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História Rewrite the Stars - VIII - So why don't we rewrite the stars?


Escrita por: AsuaMai

Notas do Autor


hello world!!!
então, queria começar essa att dizendo que a fanfic foi finalizada com 11 capítulos!!!
porém, eu muito provavelmente vou tentar dividir isso melhor pra não ficar capitulos muito longos/curtos (apesar que tbh eu já acho que a maioria ta grande pra cacete, então sinto muito :s)
no mais, o que eu tiro de prova aqui é que não sei mais fazer shortfic e muito menos oneshot! jdposajdp

hoje temos o segundo dia do jijico e acho que é um dos capítulos que eu mais gosto também(?) eu ainda NÃO SEI se tô real conseguindo diferenciar a narrativa dos três personagens e se fica confuso essa mudança de terceira pra primeira pessoa mas acho que tá tarde demais pra falar sobre isso lol

enfimmmm obrigada pela força na história!! especialmente a sabbs e a patorishia que são p r i v i l e g i a d a s e tão acompanhando isso aqui pelo docs hdihasdu eee para a LuvJeongo porque os comentários dela são /chef kiss hahaha

no maisss é isto nos vemos lá embaixo hehe~

p.s.: músicas do capitulo [vocês podem ver na playlist da fific]:
perfectionist - will jay
molecules - hayley kiyoko

Capítulo 8 - VIII - So why don't we rewrite the stars?


VIII

 

Soobin encarou Jeongin desconfiado.

- Deixa eu ver se eu entendi direito esse negócio – falou lentamente, as sobrancelhas franzidas o encarando enquanto Jeongin tomava seu café calmamente, sem parecer nem um pouco incomodado. – Você está me dizendo que Kim Seungmin vai te levar pra entrevista hoje? O seu ex-namorado?

- Sim.

- E foi você que pediu carona?

- Sim, poxa. Por que é tão difícil entender isso?! – Jeongin perguntou parecendo frustrado, ainda que ele entendesse bem porque era difícil entender aquilo. Sinceramente, nem ele entendia.

Só sabia que tinha pedido e agora já era.

- Porque até onde eu sei você ama o cara, mas ao mesmo tempo odeia ele. E eu sinceramente não quero esquecer o fato que ele é um babaca! – Soobin disse confuso. – Tipo, na moral?! Como assim?!

- Sei lá, eu só... Ele pareceu vulnerável ontem quando o Jisung contou tudo aquilo. E eu meio que entendo porque a Lia comentou como eles eram próximos, deve ter sido difícil pra ele ouvir sobre o que ele passou, sei lá. E eu também estou cansado de discutir com ele ou ficar gastando com passagens ou gasolina pro carro do Hyuka. – Jeongin suspirou. – Só tô criando essas desculpas pra negar o fato que eu só quero passar um tempo sozinho com ele mesmo.

- E se vocês brigarem?

- Ainda vai ser um tempo sozinho com ele.

- E se vocês se beijarem?

- Não acho que isso vá acontecer.

Soobin estreitou os olhos na direção do amigo por um tempo antes de sorrir, dando pequenos tapinhas animados na direção dele.

- Ah, então tá! – e foi aos pulinhos em direção ao banheiro para se arrumar para o trabalho.

Jeongin suspirou, não tinha se passado nem uma semana direito, mas já pareciam meses desde o começo daquela entrevista. Ele já tinha chorado horrores, se preocupado horrores e brigado horrores com Kim Seungmin.

Agora ele só queria entender tudo de uma vez por todas, sem a coisa toda terminar em gritos, socos ou os dois se tornando um viral na internet.

Ele esperava que Seungmin sentisse o mesmo.

Que ele tivesse sentido pelo menos algo parecido com o surto que Jeongin teve ao ser chamado de Innie por ele de novo.

Sorriu.

- Que saco.

- O quê? – Soobin perguntou enquanto escovava os dentes.

- Que saco que você não me falou do teu encontro ontem! Como foi? – perguntou mudando de assunto, e o melhor amigo ficou vermelho.

- Bem... Ele me levou para a rádio onde ele trabalha e depois fomos para a cobertura, onde tinha um cobertor, sanduíches e um notebook com vários episódios de The Community. Então a gente ficou assistindo série de mãos dadas até eu pegar no sono no ombro dele, depois ele me acordou e a gente se beijou. – Soobin fez uma pausa dramática antes de abrir um sorrisão, olhando para Jeongin como se sentisse orgulhoso de si mesmo. – E eu gostei.

- Isso é bom, Soobs! Fico feliz.

- Eu gosto quando é com ele, me deixa confortável. E ele ficou todo fofo preocupado que eu ia odiar ou algo assim, mas... Me senti seguro, e então beijei ele de novo. – Soobin pareceu pensativo. – Agora eu acho que tenho um namorado.

Jeongin assoviou, zombando do rosto vermelho do outro.

- Ihhh, olha ele! Isso aí! Todo chique de namoradinho novo, iti.

O Choi mostrou o dedo do meio na direção dele.

- Vai tomar no cu, Jeongin. Vai lá pros seus idosos gays famosos, vai.

Jeongin riu, mas logo viu a hora no relógio e arregalou os olhos.

Estava. Atrasado.

- INFERNO!

 

.

 

Seungmin não o xingou quando ele abriu a porta do carro e entrou, parecendo nervoso da bronca que sabia que ia tomar. Na verdade, ele só riu.

- Você dormiu demais ou ficou perdido fofocando sobre o date do Soobin?

Jeongin bufou.

- Fofocando. Como você sabe sobre o date do Soobin?

Seungmin o olhou como se ele fosse esquisito.

- Eu sigo o Hyuka no Instagram. – Explicou dando de ombros, esperando que Jeongin colocasse o cinto de segurança antes de dar partida no carro. – Que legal que agora eles estão namorando.

Jeongin apenas acenou com a cabeça.

- É, que legal. – falou baixo e Seungmin riu de novo.

Ele parecia... bem humorado demais.

Aquilo era um pouco esquisito.

- Eu sempre achei que ele gostasse de você. – o Kim continuou, sem olhar para ele. – Tipo, o jeito de te proteger no serviço ou não hesitar em partir pra cima de quem te ofende. Ou como ele te olha como se você tudo pra ele, era meio... desconfortável. Especialmente pra mim. - finalizou com a voz baixa.

Jeongin o encarou sem entender nada.

Ok.

Aquilo era muito esquisito.

- Ahn... Ele é só o meu melhor amigo. E no começo eu achava que ele era hetero, depois descobri que ele era ace, agora eu sei que ele namora o cara que ele gosta e gosta dele também. – Jeongin deu um risinho. – Eu sou só... O cara que beijou ele e o ajudou a entender  melhor tudo isso.

Seungmin estalou a língua, mas não parecia irritado.

- Então você beijou Choi Soobin...

Jeongin piscou.

- Uh, sim? Você meio que falou que eu devia fazer isso, então...

O Kim riu.

- É, né? Agora você me escuta, Innie.

Jeongin engoliu em seco, ainda olhando para ele confuso.

Agora ele era Innie de novo?!

- De qualquer forma, eu não gosto dele e ele também não gosta de mim. Então é isso. É assim que a banda toca, sei lá.

Seungmin acenou com a cabeça, ligando o rádio do carro enquanto sussurrava algo que, felizmente ou não, Jeongin pode ouvir.

- É muito bom saber disso, Innie.

Depois disso, os dois ficaram em silêncio e Never Enough de Paulline Hwang começou a tocar.

 

.

 

- Você está nervoso? – Seungmin perguntou assim que eles entraram na mansão, sendo atendidos novamente por Lia, que abraçou os dois com força e um sorriso gigante no rosto.

Jeongin não pode deixar de notar que, das três irmãs, Lia era a única que não parecia ter algum ressentimento com Seungmin. Ryujin não era uma pessoa muito educada na direção do Kim e Yuna nem se dava o trabalho de olhar pra cara dele – não que Seungmin parecesse se importar, de qualquer forma.

Ele imaginava que talvez fosse por causa da idade próxima das duas, Yuna era quase quatro anos e meio mais velha que Seungmin e Ryujin tinha a mesma idade dele, e por terem passado mais tempo com o Kim. A própria Lia já tinha dito que era apenas uma criança quando Seungmin tinha ido embora, e antes disso os dois pareciam ser bem próximos. Sem contar que as outras duas eram mais próximas de Hyunjin – que Seungmin nem escondia odiar, enquanto os dois pareciam ter um carinho enorme por Jisung.

Quer dizer, era meio impossível não notar isso com a animação de Seungmin enquanto eles seguiam para o estúdio onde Jisung já estava os esperando. Ele parecia quase tranquilo, com um sorriso pequeno no rosto e a camisa social branca bem limpa e passada, a gravata preta que ele sempre usava voando atrás dele enquanto ele dava uma corridinha pequena para chegarem até o estúdio logo, um contraste do Kim irritadiço e mal-humorado que Jeongin estava vendo nos últimos meses.

E ele ainda não conseguia ignorar o ‘Innie’. Que merda tinha acontecido para ele voltar com aquilo logo agora? Especialmente por ter sido depois de uma briga feia dos dois e ele ter descoberto do beijo com Soobin.

Jeongin estava... confuso. O poder de Han Jisung sobre o outro era tão grande assim?

Francamente, ele não se lembrava de Seungmin animado e bobo daquele jeito nem quando eles namoravam.

Quando eles chegaram no corredor do estúdio de Jisung, uma melodia calma ecoava pelo corredor, sendo seguida da voz tranquila do Han – que provavelmente estava ocupando o tempo enquanto os dois não apareciam, ainda que eles estivessem adiantados naquele dia.

 

I spent my whole life trying to be perfect
Role model to my brother, pride and joy of my mother
I felt entitled to success ‘cause I deserved it
Worked harder than anyone else, that’s what I kept telling myself

 

[Eu passei a minha vida inteira tentando ser perfeito
Um exemplo para meu irmão, orgulho e alegria para minha mãe
Eu me senti com direito de fazer sucesso porque eu mereci
Me dediquei mais que todo mundo, é isso que eu ficava dizendo para mim]

 

Seungmin parou ao reconhecer a música, pegando Jeongin pela mão para impedi-lo de bater na porta e se virando para ele com um sorriso animado no rosto. O olhando com carinho enquanto Jeongin se virava para ele confuso.

- Deixa... ele terminar essa música, por favor? – pediu baixinho, a sua mão ainda na dele. – Essa... Eu gosto dessa música dele...

Jeongin piscou.

- Ahn... tudo bem, eu acho. – falou acenando com o cabeça. – Não é como se a gente estivesse atrasado ou algo assim.

Seungmin acenou com a cabeça rapidamente, puxando Jeongin para um banquinho esquecido no corredor e deixando que o Yang se sentasse ali, ficando no chão e batucando a própria coxa no ritmo da música, sua voz suave cantando ao mesmo tempo que Han Jisung.

