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História Rising Tide - Boas Novas


Escrita por: Orbis

Notas do Autor


Sem notas iniciais por hoje ^^

Boa leitura <3

Capítulo 48 - Boas Novas


BOAS NOVAS

 

Os materiais de trabalho do zelador do hospital já não eram mais as únicas testemunhas de sua dor, embora estivesse sozinho no momento. A solidão era muito apreciada, principalmente para um menino que possui tamanha vergonha das próprias lágrimas.

Mas estranhamente, Jack passara a sentir falta da garota intrometida que saíra há exatos cinco minutos, e ainda não havia voltado.

Negou-se a se levantar para ir procurá-la e ao invés disso decidiu que o melhor a se fazer era voltar a apreciar a solidão.

Mas como poderia, depois que ela lhe oferecera verdadeira companhia?

- Voltei. – ouviu a voz feminina tomar o espaço num súbito, enquanto a garota de suas divagações invadia o lugar de repente, trazendo em suas mãos dois copos descartáveis característicos.

Jack desfez o sorriso feliz que tomara seu rosto involuntariamente, quando a curiosidade sobrepôs a alegria em vê-la.

- O que raios é isso?

- Uma bebida quente e aconchegante. – ela esticou um dos copos na direção dele, mas então puxou de volta. – Posso voltar a me sentar aqui com você? – pediu, solene.

- Não sou dono do lugar. Pode sentar onde quiser. – respondeu propositalmente grosseiro, não querendo evidenciar o agrado em tê-la de volta.

- Ok, então! – sorriu, dando de ombros, tornando a oferecer o outro copo.

- Não vai me dizer o que é? – Jack arqueou uma sobrancelha, desconfiado. – Está tentando me envenenar?

A menina revirou os olhos azuis e, voltando o copo para si, bebericou de um gole generoso, antes de tornar a esticar na direção dele, que o pegou dessa vez.

- Pela deusa, você consegue ser mais desconfiado que minha própria prima. – resmungava ela, ainda que em meio a um risinho. – Agora, experimenta. – incentivou, mas Jack mal ouvia o que ela tanto dizia.

Com os olhos arregalados, ele encarava o copo em que ela havia bebido, o copo que agora ele pretendia beber. Uma garota encostou a boca no copo onde ele também iria encostar. Isso é quase um beijo de língua! Os olhos azuis de Jack quase saltaram das órbitas, sentindo as maçãs do rosto entrando em ebulição.

- Você está bem? – foi pego de surpresa com o questionamento dela. – Está... vermelho.

- E-eu só... – desistiu de falar, visto que era patético a tentativa, e apenas pegou o copo e levou aos lábios.

O sabor doce e lácteo tomou-lhe a língua, aquecendo lhe conforme descia a garganta. O gosto era muito bom e muito familiar, embora fosse diferente da bebida a qual costuma tomar em casa, pois os ingredientes que compunham a receita de sua mãe contavam com peculiaridades que só partiam dela.

Logo, Jack fitou a menina ao seu lado, com os olhos crispados.

- Como sabe que eu gosto de latte?

Ela deu de ombros e sorriu, orgulhosa de sua própria perspicácia.

- Intuição.

O menino deu um risinho e tornou a beber de seu latte, enquanto a menina apreciava o que parecia ser um café expresso. Aquilo o espantou.

- Garota, você não é muito nova pra beber café?

- O que você tá bebendo também é café e eu tenho certeza de que você é mais novo que eu.

- Tenho 11 anos.

- Jura? – ela pareceu surpresa e ele crispou os olhos para essa reação.

- Quantos anos você tem?

- Perguntas repentinas demais para serem respondidas imediatamente. – desconversou, tornando a beber o café.

- Hm, entendi. Sua reação entrega tudo. Você é mais nova que eu, mas fala feito uma adulta. – tornou a fazer o mesmo que ela. – O que de certa forma está começando a me assustar.

- Eis o motivo de eu duvidar que fosse mais velho que eu.

- Ah, qual é.

