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História Romeu em crise (Incompleta) - Donzela em apuros


Escrita por: soturn0

Notas do Autor


● Mais um capítulo! Dessa vez, resolvi ir mais fundo no que diz respeito ao relacionamento abusivo paterno.
Enfim. Boa leitura! ;)

Capítulo 4 - Donzela em apuros


Fanfic / Fanfiction Romeu em crise (Incompleta) - Donzela em apuros

Fiquei pelo que me pareceram horas admirando um teto sombreado de estrelas, que cintilavam lentamente, da direita para a esquerda, enquanto as batidas do meu coração vibravam constantemente nos meus ouvidos.

Embora não fosse muito espaçoso, o meu quarto era o único lugar agradável e aconchegante daquele minúsculo apartamento. Cada parte decorativa do cômodo era conciliada com a minha personalidade. As paredes enrustidas em textura estrelada na cor azul escuro, era o que mais tonificava o ambiente e lhe proporcionava uma atmosfera plácida. Na cabeceira, encontrava-se um quadro de um planetário solar, que se iluminava automaticamente ao apagar a luz. Na parede à esquerda, bem próxima a saída, havia uma prateleira de ponta a ponta, onde podíamos achar: um globo terrestre, um mini telescópio, dois bonequinhos de astronautas, livros empilhados e um relógio que tiquetaqueava irritante.

Eu me levantei da minha cama confortável quando os gritos do outro lado da porta se tornaram estridentes.

Meus pais discutiam novamente e eu já não sabia mais como lidar com aquilo. Às vezes, a única coisa que me restava era chorar no meu cantinho, silenciosamente, enquanto pedia aos deuses para que aquela situação tivesse um fim logo. Conviver com aqueles dois têm sido um dos meus piores pesadelos reais. Aquele apartamento se tornou o meu inferno particular. Entretanto, o pior de tudo era não ter para onde escapar ou fugir, caso o contexto se agravasse.

Será que eles não imaginam o quanto isso me afeta?

Será que os meus pais não pensam no meu bem estar psíquico?

Estavam tão ocupados demais tentando solucionar os mesmos problemas de sempre, que nem percebiam a minha existência ali.

Fui até a minha janela para observar a cidade lá fora. A ventania gélida e leve batia agradavelmente no meu rosto e soprava constantemente os meus cabelos, fazendo-me relaxar um pouco, ao mesmo tempo em que admirava a lua cheia se destacando naquele céu tenebroso. Abaixo de mim, eu podia ver as pessoas indo e vindo, sem parar. Algumas sérias, outras nem tanto, andavam em grupos ou sozinhas. Percebia-se de cara que elas também tinham seus problemas para lidar e passavam por dias ruins, o que fazia eu me sentir menos só, em meio a tudo isso. 

Logo à frente, algumas crianças brincavam divertidamente no parque que havia ali por perto. Suas risadas eram tão contagiosas que quem passava por ali irrompia um breve e alegre sorriso no rosto. Dava para ver o quão felizes aquelas crianças eram, enquanto corriam de um lado para o outro, eufóricas.

Diante desse cenário de harmonia, um sentimento de nostalgia me consumiu. Lembrei-me da minha infância, onde tudo era mais simples e divertido. Não havia nenhum problema a ser resolvido ou decisão para ser tomada. A única coisa que importava mesmo era se amanhã faria sol ou chuva. Ou se podíamos ficar até tarde na rua.

Onde eu estava com a cabeça ao pensar que seria bom crescer depressa?

Um assovio me fez retornar a realidade.

— Ei, Rapunzel! — uma voz grossa e familiar gritou.

Olhei para baixo, procurando saber de quem se tratava. A primeira coisa que avistei foi um cachorro enorme abanando o rabo e, em seguida, vi um rapaz de cabelos avermelhados olhando para cima.

— Cast! — gritei ao reconhecê-lo.

Ele acenou para mim com um sorriso nos lábios e eu sorri de volta, fazendo um sinal para que ele me aguardasse.

— Espera só um minutinho que irei descer.

Desci, às pressas, escada a baixo. No último degrau, minhas pernas vacilaram e pouco não caí. Recuperando a postura, olhei para o ambiente em volta e sobressaltei ao me deparar com o caos.

