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História Royal High Academy - O dia em que a Royal High virou um circo!


Escrita por: chaootics

Capítulo 39 - O dia em que a Royal High virou um circo!


Quando Sunghoon chegou em casa naquela manhã, ainda era muito cedo e o sol estava recém surgindo no horizonte. Ele tinha ficado sem rumo a noite inteira, sua cabeça estava cheia de coisas e seu peito doía em sentimentos que não sabia explicar. Ele estava planejando se jogar na cama e dormir pelo resto do dia, mas para sua surpresa não apenas sua mãe já estava acordada e tomava o café da manhã.

— Hoonie, chegando a essa hora? — a mulher perguntou.

— Hum — ele assentiu sem jeito e sentou em sua frente para pegar algo para comer também.

— E por que você parece tão triste? Já faz dias que te vejo desse jeito — ela pegou na mão dele por cima da mesa.

Sunghoon olhou para ela e não era como se quisesse falar sobre os seus problemas pessoais, porém quando viu já tinha aberto a boca.

— Yunjin e eu terminamos.

— Yunjin? Aquela bolsista? Mas vocês não estavam bem juntos? — ela refletiu — Sunghoon, você aprontou algo? Você não machucou aquela garota, né?

— Você só pensa o pior de mim — ele resmungou — Terminamos porque somos incompatíveis, somos pessoas muito diferentes.

— Vocês também eram pessoas diferentes quando começaram a namorar… é uma diferença tão grande que você não é capaz de encontrar um jeito de fazer dar certo? Se está tão triste por isso, devia lutar ao invés de desistir tão rápido.

Ao ouvir aquelas palavras, Sunghoon ficou em silêncio. Sua mãe não tinha razão? Se ele estava tão triste por isso, não era mais fácil dar um jeito de fazer funcionar? Que bobo tinha sido esse tempo todo... só porque Yunjin é assexual não significa que não poderiam encontrar juntos um jeito de fazer isso dar certo. Ele não estava disposto a deixá-la ir, não queria perdê-la, aqueles dias sem ela o tinham ensinado da pior forma possível que estava irremediavelmente apaixonado, tanto que estava disposto a sair da sua zona de conforto. A única questão em seu coração era: será que Yunjin também se sentia da mesma forma? Será que ela estaria confortável para voltar com ele? Tudo o que esperava era que aquelas respostas fossem um sim.


 


 

Heeseung estava escorado na parede no telhado da escola enquanto fumava um cigarro. Jake tinha chegado atrasado e correu até ele depois que recebeu uma mensagem. 

— Você disse que tem uma novidade? O que aconteceu?

O Lee deu um sorrisinho um pouco assustador, jogou o cigarro no chão e pisou em cima. Depois disso, se aproximou do namorado e lhe roubou um beijo.

— Meu dia de liberdade finalmente chegou.

— Como assim?

Ele tirou um pendrive do bolso e chacoalhou na mão.

— Eu tenho provas que podem colocar alguém no The Outsiders Club no meu lugar.

Jake arregalou os olhos.

— De quem?

— Venha comigo e você vai descobrir.

Os dois caminharam até a sala do clube e durante o caminho Jake até tentou tirar alguma informação, mas não conseguiu. Ele estava cada vez mais curioso sobre o que teria naquele pendrive, mas também não podia negar que estava nervoso. O que Heeseung tinha descoberto que seria forte o suficiente para tirá-lo da lista de alvos?

Algum tempo depois e os dois estavam em uma sala fechada junto do líder do clube. Heeseung sentou confortavelmente, entregou o pendrive a ele e cruzou os braços. Jake estava agitado ao seu lado, ele estava quase saltando na cadeira quando o líder colocou o vídeo para rodar na televisão grande da sala. 

