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História Revolução - Um Homem Sem Escolhas


Escrita por: Ochaveiro

Notas do Autor


nota 10!

Capítulo 3 - Um Homem Sem Escolhas


Fanfic / Fanfiction Revolução - Um Homem Sem Escolhas

Sofia colocava a mesa e minha mãe terminava o almoço. Não era nada especial, eu havia conseguido algumas lascas na última luta o que foi suficiente para comprar algo diferente da ração que estamos acostumados a comer.

Alguns legumes, feijão e uma carne de soja, desenvolvida aqui mesmo na colônia. É comestível, só de ter o gosto diferente dos grãos já traz uma alegria no paladar. Suco de laranja, na verdade uma outra invenção aqui da colônia 55/21, um tipo de pó solúvel feito de vários sabores que ao ser misturado na água transforma-se em um refresco.

Coloquei o suco em uma jarra de ferro, que ganhei em troca de um serviço que fiz para um dos trabalhadores da forja. Sofia colocou a toalha de mesa que meus pais ganharam no casamento, só usávamos essa toalha em ocasiões especiais, os copos eram de vidro, esses a própria Sofia que comprou, trabalhando como auxiliar de professora infantil na integração.

Pratos e talheres de cerâmica, era o mais barato, até pensei em comprar um jogo de mesa novo com as lascas que ganhei, mas faz tanto tempo que não comemos algo diferente, daí o estômago falou mais alto.

- O almoço está pronto! – disse minha mãe, trazendo o ensopado de feijão.

- Eu sou a primeira! – Sofia já estava com o prato em mãos, lambendo os lábios só com o cheiro do ensopado.

- Não, o primeiro sou eu! – decidi implicar com ela, coisa de irmão mais velho.

- Parem os dois! – era visível ver como minha mãe estava feliz, ela sorria ao colocar um bocado de ensopado em nossos pratos. – Vamos agradecer a Deus pelo alimento! – demos as mãos e fechamos os olhos em uma prece. – Faça o agradecimento Sofia!

- Meu bom Deus, obrigado pelo alimento e pela nossa vida, agradeço o talento maravilhoso que minha mãe tem em preparar comidas deliciosas e agradeço por não ter nascida feia, como meu irmão, Amém! – eu abri os olhos e ela estava me mostrando a língua!

- Você parece uma ratinha com esses dentes! – Sofia odiava que fala-se dos dentes, levemente separados.

- MÃE OLHA O NICK! – minha mãe ria, essa era nossa maneira de ser família.

- Parem os dois! – ela segurou o riso, pra dar fim a discussão. – Vamos comer porque se não a comida vai esfriar.

O Cheiro invadia os pulmões e chegava até o paladar, dando água na boca. Sofia comia desesperadamente, minha mãe trocava olhares, do tipo tenha bons modos menina, mas ela fingia não notar.

Coloquei um pouco do ensopado na colher e levei a boca, esperançoso que o gosto correspondesse o cheiro, mas o que senti foi uma pontada no peito, fiquei de pé assustado, e novamente senti outra pontada no peito, mas agora uma onda de choque percorria meu corpo. Tentei pedir socorro, mas a voz não saia, o estranho disso tudo era que minha mãe e Sofia continuavam comendo e rindo, falavam comigo como se nada estivesse acontecendo. Novamente senti a onda de choque e  um clarão embasando a vista.

O corpo tremia por inteiro, a luz forte agredia os olhos e ao fundo ouvia muitas vozes agitadas.

- 1,2,3... Agora! – a pressão forte no peito me fez levantar!

- O que está acontecendo? – eu olhava para os lados e uma equipe médica me cercava! – TIREM ESSES FIOS DE MIM! – tubos de soro injetados nas veias do meu braço e eletrodos presos ao meu peito.

- Nick fica calmo. – enfim um rosto conhecido. Marcia segurou em minha mão, com os olhos mareados, pedia gentilmente pra que me acalmasse. – Tá tudo bem!

- Onde estou?

- Na colônia 55/11 – disse um senhor de estatura mediana, um pouco encurvado e que usava óculos fundo de garrafa. – Você teve uma parada cárdica, tivemos que usar o desfibrilador! – Cabelos pretos, um pouco desgrenhados. – Devido ao esforço que seu corpo fez ao usar a Aequus. – foi então que comecei a lembrar do ataque ao comboio.

- Tá tudo bem Nick, você precisa descansar um pouco. – Marcia me ajudou a deitar na maca novamente.

- Minha mãe onde está?

- Está lá fora, te esperando. – puxei as agulhas do braço e tirei os eletrodos do peito. Mesmo cambaleante fui para fora da sala e lá estava, sentada no corredor, com as mãos juntas em uma prece, pedia a Deus por mim. – Mãe! – ela abriu um sorriso e correu pra mim, com os braços abertos.

- Graças a Deus você está bem!

- Vaso ruim não quebra tão fácil mãe!

-  Não diga isso Nick, você não é um vaso ruim, você é uma das melhores coisas da minha vida. – ela me apertava em seus braços e chorava muito.