- Mas se te faz sentir melhor, minha mãe nem sabe que bebo café. – deu de ombros, ainda bebericando da bebida forte. – Ela trabalha aqui, eu conheço todos os funcionários e nenhum deles me impede de mexer na maquininha.

Jack anuiu, compreendendo.

- Meus pais só permitem que eu tome latte, por causa da mistura.

- Foi o que imaginei. – ela olhou em volta, dando um suspiro e torcendo o nariz. – Você poderia ter escolhido um lugar melhor para ficar triste, não?

Jack fitou o entorno, observando o ambiente úmido e frio que era o armário do zelador. Para ele, não existia lugar melhor para sumir de vista, mas ela não conhecia os propósitos dele, então apenas a encarou, franzindo o cenho.

- Essa é a sua forma de me divertir? – ela anuiu, feliz com o próprio feito. – Não está funcionando.

- É uma tarefa a longo prazo. – deu de ombros. – E então, por que está se escondendo?

Jack parece imensamente sem jeito, como quem havia acabado de ter sido pego no flagra.

- Quem disse que estou me escondendo?

- Dentro do armário do zelador? – a garota arqueou uma sobrancelha e riu. – Sim. Você está se escondendo e eu gostaria de saber o porquê.

Pelo visto, seus propósitos eram bem óbvios. Jack deu de ombros. Até então, não havia revelado nada à garota, ela adivinhara certo todas as vezes em que arriscara, se é que “arriscar” era realmente o que estava fazendo. Pra uma criança, ela era esperta até demais.

Ela realmente está me assustando.

Permitiu-se então pela primeira vez dizer-lhe o real motivo – antes que ela adivinhasse isso também.

- Meu pai diria que sou um covarde.

- Covarde por quê?

- Não é evidente? – desviou o olhar dela, virando o rosto um pouco para a impedir que visse sua feição triste. – Porque eu estava chorando.

Pôde ouvi-la suspirar e manter um longo silêncio. Antes de dizer de repente.

- A minha mãe fala que os homens mais fortes são aqueles que choram.

Jack negou com a cabeça.

- Isso não faz sentido.

- Faz sim.

- Chorar é coisa de fracote.

- Então, você é um? – Jack abriu a boca para refutar, mas nada saiu. – Não, não é. E também não é um covarde. Fazer exatamente o que toda uma sociedade impõe o contrário demanda coragem.

 

POV Elsa

O resquício da surpresa ainda me fazia caminhar meio aérea dentro do meu próprio apartamento.

Na sala, a cacofonia se mantém – todos em êxtase com a presença dos novos integrantes da noite de estudos... que, como minha intuição insistia em gritar na minha cabeça, em breve deixaria de ser uma reunião para este ofício.

- Sabia que a presença dele te afetaria.

Na voz grave que dizia, havia um tom tão sutil de preocupação, que qualquer outra pessoa que não o conhecesse bem, teria deixado passar despercebido.

Ergui o olhar para encarar os olhos castanhos que me fitavam.

Flynn estava recostado no balcão da cozinha, me observando com cautela.

Embora eu estivesse profundamente feliz em vê-lo bem – os machucados no rosto já não eram visíveis e os que ainda eram estavam quase que completamente cicatrizados, exibindo um ou dois curativos bem discretos aqui ou ali e, claro, o antebraço imobilizado que já não necessitava mais do uso da tipoia –, meus pensamentos insistiam em voltar para maldito de cabelos prateados que socializava com os demais na sala.

- Não estou afetada pela presença de ninguém. – menti descaradamente, e ser alvo do olhar crispado de Flynn me fez engolir em seco.

- Pra cima de mim, Elsa?

Af, logo quem estou tentando enganar?!

- Ok, estou um pouco afetada, mas vou ficar bem.

- Tenho certeza que sim. – murmurou em plena convicção e eu o fitei a tempo de ver o mínimo sorriso marcar os lábios bonitos.

Sim, porque mesmo machucado, ele jamais deixara de ser bonito e, como seu eu ouvisse a voz de Punzie pontuando isso a todo instante, era como se as marcas o tivessem deixado ainda mais viril.