 

Did you really think you were special?
Like, damn, I really don’t wanna die trying
I’ve had enough, I’m good enough
Just wanted you all to relate to me

 

[Você realmente achou que era especial?
Tipo, cacete, eu realmente não quero morrer tentando
Eu tive o suficiente, eu sou bom o bastante
Só queria que vocês se identificassem comigo]

 

Jeongin sabia que as letras das músicas de Jisung diziam bem mais sobre ele do que as palavras do próprio. Hyunjin tinha deixado aquilo bem claro e ele mesmo só tinha entendido melhor a história dele e de Hyunjin depois de analisar todas as suas anotações e ouvir as músicas mencionadas ou ouvidas, sejam nas entrevistas ou nas conversas com Taeyeon, que estava sempre escutando algo quando ele chegava.

Mas, naquele momento, ele só conseguia pensar em Seungmin.

Em Seungmin e como ele parecia mais feliz ao lado de Jisung, em como ele realmente parecia admirar o mais velho e não se imaginava o magoando. Pensou no sorriso dele quando comentou sobre o namoro de Soobin ou a frase sussurrada de que estava feliz que Jeongin não gostava dele.

Pensou no sorriso surpreso dele quando Lia lhe abraçou também e como ele fechou os olhos ao corresponder, na corridinha leve que ele tinha dado até chegarem ali e nos olhos fechados dele enquanto cantarolava o resto da música junto da voz calma de Jisung.

E então notou como Jisung cantava aquela música com a voz de quem já sabia tudo o que iria acontecer na história e parecia uma confissão quase entediada, e como Seungmin cantava parecendo inseguro. Balançando os pés com nervosismo e se entregando, ainda sem perceber, na letra da canção.

Jeongin não iria deixar de notar as emoções de Seungmin nem se tentasse, apenas o conhecia bem demais para aquilo. Para ignorar qualquer coisa sobre ele.

- I don’t know if I can do this, I’m terrified. – Seungmin murmurou baixinho em um sussurro, mal percebendo quando Jeongin começou, timidamente, a segurar a mão dele. – Maybe I talking to myself loosen up a little bit, it’s never been that serious. Try to have some fun with it.

[Eu não sei se consigo fazer isso, estou com medo. Talvez falar comigo mesmo me ajude a relaxar um pouco, nunca foi tão sério assim. Tentar se divertir um pouco com isso.]

- Don’t be such a perfectionist. – Han Jisung cantou a última nota lá de dentro, e Jeongin se virou para Seungmin que continuava com a cabeça abaixa, a mão dele ainda segurando firme na sua.

- Seungmin...

- Me desculpa por tudo, Innie. – Seungmin falou baixinho, sem olhar para ele. – Eu... Preciso fazer uma coisa agora, ok? – Explicou ao se levantar, limpando as lágrimas teimosas dos olhos enquanto se ajeitava como podia. – Eu volto depois, pode começar sem mim.

- Mas-

- Até depois, Jeongin. – O Kim lhe interrompeu com um sorriso de canto, se virando para correr na direção oposta a que eles vieram.

Jeongin não soube o que fazer, então apenas deu de ombros e bateu na porta do estúdio antes de entrar.

 

Jisung nem se virou para ele, os dedos ainda nas teclas do pequeno teclado e um sorriso pequeno.

- Oi, Jeongin. Vocês estavam ouvindo a música, não é? – ele não esperou Jeongin responder. – Seungmin foi finalmente cuidar das próprias merdas? Pode arrumar tudo, o que eu vou começar a te contar é uma história que ele já conhece bem.

Jeongin acenou com a cabeça, desistindo de entender qualquer coisa relacionada aquele pessoal antes que ficasse doido. Mas, mesmo assim, enquanto arrumava seu gravador e abria cuidadosamente seu caderninho de notas, não resistiu perguntar ao mais velho.

- Hm, senhor Han? – o chamou coçando a nuca enquanto se sentava na cadeira giratória. – Você... Por acaso conversou com o Seungmin ontem?

Jisung o olhou arqueando as sobrancelhas.

- Bem, sim. – respondeu confuso. – Você viu, você estava conosco.

- Ah, tudo bem.

Jisung lambeu os lábios antes de sair do banquinho do teclado e se sentando na cadeira giratória de frente para Jeongin.

- Você está falando isso por que ele está diferente hoje?

Jeongin acenou com a cabeça timidamente, sem coragem para encarar o Han.

Jisung riu.

- Nah, isso não tem nada a ver comigo. Algumas pessoas só demoram para cair na real, às vezes. – falou achando graça da expressão desconcertada do Yang. – Ainda que eu ache que ele só tenha entendido algumas coisas depois de ter voltado pra cá. E a gente sabe que ele voltou por você, então...

Jeongin piscou.

Oi?

- Quê? – perguntou confuso e Jisung riu.

- Oh, claro, você não sabe disso. – ele estalou a língua, ajeitando a manga da camiseta preta que ele vestia. – Enfim, não estou em posição de te contar alguma coisa sobre isso. Se o Seungmin quiser que você saiba, ele mesmo vai te falar, já se foi a minha época de ser pombo correio.

Jeongin suspirou e o Han se ajeitou na cadeira.

- Então, já está tudo pronto? – perguntou. – Posso começar?

- C-claro.

Han Jisung tomou um gole da garrafinha de água perto de sua mesa e Jeongin ligou o gravador, então ele fechou os olhos e começou a batucar os dedos no braço da cadeira. Depois de um tempo em silêncio, ele começou a segunda parte de sua história.

 

HAN JISUNG – DIA 2

 

Como disse, a vida com Byungho não foi ruim.

Não estou dizendo que era boa, mas para os meus padrões da época eu não acho que sofri o que todos pensam. Foi uma dor suportável, e a minha vida sempre foi cheia desse tipo de dor, então era algo normal, acho.

Eu sabia que ele tinha dinheiro o suficiente para me bancar em Los Angeles ainda que não quisesse mais me ver, por isso deixei todas as minhas economias com Solar – não era muito para os padrões da época, na verdade, provavelmente não passava de uns bons 5 mil dólares, mas deixei em agradecimento para ela por ter sido a mulher a me permitir tudo aquilo.

Eu meio que sabia que nunca mais iria ver ela na vida, e acho que ela sentia o mesmo, pois não recusou o dinheiro e me abraçou apertado, desejando boa sorte.

Byungho comprou duas passagens na primeira classe e me comeu no banheiro depois de nos embebedarmos em champanhe. Ele estava animado pois aquela promoção era boa o bastante para ele e, sendo bem sincero, até hoje não sei direito o que ele fazia, se era ilegal ou não, só sabia que ele ganhava bastante dinheiro. O suficiente.

Nós nos mudamos para um apartamento não muito grande em uma zona confortável da Califórnia, ficava perto da faculdade que eu queria entrar e ele passava o dia inteiro fora trabalhando em seus negócios que eu não entendia. Eu costumava passar os dias estudando, pesquisando melhor sobre o que cairia na prova de admissão e se minhas origens seriam um problema.

Esses primeiros meses foram legais, na verdade. Onde um futuro naquela universidade era possível para mim e ele me mimava com instrumentos e equipamentos para a criação de músicas. Eu sempre tive insônia, sabe? Algo que nunca tentei curar, então passava as madrugadas trabalhando naquilo.

Eu terminei meu primeiro EP aos 18 anos, quase um ano e meio antes de conhecer Tiffany Hwang ou Christopher Bang e, naquela época, aquele CD era só uma confusão de pensamentos que não me animavam nenhum pouco, mais um desabafo musical e uma das únicas coisas que Byungho não se interessava em mim. Ele nunca quis ouvir meus EPs e acho que, no fundo, ele também não achava que eu conseguiria.

Mas, você sabe, felicidade sempre tem um fim enquanto a tristeza nos abraça como uma mãe preocupada depois de perder o filho no parquinho e descobrir que ele estava escondido atrás de um arbusto o tempo todo. E tudo começou a dar errado quando eu não consegui passar na universidade e Byungho foi demitido.

Ele tinha dinheiro o suficiente para nos sustentar até procurar outro emprego, claro. Mas ele também era aquele tipo de pessoa que se desespera quando uma coisa da errado, e então torrou todo aquele dinheiro em bebida. Eu tinha uma poupança guardada dentro de um dos meus discos, mas ele encontrou e torrou também.

Foi quando ele começou a me bater.

Ser reprovado na faculdade pelo meu potencial não era algo que estava nos meus planos, eu tinha noção da minha inteligência e sabia do que era capaz. Eu sabia que era capaz de ser aprovado. Sabia que merecia o sucesso e sei até hoje que se eu estou aqui foi porque eu mereci. Eu não nasci em um berço de ouro, sabe? E ser reprovado naquela universidade por não ter uma garantia boa em propriedades ou contatos já era algo que eu esperava.

Talvez eu achasse que a vida fosse um daqueles contos de fada, sabe? Onde algum diretor ou professor vê meu talento e me aprova mesmo assim. Mas claro que isso não aconteceu.

Começou com um pequeno tapa na cara por eu ter demorado depois de um dia procurando emprego, depois ele começou a me puxar pelo cabelo por demorar demais no banho. Então ele me batia porque o almoço demorava para sair, ou porque o arroz queimava ou estava seco demais. Eu ganhava um murro por não ter bife para o jantar, e então ele só sorria porque descobriu que me ver todo dolorido deixava o sexo mais agradável.

Ele me fodia sem cuidado nenhum, era dolorido e eu não gostava. Mas eu continuava porque não tinha para onde ir. Porque querendo ou não, eu dependia daquele homem.

Eu não acho que me prostituir estivesse nos planos dele. Eu acho que ele teve a ideia quando um dos amigos dele me viu chegar depois do trabalho, era um trabalho meio merda, de assistente de pedreiro do outro lado da cidade que me custava umas boas 2 horas de ida e volta em um ônibus cheio de gente tão cansada quanto eu.

Aquele cara elogiou a minha bunda para ele e ele ficou irritado.

Então ele comentou como eu parecia ter a boquinha rosa perfeita para um bom boquete e ele ameaçou dar um soco no imbecil.

Mas ele terminou falando que lhe pagaria 100 dólares por uma foda comigo, e de repente Byungho mudou de ideia.

O amigo dele me comeu naquela noite, claro. Beijou meu corpo todo e deixou tantas marcas que eu apanhei no dia seguinte por ser uma puta desgraçada, era isso que ele dizia. Eu achava engraçado porque só estava naquela situação por causa dele, ele quem tinha vendido meu corpo e eu era o culpado por ter sido marcado.

Depois disso ele começou a comprar roupas melhores para mim e me ajudar a tomar conta da minha aparência. Me fez tingir o cabelo, cuidar mais da minha alimentação e como esconder os machucados com maquiagem. E ele era um bom cafetão, na verdade, sabia com quem falar e com quem negociar.

Me fez deitar com homens e mulheres. Pessoas gentis que queriam só uma noite de carinhosa e chorar nos meus ombros, homens bravos que só queriam me foder e mulheres na esperança de perderem a virgindade. Me obrigou a me despir para homens com o dobro da idade dele que não sabiam quando parar e me bateu por duas horas inteiras quando eu não conseguia me levantar no dia seguinte de tanta dor.

Aquilo era amor? Eu não sabia. Nunca me importei com essa bobagem.