De primeira, nenhum deles entendeu o que estava acontecendo, até que puderam identificar as duas pessoas ali: um era um aluno do primeiro ano, o outro era o professor de educação física. Parecia que os dois estavam em um beco, a imagem era um pouco escura, mas era possível ver que os dois estavam bem próximos. Heeseung disse que era perto do ‘La Guarida del Demonio’, o que provavelmente significava que talvez ambos no vídeo pudessem estar embriagados — ninguém ia naquele lugar se não fosse para encher a cara. Quando Jake se deu conta do que poderia acontecer no vídeo, ele ficou muito nervoso.

De fato, apenas alguns minutos depois e professor e aluno tinham se beijado. Pelo ângulo no qual Heeseung fez toda a filmagem, não dava para notar que o professor Kwon estava bêbado, parecia mais que ele tinha concedido aquele beijo. Por fim, o líder trazia um sorriso nos lábios por debaixo da máscara dourada.

— É um material muito bom, muito bom mesmo. Ter um professor em nossas mãos vai ser maravilhoso.

Heeseung se sentiu orgulhoso e Jake se mexeu ao seu lado.

— Pessoal, isso é muito grave, se eles estavam bêbados e não foi proposital, isso pode acabar com a carreira do professor.

— E o que temos a ver com isso? — o líder revidou — Ninguém mandou ele beijar um menor de idade, se ele estava consciente ou não, não nos interessa. Aqui apenas nos interessamos por fatos e o fato é que ele beijou um aluno. Por causa disso, ou ele trabalha para a gente, ou vamos expô-lo.

— O que você quer dizer com “trabalhar para a gente?” — Jake não entendeu.

— Assim como Daeshim trabalha para o clube — o líder explicou — Temos o segredo do diretor e para protegê-lo ele nos faz uma porção de favores, nos dá alguns privilégios e proteções. Ele até mesmo se finge de inocente em público, como se não soubesse da nossa existência — riu — Vai ser o mesmo com o professorzinho, ele vai ter que fazer tudo o que nós pedirmos, caso contrário...

O Sim engoliu em seco, não achava que aquilo era certo. Sabia que estava sendo hipócrita, ele tinha entrado naquele clube porque quis e tinha ajudado a amarrar Heeseung em uma cruz no meio do pátio da escola. No entanto, aquilo agora ia muito além, eles estavam envolvendo adultos nisso, adultos que tinham vidas e carreiras e que podiam ir parar na cadeia. Claro que havia a chance daquele professor ser mesmo uma má pessoa e sair por aí beijando adolescentes, mas e se não fosse isso? Ele nem sequer seria questionado ou investigado e só de pensar sobre isso Jake ficou todo arrepiado. Valia mesmo a pena desgraçar a vida de um homem só para ter alguns privilégios?

Heeseung ainda sorria ao seu lado e mais ainda quando viu seu nome desaparecer da lista de alvos. Ele não se importava, não dava a mínima para o que iria acontecer com aquele homem Tudo o que importava era que agora teria paz, estava finalmente longe daquele clube.

— Esse vídeo é o suficiente para tirar Jake daqui também? Não quero mais que ele tenha qualquer relação com esse lugar.

O líder assentiu.

— Se o Sim quiser sair, ele pode. No entanto, não fale absolutamente nada sobre o clube ou as consequências não serão nada boas.

Jake pensou sobre isso, sabia que Heeseung tinha boas intenções ao querer ele longe dessas pessoas, mas não conseguia parar de pensar no professor. Se ficasse ali dentro, quem sabe poderia ajudar de alguma forma.

— Eu vou ficar — disse, para surpresa dos demais — Eu quero ficar mais um pouco.

Algum tempo depois, quando saíram pela porta da frente, o Lee não tinha entendido nada.

— Por que você ainda quer ficar com essas pessoas?

Jake o encarou um tanto irritado.

— Porque você foi longe demais — revidou — E agora eu vou tentar dar um jeito de consertar o que você fez.

— Por que você tem que se meter nisso? O que te importa o que vai acontecer com esse professor? Você nem é próximo dele.

O Sim balançou a cabeça.

— Você é absurdo.

Dito isso, ele apenas se afastou e saiu andando para longe. Heeseung não entendeu, às vezes ele não entendia aquela pessoa, então apenas deu de ombros. Seu trabalho ali estava feito, agora ele ia apenas sentar e assistir aquela escola pegar fogo.