Pensando na minha amiga, imaginei se ela estava sendo acometida pelos nervos à flor da pele com a surpreendente presença de Flynn tanto quanto eu estava em relação a Jack.

- Snow, pare de pensar no Jack e preste atenção em mim.

Resfoleguei, voltando os olhos para ele.

- E-eu não estava... – já ia mentindo, quando Flynn me interrompeu.

- Concentra. – ordenou e eu me calei. – Preciso que me responda as seguintes perguntas nos próximos dois minutos, sem me questionar sobre elas. Fará isso?

- C-como assim? Por que eu não posso..?

- Apenas responda, sim ou não?

- Sim, senhor! – quase bati continência, diante do tom autoritário e convicto dele.

Flynn parecia ter algo importante a tratar comigo. E quando mencionou a frase seguinte, não consegui conter o solavanco no meu coração.

- Sua mãe está morando onde atualmente?

- Na minha cidade natal. – não me atrevi a demorar para responder, embora a curiosidade crescesse em mim. – Birmingham.

- E ela está impedida judicialmente de sair da cidade?

- Não. Da cidade, não. Só do país.

- Então, ela pode vir pra Oxford. – não havia sido uma pergunta e sim uma afirmação, como se tivesse concluído os próprios pensamentos em voz alta. – A seu critério, como filha dela, quais as chances de ela aceitar vir pra Oxford?

Neguei com a cabeça. – Mínimas.

Ele estranhou a resposta. – Por quê?

- Já implorei para que viesse, mas ela nega, por acreditar que mais atrapalharia do que ajudaria estando presente.

Flynn anuiu, dando um longo e compreensível suspiro, meio desanimado, meio pensativo.

- Conhecendo você, não me surpreende que alguém com esses conceitos seja sua mãe.

Franzi o cenho. – Ei!

- Você acha que ela viria se aqui surgisse uma oportunidade de emprego para ela?

Nesse momento, resfoleguei. Toda aquela inquietude que me acometia de início voltando com tudo.

- Flynn, o q-que você...

- Responde.

- Minha mãe não pode...

- Responde, Elsa.

Parei para pensar um pouco, reordenando os pensamentos.

- Voltar a exercer a função é tudo o que ela mais quer. – afirmei sincera, me recordando da época em que minha mãe era plena justamente pelo que fazia. – Ela não pensaria duas vezes em aceitar, se não soubesse que o empregador pode responder na justiça por empregá-la. Só por isso, acho que ela não aceitaria. Minha mãe já acha que fez muito mal às pessoas ao redor, não quer piorar isso.

- Ela não vai precisar se preocupar com isso. Tenha certeza.

- Como assim?

- Sua mãe já está empregada. – meu coração disparou no peito. – Ela precisa vir para Oxford até o mês que vem.

***

Com os pensamentos ainda mais difusos do que antes, retornei à sala. Flynn me garantiu que ao fim da noite após a reunião me deixaria a par de todos os detalhes.

Ele permaneceu na cozinha, pois agora quem tinha assuntos a tratar com o moreno era Rapunzel, que adentrou o lugar assim que eu saí.

Embora eu estivesse confusa com toda aquela informação, uma felicidade profunda me preenchia com a simples ideia de ver um sorriso no rosto da minha mãe novamente. Era perigoso? Sim. Era arriscado? Pra caramba. Mas a faria tão feliz.

Dei um suspiro, tentando conter o sorriso bobo no rosto e observando o entorno. Todos os grupos ainda eram os mesmos ou quase isso.

Lind agora ria de alguma coisa que Tuff dizia, enquanto Hiccup provocava os dois – as bochechas coradas de Tuff deixava claro que a provocação estava sendo bem efetiva.

Hans e Anna conversavam sobre o sofá, mas não necessariamente sobre um assunto relacionado aos estudos, pareciam apenas estar num bate-papo distraído mesmo.