- Não deixa a Sofia ouvir isso, se não vai ficar com ciúmes. – ela me apertava e confesso que fazia tempo que não me sentia tão aconchegado. - Cadê a Sofia mãe? – aos poucos o abraço foi perdendo a força até ao ponto de me soltar e com os olhos cheios de lágrimas ela me encarava, mordendo os lábios, talvez segurando as palavras. – Cadê a Sofia mãe? – a segurei pelos ombros, mas ela apenas balançava a cabeça e chorava, não tinha forças para dizer o que aconteceu.

- O comboio foi atacado Nicolas! – eu olhei para traz pra ver quem falava e me embrulhou o estômago ao ver o rosto do Russo! – Os três comboios sofreram ataques, um deles foi completamente destruído, nenhum sobrevivente. No trem em que estávamos somente nós escapamos, graças ao tele transporte do professor Carlos. – eu me enchia de raiva, não queria acreditar nas palavras que estavam por vir. – O trem do Capitão Otavio, onde sua mãe e irmã estavam, também foi atacado por predadores. Eles escavaram a terra quando o comboio atingiu 45 metros da superfície. – Marcia tomou minha mãe dos meus braços, que se desmanchava em lágrimas e eu encarava o rosto apático de Ivan. – Os soldados lutaram contra o grupo de criaturas e obtiveram êxito, mas alguns dos nossos foram levados cativos, nesses que foram capturados se encontra sua irmã!

- NÃO FALE NADA DA MINHA IRMÃ! – segurei Ivan pelo pescoço, precisava socar alguém, aliviar a raiva dentro de mim.

- Eu sinto muito! – em um movimento rápido ele levou as mãos até meu pulso, movendo o quadril e esticando uma das pernas para a lateral, levando me direto ao chão. – Mantenha a calma, estamos tentando resolver isso! – aquilo aumentou ainda mais a raiva que sentia.

Usei os pés para me livrar da pegada do Russo, fiquei imediatamente de pé com um rolamento para trás, os guardas vieram correndo e o médico de óculos fundo de garrafa segurava um sedativo nas mãos!

No outro extremo do corredor havia apenas um soldado franzino de sentinela, provavelmente um recruta. O colocaram de guarda na saída da enfermagem, pois deveria ser o local mais sossegado da colônia, o que ele não esperava era ter um encontro comigo.

Segurei o doutor que se aproximava tão sorrateiro quanto um elefante e o arremessei contra Ivan. Corri em direção a saída, eu havia tomado o sedativo das mãos do doutor e o pobre recruta se atrapalhou todo para engatilhar a metralhadora de munição não letal. Isso foi tempo suficiente para ferir o jovem com seringa no abdômen, o rapaz imediatamente desmaiou. Tomei a arma do garoto e disparei contra Ivan que se aproximava. O russo possuía ótimos reflexos, quando percebeu que puxaria o gatilho usou uma das macas do corredor como escudo. Isso me deu tempo suficiente para fugir e me misturar no meio dos Paulistanos da colônia 55/11.

Diferente do meu lar, essa colônia era muito maior. O povo usou as antigas instalações subterrâneas da cidade e escavaram ainda mais fundo. Isso me dizia uma coisa: Se o boato de que a  Rinha existe em todas as colônias for verdadeiro, ela também está acontecendo aqui, em algum desses buracos espalhados pela cidade.

Pequenos veículos de quatro e duas rodas circulavam pelas ruas, fazendo o transporte de comida e suprimentos. Elevadores sustentados por cabos levavam os trabalhadores para a parte alta, onde se encontram os comerciantes.

A parte média era onde ficava o quartel, postos de inteligência e médicos. A parte baixa era o canto das forjas, onde o povo trabalha extraindo minério.

Eu precisava de roupas novas, estava sem camisa, apenas com a calça operacional da F.R.B, a única coisa que me sobrou do tempo que passei lá. Um grupo de pessoas embarcavam em um elevador que acabava de chegar, eram comerciantes indo para a parte alta da cidade.

Me enfiei no meio deles e apesar dos olhares desconfiados, devido minha falta de vestimenta, decidi ignorar e fingir que estava tudo bem. O elevador em forma de esfera, feito de aço inoxidável era içado por um cabo de aço, movido por um motor pneumático.

Um homem carregava duas malas cheias de roupas, provavelmente um comerciante. Uma camisa de mangas cumpridas estava pela metade fora das malas, assim que a porta do elevador se abriu e todos começaram a sair eu pisei na manga da camisa, o homem seguiu seu caminho deixando para trás o produto que caiu muito bem em mim.

Vozes frenéticas compunham o som da parte alta da cidade. Essa parte era composta apenas por comércios, uma mistura de sabores pairavam pelo ar, isso fez a barriga roncar de fome.

Eu tinha que dar um jeito de sair desse lugar e ir atrás da minha irmã, não vou me perdoar se algo acontecer com ela. Os únicos que conseguem sair das colônias são os militares e os agentes da Rinha.

Na colônia 55/21 os agenciadores geralmente trabalhavam em comércios, pois é onde o fluxo de pessoas é mais intenso, sempre me perguntei se a F.R.B não tinha aceso a essa informação, porque era comum a todos.

Mas os boatos que corriam nas ruas era que alguns comandantes da F.R.B levavam uma participação no lucro das lutas, desde que fizessem vista grossa. Corruptos, mesmo que as apostas dobrassem as lascas e dessem a oportunidade de ter uma comida digna a mesa, eu não sentia orgulho de participar das lutas, não sou um criminoso, mas sou um homem sem escolha.



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