 


 

O professor Kwon pensou que aquele seria apenas mais um dia dando aulas de educação física na Royal High. Ele estava atravessando o estacionamento com a mochila pendurada nas costas quando duas pessoas vestidas de preto e com o rosto coberto o arrastaram à força para os fundos da escola. Ele não era um cara fraco, mas tinha sido pego de surpresa e não conseguiu se soltar. Sua boca foi fechada com fita e como àquela hora todos os alunos já estavam em suas salas, ninguém o viu. 

Ele foi carregado até uma sala no prédio dos fundos e se viu diante de um painel cheio de nomes, alguns computadores, sofás, mesas de pebolim. Que diabos de lugar era aquele dentro da escola? Lá também estavam alguns alunos que o encaravam em um misto de surpresa e medo. 

— Professor Kwon — um garoto saiu de uma das portas usando uma máscara dourada e o encarou — É um prazer tê-lo em nosso humilde clube.

A fita foi puxada com força de seus lábios e ele reclamou.

— Que lugar é esse? O que está acontecendo aqui?

— Seja bem-vindo ao The Outsiders Club, acredito que você vá gostar bastante de se tornar um alvo importante do nosso clube.

Naquele instante, o homem viu quando o painel ao seu lado acendeu e logo seu nome apareceu no topo escrito em vermelho. Abaixo de seu nome havia vários outros escritos em branco e acima tinha apenas um: o nome do diretor. No topo podia-se ler a palavra “alvos”.

— Não sei que brincadeira é essa, mas não tem graça — ele bufou — Estou atrasado para a minha aula, por favor, abram a porta e me deixem sair.

— Você já quer sair assim? — o líder riu — Espere aí professor, temos um vídeo para te mostrar antes, garantimos que você vai gostar muito.

Dito isso, a tela à sua frente ligou e um vídeo começou a passar. A princípio, ele não entendeu o que aquilo significava, até que percebeu que a pessoa naquele vídeo era ele. Como se não bastasse, aquele aluno do primeiro ano estava ao seu lado. Quando tinha sido isso? Tinha sido no final de semana?

Aqueles dias tinham sido mesmo uma confusão. Ele saiu para beber com os amigos, mas exagerou e teve amnésia alcoólica. As únicas lembranças que tinha eram as de estar bebendo e dançando, para logo em seguida acordar no sofá da casa da família daquele garoto. Ele estava muito envergonhado, como podia ser que um professor passasse uma vergonha dessas? Por sorte a família do garoto era muito compreensiva e até mesmo lhe ofereceram café da manhã. Ele pediu desculpas milhares de vezes e disse que algo assim nunca mais iria acontecer. Ao mesmo tempo, o aluno tinha lhe garantido que o encontrou adormecido no meio da casa noturna e o levou para sua casa, nada além disso tinha acontecido.

Então, o que diabos era aquilo?

No momento em que viu os lábios dele irem de encontro aos seus, ele gelou. Não podia ser, simplesmente não podia ser. Não era possível que tivesse beijado aquele aluno no meio da rua, um menor de idade! Mesmo estando bêbado ele não seria tão sem juízo, não dava para acreditar. 

Mas estava ali, alguém tinha filmado tudo. Parecia um pesadelo, mas a imagem diante dele não podia ser mais real.

E agora?

— Viu? Eu disse que valia a pena ficar para assistir ao vídeo — o líder riu.

Jake estava apenas observando a cena e engoliu em seco. Ao seu lado, Sakura também estava nervosa.

— E agora o quê? — o professor tentou reunir coragem — Vocês vão me chantagear? Tenho certeza que se quisessem postar o vídeo já teriam feito isso.

— Oh, muito bem, muito bem, vejo que você é inteligente. Você tem duas escolhas agora — o líder explicou — Ou trabalhará para o nosso clube, nos fazendo favores e tudo o mais que precisarmos, ou iremos postar o seu vídeo e garantir que o país inteiro saiba o tipo de professor você é.

