Morgan P.O.V.
Valentim não ganhou a corrida, ficou em segundo lugar, mas foi até mais aplaudido que o vencedor.
Quando estávamos prestes a sair do local, Valentim, veio correndo até nós. Jonathan revirou os olhos, já pensando o pior, e eu, tentei não fazer o mesmo.
- Não vim incomodar, relaxem - Disse - Pensei que seria legal se viessem almoçar comigo.
- Ah, eu não sei - Olhei para Jonathan, que deu de ombros.
- É, acho que pode ser.
- Maravilha! - O ruivo pareceu animado - Eu saio em meia hora. Me esperem exatamente aqui, ok? Ainda preciso dar umas entrevistas - O mesmo voltou para dentro.
- Tá. Tudo bem - Balancei a cabeça.
- Espere aqui! Vou mandar buscarem nosso carro - Avisou Jonathan.
- Ok. Vai lá.
Sentei-me na escada, e fiquei observando os carros que chegavam - pois ainda tinham outras corridas para acontecer - e os que saíam. Havia todo o tipo de gente ali, e isso me intrigava.
- Aha! Quando tempo não? - Disse uma voz ébria.
Olhei em direção e um calor achacoso percorreu por todo o meu corpo no exato momento.
- Tia Felicity?! - Exclamei, incrédulo.
- Meu sobrinho, aha ha, cresceu em, garoto? - Disse ela, segurando-se num homem gordo ao seu lado.
- É-É - Minhas pernas começaram a tremer e minhas mãos a suar.
- Esse é Edgar - A mesma soluçou, apontando para o homem - Edgar Banks, ele é rico, aha, e me ama. Não é querido? - Os dois trocaram carícias e no mesmo instante, sai rápido de perto deles.
Minha visão ficou turva de repente, e eu tive que parar de correr. Coloquei minhas mãos no joelho e fitei o chão por alguns segundos. Da onde aquela mulher apareceu? Já faz anos que minha família se livrou dela, e do meu tio; o homem que estragou a minha vida.
- Morgan! - Gritou Jonathan - Eu falei pra você esperar lá.
Virei-me para ele, desnorteado e bambo. O mesmo me ponderou da cabeça aos pés, com um olhar preocupado.
- Você está bem? - Perguntou, segurando o meu braço.
- N-Não, é que e-eu, nada aconteceu - Chacoalhei minha cabeça - Fiquei tonto. Tonto assim do n-nada. Só fiquei assim.
Ele fitou os meus olhos e franziu o cenho.
- Você tá estranho. Tá com fome? - Questionou, pegando minhas mãos - Mas você comeu hoje de manhã.
- Ei, não! Nada - Neguei com o dedo indicador - Tá certo. Vamos?
- Tá... - O mesmo me deu a mão e fomos até o carro já estacionado na entrada.
Valentim estava com o seu Arash AF10 Hybrid frente ao nosso carro, nos esperando apoiado na lataria.
- Temos de ir logo. Encontraremos minha irmã lá - Informou.
- E onde vamos exatamente? - Perguntou Jonathan, nem ouvi nada, me joguei dentro do carro e fechei a porta.
Abri o espelhinho no teto e me observei. Eu estava pálido, minha boca seca e meus olhos fundos.
- Esquece isso, esquece isso, esquece isso - Repeti a mim mesmo - Esquece isso! - Barrei com raiva, bem na hora exata que ele entrou no carro.
- Nossa! Tá falando comigo? - Me olhou assustado - Fiz algo?
- É, não! Você não fez - Falei atrapalhado - Desculpa.
- Tudo bem - O mesmo riu e deu partida no carro, seguindo o de Valentim.
No caminho, fiquei com as mãos no rosto, dizendo a mim mesmo para não entrar em pânico.
- Está muito sol? - Indagou ele, me oferecendo o óculos.
- N-Não! Eu tô bem.
- Mas está com as mãos no...
- Porque não! - Interrompi grosso.
- Hum?! - Arqueou uma sobrancelha.
- Desculpa. Não é o sol, é só um pouco de dor nos olhos.
- Entendi.
Chegamos no I'Horizon Deck, um lugar lindo, preenchido pelo sol, num barranco ao lado do mar.
