História Revenge Girl - 911

- Definitivamente, nunca mais como cream cheese. – disse saindo do banheiro após colocar todo o meu café da manhã para fora.

- Cream cheese riscado da lista! Assim como riscamos café ontem e molho barbecue anteontem. – Josh disse fazendo um “check” imaginário no ar.

 - As comidas estão acabando! – lamentei – Como vou chegar ao final dessa gravidez se a cada dia enjoo de um alimento diferente? – disse dramaticamente me jogando ao seu lado no meu confortável sofá.

Mais um mês tinha se passado. Estávamos em meados de maio, e eu tinha acabado de entrar no meu segundo mês de gestação. Após alguns dias saindo com Josh, me senti na obrigação de abrir o jogo e explicar o porque deu não estar me sentindo completamente preparada para mergulhar de cabeça em um novo relacionamento. É claro que não contei absolutamente tudo, apenas por cima as questões das desconfianças de Shaoran em relação a mim e obviamente, sobre a minha gravidez.

Tomoyo e Eriol quase surtaram quando eu disse que Josh estava sabendo que eu estava grávida e que se dispôs a me apoiar no que fosse preciso durante todo o período de gestação. Mas os dois não se assustaram pelo ruivo se dispor a me ajudar, e sim pelo fato deu ter contado pra ele antes de Shaoran.

Será que eles não entendem que eu vou contar pra aquele chinês eventualmente? Só que definitivamente, não pode ser agora! Após seguir todas as orientações médicas e acompanhar a gestação de perto com exames frequentes, minha gravidez finalmente está numa fase tranquila. Isso, é claro, se deve ao fato deu não ver Shaoran há um mês, ou seja: sem Shao, sem brigas, sem problemas.

Será que é tão difícil entender?

E outra, Josh já deixou mais do que claro quais são suas intenções comigo, mas em nenhum momento está me pressionando a nada, muito pelo contrário, como advogado certinho que é, sempre insiste para que eu abra o jogo com Shaoran, para que ele, como legítimo pai tenha a oportunidade de acompanhar a gestação do filho, direito esse que segundo Josh, é garantido por lei.

Mas ao mesmo tempo em que me pressiona, Josh entende o meu medo em relação ao estresse que esta revelação pode causar no meu atual estado de saúde e também compreende o pavor que tenho da família autoritária Li tirar meu filho de mim, por se tratar do herdeiro que tanto esperaram ser gerado.

Ele tem se mostrado um amigo incrível, além de um verdadeiro príncipe, super paciente e dedicado a me ajudar. Ele tem dormido frequentemente em meu apartamento, no antigo quarto de Tomoyo.

Nosso relacionamento já tinha se estendido para a fase dos beijos, mas nada a mais do que isso. Eu coloco como desculpa a minha gravidez de risco para me “livrar” do sexo, mas a verdade é que Josh não me atrai desta maneira, pelo menos não como Shaoran me atraía apenas com um olhar.

- Não se preocupe, se as comidas de New York acabarem, vou buscar mais em outra cidade. – ele sorriu.

- Buscar mais em outro país né? A América já está pequena para mim, meu bem. – dei mais uma gargalhada e senti ser puxada para mais perto. Quando nossos lábios estavam quase se encontrando, o barulho de meu celular nos interrompeu: tinha recebido uma mensagem.

“911”

Arregalei os olhos surpresa e me levantei de supetão.

- O que foi? – ele perguntou surpreso.

- A Meiling mandou um 911. Tenho que ir! – disse calçando as pantufas depressa e colocando um casaco marrom que estava jogado na poltrona ao lado.

- Eu vou com você – ele advertiu. Olhei então para o relógio na parede.

- Olha a hora! Você não tá de folga que nem eu, já devia estar no escritório. – apressei-me para a porta.

- Tem certeza que está bem sozinha? Não se exalte, por favor. – suspirei.

- Só vou descer dois andares, eu vou ficar bem. – assenti e saí porta a fora. Se fosse mais alguma loucura daquela chinesa, eu iria ter um ataque! Não se chama um 911 à toa. Tem de ser uma emergência.

...

- POR QUE DEMOROU TANTO? – Meiling berrou histericamente no momento em que cruzei a porta, encontrando-a andando de um lado para o outro no meio da sala.