O homem engoliu em seco. Aquilo seria o fim de sua carreira, se não acabasse preso certamente nunca mais poderia trabalhar como professor. Aquilo era o que ele mais gostava na vida, estava recém começando, sonhava no futuro em ter sua própria academia, tinha tantos planos... tudo estava sendo arruinado por um erro, um do qual não tinha volta.

Por que aquilo estava acontecendo com ele?

— E o que... o que eu preciso fazer? — ele engoliu seu orgulho e perguntou.

O líder começou a listar algumas coisas, entre elas que se eles fossem pegos fazendo algo errado, teria que defendê-los, também teria que ajudar a punir outros alvos. Ele sabia que no momento que decidisse se vender para algo assim estaria preso ali. Em sua mente, seus sonhos e sua moral brigavam agora, não sabia o que fazer. Não queria perder tudo, ao mesmo tempo não queria comer na mão de um monte de adolescentes. Como algo assim sequer era possível?

— E por que o nome do diretor está acima do meu? — ele perguntou curioso.

— Por que você acha? — o líder sorriu — Graças a ele o clube ainda existe.

Então até mesmo Park Daeshim tinha um segredo e estava sendo usado por aqueles estudantes? Isso era o fim, era o limite! Ele saiu da sala com o prazo de três dias para tomar uma decisão e a cabeça explodindo, de repente tinha ido parar dentro de um filme ruim. Como diabos iria resolver isso???


 


 

— Não acredito que o senhor está ciente desse clube e continua deixando isso acontecer? Esses alunos estão brincando de Deus na sua escola!

O professor Kwon estava indignado. Ele andava de um lado para o outro da sala do diretor e não conseguia entender como Daeshim simplesmente deixava aquilo acontecer — e o pior, dava regalias a eles. 

— Você não percebe que se tornou um fantoche na mão de adolescentes? Que tipo de respeito o senhor tem dessa forma?

O mais velho o encarou por alguns segundos e então bufou.

— Você acha que eu não tentei de tudo para acabar com esse clube? Você acha mesmo que os adolescentes que falaram com você são os responsáveis por tudo isso? — ele resmungou — Há gente por trás dos panos, essas são as pessoas que estão trabalhando para que esse maldito clube exista.

— Então você vai ficar se submetendo para sempre???

— O que você quer que eu faça??? — Daeshim deu um tapa na mesa — Eles têm um vídeo que não pode vir à tona, é um segredo que eu preciso proteger a todo custo!

O professor deu um longo suspiro e caiu sentado na cadeira em frente a ele.

— Isso não pode continuar assim, se eu me submeter eles nunca vão parar. Não posso viver sabendo que estou machucando inocentes para proteger um clube como esse.

— Professor, você precisa pensar melhor — Daeshim o encarou espantado — Eles vão postar o seu vídeo e essa escola estará lotada de pais me obrigando a tirá-lo daqui. Além disso, isso não apenas irá prejudicar a sua carreira para sempre, como manchará a imagem da Royal High! Você não pode fazer isso!

— Então você quer que eu seja como você? 

— Se você quer sobreviver nesse mundo, sim.

Ao ouvir aquelas palavras, o professor levantou transtornado. Será que estava sendo burro e ingênuo por não querer compactuar com isso? Será que devia mesmo abaixar a cabeça e fazer o que aqueles jovens estavam mandando? Sua honra e moral valia tão pouco assim?

Naquela manhã ele mal conseguiu dar suas aulas, estava distraído e confuso a maior parte do tempo. Para sua sorte, o aluno do primeiro ano tinha educação física naquela manhã, então quando a aula terminou, ele pediu para que o garoto o acompanhasse.

— Uau, o professor está me levando para algum cantinho escuro da escola? — o mais novo provocou.

— Já chega! — o homem se virou e o empurrou de leve para um canto onde eles não podiam ser vistos — Você precisa parar com essas brincadeiras de uma vez por todas!

