- Todoroki? - A garota de longos cabelos negros perguntou. - Não lembra mais de mim?
Todoroki olhava para a garota com total surpresa no olhar, seu maxilar estava rígido.
- Kendall - ele disse, seco.
Me afastei rapidamente dele quando ele disse esse nome. Será que esta era a Kendall que Bakugou mencionou? Eu não podia acreditar que logo essa garota por quem Todoroki era apaixonado, tinha voltado para a cidade justo quando ele e eu estávamos namorando.
Os olhos de Todoroki me observaram, duvidosos e, logo, se voltaram para a tal, garota.
- Vejo que você está bem acompanhado. Isso é bom - disse Kendall.
- É - Ele concordou. - E você?
- Estou bem. Cheguei aqui há dois dias e resolvi te procurar. Desculpe atrapalhar, é que eu estava com muita saudade de você e... - ela se interrompeu e se jogou nos braços do meu namorado, o abraçando. - Senti tanto a sua falta - ela enterrou o rosto no pescoço dele.
Shouto não disse uma palavra, apenas a abraçou por igual.
Achei que ambos estavam abraçados por muito tempo e resolvi me intervir.
- Todoroki, eu estou indo - falei, na tentativa de que ele se desgrudasse da garota.
- Calma - Ele se soltou de Kendall. - Eu vou te levar em casa, Midoriya. — A garota não parecia surpresa quando Todoroki envolveu minha cintura com os braços.
Será que ela sabe que Todoroki gosta de garotos?
- Eu não sabia que você levava seus ficantes até em casa, Shocchan - se interferiu Kendall chamando ele por um apelido.
Shocchan? Palhaçada.
Eu estava prestes a me manifestar contra aquela ridícula já que não vou de ficar calado, mas Todoroki disse:
- Ele é meu namorado.
Kendall ficou boquiaberta e logo voltou a sua expressão normal, tentando disfarçar o espanto.
- Ok. Que boa notícia - ela se aproximou de mim e estendeu a mão. - Prazer, sou Kendall.
- Midoriya, izuku Midoriya - peguei em sua mão e ela apertou a minha um tanto forte demais. Quando soltamos nossas mãos, Kendall me lançou um sorriso perverso e vitorioso, ignorei sua indireta e dei as costas a ela.
- Depois nos vemos, Shocchan - ela disse.
Shocchan é o rabinho dela.
Não sei que tipo de gestos eles fizeram um ao outro e também não ouvi Todoroki respondê-la, só sei que segundos depois, ele já estava ao meu lado, acompanhando os meus passos.
- Qual é o lance entre vocês dois? E essa apelidinho? - Pergunti ríspido, quebrando o silêncio.—Ela não é do jeito que eu imaginei.— Disse baixinho sem pensar, como se as palavras saíssem da minha boca sem eu perceber.
- Não sei do que você está falando. - respondeu rápido de mais. - Você está bravo comigo e eu tenho quase certeza que é por causa da Kendall. Você a conhecia ou já ouviu falar dela, por acaso?
- Não - respondi. Porra ele escutou?
- Anjo, é melhor não mentir para mim.
Parei abruptamente. Eu precisava de uma desculpa mais válida para tentar convencê-lo.
- Não estou mentindo, Todoroki. Sua descrença em mim me espanta, sabia?
- Só acho que você está agindo de um jeito esquisito. Por que você se afastou de mim quando eu disse o nome dela, naquela hora?
A boa memória dele me impressionava.
- O que você queria que eu fizesse? A garota nos atrapalhou e eu fiquei nervoso. E já que tocamos neste assunto: de onde vocês se conhecem?
- Ela morava aqui, mas se mudou faz um bom tempo.
- E agora ela voltou para ficar?
- Não sei, não quero saber, ela não me interessa - ele me agarrou e me prendeu em seus braços de uma forma carinhosa. -Que tal continuarmos de onde paramos? - Seus lábios roçaram em minha bochecha.
- Não é uma má ideia - sorri em concordância.
***
Dias depois, Todoroki me ligou dizendo que queria falar urgentemente comigo, em sua casa. Tentei descobrir o que exatamente ele queria, mas ele não me disse nenhuma palavra sobre o assunto no qual queria tratar, apenas disse que não dava para falar por telefone.
Fiquei cheio de curiosidade e também com um pé atrás. O que será que Todoroki queria falar comigo? Deixei algumas perguntas sem respostas e segui rumo à sua casa.
- O que você queria falar? - Perguntei, enquanto ficava de pé no tapete da sua sala.
Shouto não respondeu, ele parecia confuso e irritado.
- Está tudo bem? - Perguntei pela segunda vez desde que pisei o pé ali naquela sala.
- Sim - sua voz estava fria e calculada. - Falei para você vir aqui porque... - ele deu uma pausa. - Enfim, vamos logo ao assunto: Bakugou te contou alguma coisa sobre mim, não foi?
Permaneci calado. Parecia que meu coração iria sair pela boca a qualquer momento. Todoroki tinha me pego desprevenido e eu odiava mentir para ele.
- Todo... - não consegui terminar a frase.
- Isso já explica tudo - ele me lançou um olhar revoltado e se virou, passando as mãos pelos cabelos bicolor.
- Mas o que aconteceu? Eu n...
- Aconteceu muita coisa - Ele me interrompeu, alterado e se aproximou de mim. - Eu odeio quando falam da minha vida pela costas, Midoriya!
- Mas por que você está olhando para mim? Eu não sabia de nada!
- Você devia ter me contado que o Bakugou disse aquilo dos meus pais! Eu planejava que você soubesse por minhas palavras. Eu estava contando os dias para dizer isso a você - ele parecia magoado.
De repente, me senti culpado. Todoroki tinha razão.
- Desculpa, eu meio que forcei o Bakugou a me dizer sobre sua família... eu... Me desculpa, Shouto, por favor.
- Desculpas não adianta, Midoriya - ele se virou de costas novamente. - Não gosto de falar sobre os meus pais, isso me... - ele não terminou a frase e pude ver que suas mãos foram de encontro ao rosto.
Me aproximei cautelosamente dele e pousei a mão sobre seu ombro mas ele se virou em um movimento bruto, fazendo minha mão cair.
- É melhor você ir embora - ele disse, seus olhos estavam lacrimejados.
- Mas quero ficar só um pouquinho com você.
- Não. Eu quero ficar sozinho. Vai, por favor. Depois a gente se fala - seus olhos estavam indescritíveis, não havia nenhuma emoção neles. - Vou precisar falar de novo?— Sua voz saiu seria dessa vez.
Me senti um lixo, pois eu estava praticamente sendo expulso da casa do meu próprio namorado. Olhei-o incrédulo, tentando segurar minhas lágrimas de pura raiva. Naquele momento ele parecia outra pessoa, parecia o Todoroki ignorante e estúpido de alguns meses atrás. Dei as costas a ele justo quando uma lágrima teimou em escapar e escorrer pela minha bochecha.
Quando saí da casa dele, andei sem destino pelas ruas. Estava anoitecendo e uma agonia detestável começou a tomar conta de mim. Parei no meio-fio entre a calçada e a rua e, quando eu estava prestes a atravessar, um barulho de pneus raspando no asfalto invadiu meus ouvidos, seguido de altas buzinadas. De repente, senti um forte baque na região do quadril. Minha visão ficou turva e logo, se escureceu por completo.
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