A sala de estar estava numa completa bagunçada. Parecia que um furacão tinha estacionado ali mesmo e feito estragos. Havia papéis espalhados pelo encorpado carpete zebrado, dois ou três jarros quebrados, a mesinha de centro estava virada, a TV chiando e o meu pai se encontrava largado na poltrona com uma garrafa de uísque na mão. E nenhum sinal da senhora Lucia.

Suspirei.

Desloquei-me para a cozinha onde encontrei a minha mãe, sentada numa cadeira, enquanto falava ao telefone, com a cabeça apoiada numa das mãos. Retornei para sala e apanhei um papel que me chamou a atenção. Nele estava grifado em negrito e em letras de formas as palavras "Petição de divórcio".

Olhei de relance para o meu pai, depois, para o corredor da cozinha e voltei para o papel amassado em minhas mãos.

Eles estavam preste a se divorciar...

Por que eu não estava sabendo disso antes?

Sacudi a cabeça.

Aquilo não era problema meu, afinal.

Deixei o papel onde encontrei e prossegui, rumo a saída.

— Para onde está indo? — ouvi meu pai perguntar, mas não me virei para vê-lo, tampouco lhe respondi.

Eu não sentia obrigação alguma em dar-lhe uma resposta, até porque no estado em que ele estava não valeria a pena. E não era como se eu quisesse dar explicações para um bêbado, arruinado e, provavelmente, fora de si. Isso só faria com que o problema se voltasse para mim, como quase sempre ocorria. Continuei andando até a porta, mas quando toquei na maçaneta, senti uma mão forte e pesada agarrar o meu pulso.

— Você não me escutou, garota? Onde pensa que está indo a essa hora da noite?

Engoli nervosamente em seco.

Virei-me para encarar o homem à minha frente. Ele estava desleixado e enfadonho. Os olhos avermelhados, bolsas escuras em volta dos mesmos, a barba mal feita e, ainda por cima, cheirava a enxofre e a álcool.

Antes eu até podia sentir medo de vê-lo desse jeito, mas agora, meu sangue fervia de raiva. Eu odiava o fato dele ter se tornado aquilo que tanto jurou não ser. Odiava aquela versão dura e agressiva dele. Aquele não era o meu pai de verdade. Era apenas um homem despojado e inseguro, cujo seu maior medo era estar sozinho, embora já estivesse. 

Philippe apertou meu pulso e gritou:

— Responda-me, Megan!

Sem pensar nas consequências, desafiei-o:

— Solte-me agora, senão...

Ele me cortou e se inclinou na minha direção.

— "Senão" o quê? — cuspiu. O odor do seu hálito fizera com que meu estômago se contorcesse. — Por acaso esqueceu que eu sou a droga do seu pai? Hein, garota?

— Não! — exclamei, mais para o seu apertão do que para sua pergunta.

— Será que vou ter que lhe ensinar bons modos? — questionou, torcendo meu pulso para baixo.

Eu me encolhi e fechei os olhos, ao mesmo tempo em que fazia o possível para sustentar a dor forte que sentia no meu pulso. Esperei para ver o que ele tinha em mente, embora estivesse ciente de que, o que viria a seguir seria pior do que aquela dor latejante que sentia agora. No entanto, não se passaram mais do que dois minutos para que a minha mãe aparecesse e se colocasse na minha frente.

— Deixe-a em paz, Philippe! — ela bradou, liberando-me do aperto dele e dando-lhe um empurrão que o fez cair bruscamente no chão.

Com o coração pulsando mais rápido, abri a porta e saí dali às pressas.

— Rapunzel. — ouvi alguém me chamar, mas não parei para ver quem era.

Corri a toda velocidade que me restava, no intuito de ficar o mais distante possível daquele ambiente tóxico. Atravessei a pista sem ao menos me importar com o semáforo, passei pela panificação que ficava por ali perto, cruzei o parque onde as crianças de antes ainda brincavam sorridentes e segui para a loja de discos antigos. Parei ao avistar o estabelecimento de Leigh se erguendo naquele céu sombrio e apressei meus passos para ver se encontrava algum vestígio de Lysandre no andar de cima. Porém, não vi nada. As luzes estavam todas apagadas, o que significava que era tarde demais para falar com ele.