O mais novo não entendeu, então logo começou a ouvir aquela história absurda sobre o The Outsiders Club e o vídeo no qual eles se beijavam. Ele nunca poderia imaginar que suas brincadeiras e aquele beijo inocente acabariam com a carreira de seu professor, então no fim ele estava se sentindo muito culpado.

— Isso não é justo! Você nunca fez nada de errado, era eu que estava brincando o tempo todo! Como eles podem ser tão maldosos?

— Estou te contando isso porque acho que vou deixar que postem aquele vídeo, mas sua imagem estará nele também e eu não terei como te proteger — avisou.

— Você está preocupado comigo? Eu posso me virar, se preocupe com você mesmo, professor!

Depois que ouviu aquelas palavras, ele pensou sobre isso durante um dia inteiro e por fim decidiu que iria encarar o que viesse, não se tornaria como o diretor, não seria um boneco nas mãos daquele grupo de adolescentes. Ele iria encarar as consequências de cabeça erguida, então avisou ao The Outsiders Club que não faria parte disso.

Naquela noite, o vídeo foi postado.

A escola nem tinha aberto de manhã e já havia uma fila de pais gritando no portão para tirar satisfações. Daeshim imaginava que aquilo viraria um caos, mas não pensou que fosse ser naquele nível. Os pais dos alunos invadiram o prédio da direção e adentraram em sua sala enquanto gritavam e exigiam explicações. A maioria estava ameaçando tirar seus filhos da escola, queriam que todos os professores fossem analisados, tinham medo de que seus preciosos filhos estivessem sendo abusados. Daeshim não sabia mais o que fazer, aquilo era o verdadeiro inferno na Terra! Por fim, conseguiu que os guardas tirassem todos aqueles pais dali e os levassem para o pátio da escola.

O aluno do primeiro ano tinha subitamente se tornado uma vítima, todos estavam com pena dele e mesmo que ele dissesse que não era assim, ninguém o ouvia. Nenhum dos professores conseguiu ir para as salas de aula, os alunos estavam vagando pelos corredores e inventando mentiras, logo já havia rumores de que o professor tinha abusado daquele aluno e pegava as alunas na sala de equipamentos, algumas até ousaram mentir que tinham sido vítimas. Enquanto aquela escola parecia um grande circo, Heeseung apenas espiava tudo do telhado e ria enquanto fumava. 

— Não é possível que você esteja achando isso engraçado — Jake resmungou.

— Você não acha? Eu adoro o caos dessa escola.

— Isso não é uma brincadeira, o professor pode acabar na prisão.

— Devia ter pensado nisso antes de ficar bêbado daquele jei-

Antes que terminasse a frase, Jake segurou em seu pulso com força e arremessou aquele cigarro para baixo. Seus olhos estavam firmes e ele parecia muito irritado.

— Você é um otário, sabia?

Heeseung se soltou e o empurrou.

— Eu? Não foi você que entrou naquele clube e me colocou como alvo?

— Você já estava lá!

— Que diferença faz? Você é parte disso Jake, você não quis sair, você é um membro do The Outsiders Club! — jogou na cara dele — Pare de tentar se fazer de santo, você é tão ruim quanto eu!

O Sim ia revidar, mas não soube o que dizer.

— Achei que você estivesse ciente de que eu não ligo para nada e ninguém além de você — Heeseung continuou — Eu não me importo com mais ninguém e eu passaria por cima de qualquer pessoa para garantir que você e eu estejamos bem. 

Ele apontou ao redor, para os grandes prédios de Nova York que cercavam a escola.

— Isso é uma selva Jake, uma selva de pedra. Aqui ou você mata, ou você morre, não há alternativa. Se você espera que eu seja diferente, então nós não deveríamos ficar juntos porque eu nunca vou mudar!

Ao fundo, eles conseguiam ouvir os gritos dos pais quando alguém entrou pelo portão. Lá de cima, viram que quem tinha vindo encarar aquele circo era a atração principal: o professor de educação física.

— Você escolhe, vai ficar aqui comigo ou não?