Perto da varanda, Kristoff observava Merida com uma sobrancelha arqueada, esta que implicava com o meu gatinho Olaf, cutucando-o com a varinha de brinquedo. Irritado, Olaf sibilou para ela, e Merida arregalou os olhos, Kristoff deu risada, soltando um “eu te avisei, caralho.”

Olaf correu para longe e pulou em cima da mesa. Caminhando mais tranquilo, se aproximou todo se querendo até as mãos de Jack que, na companhia de Tooth, começou a acariciá-lo distraidamente.

Observei os dois por um longo segundo – pareciam imersos na conversa e sorriam um para o outro. Eu realmente não queria atrapalhar, mas o meu lugar na mesa era justamente na cadeira ao lado de Jack – meus materiais e folhas até estavam jogados nesse espaço sobre a superfície.

Meio de fininho, me aproximei e fui catando as minhas coisas em silêncio, me esforçando para não ser notada.

- Toothianna, vem ouvir o que esse bocó aqui tá falando pra tua amiga. – Hiccup chamou, zoando Tuffnut que, coitado, coçava a nuca, todo sem graça na frente de Lind, que não parava de rir.

Nesse momento, meio que paralisei no lugar. Mas Tooth não pestanejou antes de, animada, se levantar da cadeira e seguir até eles, deixando-me apenas na companhia de Jack e Olaf sobre a mesa.

Quando retornei o olhar para o rapaz de cabelos alvos, seus olhos azuis já estavam bem concentrados em mim. Engoli em seco.

Seu olhar desceu para as minhas coisas as quais eu pegava em silêncio e depois retornou para o meu rosto. Arqueou a sobrancelha clara.

- E-eu posso... – respirei fundo, recompondo minha voz e tentando evitar outro deslize. – Eu posso me sentar aqui?

Ele me observou por mais um longo segundo, crispando os olhos claros, e eu me indignei com a forma como era necessário apenas isso pra eu ficar toda nervosa na sua frente. Que patético, Elsa.

Mas no segundo seguinte, Jack cortou o contato visual, voltando os olhos para as próprias folhas.

- Você está na sua casa. Pode sentar onde quiser. – murmurou, sem me fitar, e eu murchei no mesmo instante.

Jack continuava me tratando com uma frieza cortante.

Em silêncio, me sentei no mesmo lugar onde eu antes ocupava, tentando ignorar a dorzinha aguda no meu coração. Assim que me acomodei, Olaf se afastou das mãos de Jack e se deitou a minha frente, com a barriguinha pra cima. Sorri, sentindo a dor amenizar e meu coração se aquecer um pouquinho com a cena.

- O que acham de todos nós sentarmos a mesa, como fazíamos nas primeiras reuniões? – ouvi a voz de Hans sugerir, chamando a atenção do pessoal.

Olhei em volta e as pessoas davam de ombros, gesticulando de forma que dizia “por mim, tudo bem.”

E pouco a pouco, foram cada um ocupando um espaço a mais sobre a mesa redonda, que antes eu achava ser grande. Assim que todos sentaram-se – com exceção de Flynn e Punzie, que ainda não haviam retornado da cozinha – o espaço ficou bem mais apertado.

De um lado, eu tinha Lind e do outro Jack, que estava praticamente colado em mim. Hans a minha frente, Merida e Tooth cada uma ocupando um espaço ao seu lado. Próxima a Lindsay, havia Tuffnut, seguido de Hiccup e chegando em Meri. Anna ocupava o lugar ao lado de Tooth e entre ela e Jack cabia mais alguém, se apertasse mais um pouquinho.

Anna gesticulou, chamando Kristoff que, sentado confortavelmente sobre o sofá, nem se deu o trabalho de erguer os olhos da tela do celular ao responder.

- Me recuso.

Eu não podia culpá-lo. Eu também não trocaria o conforto do sofá para ficar apertada em meio a tanta gente. Mas a situação até que estava divertida.

- Céus, deixa de ser mal-educado e grosso e sente-se logo aqui!

- Vou te mostrar o grosso, Anna. – murmurou num tom sério, onde só os mais íntimos seriam capazes de detectar a parcela de malícia em sua voz, sem tirar os olhos do celular.