Fiquei naquilo por quase 9 meses, mas pareciam décadas. Meu corpo vivia cansado e dolorido, meu couro cabeludo não aguentava mais tanta tintura de cabelo e eu não tinha mais forças para limpar a maquiagem todas as noites. Comecei a sair mostrando os roxos pelo meu corpo, comecei a pensar em vender meus instrumentos pra me livrar daquela porcaria. Era estranho para mim, ter crescido em um prostíbulo ao redor de pessoas lutando para que eu evitasse o máximo possível aquele mundo, mas quando eu vou embora é exatamente para ele que eu vou.

Eu não aguentava mais. Comecei a pensar que talvez me matar fosse a melhor solução. Que talvez eu só estivesse negando o inevitável, porque minha mãe morreu no parto, mas ela também nunca me quis e eu mal sabia o nome dela. Porque até mesmo as pessoas que cuidaram de mim já tinham cogitado me abandonar em uma lata de lixo.

Eu tinha tudo planejado, seduzi Byungho em um dia que o humor dele estava bom e o convenci a me levar para uma boate que um cliente vivia comentando ter os melhores prostitutos. Era uma boate LGBT bem escondida nos arredores de Hollywood onde muitas pessoas famosas viviam, meu plano era apaga-lo com bebidas caras e então matar nós dois.

Se eu fosse, ele iria comigo.

E claro que tudo deu errado.

Não sei se fico feliz ou não que deu errado.

De qualquer forma, nós entramos na boate e ele parecia maravilhado com aquilo tudo, era uma miragem do que a vida dele um dia já foi. Mulheres e homens bonitos rebolando no colo dele ao som de uma música famosa enquanto eu saia procurar algum vendedor de drogas. Eu estava no bar tentando negociar um LSD por um preço justo quando vi aquele casal me encarando.

Era uma mulher de cabelos bem negros com um chapéu que cobria metade de seu rosto e se deliciava com um champanhe, o homem tinha os cabelos tão loiros quanto os meus e eu não podia ver seu rosto devido a máscara preta que ele usava. Ambos pareciam ricos demais, até mesmo para um lugar já rico demais como aquele.

Mas não pensei muito nisso, só paguei minha droga e sai.

E eu acho que demorei demais, porque quando voltei Byungho já estava alterado o suficiente para me arrastar a força até os fundos da boate, me jogando com força na parede e tentando desabotoar a própria calça aos tropeços.

- Hoje eu não quero. – Comentei baixinho. – Vamos voltar lá pra dentro e beber mais um pouco... Eu posso até me animar e fazer um show especial para você, huh?

- Você não sabe o que quer, Sungie. – Foi o que ele falou rindo, o bafo da cerveja no meu rosto e descendo beijos por todo o meu pescoço.

Eu já estava acostumado com aquilo, o jeito que ele fazia. Começavam com beijos pelo pescoço, então mordidas, então ele começava a me foder enquanto me enforcava.

Então eu terminava chorando.

Eu já sabia como era, nunca tentei lutar contra isso antes. Mas naquele dia eu lutei, naquele dia eu... pensei que talvez ser espancado até a morte por ele não fosse tão ruim assim. Diabos, eu só estava lá porque queria morrer mesmo, não é?!

Então eu resisti e cuspi no rosto dele, e ele começou a me bater e a tirar o pau da calça, querendo enfiar em mim a força. Eu comecei a chorar mas continuei me desvencilhando, querendo chutar aquele pinto murcho que eu já tinha começado a abominar. Mas então ele bateu a minha cabeça na parede e eu só senti aquele líquido escorrendo pela minha nuca.

Eu dei risada enquanto caía no chão e senti ele em cima de mim pelo o que devia ser a milésima vez.

Não sei o que aconteceu depois. Só lembro de ouvir um grito, um homem loiro tirar ele de cima de mim e mãos delicadas me pegarem e me levar até um carro desconhecido. Ela me deixou no banco do passageiro e me cobriu com uma jaqueta de pele que provavelmente custava a minha vida e foi arruinada pelo meu sangue imbecil, então só vi um par de mãos cheias de sangue dirigir enquanto a mulher sussurrava que eu podia dormir.

E eu dormi.

Quando acordei, estava em um quarto branco demais e grande demais, em uma cama enorme com um colchão tão confortável que eu me sentia deitado em uma nuvem. Meu braço estava engessado e metade do meu rosto coberto por um curativo muito bem feito.

O quarto cheirava a chiclete, e uma mulher estava sentada na poltrona olhando para mim.

- Oi Jisung. – Ela falou deixando o livro que lia no colo, indo até mim com um sorriso que eu nunca tinha visto na vida. – Você nos preocupou, sabia? Dormiu por quase seis dias inteiros! Já estávamos pensando em te transferir para um hospital de verdade!

Eu tinha muitas perguntas naquele momento, garoto.

Eu queria saber quem ela era, que lugar era aquele e como diabos ela sabia o meu nome. Queria saber o que tinha acontecido comigo e, diabos, queria até mesmo saber como Byungho estava. Pensei em Solar e no abraço apertado dela, nas minhas economias que tinham valido para nada e nas músicas abandonadas no nosso apartamento.

Queria dizer para ela que eu estava com dor na perna e devia ter morrido naquela noite, não sido salvo.

Queria dizer que eu não aguentava mais tudo aquilo.

Mas eu não consegui, porque o sorriso dela era esquisito e eu sabia porque eu nunca tinha visto ele na vida. Era um sorriso de preocupação, um sorriso realmente feliz porque eu tinha acordado e eu sabia que não era pela possibilidade de eu talvez morrer na casa dela. Ela tinha um olhar de mãe que eu não tinha visto em Solar, um sorriso sincero que me ofereceu uma bandeja com pão e um pouco de água.

E então eu só chorei baixinho.

- Obrigado.

Foi isso que eu falei.

E Tiffany Hwang sorriu.

- Você está seguro agora, Jisung. – Ela respondeu trocando a toalha molhada que estava na minha testa, afofando os travesseiros com cuidado e se sentando ao meu lado, oferecendo o pãozinho cuidadosamente cortado em minha direção. – Nós vamos cuidar de você.

Eu acreditei nela.

 

. . .

 

Jeongin pausou o gravador quando Seungmin chegou, pegando o final da frase de Jisung e parecendo um pouco mais decidido do Kim que tinha se despedido dele no começo daquela tarde.

Jisung acenou com a cabeça para ele, que obedientemente se sentou ao lado de Jeongin e cruzou as pernas em uma pose indiana, a câmera nas mãos tremia um pouco enquanto ele encarava Jisung.

- Oi, tio. – Falou com a voz calma. – Me desculpe a demora, estava conversando com a Taeyeon e minhas irmãs.

- Resolveu suas merdas mesmo, então? – Jisung perguntou com o rosto indecifrável, Seungmin engoliu em seco e ele sorriu. – Que bom, garoto. Fico feliz que finalmente tenha tomado juízo. Se soubesse que pra isso você precisava ter tomado um murro, teria deixado a Ryujin ter te batido antes quando vocês dois eram pivetes.

Jeongin olhou para o Han assustado, então ele também sabia do vídeo?!

Puta merda, ele realmente devia parar de questionar o alcance da internet.

Seungmin apenas revirou os olhos, mas não falou enquanto Jisung sorria debochado na direção do Kim.

- Você chegou numa hora boa, Seungminnie. Vou te contar como conheci a Tiff e sua avó.

Seungmin deu de ombros.

- Legal, tio.

Ele apontou para o gravador na mão de Jeongin.

- Liga isso aí de novo. – Mandou, se ajeitando na cadeira e coçando a garganta.

Jeongin fez o que ele pediu e Han Jisung recomeçou.

 

HAN JISUNG – DIA 2 [TAPE 2]

 

Eu achava o destino uma piada, mas não dá pra negar que um pouco de sorte eu tive quando fui salvo por Tiffany Hwang e Christopher Bang.

Ela não me contou de imediato tudo o que tinha acontecido, acho que porque eu estava com dor e chocado demais para falar mais que cinco palavras sem chorar. Mas parecia viver no meu quarto e sempre era a responsável por trocar meus curativos e me alimentar. Ela não falava muita coisa, só ficava lendo os próprios livros e então se perguntando se eu queria alguma coisa.

Eu falava que queria minhas músicas de novo, e ela só sorria e dizia que estava trabalhando nisso.

Nunca entendi essa merda de resposta até perceber que já conseguia me mexer sem cair no choro, e então sentei na cama sem a ajuda de ninguém e dei de cara com Kim Taeyeon no segundo em que consegui abrir a porta.

- Opa! – ela falou risonha, uma bandeja cheia de comida nas mãos. – Você consegue se levantar! Que ótimo!

Eu apenas acenei com a cabeça.

- Vem, acho que a Tiff vai gostar de ter você na mesa com a gente.

Taeyeon só deixou a bandeja no chão, me pegando pela cintura e me ajudando a ir em direção à sala de jantar do apartamento. Na mesa, Tiffany estava tomando café e de olho no jornal enquanto uma menina teimava com um homem baixinho que estava com saudade de um tal de Jinnie.

Arqueei a sobrancelha para o homem loiro encostado na bancada, comendo um sanduíche.

- Taeyeon! Você tirou ele do quarto! – Christopher falou arregalando os olhos. – Você é doida, mulher! O médico falou que ele precisa de repouso.

Taeyeon tinha revirado os olhos.

- Aquele médico é um imbecil que só quer ele aqui para vocês gastarem mais dinheiro. O garoto está bem, falou comigo e conseguiu vir até aqui sem a minha ajuda, praticamente. – Ela bufou, me ajudando a se sentar em uma cadeira ao lado do rapaz baixo, que sorriu para mim. – Deixe de drama, o Jisung é quem está machucado e não está ligando pra isso.

Christopher não falou mais nada, acho que ele já sabia que era impossível argumentar com a mulher.

A menina olhou para mim com o rosto esquisito, apontando para minha cabeça: - Por que esse tio tá fantasiado de múmia? O Halloween foi mês passado.

Tiffany engasgou com o café que tomava, praticamente o cuspindo no jornal enquanto Taeyeon caia na risada, Christopher olhava furioso para a menina e Changbin também segurava o riso. Eu olhei para a garota com o rosto sério enquanto tentava processar a situação.

- Eu gosto mais de ser um vampiro, sabe como é, mas me deram a fantasia de múmia e eu acabei levando a parte do dormir muito um pouquinho a sério demais. – Pisquei para ela. – Prazer em te conhecer, pirralha.

O resto do café da manhã foi a menina insistindo para que Changbin trocasse de lugar com ela, querendo se sentar ao meu lado e perguntando o que eu tinha feito para que sua mãe me deixasse dormir tanto, já que ela era obrigada a acordar às seis da manhã todos os dias.

Passei o café da manhã e o almoço inteiro com a menina me explicando porque precisava comer muito e entrar no mesmo estúdio de dança que o Jinnie, porque o Jinnie sabia de tudo e era perfeito e ia ensinar tudo para ela. O Jinnie que tinha ensinado ela a dançar, sabia? E ela queria ser tão boa quanto ele. Porque se ela fosse boa o suficiente, então ela se casaria com o Jinnie. Porque o Jinnie tinha o cabelo bonito e o sorriso gentil. E o Jinnie também ia comprar um unicórnio só para ela, obviamente.

Hehe.

Ela era... Uma garotinha falante, a Hwang Byulyi.

E eu meio que... gostei de ouvir ela não calar a boca sobre o Jinnie.