Uma Mercedes Benz Conversível Bordo, estacionou ao nosso lado, e de dentro dela, sai uma menina ruiva, com o cabelo de comprimento no queixo. Era Virgínia, a irmã mais nova de Valentim.
- Morgan já a conhece, então, Jonathan, essa é Virgínia.
- Prazer - Sorriu ele, e a mesma apenas devolveu um sorriso meigo.
- Jonathan, vem cá, deixa eu bate um papo contigo - Falou Valentim, num tom amigável, então não me preocupei.
Virgínia veio ao meu lado, com um olhar malicioso.
- Se não é que arranjou alguém mais bonito que meu irmão... - Comentou, impressionada - Da onde o menino é?
- La Gange, e não me pergunte onde fica, só sei que é americano como eu - Respondi.
- É, eu também não sei onde fica isso. Mas fica nos Estados Unidos, certo? - Afirmei com a cabeça - Vou pesquisar.
- Está namorando também? - Indaguei curioso.
- Sim. Estou namorando uma sueca.
- Sueca?! - Exclamei - Espera aí, você é lésbica?!
- Sim, mas tem meninos tão lindos... por isso pareço heterossexual - Ok. Isso é nojento.
Sentamos numa mesa, do lado de fora, no deque. Mesmo que o clima estivesse frio, o sol batia com força naquele lugar.
- O que vão querer? - Questionou Valentim - Eu convidei, eu pago.
- É muita gentileza sua - Disse Jonathan - O que vai querer? - Se referiu a mim.
- Eu não sei. Algo leve, bem leve. Não tô muito disposto para comer frutos do mar muito grandes - Falei, massageando minha têmpora.
- Ok, vamos ver... - Pegou o cardápio - Aqui tem uma salada com muita alface americana e pequenos pedaços de camarão.
- É-É. Essa, vai essa.
- E o que você quer para beber?
- Pêssego fino.
- Suco de pêssego, certo?
- Isso - Balancei a cabeça rápido.
Cada um fez o seu pedido. Nos dias em que estou bem, ficaria com água na boca com toda essa comida, mas hoje, "do nada", fiquei com o estômago embrulhado, quase vomitei ouvindo eles apenas dizendo o nome dos pratos. Sem contar, que pediram bebidas alcoólicas fortíssimas, enquanto eu, pedi um suco de pêssego fino.
A comida chegou. Valentim e Jonathan se deram bem, e comeram num minuto, só conversando. Os únicos a demorar, fui eu, que não estava bem e Virgínia, que possuí um nojo doentio com comida, não importa o que é ou o local que é feito.
Eu estava na metade do prato, enfiando um garfo cheio de alfaces na boca, quando meu estômago devolveu tudo, graças a minha força de vontade de não pagar mico em público, consegui segurar.
Não consegui manter a pose, levantei.
- C-Com licença - Corri ao banheiro, nem sequer olhando a reação deles.
Entrei numa cabine e me abaixei, mas nada saiu. Prestei atenção em meu corpo. Minhas mãos estavam tendo espasmos fortes, minhas pernas tremiam muito, e meu coração estava acelerado.
- Ei, Morgan - Falei comigo mesmo, tentando me distrair - O que está acontecendo?
Meu cérebro sabia a resposta, e a última coisa que eu queria, era lembrar dela. Foi um erro perguntar a mim mesmo. O rosto de Tia Felicity, a ex do homem que usou o meu corpo, relampeou em minha mente. Aquela vadia bêbada me fez voltar ao passado, que seu pudesse, apagaria da minha história.
- Não, não - Chacoalhei a cabeça - Está tudo bem, você está com seus amigos. Está com seu namorado.
Eu queria me soltar e chorar, para aquele desespero sair de mim, porém, nem isso conseguia.
- Ah! Vai, vai - Me pressionei com raiva - Chora, chora - Forcei, mas de nada adiantou, só voltou com a minha vontade de vomitar.
Não pensei duas vezes, enfiei o indicador na garganta e minha barriga se esvaziou. Fechei a tampa, e em cima do vazo sentei.
- Morgan? - Chamou Jonathan, que acabara de entrar no banheiro - O que está acontecendo?
É incrível, é só aparece alguém, que eu desabo.
- Jonathan, socorro... - Me debulhei em lágrimas - Me ajuda...
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