Minha amiga só faltou explodir de tão enrubescida. Coloquei a mão a frente da boca, tentando não rir.

- Seu imbecil, estou falando sério.

- Eu também. – ergueu os olhos bonitos para encarar Anna, o âmbar carregado de segundas intenções. – Por que você não senta aqui... – por um momento, parecia que ele estava indicando o próprio colo e o meu queixo foi parar no chão.

E ao dar uma breve olhada em volta, percebi que não era a única surpresa. Todos os presentes tinham a mesma feição pasma, boquiabertos. Até mesmo os seus colegas de club – com exceção de Jack, que na verdade sorria orgulhoso, é mole?

Kristoff deu um risinho baixo e rouco.

- Aqui, comigo. Do meu lado. – completou, dando dois tapinhas no espaço no sofá e voltando a atenção a tela do celular, negando com a cabeça. – Vocês são tão maldosos.

- Eu vou esmurrar a sua fuça. – Anna estava a ponto de ter um colapso nervoso.

Todo mundo pareceu suspirar, achando graça dos próprios pensamentos.

- Quem não te conhece, que te compre, Bjorgman. – Jack murmurou mordaz ao meu lado, dando um risinho.

- Demorei para entender que tinha conteúdo sexual... – gesticulou Merida.

- Ai, que delícia ver as provocações alheias enquanto estou solteira e infeliz. – divagava Lindsay, sorrindo desgraçadamente, e Hiccup cutucou Tuff com o cotovelo de um jeito nada sutil.

- Pegou a direta, meu nobre?

- Meu amor?! – espantou-se Meri, encarando Hiccup com os olhos arregalados e sorrindo tão desgraçadamente quanto Lindsay.

- Alguém viu a minha apostila? – questionou Tooth, vasculhando o diverso conjunto de folhas sobre a mesa.

- Tá aqui. – Anna estendeu o livro na direção dela. – E alguém viu a minha?

Cada um foi catando o seu próprio material de pesquisa para voltar a estudar.

Tentando encontrar meu marca-texto favorito em meio a tanta balbúrdia que incluía comentários, perguntas, risinhos e mãos pra todo lado catando folhas, me dei por vencida, como sempre sem ter voz para questionar alguma coisa, apenas fiquei esperando que o povo terminasse, o que se seguiu por uns longos segundos.

E então, percebi quando o marca-texto foi estendido na minha direção. Ergui os olhos para fitar quem me entregava e não me surpreendi, é claro.

Não era a primeira vez que a perspicácia dele me deixava admirada.

- Obrigada, Hans. – lhe ofereci um sorriso sincero e até meio involuntário, que foi correspondido na mesma intensidade.

Mas reparei que no segundo seguinte, Hans desviou os olhos verdes de mim e fitou o rapaz ao meu lado.

Segui o seu olhar, e vi que Jack na verdade já o encarava. Previamente.

E eu conhecia aquele olhar.

Não sei se pela leve mudança no meu tom de voz ao falar com Hans, ou pelo sorriso trocado, o que quer tenha sido, por menor que fosse, incitou a atenção de Jack.

E se a perspicácia de Hans me admirava... a de Jack simplesmente me assustava de tão aguçada que era.

Os olhos azuis fitavam Hans, bem crispados, compenetrado, as sobrancelhas claras franzidas, como se o analisasse. Ele desviou o olhar do ruivo e repousou sobre mim, examinando cada traço do meu rosto e retornando para Hans novamente, antes de do nada, sua feição relaxar como se de repente a compreensão o atingisse.

Jack baixou o olhar, anuindo lenta e ironicamente, nos lábios finos um sorriso... sem nenhum humor.

- Pronto, cada um com as suas coisas, finalmente. Que inferno de bagunça de folhas... – Anna exprimiu, antes da conversa acerca da monografia de Tooth sobrepor na roda de amigos.