Crianças são sinceras, sabe? E elas nunca gostaram muito de mim, mas a admiração de Byulyi por aquele cara era sincera que chegava a dar inveja, tudo o que ela fazia era para atrair a atenção dele. Mas não parecia amor do jeito que falam, sabe? Parecia só uma criança querendo brincar com o irmão mais velho.

Era uma situação engraçada, considerando que quando eu finalmente conheci o Jinnie em questão pessoalmente, uma das primeiras coisas que ele me falou foi como ela era uma pirralha chata – não que ele estivesse errado, mas... É. Foi assim mesmo.

Byulyi foi para a escola depois do almoço na companhia de Changbin, que se despediu com um selinho carinhoso em Christopher que, no segundo que a porta da sala se fechou, olhou para mim com o rosto sério, mas carinhoso.

- Você realmente se sente melhor, Jisung? A menina fala demais.

Eu ri.

- Me sinto, sim. Foi bom andar e saber que eu ainda tenho o controle das minhas pernas. – Respondi agradecido pela ajuda que ele estava me dando para me levantar da cadeira da mesa. – E falatório nunca me incomodou, na verdade.

- Isso é ótimo, para ser sincero. – Christopher falou estalando a língua. – Porque a gente meio que precisa conversar. Sobre você e sobre o que aconteceu com você.

Eu apenas acenei com a cabeça, não estava em posição de questionar ou negar nada para aquelas pessoas. Não depois de tudo o que tinha acontecido.

Christopher me levou até um escritório nos cantos da casa não muito longe da cozinha, onde Taeyeon e Tiffany já estavam. As duas sentadas na cadeira estofada e dando mais uma olhada no conteúdo em cima da mesa, que eu reconheci serem meus documentos, livros, cadernos com letras de músicas e meus instrumentos de produção.

Arregalei os olhos, mas algo no sorriso de Taeyeon me fez parar. De novo.

Christopher trocou de lugar com Tiffany na frente da mesa, que se sentou ao meu lado e pegou minha mão carinhosamente, a acariciando de leve.

Eu reconheci na hora as mesmas mãos macias que me tiraram do chão e me levaram até o carro.

Mas não falei nada. Eu sabia que não precisava.

- Eu acho que você quer saber o que aconteceu, não é? – Christopher começou com a voz séria. – Basicamente, você estava sofrendo uma tentativa de estupro e agressão física. Tiffany tinha achado estranho o seu olhar enquanto comprava drogas e me mandou ficar de olho em você, então quando você sumiu com aquele cara, a gente te seguiu.

- Quando te encontramos, você já estava desacordado, sinto muito. – Tiffany falou com a voz baixa, parecendo decepcionada consigo mesma. Eu apertei a mão dela para dizer que estava tudo bem e ela sorriu para mim.

Eu nunca iria me acostumar com aquele sorriso.

Até hoje... Eu só vi esse sorriso no rosto de uma pessoa além dela. E ainda dói.

- Eu meio que dei uma surra nele, o denunciei e agora ele está na cadeia. Você só tem 18 anos, ainda é menor de idade pelas leis desse país, como deve saber. – Eu acenei com a cabeça lentamente, ele apontou para as coisas em cima da mesa. – Nós obviamente não queremos qualquer pessoa na nossa casa, então fizemos nossas pesquisas enquanto você estava desacordado, sinto muito.

Eu não falei nada e ele continuou.

- Encontramos os seus documentos no apartamento que ele deu para os policiais, fomos lá e encontramos isso aqui também. – Ele falou apontando para meus cadernos e instrumentos. – A Tiffany insistiu para que pegássemos porque você vivia falando de suas músicas, então... É, está tudo aí. Pelo menos o que encontramos.

Eu acenei com a cabeça de novo.

Não sabia o que dizer.

- O nosso plano inicial era cuidar de você até que estivesse bem. – Taeyeon disse finalmente. – Mas eu sou uma pessoa curiosa e agora sabemos mais da sua vida do que você gostaria, e descobrimos o bastante para saber que devemos ao menos tentar confiar em você e te dar uma chance.

Eu pisquei confuso para ela. Uma chance...

- Chance do quê? – eu perguntei nervoso e ela sorriu de canto.

- Chance da sua música. Você tem talento, suas letras são boas e você tem uma voz boa para se cantar ou fazer rap. Nós... nos identificamos.

Christopher acenou com a cabeça.

- A produção não está muito boa, talvez porque seu material seja um pouco amador e todo fodido, mas posso te ensinar tudo, se quiser. Nós... Nós realmente gostamos do que ouvimos, Jisung. E eu ainda não ouvi a sua voz, então eu estou realmente torcendo para que esse trabalho todo aqui seja seu e não do cara que eu espanquei até perder três dentes.

Eu ri.

E apontei para o violão no canto do escritório.

- Posso? – perguntei e os três acenaram com a cabeça, curiosos.

Foi a primeira vez que cantei Changed My Mind para alguém.

No final da música, Tiffany já tinha todo um plano pronto na cabeça dela.

 

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Ah... Eu acho que concordaria com qualquer coisa que eles me falassem. Eu sempre pensei que devia todos os favores que me davam, ainda que eu não os tivesse pedido. Não sei...

Além do mais, eu só tinha me mudado para Los Angeles por isso. Seria idiota não negar.

Eu não sou idiota.

 

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O ano anterior ao meu debut foi cheio. Eu ainda tive que esperar mais uns meses até melhorar fisicamente, por isso Christopher e Changbin sempre iam até o quarto onde eu estava, me dando lições e ouvindo todas as minhas demos, procurando no que devíamos trabalhar ou não. Aquela parte era um pouco chata, sendo bem honesto. Eu... nunca lidei bem com críticas, e ter a sua música favorita chamada de uma confusão barulhenta me deixava um pouco puto. Me deixa até hoje.

Eu descobri ali que ser bom não significa que seja perfeito.

Eles sempre me davam roupas novas e eu sempre que respondia que ia pagar de volta, e então eles davam risada porque Christopher dizia que eu só iria pagar quando debutasse.

Eu queria mesmo debutar. Queria mesmo que ele estivesse certo.

Mas era fato que Christopher Bang nunca errava.

Na parte da noite, eu costumava conversar com Tiffany e Taeyeon sobre o que elas tinham bolado. Era óbvio que eu não poderia debutar na gravadora de Christopher do nada, a mídia iria vasculhar e iria procurar tudo sobre o meu passado. Elas não podiam deixar passar aquilo, porque descobrir sobre mim significaria descobrir sobre eles também. E aquilo era algo que não podia acontecer nem em um milhão de anos.

A ideia dela consistia em eu me mudar para um pequeno apartamento um pouco afastado da gravadora de Christopher e do apartamento deles, eu não morava lá de verdade, mas estava no meu nome e tinha coisas minhas lá. Taeyeon conseguiu que me contratassem em uma lanchonete onde diversos famosos iam e Tiffany mexeu os pauzinhos para que eu conseguisse um emprego no cinema onde ela vivia levando Byulyi duas semanas antes do que seria nosso primeiro encontro.

Os paparazzis estavam lá quando ela chegou no dia marcado, onde eu a atendi e então sorri de canto e entreguei meu caderninho de músicas junto do ingresso dela.

Dois dias depois, meu nome já estava em todos os lugares com todas as informações que as fontes das duas espalharam sobre mim. A história da tia, de caçar rãs, de ser estudioso e amar cinema. De que eu nunca desistia e tinha muitos empregos, que Tiffany tinha se conquistado pelo meu jeito charmoso e letras bonitas. Do meu talento.

Seis meses depois eu debutei e foi um sucesso.

Foi difícil o processo de escolher aquelas cinco músicas, eu queria que B Me estivesse no disco e Christopher não achava uma boa ideia, mas eu bati o pé e gritei e ele gritou de volta e então Taeyeon deu o ultimato dizendo que o álbum era meu e eu quem decidia aquelas merdas. Foi uma época legal, a do processo de produção... Acho que eu não acharia isso se Kim Taeyeon não estivesse do meu lado naquelas discussões bobas.

A Taeyeon ela sempre foi... uma mulher poderosa, por assim dizer.

Apesar de eu cantar e ter escrito aquele EP inteiro, eu apenas produzi totalmente B Me. As outras foram por Christopher e Taeyeon, que foi creditada no nome de Changbin. Geralmente, tudo o que Taeyeon fazia era creditado no nome dele. Sejam músicas, roteiros ou até mesmo os próprios trabalhos dela.

Ela não parecia se importar com isso como Tiffany, que ficava irritada sempre que se via obrigada a deixar que Christopher levasse o crédito para que seus trabalhos fossem lançados. Taeyeon só queria que seus trabalhos vissem a luz do dia, Tiffany queria que eles brilhassem junto com ela.

Mas apesar de tudo, a coisa toda parecia funcionar para eles. E então funcionou para mim também.

Você já deve saber, mas meu EP começa com B Me e então pula para I Need Control que segue com Any e termina com Lyin’ To Myself. Eu decidi encerrar tudo com Perfectionist.

Eu queria que B Me estivesse na faixa porque sempre foi a minha música. Não por causa de um relacionamento que deu errado, eu acho que... Estava me despedindo do meu antigo eu. Aquele Han Jisung que ainda tinha esperanças de conseguir tudo apenas com trabalho duro e contato nenhum. Para provar que era melhor do que aqueles idiotas.

Hah... Bobagem. Ninguém é melhor do que ninguém, especialmente em Hollywood.

- Por que você não lançou Changed My Mind? – Byulyi perguntou certa noite, ela gostava quando eu aparecia para cantar para ela, e aquela era sua favorita. Tem algo interessante em uma criança de 11 anos ouvindo palavrão, sabe?

Eu disse para ela que não queria ser hipócrita.

Ela deu risada e foi dormir, resmungando que nem sabia o que aquela palavra queria dizer.

Na festa de lançamento do debut, eu estava rindo com um empresário rico quando Taeyeon me trancou em uma sala da gravadora com Christopher, Changbin e Tiffany e me explicou a real.

- Você já sabe que eu sou casada com a Tiffany e o tipo de relacionamento que os dois tem. – Disse apontando para os dois. – E você sabe que nós acolhemos você e confiamos em você. Mas eu juro por tudo o que é mais sagrado, Jisung, se você estragar a nossa família ou nos prejudicar por um capricho seu em querer ser verdadeiro e honesto. Eu destruo tudo o que você construiu em um milhões de pedacinhos. Ser sincero não trás coisas boas em Hollywood, garoto. Não vai te ajudar.

Era uma ameaça e ela estava com um rosto sério que botava medo, e eu podia muito bem me ofender com isso, mas eu entendi que ela também sabia o que era ter tudo a perder. Eu só não queria perder minha carreira recém-adquirida, mas aquelas pessoas tinham bem mais do que isso.

Elas tinham uma família.

Aquilo era algo que eu achava que ainda não tinha, na época.

 

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Oh, sim... Hwang Hyunjin, não é?

Essa peste, insistiu em ser protagonista da minha própria história também.

Odeio esse cara, dá pra acreditar?!