Jake olhou para baixo e então olhou para ele. Seu coração estava cheio de sentimentos confusos agora, então ele não sabia o que fazer. Queria ficar, mas não queria ser esse tipo de pessoa. Como podia ser que aquele garoto o tivesse enlouquecido desse jeito?

Por fim, sem dizer nada, ele apenas saiu andando para longe dali. A decepção estava estampada no rosto de Heeseung, mas ele não o seguiu. Podia jurar que Jake entendia como ele era e que o aceitava daquele jeito, com todos os seus defeitos. No entanto, agora depois do que tinha acontecido, já não tinha mais certeza de nada.


 


 

Os guardas da escola tinham conseguido escoltar o professor em segurança até a sala do diretor, porém enquanto debatiam, já se podia ouvir a sirene dos carros da polícia que tinham sido chamados pelos pais dos alunos. 

— Por que você veio até aqui??? Agora a confusão ficou ainda pior! — Daeshim estava visivelmente estressado.

— Eu não posso ficar calado, tenho o direito de me defender! 

Naquele momento, Jungwon entrou na sala. Como era filho do professor, ele tinha passe livre.

— Pai, você precisa fazer alguma coisa, precisa ajudar o professor! Eu já sei de tudo, aquele aluno disse que ele forçou aquele beijo e o professor estava inconsciente!

— Mas será possível? — a veia de Daeshim pulsou no pescoço — Volte para a sua sala!

— Pai!!! — Jungwon insistiu.

— Eu não posso fazer nada, todos esses pais do lado de fora estão me pressionando! Se tirarem seus filhos da escola a Royal High estará arruinada!

Jungwon olhou para o professor e se sentiu mal. De primeira, tinha achado que o que aconteceu era bem feito e que o homem devia pagar pelo que fez, porém logo que soube que tudo era uma armação do The Outsiders Club e que ele não tinha culpa de nada, achou que aquilo tinha passado dos limites. Ele sabia que seu pai nunca fazia o certo em momentos de pressão, mas novamente estava ali tendo esperanças.

Foi então que ouviram o som de um megafone e os três foram até a janela para ver o que era. Do lado de fora, aquele aluno do primeiro ano tinha subido em cima de uma mesa e carregava um megafone na mão enquanto atraía a atenção de todos no local. Todos os pais presentes e alguns alunos se reuniram para ouvir o que ele tinha a dizer, enquanto o resto que estava amontoado em suas salas de aula tinham ido para as janelas espiar.

O garoto começou a falar sobre como aquele vídeo tinha sido gravado de mau gosto, o professor tinha saído para beber e estava se sentindo mal, então ele se ofereceu para levá-lo para casa e se aproveitou dele dando um beijo nos lábios.

— Vocês estão fazendo o maior escândalo, mas nossos lábios mal se tocaram, não é como se o professor tivesse enfiado a língua na minha garganta, ele não é esse tipo de homem — gritou — O único culpado sou eu por ter apenas dezesseis anos e ter usado uma identidade falsa para entrar em uma casa noturna onde eu não devia estar! Se vocês querem condenar alguém, condenem a mim! O professor não tocou em um milímetro do meu corpo!

No meio da multidão, alguém gritou “isso é verdade” e logo uma senhora pediu caminho para passar: era a mãe do garoto!

— Com licença!!! — a mulher gritou no megafone quando subiu na mesa com a ajuda do filho, todos tiveram que tampar os ouvidos por um segundo — Eu vi que meu filho estava envolvido nessa confusão e vim para dizer que isso tudo que estão dizendo é mentira! Esse professor é um bom homem, ele dormiu no meu sofá e até mesmo ajudou a lavar a louça do café da manhã! Ele não tocou em um fio de cabelo do meu filho, ele que é um desavergonhado sem limites que se aproveitou de um homem bêbado! — ela deu um tapa na cabeça dele, que levou um susto — Parem de culpar um homem inocente!

