Again
LUCCA
Acordei sentindo dor , o que já era comum. Minha perna estava apoiada em algo parecido com uma tipoia , elevada . E a posição era bem desconfortável.
Olhei ao redor do quarto , enquanto recordava o que havia acontecido. Eu estava sozinho, mas lembrava que Allie tinha entrado comigo na sala ...
Eu tinha que encarar que teria que recomeçar praticamente do zero . Me senti frustrado e injustiçado. Por que comigo ? Por que de novo ? E dessa vez , dr . Edward , havia sido taxativo, eu teria que usar a cadeira de rodas . Adeus , ilusão de fazer uso do andador e parecer quase normal de novo.
Normal ?! O que na minha vida havia sido normal desde aquela maldita noite ?!
De normal , só a dor constante que quase me fazia enlouquecer , a frustração por depender dos outros , o sentimento de inferioridade e o sacrifício em fingir que estava tudo bem. E o pior é que eu havia acreditado de verdade , que poderia levar uma vida sem a sombra da incapacidade física , da dependência ...
Só que a vida me fez sentir o gostinho , para depois me mostrar que não estava ao meu alcance.
Ouvi uma batida na porta , e estranhei , porque as enfermeiras entravam sem cerimônia. E não havia ninguém da família que fosse tão criterioso.
- Pode entrar. – falei em expectativa.
- Olá . Ah , meu filho , eu sinto muito.
Era vovó Celie, que parecia consternada com a situação.
- Oi vovó. Está tudo bem ,só parece pior do que é . – olha eu fingindo de novo.
Ela se aproximou da cama , me deu um beijo , acariciando meu cabelo.
- Eu sei ... Allie me disse que serão sessenta dias de molho ?
- Pois é. Vou ser obrigado a dormir e comer muito . Que sacrifício !!! – disse dando o meu sorriso mais convincente.
- Vai passar rápido , com esse seu plano. – disse sorrindo , porém seu sorriso não chegava aos olhos. – Eu estava com saudades. Essa viagem para Los Angeles, prolongou além do esperado. E depois comecei a ser voluntária em um orfanato e agora não tenho tempo para quase nada. Inclusive estou devendo uma tarde amigas para sua mãe.
- Eu também estava com saudades. Mas a rotina de reabilitação , trabalho , estava me ocupando a maior parte do tempo.
- E se não fosse aquele cabeça dura do Ben , você e Allie poderiam passar algum tempo lá em casa. Mas eu entendo que não é nada agradável a situação.
- Ah , um dia ele vai ter que aceitar ... – disse com um ar neutro. Porém me sentia magoado com a rejeição de vovô Ben e Allie também.
Conversamos mais um pouco e comecei a me sentir sonolento. Vovó Cellie se despediu , prometendo ir me visitar em casa , levando o meu bolo preferido : chocolate.
Adormeci e acordei com a entrada da enfermeira, que verificava a medicação.
- Boa noite , dorminhoco !!! – nos conhecíamos da minha última internação.
Sorri , ainda atordoado .
- Noite ?! Quanto tempo dormi ?!
- Por dois dias. A morfina tem esse efeito. Mas agora o Dr. Edward, prescreveu tramal e você vai ficar bem acordado .– respondeu séria.
Eu sabia que com a retirada da morfina , meu inferno iria recomeçar. Eu realmente ficaria bem acordado .
- Uau !!! Estou mais que descansado ...
- Ah , seu irmão e sua saíram para comer e já devem estar voltando. Eles pediram que eu avisasse se você acordasse.
- Obrigado , Marta. – respondi , lembrando do nome dela.
Ela sorriu, assentindo. E saiu , fechando a porta.
Eu me sentia bem desperto e ansioso. Estava com muita saudade da minha princesa.
Pouco depois ela e Fábio, voltaram.
- Oi , bebê ... como você está se sentindo ? – perguntou me dando um selinho e se afastando, para que meu irmão me desse um abraço que quase quebrou minhas costelas.
Sorri e respondi o que eles esperavam ouvir.
- Ótimo !!! E louco para ir para casa.
Eles ficaram me olhando por alguns segundos, se entreolharam como em um acordo tácito e falaram cada um a sua maneira, que haviam decidido fazer o mesmo jogo que eu.
- Que ótimo !!! – respondeu Fábio , sem me olhar nos olhos.
- A sua previsão de alta é para amanhã , se não houver nenhuma intercorrencia.
- Princesa , você fica tão sexy quando usa termos médicos ...
Rimos . E Fábio aproveitou o momento de descontração , para amenizar a notícia que tinha para me dar.
- Ah , Sam decidiu adiar o casamento. Parece que houve um problema com a reforma. – falou novamente de olhos baixos .
- Não acredito !!! Ele não tem que fazer isso . Eu não quero atrapalhar , ser um fardo. Que inferno !!! – eu estava muito irritado.