 

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Hyunjin provavelmente já deve ter te falado como me odiou no instante em que eu fiquei roubando o seu precioso tempo com o seu precioso Seo Changbin. Era um paspalho, na verdade. Vivia falando mal de mim para Byulyi como se não soubesse que aquela matraca não fosse me contar, como se não soubesse que ela só me colocava na conversa e vinha fofocar comigo depois porque achava engraçada minha careta de desgosto.

- É engraçado como ele fala de você, tio. – Ela sempre falava rindo sobre como Hyunjin a levava até a banca para comprar uma revista com minha cara, uma caixa de fósforos e um marcador permanente. Deus sabe o motivo. – Ele fala de você como se gostasse de você. Vocês vão casar um dia, não vão?

Heh... A Byulyi ela... Ela era uma criança interessante.

Claro que eu já conhecia Hwang Hyunjin, não conhecê-lo nunca foi uma opção em Los Angeles. Não em 1981 quando ele já tinha o seu primeiro Emmy. Não quando o pai dele podia mandar no que quisesse. Mas ainda assim eu não imaginava no garoto bonito da televisão ou dos comerciais e revistas. Eu pensava no Hyunjin que Byulyi me contava, que eu só fui conhecer quando Taeyeon finalmente terminou o roteiro de seu primeiro filme. Changbin já tinha trabalhado com Hyunjin anos antes de todos eles me conhecerem, e por isso ele estava crente que o Hwang devia aceitar. Os outros papéis estavam meio que destinados a conhecidos que lambiam o chão para Tiffany passar, por isso a reunião foi basicamente com ele.

Ele parecia um cara dramático.

Eu lembro da primeira vez que o vi, na verdade. Como ele chegou olhando direto pra cara de Changbin e depois o olhar dele pousou em mim e ele tropeçou com tudo nos próprios pés enquanto se sentava ao meu lado. De como eu mesmo fiquei um pouco confuso com o olhar tímido e decidido dele, quando ele resmungou em uma voz baixa que topava gravar o filme.

Pensei em como aquele cara tinha uma cara de pau enorme de fazer a minha cova para uma menininha de 11 anos e então ficava todo tímido cara-a-cara.

Interpretei tudo errado e fiquei puto quando achei que ele era apaixonado por Tiffany Hwang.

Eu queria dizer que nos aproximamos nas gravações de Awaken, mas a existência dele me irritava. Eu não gostava da forma que ele olhava para Christopher ou evitava Byulyi, que só queria a atenção dele. Não gostava como ele sempre queria conversar comigo quando eu não queria papo com ele.

Não gostava como eu sempre acabava falando com ele mesmo assim porque Hwang Hyunjin sempre conseguia o que queria.

No fim, acho que acabei de mentir para vocês dois, nós nos aproximamos sim em Awaken. A gente costumava voltar pra casa junto e levar Byulyi para tomar sorvete, então ensaiávamos cenas do roteiro e Hyunjin sempre fazia alguma gracinha que me deixava irritado. E eu me deixava levar porque ele tinha um rostinho bonito e a cara perfeita de quem ia me foder de um jeito que eu não queria.

Tentei ignorar o que sentia por ele. Tentei mesmo.

Pensei que fosse tesão, então comecei a sair com outros caras. Então pensei que fosse amor e tentei me imaginar beijando ele, mas só pensava na cara dele olhando para Tiffany e ficava puto, mudando de ideia. Aí eu pensei que fosse só porque Byulyi vivia me provocando quando o nome dele entrava na conversa e mandei aquela sem vergonha ir pastar.

No fim, ele não gostava de Tiffany Hwang.

Aparentemente, ele só aparecia no apartamento porque queria me ver.

E, aparentemente, ele sempre foi um viadinho e eu nunca consegui reconhecer aquilo também, ocupado demais tentando proteger a honra de Christopher porque eu devia minha alma para aquele cara e alguém lhe odiando sem motivo me deixava meio puto.

Eu fico puto por muita coisa.

Foi no último dia das gravações de Awaken que eu entendi como nunca soube ler situação nenhuma, quando Taeyeon insistiu naquela festa idiota e eu ainda não tinha coragem de ficar sozinho no “meu apartamento” porque já tinha me acostumado a dormir com os gritos de Byulyi no quarto ao lado do meu.

Porque eu jurava que Hyunjin não ia aparecer naquela merda e eu nunca tive muita escolha.

A festa foi normal, na verdade. Hyunjin tinha se sentado no sofá e enchido a cara por ali mesmo, encarando Tiffany e Taeyeon com o olhar um tanto perdido enquanto eu decidia que era melhor ficar ouvindo música no meu canto do que interagindo com qualquer ator ali. Eric Nam me enchia o saco e eu não era muito próximo dos outros por ali.

E é óbvio que era com ele que Hyunjin tinha que conversar.

Hyunjin estava meio bêbado, para ser sincero. Ele não parecia entender o que o Eric falava e aquilo me deixou um pouco irritado porque quando Christopher e Changbin desapareceram no andar de cima Hyunjin bebeu ainda mais, furioso. E Eric Nam continuava falando alto na cabeça dele, insistindo que ele transasse com uma das figurantes e aquilo já era demais para mim.

Tudo sempre foi demais para mim se tratando dele, na verdade. Acho que você já percebeu isso.

- Cara, eu acho que ele não quer falar com você. – Foi o que eu disse quando Eric continuava falando sobre a buceta peluda de alguma atriz que eu não me importava.

- Eu acho que se ele não quisesse falar comigo ele diria, não é Jinnie? – Eric retrucou dando um gole na cerveja, Hyunjin continuou de olhos fechados, parecia que estava dormindo.

Olhei para ele debochado.

- Sim, está bem claro para mim que ele quer falar com você.

Eric revirou os olhos.

- O que deu em você, Han? – ele falou parecendo irritado comigo. Ele não gostava muito de mim, na verdade. Não sei o motivo até hoje. – Está com ciúmes de mim agora? Acha que eu vou tentar alguma coisa com esse cara aqui? Porque você deve saber, nenhum dos dois vai te comer. Seu viadinho de merd-

Não o deixei terminar a frase.

Dei um murro nele.

Tiffany gritou, Taeyeon riu e Hyunjin acordou surpreso, porque a garrafa que Eric segurava tinha caído com tudo na cabeça dele. E então Taeyeon não gostou de ver sangue no seu sofá novo e tirou Eric aos chutes dali, gritando com o imbecil enquanto Tiffany a seguia, provavelmente para ajudar a xingar.

- E eu faço o quê? – perguntei para uma das meninas ao lado, assistindo tudo maravilhada.

Ela deu de ombros.

- Cuida dele, ué. Ele só se machucou por culpa sua, sabe nem dar um soco direito, Jijico.

Revirei os olhos e levei Hyunjin até o meu quarto, sabendo que o kit de primeiros-socorros estava por ali em algum lugar. O ajeitei na poltrona de frente para minha cama enquanto procurava tudo, e ele piscava um pouco confuso.

- Como eu comecei a sangrar? – ele perguntou baixo e eu ri, achei graça da situação, sei lá.

Ele nem estava sangrando tanto assim.

- Dei um soco em um homofóbico protegendo a sua honra, meu caro hétero.

Ele bufou, não parecia muito feliz.

- Eu não sou hétero. – Tinha resmungando com um bico irritado e eu ri.

- Claro que não é, Hyunjin. E o céu azul.

- Mas o céu é azul! – Foi o que ele falou e eu ri ainda mais, limpando o sangue seco na testa dele. – Você me irrita, Han Jisung.

- Eu sei que sim. – Respondi.

Ele suspirou.

- Nem sei porque quero te beijar. – Admitiu.

Eu ri de novo, hétero bêbado é uma coisa engraçada.

Mas então Hyunjin me beijou mesmo. E foi estranho.

Era um beijo de um cara bêbado, eu sabia. Mas o beijo dele era suave, cauteloso, ele transmitia tudo o que não dizia no beijo dele e eu perdi um pouco a noção do que estava fazendo. Derrubei água gelada nos dois e aquilo pareceu acordá-lo um pouco mais para a sobriedade, ele percebeu o que estava fazendo e riu alto, avançando em cima de mim e me beijando com ainda mais vontade.

E eu me assustei de verdade. Não porque estava molhado ou caído em uma posição desconfortável no chão com um cara alto em cima de mim, mas me assustei porque o beijo dele era delicado e ele me olhava como se eu fosse precioso sempre que nos separávamos. Ele me abraçava com carinho e eu quis chorar quando ele beijou minha bochecha e sorriu, acariciando uma delas.

- Gosto de você, Han Jisung.

Eu suspirei, olhando para ele debochado.

- Jura, Hwang? Nem percebi.

Ele revirou os olhos.

E me beijou de novo.

Então eu beijei de volta.

Sabe, não foi a primeira vez que eu tinha transado com um cara ou com alguém, mas era a primeira vez que eu transava com alguém que parecia gostar de verdade de mim. Eu estava acostumado com o sexo violento, com a dor, mas Hyunjin não me deu nada além de carinho e conforto. Ele sempre me olhava pedindo permissão em tudo o que fazia e queria que eu gostasse de tudo também. Ele... explorava meu corpo com uma timidez esquisita, se proclamando dono de tudo assim que seus dedos deixavam minha pele, deixando uma queimação estranha. Um vazio de saudade.

Ele me beijava como se meu corpo fosse de porcelana e não me olhou com nojo quando viu o resultado de todas as agressões que eu tinha sofrido em 21 anos, ele apenas passou o dedo delicadamente por todas as cicatrizes em meu corpo e beijou todas elas. Ele... ele me fez sentir amado pela primeira vez e eu percebi que aquela era a única coisa que eu nunca tinha pedido diretamente para alguém. E ali estava aquele cara que parecia me odiar, me dando a única coisa que eu achava que não merecia.

- Você é lindo, Jisung.

Ele disse isso.

Eu... Não queria, mas eu acreditei nele.

Sempre acreditava nele, precisava acreditar, ele estava se entregando para mim com tudo o que tinha.

E eu fui egoísta, porque me entreguei para ele também.

E no fim, ele disse que me amava.

- Devia ser um ator ruim, Hwang. – Eu sussurrei baixo, me aninhando nele pela primeira vez e me sentindo confortável demais para o meu próprio bem. Me sentindo em casa. – Teria perdido menos tempo tentando me apaixonar por um cara hétero que parecia ser apaixonado na Tiffany Hwang.

Hyunjin riu alto porque eu era esse tipo de pessoa estúpida.

E eu ri também, porque a risada dele me deixava feliz e o carinho dele no meu cabelo me deixava um pouco bobo.

Porque era ele.

- Eu sou apaixonado por você, Jisung. – Hyunjin confessou com a voz baixa, só para eu ouvir. Mas naquele momento as palavras dele pareciam um grito na minha mente, meu corpo todo tremeu. – Não sei se isso é bom ou não, se vou me arrepender ou não. Mas é você, cara. – Ele deu uma risadinha. – Desculpe, sou um cara estranho.

Eu ri, sabe?

E então puxei ele para mais perto.

Eu sabia exatamente o que ele queria dizer.

Queria ele por perto, de verdade. Não sei por quanto tempo, se era para sempre ou até a gente cansar um do outro. Eu só o queria até o momento necessário, até que não fizesse mais sentido ele ser a pessoa.