Ao ouvir aquelas palavras, alguns pais pareciam confusos e o professor estava sorrindo da janela. Aquilo lhe deu confiança para sair da sala e ir se defender lá embaixo, ao que os demais o seguiram.

Quando o professor pisou no pátio da escola, para sua surpresa, quem tinha assumido o microfone foi uma aluna do segundo ano.

— Eu quero dar o meu depoimento também porque o professor Kwon é maravilhoso e uma mulher precisa ter direito de opinião! — ela começou — Vocês não sabem como esse homem é bom, eu finjo ser asmática para não fazer os exercícios pesados da aula, ele sabe que é mentira minha e mesmo assim me deixa fazer os exercícios leves! Ele libera as meninas da corrida quando estamos menstruadas! E sempre que algum engraçadinho tentou me tocar de forma inapropriada na aula, ele interrompeu antes que eu desse um soco na cara daqueles otários! Resumindo, o professor Hoshi não merecia nada disso, todos vocês que estão preocupados com os seus filhos, se preocupem com os seus próprios filhos indecentes e desrespeitosos e deixem o nosso professor em paz!

Várias garotas presentes concordaram com o que ela disse e aplaudiram. Vendo aquela comoção positiva, o professor aproveitou para ir até o palco e falar também. Ele sabia que estava se expondo, mas não podia ficar calado. Primeiro pediu desculpas pela confusão e por ter sido um adulto irresponsável a ponto de beber tanto que nem se lembrava do que aconteceu, precisando da ajuda de um estudante para voltar para casa. Diante de todas aquelas pessoas, jurou que jamais tocou em algum aluno e que jamais faria isso. Ele estava tremendo, aquelas pessoas ainda o julgavam com seus olhares e sabia que as coisas não terminariam ali, mas estava satisfeito por ter podido dizer algumas palavras e por ter recebido aplausos e a torcida de seus alunos tão queridos.

Antes que dessem um jeito de colocar Jungwon em cima da mesa com sua cadeira de rodas — porque Daeshim sinceramente não duvidava nada disso — ele correu até lá, pegou o megafone da mão do professor e deu fim aquela confusão. Ele avisou que a situação estava resolvida, que os professores da escola passavam por inúmeros testes antes de serem contratados e que todos podiam descansar sossegados porque seus filhos estavam nas mãos de excelentes profissionais. 

Enquanto alguns iam retornando para suas salas e para suas casas, aqueles que testemunharam a favor do professor foram chamados pela polícia. Claro que todas aquelas declarações tinham sido importantes para convencer aqueles pais a não colocarem fogo na escola, mas precisariam dar seus depoimentos formalmente na delegacia.

De um canto, o líder do The Outsiders Club observava aquele professor entrando na viatura e sua expressão estava um tanto gélida. Pela primeira vez na história do clube alguém tinha os desafiado e não cedido à pressão. Se isso virasse moda, seria um grande problema no futuro…


 


 

Sunoo tinha conversado com seu amigo de infância sobre sua situação com Niki e a promessa que fizeram um ao outro de se encontrarem às escondidas. Não era como se Sanghun tivesse interesse romântico nele de fato, era mais como se gostasse dos jogos de provocação com seus pais, então não ligou muito. No fundo, sabia que aquele amigo sempre voltaria aos braços do garoto que tanto gostava, não tinha jeito. Por isso, quando o Kim lhe pediu para que o ajudasse a ficar junto com Niki sem seus pais suspeitarem, ele disse que o faria contanto que pudesse obter algo em troca, é claro. Sendo assim, ficou combinado que Sunoo lhe pagaria as entradas dos lugares e esse tipo de regalias, o que lhe pareceu uma boa troca. Enquanto isso, aproveitariam a “liberdade” recém adquirida para fazer tudo o que queriam, já que sempre que saiam juntos seus pais achavam que o Lee estava ajudando o Kim a se tornar “mais homem”. É claro que era o total oposto disso. 

