História Revenge Girl - A futura senhora Li

Era realmente impossível de acreditar que Shaoran era o mais novo da família. Ele tinha um jeito tão sério e maduro perto das irmãs, que eram expansivas e alegres. Pareciam crianças em dia de Natal. Elas me lembravam muito de mim mesma, quando era menor.

“Oh! Você é muito mais bonita do que imaginei Sakura!”, Fuutie disse sorrindo assim que me avistou, e logo me envolvia em um abraço apertado. Percebi no memento que ela não era de formalidades, melhor assim.

Fuutie foi a primeira a me cumprimentar, a menorzinha de todas. A mais nova das irmãs, mas ainda assim, um ano mais velha que Shaoran. Os cabelos negros presos e dois coques impecáveis lhe davam um ar ainda mais infantil, mas era apenas a aparência. A jovem era estudiosa, a herdeira Li que mais gostava de ler e estudar, a que mais sabia línguas e a que, segundo ela mesma, tinha o noivo mais promissor de todos.

Elas seguiam a tradição que Shaoran conseguiu escapar, a de casamentos arranjados. Ainda não entrei muito no assunto com elas, afinal, só me acompanharam por um tour pela enorme mansão e agora em um chá da tarde, ainda não sei o suficiente sobre todas, mas o pouco que sei já me agradou, são pessoas muito boas.

Fanrei e Fenmei são gêmeas, mas completamente diferentes, desde a aparência, já que não são idênticas e Fanrei é levemente mais alta, quanto à personalidade. Uma é yin, a outra yang. Fanrei é calma e pacífica. Fala devagar, aprecia a meditação e está sempre sorrindo, enquanto Fenmei é completamente elétrica e impulsiva. Fala alto e não consegue ficar parada em um lugar por muito tempo.

E por último, Shiefa, a mais velha. Shiefa foi a que menos fez bragunça, parecia estar com muitas saudades do irmão e curiosa em me conhecer, mas ao mesmo tempo mostrou-se madura o suficiente para fazer parte da baderna que suas irmãs agitaram. Shaoran me contou um pouco sobre ela e a tristeza que sente ao saber que a irmã queria mais do que tudo assumir o Clã, mas não pode. Mesmo sendo a mais velha, mesmo tendo estudado a vida inteira para isso, se interessado, se mostrado presente, ela é mulher e o machismo aqui ainda é muito presente. Shao disse que sempre percebeu os olhares tristes da irmã quando ela ouvia suas conversas sobre o futuro cargo de líder do Clã. Seu maior desejo era poder realizar a vontade de Shiefa e deixá-la governar.

- Alôôôô? – Fenmei estalava os dedos apressadamente na frente de meus olhos. – Ouviu o que eu disse? – perguntou com a expressão um pouco irritada por estar sendo ignorada.

- Desculpe, eu só estava...

- Viajando! – Fuutie completou tomando um gole de chá.

- Enfim, eu estava falando das roupas cerimoniais de Natal! Ling desenhou vários modelos, tenho certeza que você ficará linda em todos! – Fenmei continuou e agora seus olhos brilhavam animados. Sua animação me lembrou de Tomoyo... Espera só a japonesinha saber que não vou poder usar o vestido que ela passou semanas costurando.

- E por que precisa de uma roupa cerimonial? – questionei comendo um biscoitinho.

- Sempre usamos esse tipo de roupa no Natal, mas este em especial vai ter a apresentação de Xiaolang e sua noiva, então... – Shiefa explicou e eu comecei a tossir loucamente. NOIVA?

- No-no-cof-noiva? – disse com os olhos lacrimejando pelo engasgo. Passei meu olhar rapidamente pela mesa até encontrar os olhos assustados de Shaoran. Hiro apenas enfiava mais biscoitos na boca, como se estivesse assistindo a um filme.

- Você não falou pra ela Xiaolang? – Fuutie questionou. – Que maluco! Traz a menina aqui e ela nem sabe que vai casar!

- Fuutie! – Fanrei a repreendeu calmamente, com seu tom passivo de sempre.