Eu só sabia que ele era a pessoa... Não me importei em pensar por quanto tempo.

E então de repente ele era minha nova rotina, criamos parcerias e gravamos Side Effects porque queríamos passar mais tempo juntos. E Taeyeon achou engraçado e decidiu transformar em algo mais sério, e então passamos meses e mais meses juntos até que o apartamento que Christopher tivesse dado para mim fosse dele também.

Aqueles 4 anos com ele foram tudo o que eu queria. Eu estava bem, eu estava feliz. Tudo estava dando certo.

Então Taeyeon nos mostrou o roteiro de Rewrite the Stars.

E nós éramos invencíveis, nós dois. Nada podia nos derrotar ou nos separar. Nos sentíamos gigantes porque éramos gigantes, pelo menos naquela época. Era impossível falar de um sem falar do outro, era impossível não nos relacionar. Nós queríamos ir alto e alto e alto e muito mais alto. Queríamos ir além. Abrir portas, queríamos a merda daquele Oscar.

Então voamos perto demais do Sol.

E ferramos com tudo.

 

X

 

- Ok. – Jeongin falou assim que Jisung ficou em silêncio, desligando o gravador e então encarando o Han como se procurasse respostas. Já estava bem óbvio ali qual dos dois entrevistados lhe dava mais informações. – O que exatamente aconteceu na gravação desse filme, hein?

Jisung o encarou de volta sem reação.

- Desculpe?

- Esse filme. Rewrite the Stars. Todo mundo só fala dele como algo ruim, Hyunjin nem conseguiu chegar nessa parte da história. Eu já entendi que depois disso vocês brigaram e um monte de merda aconteceu, mas o que aconteceu na gravação desse filme? – ele suspirou, bagunçando os cabelos. – Eu não consigo entender, sério mesmo. Juro que tento, mas consigo. Vocês fizeram uma merda tão grande assim?

O Han deu de ombros, achando graça do nervosismo do entrevistador.

Jeongin era bem parecido com o Hyunjin de 21 anos que ele tinha conhecido.

Era meio engraçado.

- É... – Ele começou cautelosamente, sem tirar os olhos de Jeongin. – Você pode dizer que sim. Acho que fizemos, sim.

- E o que foi que vocês fizeram?

- Aceitamos gravar o filme. – Jisung respondeu dando de ombros, como se fosse óbvio, rindo em seguida da cara incrédula do Yang. – Ok, eu entendo. A questão é que o roteiro original não era sobre Peter e Sam, acho que você já sabe disso. A história de Taeyeon era sobre Tiffany e Christopher, Changbin e ela. Eu e Hyunjin só faríamos algumas participações especiais, algo assim.

Ele deu mais uma risada fraca.

- Mas nós lemos os roteiros e então gostamos dele de verdade, entendemos perfeitamente o que Taeyeon queria fazer ali. Era a mesma fórmula de Side Effects, aquele casal que todo mundo sabe que é casal, mas não quer admitir, que não podem nem mesmo falar mal porque ninguém nunca vai confirmar. – Jisung suspirou. – Eu admito que o roteiro original do filme é bem mais interessante e criativo, mas a gente insistiu em mudar tudo. Queríamos... Queríamos fazer algo mais óbvio.

Jeongin piscou, sem falar mais nada e Jisung deu de ombros de novo.

- Foi só... Uma decisão ruim, eu acho? As gravações foram feitas em segredo e foi mais uma filmagem caseira do que tudo. O filme todo foi gravado em oito semanas e levou três semanas e meia para ser editado e pronto para lançamento. Elas não imaginavam que daria uma audiência tão grande pois criaram uma companhia de cinema desconhecida só para o lançamento dele... Mas ele tinha o nosso nome, então óbvio que foi um sucesso do caralho. – Jisung olhou para Jeongin com o rosto sério. – E é óbvio que Hollywood não gostou nem um pouquinho disso.

Ele engoliu em seco antes de continuar.

- O filme, ele... Ele é meio que a gente saindo do armário? Sei lá... – pela primeira vez desde que Jeongin o tinha lhe visto, o Han parecia realmente desconfortável. – É meio esquisito, sabe? Ainda que fossem os personagens, a gente não atuou nem por um segundo naquilo. Tudo o que dissemos e fizemos foi real. Tinha... Tinha amor de verdade ali. Hoje em dia eu penso que meio que prevemos o futuro com aquela merda, sei lá.

- Como assim?

Jisung deu um suspiro debochado na direção dos dois, Seungmin se encolheu ainda mais na cadeira.

- Ah... Você sabe o que aconteceu depois. – Falou com a voz dura. – Os chefões descobriram tudo, queriam saber os responsáveis e ficaram putos. Especialmente o pai do Hwang. Aquele babaca. Moveu o inferno pra que o Christopher caísse, ele nunca gostou do cara, sei lá porque. Acho que é mal de Hwang. – Provocou com um sorrisinho sacana, Jeongin deu uma risadinha baixa.

Seungmin engoliu em seco, o rosto vermelho.

- O pai... do Hyunjin que afundou vocês? – perguntou com a voz baixa e Jisung acenou com a cabeça.

- Óbvio, o velho era um homofóbico de primeira, me espanta de verdade nunca ter batido no Hyunjin ou algo assim. A mãe do Hyun era gente boa, não gostava de mim, claro, mas ela era legal. É só que o Hyunsoo... O cara era um cuzão. – Jisung suspirou. – De qualquer forma, não acho que o plano dele fosse pra afundar o próprio filho, se Hyunjin caísse ele ia se foder junto, né? Herança de Hollywood e tudo o mais. Como a companhia fictícia que eles criaram tinha como dono uma pessoa inexistente, eles estavam desesperados pra saber quem tinha criado aquilo. Então os rumores começaram.

Jisung estalou a língua antes de continuar a frase, bebendo de novo um pouco mais de água e continuando sem encarar os dois.

- Rumores sobre os segredos, sabe? Sobre a droga da relação da Taeyeon com a Tiffany, o casamento falso dos 4. E sabe como é, se eles afundassem todo o resto afundaria junto. Eu e Hyunjin percebemos que éramos os únicos sem nenhum escândalo como aquele. Eu pensei que... Eu pensei que já estava famoso o suficiente para não ser tão atingido. – Ele olhou para os dois com o olhar amargo. – Doce engano.

“Que merda, sabe? Fomos lá, assumimos que produzimos toda aquela porcaria sozinhos para encobrir todo o resto e esperamos por cinco horas e meia enquanto uns homens barrigudos com ternos que mal se fechavam decidiam o nosso destino. Hyunsoo parecia decepcionado com ele, achava que Hyunjin estava mentindo.”

- "Você me decepcionou filho." Foi isso que ele falou. Que piada, como se ele já tivesse se importado alguma vez com o Hyunjin de verdade. – Jisung revirou os olhos. – De qualquer forma, Hyunjin levou a maior parte da culpa porque tudo estava no nome dele, inclusive o boleto dos equipamentos usados. Eu tomei no rabo junto porque meio que fomos obrigados a assumir nosso namoro para aquela galera, e então em um estalar de dedos nós estávamos na lista negra de Hollywood.

Tinha algo no sorriso de Jisung que deixava Jeongin com medo.

O Han parecia saber disso, e Seungmin também, que seguia encolhido na cadeira giratória ao seu lado, sem abrir a boca para falar uma palavra sequer.

Jisung alargou ainda mais o sorriso.

- Estar na lista negra quer dizer que eles não querem mais saber da gente. Os paparazzis são alertados a não nos seguir mais e todas as companhias ou empresas são obrigadas a nos esquecer, aconteceu isso com alguns atores, claro. Seu nome fica sujo. – Jisung riu ainda mais enquanto continuava. – Hyunjin não se preocupou muito com o ultimato, claro. Ele nunca gostou muito daquilo, atuar ou ser um modelo. Nunca gostou de cantar, também. Ele só gostava de dançar, e para aquilo ele nunca precisou de plateia também.

“Eu ainda ganhei permissão para participar no background de projetos porque, de fato, tinha uma reputação ali e sumir do nada geraria problema para eles também. Eu estava proibido de lançar algo com o meu nome na capa, mas me deixaram criar músicas para outros artistas, que seriam revisadas por eles até o fim da minha carreira.”

- Isso me parece injusto. – Jeongin comentou com a voz baixa. Ele não tinha ideia. – Deve ter sido ruim para você.

- Não foi, na verdade. – Jisung admitiu com a voz baixa, analisando os próprios pés. – Nós tomamos aquilo como férias, éramos ricos o suficiente, sabe? E agora não precisávamos mais esconder também, porque ninguém mais queria saber da gente. E, quem queria saber, não iria encontrar nada porque todos os canais de notícia estavam proibidos de nos mencionar. Foi uma época meio feliz. Pude andar de mãos dadas com ele e beijá-lo no cinema, leva-lo a encontros de verdade. Só que... eventualmente a gente cansa.

Jeongin e Seungmin reagiram quase ao mesmo tempo.

- Você... Se cansou do Hyunjin?

- O que aquele merda te fez, tio?!

Jisung olhou para os dois espantado, achando graça.

- Quê?! Nada! Eu só cansei de me esconder, queria cantar de novo, que me ouvissem com a minha voz. Finalmente entendia o fantasma da ópera, sabe? Só pessoas bonitas e perfeitas, brancas, hétero e cis que cantavam uma mensagem que não era a deles. Eu pensava que culpar o mensageiro e era idiota, mas estava cansado de ser obrigado a me esconder de novo por ser visto como escória. – Jisung estalou a língua. – Então depois de quase 4 anos vivendo daquele jeito, sem poder nem me encontrar com meus clientes direito, Hyunjin sugeriu que fossemos para Paris.

“Eu não queria ir, óbvio. – Jisung continuou parecendo bravo, as sobrancelhas franzidas. – Queria voltar a cantar, ir para os cantos, atuar nem que seja uma frase de dois segundos em um programa de TV com uma audiência semanal de três pessoas. Então nós começamos a brigar porque o futuro que ele queria não era o que me faria feliz. Porque naquele problema todo eu tinha perdido tudo e ele só tinha ganhado o sucesso que sempre mereceu.”

Jisung sorriu triste para os dois.

- Eu acho importante avisar que em 1989, Byulyi já tinha 20 anos e era uma dançarina famosa. Ela tinha se tornado uma garota bonita, acho. Com os cabelos loiros da mãe e o olhar decidido do Chris, aquela mente maligna com planos para safar todo mundo de todo mundo. – Jisung suspirou. – E nós não percebemos ela crescer, acho. Quando levar ela para tomar sorvete não parecia mais um cronograma de irmão mais velho, mas como um encontro.

“Nós só aparecíamos nas notícias quando Byulyi estava envolvida. E eu percebi isso, então comecei a sair mais com ela. Sei que é horrível dizer isso, mas comecei a usar ela para me encontrar com clientes e poder lançar mais músicas do jeito que queria. E então as fofocas começaram. Como eu tinha sumido para me casar com ela, ou algo assim.

O problema era que... Ela sempre gostou do Hyunjin. De verdade. E em todas as entrevistas ela falava dele. E quando Tiffany foi indicada para aquele Oscar em 89, nós só fomos convidados porque Byulyi comentou que iria se apresentar e queria nos ver ali. Eu estava animado porque iria finalmente aparecer nas câmeras de novo, eles estavam obrigados a me filmar. A Byulyi ela.... Ela conseguiu comandar Hollywood inteira com 20 anos e nem tinha percebido.