O Kim ouviu falar sobre uma balada gay e queria muito ir com Niki, então arquitetou com o amigo uma mentira bem bolada para que pudessem escapar sem problemas. Dizendo que estavam indo para comemorar o aniversário da garota que Sanghun estava afim, eles saíram com roupas discretas e no meio do caminho mudaram para umas mais chamativas, também colocaram perucas para não serem reconhecidos. Já na porta pintaram a bandeira LGBTQIA+ pequena na bochecha direita de cada um e quando entraram o DJ estava fazendo um remix com as melhores músicas da Lady Gaga. Aquela era a festa mais colorida e divertida que já tinham frequentado, por isso logo correram para a pista de dança.

Aquele era um dos poucos lugares no mundo onde os dois podiam ficar à vontade, sem se preocupar com o mundo à sua volta. Ninguém ali ligava para eles, todos só queriam curtir. Sanghun logo encontrou um alvo de interesse e trocou beijos com um cara na parede perto da pista. Enquanto isso, Sunoo e Niki dançavam agarradinhos e se beijavam quase que o tempo todo.

Eles já estavam ali há mais de uma hora e já tinham experimentado algumas bebidas coloridas de nomes engraçados, então Niki disse que precisava ir ao banheiro. Sunoo aproveitou para ir ao bar pedir mais alguma coisa enquanto o namorado estava ausente. Já dentro do banheiro, Niki encontrou Sanghun.

— Ah você está aí, por um momento te perdemos de vista.

O Lee apontou para uma marca de chupão no pescoço e deu um sorrisinho, ao que o outro entendeu o recado. 

— Você faz bem para ele — ele disse de repente enquanto ambos usavam o mictório — Sunoo está mais feliz agora.

Niki sorriu.

— Ele faz bem para mim também, tive muita sorte de conhecê-lo.

— Fique ao lado dele então, Sunoo é muito frágil.

— Eu vou.

Sanghun terminou o que tinha para fazer, lavou as mãos e disse que estava indo na frente. No entanto, assim que pisou fora do banheiro, ele congelou no lugar.

Sunoo estava parado no meio da pista de dança com um copo de bebida na mão quando ouviu seu nome sendo chamado. Assim que se virou, ele paralisou ao ver que quem estava ali era o seu pai, acompanhado do pai de Sanghun e dois seguranças que tentavam segurá-los, provavelmente tinham invadido. Seu pai o olhou de cima abaixo, a roupa cheia de brilhos coloridos, a bandeira em sua bochecha, o ambiente em que estava, ele não era burro para não entender o que estava acontecendo. Quando seus olhares se encontraram, Sunoo sabia que tinha perdido tudo.

O Lee correu de volta para dentro do banheiro e segurou Niki antes que ele saísse.

— Fique aqui.

— O que foi?

— Eles nos encontraram, meu pai e o pai do Sunoo estão aqui.

O Sim arregalou os olhos.

— Me solta, Sunoo precisa de mim!

— Não seja burro! — Sanghun o agarrou pela camisa — Ele vai te destruir, vai acabar com a sua vida e a da sua família. Sunoo e eu podemos lidar com os nossos pais, mas você não pode!

Niki hesitou por um momento, sem saber o que fazer.

— Eu vou cuidar dele, por favor, não faça nenhuma besteira, Sunoo ficaria muito triste com você.

Dito isso, ele correu para fora do banheiro. Niki travou os passos no lugar e não se mexeu, ficou apenas observando o desenrolar da porta. Ele não queria ser covarde, queria poder proteger o seu amor, mas era apenas um adolescente pobre e indefeso e tinha uma família para tomar conta, uma família que o amava e que não merecia nada de ruim. Enquanto via Sunoo sendo puxado pelo braço e arrastado como um saco de lixo, uma lágrima desceu por sua bochecha.

Naquela noite ele não poderia protegê-lo.

A bebida caiu da mão de Sunoo e se partiu em pedaços no chão enquanto todos ao redor tinham parado de dançar para ver o ocorrido. Sanghun também estava sendo arrastado pelo pai e os dois trocaram um olhar antes de serem carregados para o lado de fora.

Agora tudo tinha acabado de vez, depois disso não havia mais esperança.



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