar baixinho, pois Wheein aquela hora já estava alcançando o patamar da quarta fase do sono pelo tempo que dormia, mas ao olharem ela de fone escutando música alta decidiram cantar mais alto também, ou pelo menos tentarem já que acabaram explodindo em gargalhadas altas para o horário, não se importaram muito com isso e continuaram. Aquela altura o sono já havia de dissipado. 

Naquele momento ele sentiu uma felicidade genuína, estar com uma das pessoas que mais amava nesse mundo tinha o poder de restaurar cada pedacinho do seu coração quebrado, aos poucos o sentimento de gratidão lhe invadia e antes de dormir de verdade ele pode constatar mais duas coisas em seus dias ali.

A primeira era que independente do que acontecesse dali pra frente e de como tivesse que lidar com o depois, ele conseguiria enfrentar seus medos se tivesse aqueles pequenos momentos de alegria com as pessoas as quais amava, e a segunda era que de True Colors Eujin sabia bem mais do que o refrão.

 


Notas Finais


*Dood: significa morte em holandês

Aviso rapidinho: Essa fic e outros trabalhos meus foi postada originalmente no Wattpad, vou postar todos os outros trabalhos aqui também conforme for percebendo engajamento, então por favor se gostou não esqueça de favoritar. Essa atualização condiz com o último capítulo postado lá, o próximo provavelmente sairá amanhã à noite já que pretendo trazer atualização dupla, então se você preferir lê-la por lá o user é o mesmo daqui: YOUGOTNOTAU

É isto, beijos e até a próxima! <3


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