- Pode me explicar o que está acontecendo? – disse um tanto ofegante.

- Ele sumiu Sakura! Foi embora, desapareceu por completo! – Meiling tagarelava, com o olhar perdido, andando de um lado para o outro. Eu apenas assisti à cena estática, sem saber muito o que fazer.

- Mei, calma. Começa a fazer sentido por favor...

- ONDE É O INCÊNDIO? – Tomoyo berrou entrando correndo pela porta e rapidamente nos alcançando no meio da sala. Meiling então, abaixou os olhos marejados em direção ao bolso de seu casaco e tirou de lá uma caixa, entregando-a para a japonesa. Meus olhos arregalaram.

- Você está grávida? – uma voz grossa interrompeu o momento e somente eu pareci “descongelar” de surpresa e virar minha cabeça em direção à porta. Shaoran estava parado um pouco a frente do batente da porta, encarando a caixa nas mãos de Tomoyo fulminantemente. Seu olhar então desviou rapidamente para mim. Havia se passado mais um mês desde nosso último encontro e eu continuava com cara de idiota ao revê-lo. Será que isso nunca vai mudar?

Por algum motivo desconhecido, ele passou a encarar meu corpo e aquilo me deu um estalo: minha pequena e discreta barriguinha não poderia estar à mostra! Agradeci pelo casaco que peguei às pressas ser largo, porém estava aberto. Comecei a abotoá-lo imediatamente e então reparei no que ele tanto olhava em meu corpo... Eu estava usando uma camiseta velha dele, muito usual nos das em que eu ficava em casa. Era confortável! Parabéns Sakura, caiu mil pontos no quesito dignidade. Merda!

- E-eu... Não sei ainda. – Mei respondeu sentando na mesinha de centro de madeira, cobrindo o rosto com as mãos. – Ele sumiu! Ele fugiu! – ela repetia numa voz chorosa abafada.

- Nós vamos acha-lo querida. Vamos encontrar Hiro. – Eriol disse, denunciando sua presença pela primeira vez, abaixando ao lado de Mei e afagando seus cabelos.

- Vocês chegaram rápido. – ela disse tirando as mãos do rosto e olhando para Shaoran. – Sakura chegou um minuto antes, e olha que ela só está há dois andares de distância. – o chinês sorriu sem mostrar os dentes.

- Eu, Eriol e Tomoyo estávamos da confeitaria no fim da rua. Viemos correndo assim que recebemos seu chamado. – Shao então se agachou na frente da chinesa e tomou as mãos da menina com as suas. – Me conta tudo o que aconteceu.

Flashback on

Meiling Narrando

“Descubra em que estágio a sua gravidez está em apenas 7 minutos!”

“Nosso teste especifica as semanas de gestação!”

“Teste seguro, alta probabilidade de acertos!”

- Já sei. Vou levar os três. – disse pegando as três embalagens e colocando dentro da cesta de compras.

Na saída da farmácia, já com a sacola dos testes em mãos, a caminho de casa, minha cabeça estava a mil. Como isso podia estar acontecendo Meiling? Justo com você? A senhora precaução?

Argh!

Pelo menos não iria ver Hiro até a noite. Era nosso “mesaniversário” de namoro e combinamos de jantar. Teria o dia para criar coragem de fazer os testes e lidar com qualquer que fossem as respostas que eles me trouxessem.

A manhã passou voando e logo a tarde chegou.

- Você é ou não uma guerreira? Enfrente logo esta batalha! – gritei comigo mesma, aborrecida com minhas atitudes tão apáticas. Passei horas encarando os testes que estavam em cima da mesinha de centro da sala. Qual meu problema? Melhor saber de uma vez a verdade!

Desembalei os três testes e deixei as embalagens na mesma mesa, levando apenas as hastes de plástico para o banheiro. Depois de muito tentar, parece que quando estou nervosa minha bexiga se fecha por completo, consegui fazer xixi. Rapidamente peguei os “palitinhos” e tranquei-os no suporte de shampoo, dentro do box. Não queria que ficassem perto de mim, já estava nervosa demais.