Retornei a correr, sem nenhum propósito ou destino para ir, enquanto o meu pulso formigava de dor e as lágrimas insistiam em rolarem, tornando minha visão um pouco distorcida. Eu não sabia o que mais sentia, se era raiva ou pavor. No entanto, essas emoções foram diminuindo, à medida em que eu percorria aquelas ruas poucas movimentadas.

Ao passar por uma cafeteria, tive a impressão de ter escutado alguém gritar pelo meu nome uma ou duas vezes, mas não dei atenção a isso e continuei o meu percurso sem parar. Todavia, quando comecei a ficar sem fôlego e a sentir os meus pés arderem, tive que me auto obrigar a parar, antes que eu desmaiasse ali na rua.

Marchei em passos demorados até a praça que avistei no outro lado da pista e, assim que a adentrei, fui até o banco que ficava próximo a uma fonte de água, e me sentei.  E em poucos segundos, as lágrimas persistentes começaram a descerem sem que eu pudesse evitar.

Inspirei fundo e expirei ruidosamente para tentar engolir o choro, mas fora em vão. Comecei a chorar como se o mundo tivesse desabado sobre as minhas costas. Levantei meus joelhos e afundei, soluçando silenciosamente.

Eu não queria voltar mais para aquele cômodo, tampouco vê-los novamente ou conviver com eles. Não queria mais estar lá, mas não havia nenhum lugar em que eu pudesse ir, nem mesmo com quem contar. Eu estava sozinha. Literalmente só. E não fazia ideia de como podia lidar com essa solidão. Não sabia o que fazer para não me sentir tão péssima como estava.

Por que tudo estava dando errado para mim? Por que as coisas pioraram tanto assim? Céus! O que fiz para merecer isso?

Eu só queria que o Lysandre estivesse comigo agora.

De repente, senti a presença de alguém perto de mim. Quando me virei, dei-me de cara com quem eu menos imaginava ali.

— Cast. — sussurrei, num tom fraco e baixinho.

Sem proferir nenhuma palavra, o rapaz deixou seu cachorro de lado e me envolveu num abraço confortante. Ele permitiu que eu chorasse à vontade, enquanto esfregava, ocasionalmente, as minhas costas em consolo e dizia que tudo ficaria bem. Embora eu não acreditasse nisso, suas palavras foram como um bálsamo. Elas me deixaram mais relaxada e leve, como se uma brisa tivesse se alojado em mim. O peso que sentia anteriormente fora saindo aos poucos, dando entrada a uma suavidade e paz interior. E então, não havia mais soluços, nem batimentos acelerados ou formigamento. Só existia uma súbita ventania frígida atingindo minha face, deixando-me sonolenta.

Castiel me pegou no colo e me abraçou forte, aquecendo-me por completo. O cheiro agradável de lavanda impregnado nele intoxicou as minhas sensíveis narinas e me fizera sonhar acordada. Eu repousei a cabeça em seu peito, fechando os olhos para aproveitar aquele momento único. E logo, pude ouvir as batidas descontroladas do seu coração vibrando no meu ouvido. Pulsava tão rápido que me fizera achar que ele tivesse corrido quilômetros até a minha pessoa. Talvez tivesse.

Com um silêncio aceitável nos rodeando, empurrei qualquer pensamento ruim para trás e relaxei, sucumbindo a escuridão que me cercava.

                                                    

►■◄

 

Voltei para casa por volta das cinco da manhã, com um sol radiante brilhando no céu límpido e pássaros cantarolando ao ar. Como não estava mais com sono, aproveitei o tempo que me restava para arrumar a bagunça que ainda continuava ali e, depois disso, subi para o meu quarto, onde encontrei minha mãe dormindo tranquilamente na minha cama. Sem fazer muito barulho, tomei um banho, vesti-me e desci para preparar o café da manhã.

Mamãe chegou logo após eu colocar as torradas sobre a mesa.

— Bom dia, minha querida. — falou, depositando um beijo na minha testa.

— Bom dia, mommy. Dormiu bem?

Ela se espreguiçou e puxou uma cadeira para se sentar.

— Não tanto quanto queria. Você está bem?

— Sim. — eu dissera, servindo-lhe café.