O Hyunjin não queria ir, estava cansado, não queria mesmo aparecer nas câmeras. A essa altura nós já estávamos brigando por causa daquilo todos os dias. E então eu pedi para ele ir comigo, e ele foi. Não mantivemos discrição nenhuma, mas quando Tiffany ganhou o seu oitavo Oscar e agradeceu a gente, com a câmera nos filmando. Eu percebi como ele odiou cada segundo daquilo.

Ele realmente não queria voltar para aquele mundo... E eu estava tentando me encaixar ali de novo desesperadamente.

Foi quando nós dois percebemos que não ia mais dar certo. Eu e ele. Que, o tempo em que ele era a minha pessoa já tinha acabado e nós só estávamos empurrando tudo com a barriga. Foi ali que tudo acabou.

Na porra de uma premiação.

Nós não brigamos exatamente, como todos dizem. Estávamos cochichando no banheiro, nosso término foi assim, aos cochichos. Mas então eu disse algo e ele ficou bravo comigo, e então ele gritou algo como “Você só se preocupa com ela, não é?! Vai com ela então!!! Eu cansei, Jisung, cansei.”

Ele estava falando da carreira, o paparazzi escondido em um dos cubículos achou que era sobre a Byulyi.

Eu tinha conseguido voltar ao mainstream por causa dessa notícia errada.

Mas para isso tive que assistir o amor da minha vida ir embora.”

Jisung suspirou com a voz baixa.

- Foi assim que acabou. Comigo escolhendo a minha carreira. – Ele olhou para Jeongin sem emoção. – Lutei demais para perder aquilo, garoto. Eu nunca me perdoaria se desistisse daquilo pelo que lutei que nem um desgraçado por um... cara. Ainda que esse cara fosse Hwang Hyunjin. Eu não era esse Han Jisung, nunca fui.

- Vocês terminaram porque você foi egoísta. – Jeongin falou para ninguém especial, sem pensar, arregalando os olhos quando percebeu o que tinha dito.

Jisung não se ofendeu.

- Sim, foi exatamente por isso. – Afirmou. – Vocês têm mais alguma pergunta? Para ser sincero, estou me sentindo um pouco cansado.

- Não. – Jeongin respondeu guardando suas coisas rapidamente dentro da bolsa, bem de qualquer jeito. Nem ele sabia porque queria sair correndo dali, só queria. – Já foi o bastante por hoje, obrigado senhor Han.

Ele fez uma reverência respeitosa e saiu.

Só foi perceber que tinha esquecido o gravador e o celular quando já tinha cruzado metade do jardim, praguejando baixinho enquanto voltava rapidamente para a casa antes que Lia trancasse o portão de novo. Atravessando os corredores da mansão sem nem olhar para os lados, como sempre fazia. E só foi impedido de abrir a porta e vazar dali com o que ouviu.

- ... E como você conseguiu perdoar ele, tio? – Ouviu a voz de Seungmin em um sussurro, ele parecia estar chorando. – Depois que ele te traiu?

Jeongin arregalou os olhos, pouco se importando em estar praticamente colando o ouvido na porta ao esperar a resposta de Jisung.

Jisung parecia igualmente surpreso.

- Quem.... Quem diabos te contou isso, Seungmin?! – falou sem entender. – Que... De onde você tirou isso, garoto?

- Eu ouvi. Foi o meu pai, não foi? Foi por isso que você foi embora e me deixou aqui. – Seungmin continuou em um murmuro quase irreconhecível. – Você parou de vir aqui por culpa dele e eu fiquei sozinho de novo. Só você falava comigo, tio, desde que eu comecei a chorar porque queria visitar o Innie mais vezes. Só você me deixava ir pra casa do tio Minho. Mas então você foi embora e eles me proibiram de tudo. – O Kim parecia chorar e Jeongin sentiu o coração partir em dois com a voz triste do ex-namorado. – Eu fiquei cansado de te esperar, tio. Você não ia voltar e Hyunjin só falava com meu pai. Meu pai nem olhava para mim. Então é, eu fui embora. Hwang Hyunjin é um babaca, tio. E eu quero saber como você perdoou, como diabos você voltou aqui de novo e fala dele como se ele te amasse depois de tudo o que aconteceu.

- Seungmin...

- Ele queria que você desistisse da própria carreira por ele, tio! Ele nunca pensou em você, nem naquela época e nem agora. Eu sei que você não queria voltar aqui, eu não queria voltar aqui. Mas ele sempre dá um jeito de se meter, não é? E então precisou até arrastar o Innie no meio. – Seungmin bufou. – O cara que ele nem queria conhecer, em primeiro lugar.

- Seungmin! – Jisung gritou, parecendo bravo. Jeongin engoliu em seco, sem entender nada.

Que porra era aquela?! Hyunjin não queria conhecer ele?

- Isso não está nem perto do que aconteceu, garoto! Que merda! – Jisung continuou parecendo irritado, mas sendo bem sincero, o Han parecia bem mais surpreso do que tudo.

- Eu não acredito que você abandonou todo mundo por causa disso! – Jisung continuou sem acreditar.

- Ele te traiu!

- Não. – Jisung cortou o Kim com a voz dura. – O Hyunjin nunca fez isso. Ele nunca faria isso.

- Então por que ele vivia falando com o meu pai? – Seungmin insistiu batendo o pé, Jeongin suspirou. Teimoso. – Por que você foi embora?! Você jurou que não ia acontecer de novo, tio, mas aconteceu.

Jeongin ouviu o suspiro de Jisung, que parecia cansado. E não era para menos, o Han tinha falado o dia inteiro sem parar. Mas Seungmin ainda parecia querer alguma resposta.

E o que Jisung disse em seguida era algo que nem se a droga da rainha lhe dissesse, ele acreditaria.

- Porque nós dois queríamos te adotar. – Jisung disse finalmente. – Mas seu pai não queria te dizer onde sua mãe foi parar sem uma quantia de dinheiro absurdo e terrenos da Taeyeon que nunca disseram respeito a ele. Então eu saí pra procurar a mulher e o Jinnie ficava aqui. Nós não queríamos te contar e te encher de esperanças, você só tinha 12 anos e parecia animado demais com seu amiguinho... Ficamos com medo de te contar e você espalhar e dar tudo errado. – O Han suspirou. – Hoje percebo que foi uma ideia idiota, você seria o nosso filho do mesmo jeito, não é

Jeongin arregalou os olhos, sufocando um gritinho com a própria mão enquanto ouvia os suspiros altos de Seungmin do outro lado da porta.

- Eu não acredito que você foi embora por causa disso, Seungmin. Se tivesse.... Se você tivesse conversado com a gente ao invés de simplesmente ir embora. – Jisung suspirou. – Tudo seria diferente, garoto.

- E-eu achei que vocês tinham desistido de mim. – o Kim murmurou chorando. – E quando eu fui embora ninguém foi atrás de mim. Eu... Eu só tinha o Innie e o Minho. Ninguém tentou falar comigo.

- Nós não queríamos te pressionar, garoto. Achei que- Nós achamos que você não aguentava mais tanto segredo, que estava mais feliz lá, sem ter que esconder tanta coisa das pessoas. E quando a Tiffany morreu, você... Você não apareceu no enterro. – O Han fez uma pausa. – Nós decidimos deixar você livre, Seung. Eu... Eu sei como é difícil fingir por tanto tempo. Sufoca a gente.

Seungmin chorou ainda mais.

- Tio...

Jeongin estava se sentindo culpado por ter ouvido aquilo, mas até ele sabia que era tarde demais naquela altura. Tanto que, minutos depois, quando quase caiu pra frente quando a porta se abriu violentamente, revelando um Seungmin com o rosto vermelho e inchado que mal olhou para a cara dele, Jeongin só pegou o gravador e o celular em cima da mesinha e saiu correndo dali, sem nem olhar para Jisung.

Cacete... Onde diabos ele tinha se enfiado?!

A ida pra casa foi esquisita, ele não pegou carona com Seungmin pois imaginou que o Kim tinha coisas bem mais importantes para fazer naquele momento. Então só entrou no primeiro ônibus que viu e, quando se deu conta, já tinha comprado um fardo de cerveja barata ruim e estava deitado no chão de seu antigo apartamento, encarando a mancha de mostarda no sofá que Seungmin nunca tinha limpado enquanto ouvia a gravação daquele dia.

Deu mais um gole na garrafa da cerveja quente, sem dar a mínima quando acabou batendo no controle remoto da televisão e acabou ligando a mesma sem querer, a TV já sintonizada naquele canal de músicas antigas que ele vivia ouvindo e dava nos nervos de Seungmin.

A voz tranquila de Kim Taeyeon começou, e Jeongin nem ficou surpreso.

Será que era por isso que Seungmin tinha desistido dele? Por ele ouviu música antiga demais? Por ser obcecado com pessoas já esquecidas? Por ter se enfiado naquele passado secreto dele que ele claramente não queria que mais ninguém soubesse?

 

Pillars of my heart
Everything got shattered in the dark

 

[Pilares do meu coração
Tudo ficou quebrado no escuro]

 

Ele chutou o nada quando Jisung comentou sobre sua primeira noite com Hwang Hyunjin, aquele soco que ele sentiu que nunca saberia que tinha socado quem. Pensou em como Seungmin sempre gostava de beijar suas covinhas antes de fazer qualquer coisa, de dizer que ele era lindo e admirá-lo por tempo o suficiente para deixa-lo desconfortável.

Pensou triste que nem se lembrava mais qual era a sensação da boca dele na sua.

 

 

Tried to be evolved
Does it really matter at all?

 

[Eu tentei evoluir
Mas isso realmente importa?]

 

Seungmin olhou para Hyunjin sentado na poltrona do quarto de discos de Taeyeon lendo uma revista que não importava, provavelmente esperando por Jisung. Provavelmente ansioso para ver Jisung depois de mais de uma semana sem vê-lo.

E então ele dava de cara com Seungmin.

Seungmin e seu rosto vermelho de choro e de raiva. De si mesmo.

- Seungmin? – Hyunjin perguntou confuso.

Seungmin foi até ele e parou em sua direção, um bolo de palavras entalados na garganta que o deixava puto e confuso. Porque ele queria dizer tudo e não conseguia dizer nada.

Ele abraçou Hwang Hyunjin com força.

- Me... Me desculpa, tio. – Sussurrou baixinho para um Hyunjin surpreso, que não recusou o abraço infantil do Kim.

- Shh... – Hyunjin falou baixinho, acariciando os cabelos dele. – Você não fez nada errado, Minnie.

 

Feathers on the red bed
Kissing me on the floorboards
Data in my head gets caught up in the drugstores

 

[Penas na cama vermelha
Me beijando no chão de madeira
Dados da minha cabeça ficam adquiridos nas farmácias]

 

Jeongin começou a chorar antes da entrevista de Jisung acabar. A merda do gravador que tinha gravado quando ele falou como tudo acabou entre Hwang Hyunjin.