- Lucca , não é por causa do acidente. É porque realmente ...
- Por favor , Allie não me trate com condescendência . Eu não sou idiota . Vocês se esqueceram , que eu cuidei pessoalmente do projeto de reforma ?!
- Ahn ...
- Eu não preciso que vocês deixem de fazer nada por mim. E nem que tentem arrumar desculpas . Eu não sou de vidro ... quer dizer , não todo. – usei minha melhor arma : sarcasmo.
- Nós não estamos fazendo isso ... – Fábio tentou argumentar. Mas interrompi, seca mente.
- Ok. Eu estou com sono ...
- Eu vou ficar essa noite com você, ontem foi seu pai.- disse Allie.
- Melhor não . Você vai trabalhar e precisa descansar. – falei firme, em um tom que nnão dava margem à contestação.
Allie se retraiu e Fábio estava constrangido.
- Boa noite. Assim que eu tiver alta , eu ligo.
Fechei os olhos, ignorando – os completamente. Só ouvi quando saíram, fechando a porta.
Eu estava preso em um looping ...revivendo situações semelhantes e sensações também.
Tudo de novo ...
POV FÁBIO
Eu estava arrasado com o que havia acontecido ao Lucca.
Que droga !!! Droga de vida !!! Injusta .
E para piorar , havia a viagem no final de semana para conhecer os pais da Carol.
Eu estava nervoso , estressado e com medo.
Como ela ia reagir, se eles não me aceitassem ?!Ela era muito apegada aos pais , seria capaz de enfrenta -los por mim ?!
O nosso relacionamento seria forte o suficiente ?!
Eram tantas dúvidas ... Eu me sentia perdido e nem podia conversar com o meu irmão , que estava novamente passando por uma barra.
Cheguei em casa , exausto e com uma dor de cabeça terrível . Carolina ainda não a chegado , o que me deixou mais irritado. Onde será que ela estava ? Não havia me avisado que iria sair ...
Procurei um analgésico, tomei e fui para o banho. Saí do banho, com sono e acabei adormecendo.
Acordei com Carol me beijando , com cheiro de vinho . Olhei no relógio e vi que eram duas horas da manhã . Decidi não falar nada. Mas senti uma raiva intensa .
Ela tomou banho e deitou só de calcinha. Percebi que bem alta.
Onde ela estava ate esta hora ?! Com quem ?! Comemorando o que ?!
E por que não me avisou ?! Custava dar um telefonema ?! Mandar uma mensagem ?!
Levantei da cama irritado. Eu não ia mais conseguir dormir , enquanto ela ressonava tranquilamente.
Fui para a sala , liguei a TV e depois de algum tempo acabei adormecendo todo torto no sofá.
Despertei com o barulho que ela fazia na cozinha. Eu estava moído e com torcicolo.
Que merda. Belo jeito de começar o dia.
- Bom dia , amor !!! – Carolina me disse sorridente.
- Onde você foi ontem ?! – disse em um tom irritado.
- Opa !!! Calma aí ...
- Custava dar um telefonema ?! Avisar ?! Fiquei te esperando que nem um palhaço ... – interrompi , não permitindo que ela falasse.
- Ficou porque quis !!!Eu saí com a Jane e encontramos uns amigos Seatle e não me dei conta do horário.
- Como é que é ?! Você é uma mulher comprometida ...
- E dai , eu não estava nada demais !!! Que saco !!! Agora vou ter que dar satisfação de cada passo meu ?! Me poupe ...
- Você estava bêbada , porra !!!
- Não senhor , altinha ... e o Jeff me deu uma carona. Eu não vim dirigindo.
- Quem é e otário ?! Que palhaçada é essa ?!
- Primeiro , ele é meu amigo e eu exijo que você o respeito. Segundo , o único que está bancando o palhaço aqui é você , com esse showzinho completamente desnecessário. E quer saber do que mais ? Eu vou trabalhar , não tenho paciência para “piti “ logo cedo.
Saiu sem olhar para trás e me deixando atônito.
Então , é assim ?! Muito bem , ver quem é palhaço ...
MAIS TARDE , NO MESMO DIA
Passei o dia todo fora, vitoriando uma obra. O que foi ótimo , assim evitei ve – la e discutir novamente.
O que ela me disse , estava entalado na minha garganta.
Decidi ligar para o Robert e chama – lo para tomar uma cerveja. Ele deve estar tão fulo da vida , quanto eu. Afinal , Carol e Jane , estavam juntas.
Fomos a um pub, que tinha mesas reservadas e um salão de jogos separado .
Chegamos praticamente juntos , fizemos nossos pedidos e eu não me aguentei .
- Cara , estou muito puto com a Carolina .
- Por que ? O que aconteceu ?!