Embora fosse mentira, preferia não comentar que ainda estava mal pelo que aconteceu na noite anterior. Não era como se eu quisesse estragar aquele dia. Afinal de contas, ela também não me pareceu querer falar sobre isso, pois estava agindo como se nada tivesse acontecido e eu a agradeci por isso. Nós comemos num silêncio quase suportável. Ela não me perguntou onde eu havia passado a noite ou com quem, o que me deixou mais aliviada.

Fui para a escola mais cedo o possível. Primeiro, porque não queria me esbarrar com o meu pai naquela sublime manhã e segundo, porque estava evitando chegar atrasada nas aulas. Assim que adentrei, desloquei-me para o meu armário para buscar o MP3 que havia esquecido, e por lá, encontrei a Rosalya vindo na minha direção. Ela esboçava um brilhante sorriso que logo desapareceu ao ver o meu péssimo estado.

— Megan? O que fizeram contigo? — perguntou, num tom preocupado, enquanto me analisava, incrédula.

Respirei fundo, imaginando as bolsas escuras em volta dos meus olhos cansados.

— Isso é o resultado de uma noite em claro.

— Aconteceu alguma coisa? — ela quis saber.

Fechei o armário e me voltei para ela.

— Problemas em casa. No entanto, não é o tipo de assunto que quero colocar em dia.

A garota balançou a cabeça em compreensão.

— Você sabe que pode contar comigo, certo? Se estiver precisando de ajuda, basta me procurar. Estarei sempre disponível para lhe ouvir.

Acenei, irrompendo um pequeno sorriso em agradecimento.

— Você é uma ótima amiga, sabia?

— Sempre soube. — gabou-se, sorrindo para mim e me puxando para um forte abraço.

Alexy apareceu por trás em questão de segundos.

— Oba! Abraço em trio! — exclamou, envolvendo os braços ao redor de nós duas e nos sacudindo de um lado para o outro, alegremente.

— OK. Chega de abraços. — afastei-me, sorrindo.

— Agora vamos para a novidade! — disse Rosalya, sua voz subindo uma oitava em entusiasmo. — Tive uma ideia para você conquistar o Lys-fofo.

— Ah, é? Qual? — quis saber, curiosa.

A garota me olhou dos pés à cabeça e fizera uma careta.

— Primeiro, você terá que abandonar essas roupas anos setenta, até porque não se conquista ninguém desse jeito, a não ser um idoso.

Alexy riu.

— Rosa! — bradei, cruzando os braços, chateada.

— Tenho que concordar. — Lexy se pronunciou, olhando-me também, dos pés à cabeça, com uma cara de desgosto. — Ninguém veste mais camiseta por baixo da saia, Hale. Isso é muito... Brega. Fora de moda.

Revirei os olhos para ambos comentários, ao mesmo tempo em que analisava meu look: uma saia justa em volta da cintura, acompanhada de uma camiseta de mangas longas preta e botas cano alto.

Não notei nada de errado. Talvez fosse a bota que não se agregou muito bem como complemento.

— Vá. Diz logo o que tem em mente. — pedi para a garota, que ficou séria e pensativa.

— Você sabe que ele gosta de poemas, não é mesmo?

Acenei, olhando para o corredor, onde o rapaz se encontrava encostado na parede, escrevendo em seu bloco de notas — como sempre fazia ao chegar na escola.

— Sim. Você quer que eu envie poemas para ele?

Rosa franziu o cenho.

— Não era exatamente esse o plano, mas já que você comentou, não custa tentar.

Nosso amigo nos interrompeu:

— Isso é muito patético. — comentou, rindo.

A garota lhe deu uma cotovelada que o fizera grunhir.

— Não é não. É romântico, o típico do Lys-fofo.

— Sei... — hesitei, pensando bem no assunto.

A ideia em si era boa, mas como faria isso se não sabia ao certo como escrever poemas? Quer dizer, sabia como funcionava, mas não era como se eu fizesse algo do tipo perfeitamente.

— Só para constar: eu não escrevo poemas, mas, sim, textos.

Rosa levantou os olhos para o céu.

— É quase a mesma coisa, Megan. Não estrague o plano.

Meneei a cabeça, sem ter nada mais a acrescentar.

— E quem irá entregar os bilhetes? — Lexy perguntou.

Rosalya e eu nos entreolhamos e olhamos para o rapaz ao nosso lado, com um sorriso maquiavélico no rosto.

— Você. — dissemos ao mesmo tempo.



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