Tooth tentava chegar num consenso sobre qual método de pesquisa utilizar e então cada um foi ajudando de alguma forma, mas eu me mantinha calada... afetada pelo último olhar de Jack e o que quer que ele estivesse imaginando acerca das suas próprias conclusões.

Mas ao ouvir a sua voz em meio a dos outros, tranquilo e gentilmente compartilhando de suas ideias para ajudar Tooth, meus nervos foram se acalmando e eu percebi que se ele notou alguma coisa, não se importou. Felizmente? Dei um longo suspiro.

Mas de qualquer forma, ele estava seguindo com o que noite de estudos propunha, e eu deveria fazer o mesmo, considerando que a ideia foi minha.

E assim, logo me entrosei na conversa, sugerindo um tipo de pesquisa que poderia ser aplicado, e o assunto seguiu, onde todos distraidamente passaram a opinar e fazer comentários acerca da ideia.

A conversa seguia animada e fluida, Tooth ia anotando as sugestões, Anna ia auxiliando junto de Hans, e tudo ia seguindo na mais plena tranquilidade...

Até que senti um toque quente e suave sobre minha perna.

Arfei com a sensação, principalmente porque era um toque... conhecido.

O encarei, estarrecida, e percebi que seus olhos azuis se mantinham vagos e distraídos sobre as palavras do artigo que ele fingia ler, como se nada estivesse acontecendo.

Por um momento, até eu mesma acreditei que era coisa da minha cabeça, que a proximidade tentadora somada a saudade que eu sentia dele estava tomando proporções preocupantes a ponto de eu devanear com o seu toque sobre mim, mas não.

Com a ponta dos dedos, ele desenhava pequenos círculos em minha pele, que parecia incendiar em cada ponto que ele encostava. Me agarrei à cadeira, em apuros, tentando controlar o fervor que se alojava em meu âmago e o coração que disparava no meu peito. Olhei ao redor, aturdida, mas ninguém parecia exatamente prestar atenção em nós.

Enquanto Hans falava, eu sentia os dedos de Jack passearem pela parte interior da minha coxa, pressionando com os dedos fortes, exigentes e malditamente confiantes, e todo o meu corpo sucumbiu a um arrepio quente.

Tentei compassar a respiração, mas era impossível. Em poucos segundos, eu estava ofegante, tentando me manter concentrada no árduo ofício de disfarçar minhas reações, mas ao sentir os dedos apertarem minha coxa numa pegada firme, eu estremeci, acometida pela excitação e a letargia que se dispersava pelo meu corpo, me deixando cada vez mais sôfrega.

A conversa seguia ao nosso redor, todos ocupados com seus próprios assuntos, risos e comentários que indicavam que sequer prestavam atenção em mim e em minha completa falta de jeito, a cada segundo dolorosamente lento em que sua mão deslizava num toque erótico perpassando a base da minha saia.

Céus. Fechei as mãos em punho, tentando não reagir ao seu toque, mordendo o lábio com tanta força que chegava a doer, me proibindo de emitir qualquer ruído. Arfante e completamente ávida, eu sentia a onda ardente que me consumia a medida em que sua mão ia subindo, numa lentidão torturante até alcançar a costura da calcinha.

Deslizou os dedos numa carícia leve e provocante sobre o tecido e eu engoli em seco, contendo o gemido, mas em contrapartida, meu corpo inteiro amoleceu quando um suspiro rouco de satisfação irrompeu de sua garganta ao sentir a peça tão úmida.

Me arrepiei por inteira.

Ele não ia parar.

Ele ia continuar me provocando, até me enlouquecer.

E embora não estivessem prestando atenção na gente, a sensação de que a qualquer momento iriam perceber se enrodilhava no meu cérebro, porém incapaz de sobrepor à vontade que me dominava.

Eu estava à mercê dele.

- Elsa? – meu nome sendo chamado me fez quase dar um pulo e eu encarei Meri, que me observava. – Tô te chamando a um tempão, cabrita. – expõe, estranhando. Numa destreza desgraçada, ele mantinha a provocação, me deixando ainda mais mortificada e ao mesmo tempo louca por ele. – Você está bem?