Os minutos pareceram horas, o tempo pareceu parar. Olhava de um em um segundo no celular e o minutos pareciam congelados! Será possível uma coisa dessas?

De repente um barulho alto de porta batendo me assustou, e eu saí rapidamente do banheiro. Olhei pela sala e percebi que as caixas dos testes não estavam mais sobre a mesa, e sim jogadas pelo chão.

Em cima da poltrona da sala, tinham sacolas de compras que definitivamente não era minhas. Aproximei-me das embalagens e vi diversos cupcakes de morango, meus favoritos com a escrita: Eu te amo, no topo de cada um.

- Ah não... Hiro!

Flashback off

Sakura Narrando

- Depois disso eu tentei ligar pra ele insistentemente e ele não atendeu. Corri pra rua pra ver se conseguia alcançá-lo, mas não o achei... Ele veio mais cedo, me fazer uma surpresa. Mas quem teve a surpresa foi ele. – Meiling disse amargurada não contendo as lágrimas mais uma vez.

- Mei, se acalme. Eu tenho certeza que ele só está assustado. Você sabe como um primo é exagerado, ele só não deve estar sabendo processar... – disse abaixando-me a sua altura, colocando-me ao lado de Shao que ainda segurava suas mãos. O perfume do chinês então invadiu minhas narinas e por um segundo, me perdi em lembranças.

- Processar? Ele acha que tem o direito de processar algo? – Meiling se alterou, largando as mãos do primo e movendo-as pelo ar com indignação. – Eu posso estar passando pela maior transformação de minha vida, transformação essa que caso se confirme, não consegui sozinha, ele teve parte nisso! E somente a possibilidade... O espanta. Ele foge, some, me deixa sozinha nessa! – ela berrava. – Ele acha que eu não estou assustada? Perdida? Perplexa? Não sou nenhuma adolescente, mas definitivamente não queria filhos, pelo menos não agora! – toquei seu braço, com carinho.

- Eu sei o que está sentindo, mas- ela se afastou do meu toque.

- Não Sakura, desculpe, mas você não sabe. Fique grávida primeiro, e depois tente me consolar. – ela disse rígida. Todos na sala pareceram perder a respiração por um segundo. Até Shaoran olhou para a prima surpreso com sua grosseria. Suspirei pesadamente. “Eu sei sim, ao contrário de você eu tenho certeza que estou grávida, e sei todas as dúvidas e neuras que estão rondando sua cabeça!”, pensei.

- Meiling Li! – Tomoyo esbravejou. – Você está na merda, ok! Nos chamou e estamos aqui, agora se for pra ficar dando patadas, resolva suas merdas sozinha! – Tomoyo sempre “mostrava as garras” em algumas situações específicas, e apesar de estarmos acostumados com a japonesa, ela sempre nos surpreendia quando quebrava o jeito doce de ser.

- Oh... Sakura... Me-me desculpe... Eu nem sei o que...- levantei a mão direita em sinal para que ela se calasse.

- Esquece. Vamos agir. Fique aqui, e continue ligando e esperando que ele volte. Nós vamos nos dividir e procurar aquele palhaço. – disse convicta.

Levantei-me e caminhei em direção à porta, ouvindo os passos dos outros atrás de mim. Já no corredor, chamei o elevador e esperei todos me alcançarem.

- Eu e Shaoran estamos de carro. – Eriol comentou.

- Certo, então você e Tomoyo vão juntos, Li vai de carro e eu a pé. – disse convicta.

- Querida, não acho que deveria ficar andando por aí sozinha. – a japonesa advertiu.

- Para de neura Tomy. Não vou dirigindo, vou a pé! – Shaoran observava a cena curioso.

- Mesmo assim. Você está nervosa com a situação. E se acontecer alguma coisa com você na rua? Sozinha? – Eriol advertia. Revirei os olhos.

- Mas que saco! Não podemos perder tempo e-

- Venha comigo. – o chinês então interrompeu a discussão. Nós três olhamos para ele sem entender. Ele, se oferecendo para ficar no mesmo carro que eu?

- Não precisa. Eu posso muito bem- me interrompeu de novo.

- Vem logo. Precisamos achar rápido o retardado do seu primo. – ele disse seco, entrando no elevador que acabara de chegar.