Pensou em como era possível aqueles dois terem se amado até que já não se amavam mais, em como Jisung não negou quando ele perguntou se ele ainda amava Hyunjin. Pensou em como ele ficou calado vendo Hyunjin ir embora e se perguntava se eles já tinham resolvido aquilo tudo. Pensou em como todo mundo daquela casa parecia esconder e se culpar por alguma coisa que não tinham o menor controle.

Pensou com a boca cheia de cerveja ruim que ele também tinha deixado Seungmin ir embora sem falar nada.

E então pensou no Seungmin adolescente que tinha desistido daquilo tudo e ninguém foi atrás dele.

E chorou ainda mais.

 

Make me feel again
So what should I do?
All that’s left is molecules of you

 

[Me faça sentir de novo
Então, o que eu deveria fazer?
Tudo o que sobrou são moléculas de você]

 

- Minnie... Não precisa chorar. – Hyunjin falou baixinho, ainda abraçando o outro com força. – Você não fez nada errado. Você era uma criança, não tinha como saber...

- Eu te odiei por toda a minha vida, tio. – Seungmin continuou com a voz baixa. – E eu fui grosso com você por nada. Eu... Eu te culpei por uma coisa idiota quando tudo o que você queria era cuidar de mim. M-me desculpa.

Hyunjin beijou a testa molhada dele com carinho.

- Ei, guri. Eu nunca deixei de cuidar de você. – Sussurrou baixinho. – Por que você acha que finalmente aceitei conhecer Yang Jeongin? Eu não quero que você o perca por besteira, menino.

Seungmin piscou para ele confuso, lágrimas perdidas nas bochechas.

Hyunjin sorriu.

- Você sabe o que eu quero dizer, Minnie.

 

Tried to rearrange
Did you feel that everything was strange?

 

[Eu tentei reorganizar
Você já sentiu que tudo era estranho?]

 

Jeongin soluçou de dor quando conseguiu chegar até o álbum de fotografias de Seungmin. Aquele com todas as fotos dos dois que Seungmin se recusou a passar para o celular, só porque ele dava mais valor em fotos no papel do que nos eletrônicos.

Passou os dedos trêmulos na foto dos dois criança, então para eles adolescentes e então depois do primeiro beijo. Chorou quando o álbum avançava naquele passado tão promissor, com Jeongin indo para a faculdade e se tornando roommate de Soobin, com os dois entrando no estágio ao mesmo tempo na empresa de Seungmin. Viu através das lentes do ex-namorado todo o processo de decoração daquele apartamento.

Quis queimar o álbum quando a última foto apareceu. Aquela que não era uma foto, mas um desenho dele dormindo que Seungmin tinha feito quando insistiu em fazer aulas de desenho com Felix. Aquele recadinho alegando que, um dia, ele veria Jeongin dormir fofo daquele jeito sendo seu marido.

- Seu filho da puta. – Resmungou com a voz embolada, terminando a quinta garrafa de cerveja. – Você pensava no futuro sim.

 

Dancing in the red rain tied up to the bedpost
Falling like a tear stain
Only for your cold ghost
Make me feel again

 

[Dançando na chuva vermelha amarrada na cabeceira da cama
Caindo como uma mancha de lágrima
apenas pelo seu fantasma frio
Me faça sentir de novo]

 

- Ah, garoto... Você é exatamente como eu. – Jisung falou com a voz um tanto triste depois que Seungmin se acalmou, os três espremidos na cama grande de Hyunjin, que dormia calmamente no peito de Jisung. – Isso não é bom, sabia? Ser como eu.

- O que você quer dizer com isso, tio?

- Você foge quando fica difícil, não é? – Jisung falou com a voz baixa, os dedos trêmulos passando pelos cabelos grisalhos de Hyunjin, que mantinha um sorriso pequeno no rosto. – Você não pretendia brigar com o garoto, pretendia?

- Eu nunca quis machucar ele...

Jisung sorriu, acenando lentamente com a cabeça.

- Mas você fez isso mesmo assim.

Seungmin engoliu em seco.

- É, fim mesmo.

- E como você se sente? – Jisung insistiu, os olhos fixos no rosto adormecido de Hyunjin. – Agora que perdeu ele?

- Não sei como me sentir.

- É porque você sabe que está errado.

Seungmin engoliu em seco.

Ele estava mesmo.

Tinha escondido tanta coisa de Jeongin que... Que quando tentava consertar tudo se sentia ainda mais babaca do que o normal.

- E você sabe que ele quer desistir de você, porque você não foi um cara legal para ele... Mas ele não consegue. Ele tenta, mas não consegue. – Jisung deu uma risadinha baixa, fechando os olhos. – Você quer que ele desista de você, Seungmin? É o que vai acontecer se continuar fugindo assim. Nem todo mundo tem a sorte que eu tive, nem todo mundo é Hwang Hyunjin.

Seungmin mordeu os lábios.

- Não, tio. – Falou com a voz firme. – Não quero.

- Vou te contar um segredo, Minnie. Só porque você é parecido como eu. – Jisung falou baixinho, como se realmente contasse um segredo. – A maior burrada que eu fiz não foi aceitar ser o prostituto de um cara rico para vir para Los Angeles ou me responsabilizar por Rewrite the Stars. Foi todas as palavras que eu nunca disse pro Hyunjin quando eu o vi ir embora da minha vida. Eu nunca voltei para ver minha mãe, nem quando tinha dinheiro para isso. Eu nunca agradeci a Tiffany em voz alta, ou contei para ele tudo o que sabia, eu nunca contei a verdade sobre Changbin para ninguém. – Jisung suspirou. – E eu queria cagar pro meu orgulho antes nessa época, queria falar que amo ele para todo mundo ouvir, não só em um quarto escuro onde só tinha nós dois.

- Sabe, tio. Você me entende, mas ao mesmo tempo não me entende nadinha. – Seungmin falou baixinho e Jisung bufou. – Eu nã-

- O que eu entendi é que você quebrou o coração do amor da sua vida, palavras suas, porque achava que não era o suficiente e achou que ele não ia ficar feliz por você. Achou que ele ia ir embora porque não ia aguentar ficar tanto tempo longe de você, mas ele já te disse isso? Você perguntou para ele? – Jisung o encarou. – Você já pensou que podia ter as duas coisas? O seu sonho e ele do seu lado?

 

I’ve lost you

 

[Eu perdi você]

 

Jeongin queria gritar de saudade.

Queria entender tudo o que tinha acontecido.

Do porquê Seungmin ter desistido dos dois tão rapidamente.

Queria saber o que podia ter feito de diferente. O motivo de Seungmin nunca ir embora de uma vez e continuar lhe atormentando como se quisesse que ele sofresse.

Quando terminou a última garrafa, ainda com os olhos grudados no desenho, ele jogou a mesma longe.

 

Keep me wide awake
Every cell I feel your body ache
Can we stop the fall?
Does it really matter at all?

 

[Me mantenha bem acordada
Cada célula, sinto seu corpo doendo
Podemos parar a queda?
Isso realmente importa?]

 

- Tio, eu...

- Você sabe o que fazer, Seungmin. – Jisung disse de olhos fechados, abraçado Hyunjin ainda mais apertado. – Se arrependa só do que disse, entendeu? Nem tudo está perdido.

Seungmin acenou com a cabeça.

É, ele entendia totalmente.

 

Feathers on the red bed
Messy on the floorboards
Data in my head gets
Caught up in the drugstores
Make me feel again

 

[Penas jogadas na calma vermelha
Bagunçando o chão de madeira
Os dados da minha cabeça podem
Ser encontrados em farmácias
Me faça sentir de novo]

 

Jeongin acordou horas depois na cama de casal onde ele nunca pensou que fosse dormir de novo depois de tudo o que tinha acontecido. Sua cabeça doía e ele só queria se livrar daquelas cobertas grossas de uma vez antes que morresse sufocado.

Demorou um pouco para ele entender que aquilo em cima dele era o corpo desacordado de Kim Seungmin.

Que o abraçava com força.

 

I’ve lost you

 

[Eu perdi você]

 

Jeongin olhou para ele confuso.

- Se você for embora de novo, Seungmin. – Ele falou baixinho antes de aconchegar melhor no abraço dele e voltar a dormir. – Eu acho bom parar de ficar fazendo essas merdas.

Só mais um idiota em um mundo repleto de idiotas...

Porque era ele.

 

X

 

BRIGA DE CASAL? FALTA DE PROFISSIONALISMO? ENTENDA O QUE DEIXOU A H NEWS, REVISTA DE FOFOCA MAIS COMPRADA DA DÉCADA, FAMOSA NOS TÓPICOS MUNDIAIS DO TWITTER NESSA TARDE

 

“Você é um filho da puta! Eu nunca devia ter te conhecido ou gastado mais da metade da minha vida com você!” é o que Yang Jeongin, editor da H News grita antes de dar um murro no então namorado, Kim Seungmin bem no meio do escritório da revista.

 

A H News começou como uma revista caseira comandada por Paulline Hwang no início da década 1980, até a mesma abandonar o projeto no começo dos anos 2000. A partir daí, a revista focou mais em fofocas e fatos curiosos sobre celebridades do cinema e da música, abrindo as portas deste mundo com exclusividade para adolescentes e adultos.

A revista, que é mais informal na página da Internet e é um dos perfis mais seguidos do Twitter por três anos seguidos desde 2017, é famosa pelas fontes confiáveis e as entrevistas exclusivas com artistas já esquecidos pelo público principal – o que significa que já é normal na vida do CEO, Felix Lee, ver o nome da mesma por aí.

Mas, nessa última tarde, (17), um vídeo foi postado por um perfil anônimo em uma rede social revelando a briga entre Yang Jeongin – famoso por sua coluna no site da revista – e o namorado, o fotógrafo profissional Kim Seungmin. Apesar de não saber o motivo da briga, é fato que ambos saíram machucados. Literalmente.

O público se divide, alegando que o Yang está certo em se revoltar, mas grande parte chama a revista de ‘irresponsável’ e ‘nada profissional’. Problema que a revista vem recebendo desde o comentário sobre o silicone que a modelo francesa, Jout Julie, colocou no início do ano passado.

Confira alguns tweets de seguidores sobre o caso:

“Yang Jeongin nunca errou! Eu também avançaria num filho da puta se tomasse um chifre!!”

 

“Acho muita falta de profissionalismo, não se pode misturar vida pessoal com trabalho! Uma briga física assim é pessimo para a imagem da empresa, mas o que se esperar de uma revista que acusa uma modelo inocente de aumentar os peitos como se fosse um crime?!”

 

“Tinha que ser dois g4y5 para fazer um escândalo desse, ambos deviam ser demitidos!”

 

“Paulline deve estar se revirando no túmulo vendo a merda que essa revista virou lmao”

 

“Cadê o Hyunjin pra salvar essa merda??? Ah é, ELE MORREU! TT-TT”

 

“Puta que pariu.... Seungmin apanhou foi pouco, nunca gostei desse fotógrafo depois do que ele fez com minha Yeji!!!”

 

“Sem condições.”

 

Postado por: @XuxuBeleza em fevereiro de 2020


Notas Finais


meudeus caras cansei JDOIAJDIOSAD

enfiiimmm espero que tenham curtido eee nos vemos na quarta-feira <3
bjao


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