- Do que elas estão falando Shaoran? – perguntei perplexa.

- Nada. Essas linguarudas não estão falando nada. – ele repreendeu lançando um olhar nervoso para as meninas. – Até porque... Agora não faz mais sentido. – completou um pouco mais baixo e me olhou triste. Entendi exatamente o que ele quis dizer. Precisávamos contar.

- Não faz sentido? Explique-se meu filho. – Ielan falou pela primeira vez em horas. Ela apenas observava nossa conversa atentamente, mas acho que sua percepção não deixou escapar que algo estava errado.

- Bom... – Shaoran começou.

- Não. – o interrompi. – Se tem alguém que vai contar, este alguém sou eu. – disse respirando fundo e tirando coragem não sei de onde. Shaoran então se levantou da cadeira que estava sentado, deu a volta na mesa e se colocou ao meu lado. Senti então seus dedos entrelaçarem com os meus, apertando-os levemente, me dando apoio.

Respirei fundo mais uma vez.

- O que é? Fala logo Sakura! – Fenmei perguntou já um pouco desesperada.

- Bom... É que... – soltei o ar que prendia em meus pulmões. – Eu não vou ser a mãe do herdeiro chinês. – silêncio absoluto. – Eu e Shaoran não vamos ter um filho.

...

- QUÊ? COMO ASSIM ROUPAS TRADICIONAIS DE NATAL? E EU SAKURA? E EU? – Tomoyo berrava tanto em meu ouvido que tive que afastar o celular um pouco, ou ficaria surda.

- PRESTA ATENÇÃO! – berrei de volta. – Eu te conto que falei para a família real da China que não, não aceito gerar seu herdeiro e você SÓ SABE ME FALAR DE ROUPAS, TENHÁ DÓ! – ela bufou do outro lado da linha.

- E você quer que eu fale o que? Já foi, não tem como voltar atrás.

- Você é uma melhor amiga tão inútil ás vezes, eu não sei nem por que eu tento. - disse me jogando na enorme cama king size e trocando o celular de orelha. – Mas ainda sim eu me sentiria melhor se você estivesse aqui comigo.

- Não se preocupe querida, acabei de comprar minha passagem. Meu voo é amanhã pela manhã. – arregalei os olhos.

- Mas... Como? E Eriol?

- Kinomoto, sua ingênua. Você me larga essa bomba, de que NÃO VAI USAR MEU VESTIDO NO NATAL, e quer que eu continue aqui? Eriol que me encontre ai quando puder, tenho muito trabalho a fazer quando chegar. Vou conversar muito com essa Ling, pegar umas referências e deixar claro que EU visto Sakura Kinomoto. – não pude conter em soltar um sorriso espontâneo. Tomoyo era demais, eu sabia que nos piores momentos, ela sempre estaria lá por mim, disposta a me arrancar um sorriso.

- Chega logo, que eu preciso de você.

- Eu sei. Eu sou uma pessoa muito necessária. – ela brincou e logo desligamos.

Fiquei parada ali por um tempo, deitada naquela imensidão de cama encarando o teto. O que eu estava fazendo? Será que eu ia ser forte o suficiente para o que vinha a seguir?

- Toc toc. – levantei a cabeça e vi Shao surgir na porta. – Ela chegou. – ele disse sério. Engoli seco.

Era agora.

Descemos as escadas rapidamente e logo as portas da sala de estar já estavam abertas. A família de Shao estava sentada ao redor da mesa, assim como Mei e Hiro. Passei meus olhos pela sala até que a vi. Ela estava vestida em uma roupa que parecia ser tradicional, os cabelos presos num penteado de festa, com cachos sobressalentes, seus lábios vermelhos contrastavam com a pele translúcida e sem nenhuma imperfeição. E seu olhos, negros, brilhantes e enigmáticos cravaram nos meus, tirando-me o fôlego por um segundo.

- Prazer, sou Jiang Hao. – ela disse fazendo uma reverência. Então voltou a ficar ereta e lançou-me um sorriso enorme, com aqueles dentinhos perfeitamente brancos e alinhados. – A futura senhora Li.