- Si-sim... eu só... – eu mal era capaz de falar.

Segurei seu punho sobre a mesa disfarçadamente, me agarrando ao último fio de sensatez ainda íntegro na minha consciência. O afastei de mim, bem devagar. Com a visão periférica, eu via o seu olhar pleno e intocado, o sorrisinho sereno nos lábios bonitos, em absoluta placidez.

- Eu só me esqueci de fazer uma coisa. – murmurei para ela, que deu de ombros, e em seguida arrastei minha cadeira, fazendo menção de me levantar. – Já volto. – anunciei e ergui-me da mesa, caminhando depressa até as escadas, sem olhar para trás.

Praticamente corri até que estivesse na segurança do meu quarto e ali fiquei, sentindo meu corpo inteiro em chamas. Me encostei à porta, como se tentasse a todo custo reforçá-la contra a realidade do que havia acontecido do lado de fora.

Não sei dizer se estou com raiva, de mim, ou dele, por me deixar tão confusa e ao mesmo tempo tão excitada. Que... cretino.

Mas sou incapaz de negar a saudade que senti do seu toque.

Eu estava tão arfante, tão sôfrega, tão... Argh! A quentura que me dominava simplesmente não dissipava por nada e mesmo que eu me esforçasse para fugir dos pensamentos que retornavam cada vez mais intensos, a sensação era a de que seus dedos ainda estavam sobre mim, entre minhas pernas, me enlouquecendo...

Céus, eu preciso...

De um banho frio!

Corri em pleno desespero para o maldito box da suíte, arrancando as roupas pelo caminho e quase as rasgando pela pressa. Abri o registro e simplesmente me joguei sob o jato de água gelada que descia do chuveiro, mordendo o lábio e libertando um longo grunhido.

A água estava tão fria que chegou a doer ao se chocar contra minha pele quente, mas não me importei, pois em poucos segundos fui acometida por um imenso alívio: a pressão do jato de água glacial fustigando todo o meu corpo foi instantaneamente apagando qualquer sinal de excitação.

Permaneci ali por tempo suficiente para que minha pele começasse a ficar insensível, a ponto de eu não sentir absolutamente nada além dos meus dentes tiritando de tanto frio e a vergonha que me acometia.

Eu não tinha mais cara, tampouco vontade para retornar lá pra baixo. Longe de mim aguentar as próximas horas tendo que presenciar seu sorriso mordaz e satisfeito por saber tudo o que ainda me causa.

Não sou nenhuma masoquista.

Saí do chuveiro, enrolando-me em uma toalha seca, sem me enxugar, aproveitando toda e qualquer sensação que as gotas de água gelada ainda surtiam sobre mim ao escorrer pela minha pele, sentindo o cabelo molhado pingando em filetes frios que desciam pelo meu colo.

Eu estava decidida. Não iria mais descer.

Apenas ia esperar que uma das meninas se preocupasse com a minha ausência e decidisse vir checar se eu estava bem. Explicaria a situação ou inventaria uma desculpa.

Mas então, de repente, ouço a porta do meu quarto chiar, indicando que estava sendo aberta.

Mas quem adentrou o cômodo naquele momento, para o meu total horror, não era exatamente uma de minhas amigas.

*


Notas Finais


Eu sei que falei que teríamos Jelsa e Flynzel, mas acontece que o capítulo ficou IMENSO e eu precisei cortar. Portanto, atentas aos próximos capítulossss
To adorando escrever momentos assim, todos alegrinhos com brincadeirinhas bobas e vibe da quinta série (?) teremos mais uns 2 ou 3 capítulos com essa pegada, antes da merda começar a feder, isso aqui é meio que a minha calmaria antes da tempestade, sabe?

Muito obrigada as leitoras que comentaram, vocês são tudooooooooo <3
Esse capítulo é especialmente dedicado a @persephonegirl que está fazendo aniversário hoje, PARABÉNS, CHEIROSA! 🎂

Espero que tenham gostado, e dependendo do feedback, retornarei em bem breve!
Até a próxima <3


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