- Como assim o que aconteceu ?! Ela é a Jane , saíram ontem e ela chegou as duas da manhã e bêbada . E nem ligou para avisar ... E hoje , quando a questionei , me chamou de palhaço . E disse que não tinha tempo para aguentar “ piti “ !!!!
- Sério ?! – perguntou perplexo.
- Por que você está me olhando com essa cara ?
- Porque a Jane chegou ao meu apartamento as 22h30 . E já havia me avisado que ia sair com a Carol e dois amigos de Seatle , que estavam na cidade.
- Filha da puta !!! Ela disse que os encontrou por acaso !!!
- Quer ver , ela não quis te falar, porque você é ciumento e ia criar caso.
Virei meu copo de cerveja de uma vez, joguei vinte dólares na mesa e sai, sem nem mesmo me despedir dele .
Dirigi como um louco até em casa. Meu sangue fervia.
Por que ela estava fazendo o comigo ?!
E outra surpresa me aguardava ...
Abri a porta , gritando o nome dela e me deparei com um casal ( que reconheci das fotos como os pais dela ) sentados e olhavam para mim assustados !!!
Carolina parou petrificada , segurando uma bandeja e também me olhava com os olhos arregalados de pavor !!!
Que merda !!! O que mais faltava me acontecer ?!
POV ALLIE
Saí do hospital com a sensação de estar presa no tempo, fadada a repetir os mesmos acontecimentos ...
De novo Lucca me afastava , me fazia sentir inadequada . Reviver os mesmos altos e baixos ... Ah , não .
Cheguei em casa, cansada e triste . Já estava deitada, quando meu avô bateu à porta.
- Allie , princesa está acordada ? Posso entrar ?
- Estou. Claro , vovô. – falei me sentando .
- Você lembra daquela viagem a Londres para conhecer o acervo da Biblioteca Real ? Então consegui a liberação . E você parte, semana que vem . Serão cinco dias , em meio aos mais raros exemplares. O que me diz ?! – ele estava entusiasmado.
- Ai vovô , muito obrigada !!!
- Posso confirmar sua passagem ?!
- Claro !!! Meu Deus , eu não acredito !!!
- Pois pode acreditar princesa, Londres a aguarda !!! - me deu um beijo nos cabelos e saiu .
Eu estava em êxtase. Até que me lembrei que o Lucca ia sair do hospital ...
Mas seriam só cinco dias e esta é uma oportunidade única !!! Eu esperava por isso, desde quando optei pelo curso de Literatura.
E ele mesmo disse que não quer que deixemos fazer nada por causa dele ...
NO DIA SEGUINTE
Lucca teve alta e fui buscá – lo junto com o pai . D. Marina , já havia chegado de viagem ( que encerrou mais cedo , quando foi avisada sobre o acidente ) e nos aguardava ansiosamente.
Fizemos a parte burocrática referente à alta e após a liberação e recomendações medicas saímos.
Lucca estava silencioso e o clima estava pesado. Meu sogro o ajudou se acomodar e eu fui no banco de trás . O silêncio só foi interrompido durante o percurso pelo rádio que tocava música clássica.
- Chegamos !!! – anunciou meu sogro. Abrindo o porta malas para pegar a cadeira de rodas , enquanto eu ajudava Lucca a sair do carro, se apoiando em mim. Ele se sentou e disse :
- Obrigado , Alicia . – hum , o que será que fiz de errado agora ?
- Disponha sempre . – respondi ironicamente.
D. Marina veio correndo e o abraçou .
- Meu amor , como você está ?! Desculpe eu so pude voltar ontem .
- Mãe , está tudo bem . Nós já passamos por isso .
Ficamos calados . Não havia o que dizer .
Depois de uma tentativa de conversa frustrada por parte de d. Marina , fomos para o quarto dele. O ajudei a se trocar e deitar. Comecei a massagear seu pé direito , como sabia que ele gostava e puxei assunto .
- Você tem pés tão bonitos . Nem parecem pés de homem. São bem cuidados.
- Esse ainda é ...
- Os dois são.
- Bom , devem existir milhares de assuntos mais interessantes do que aparência dos meus pés ... Você está inquieta . Quer me dizer alguma coisa ?!
Ele me conhecia como ninguém. Continuei massageando seu pé, tomei coragem e falei de uma vez :
- Lucca , eu vou para Londres a semana que vem. São só cinco dias ,vou com um grupo visitar a Biblioteca Real. Meu avô conseguiu a minha permissão. E você sabe o quanto sonhei com isso ... E cinco dias passam voando.
Fiquei esperando algum comentário , enquanto olhava sua expressão inalterada.
- Boa viagem Alicia . – disse friamente, enquanto puxava o pé das minhas mãos. – Eu estou cansado , quando sair , por favor , feche a porta .
Oi ?! Como assim ?! Ele estava me rejeitando de novo ...
Tudo bem . Eu iria aproveitar minha viagem .
Saí, batendo a porta.
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