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História Ruínas. - Jabami


Escrita por: linbatatinha

Capítulo 4 - Jabami


O sol batia nos cabelos dourados que balançavam contra a leve brisa matinal, a respiração da garota era lenta, ela estava inteiramente concentrada em seu objetivo.

— Foco. — murmurou para si mesma. O arco estava armado, a corda retezada para tiro, ela levou-o até a altura da orelha, mirou e respirou profundamente.

Soltou a corda, a flecha pairou por toda a extensão do campo até finamente acertar o centro do alvo. Uma gota de suor escorreu por sua testa, ela se ergueu, limpando-a.

Mary estava distraída, o que impossibilitou-lhe de perceber que uma silhueta não familiar caminhava em sua direção.

— Muito bom — disse a desconhecida tocando-lhe o ombro. — Vejo que o que dizem sobre você não são apenas boatos.

Mary pegou a adaga que carregava sempre consigo no bolso, tentou atacar a garota, mas foi impedida pela mão da mesma que foi de encontro a sua e torcendo-a fez com que a arma escapasse de seus dedos.

— Poxa vida, que modos são esses? — um pequeno sorriso se formou em seus lábios — Eu ainda nem me apresentei.

Ela soltou a mão de Mary, que tinha a raiva estampada em seus olhos dourados.

— Eu sou Yumeko Jabami, é um prazer. — disse, estendendo a mão para a loira.

— Não vou apertar sua mão depois de você ter quase quebrado a minha.

— Eu apenas te elogiei, quem me atacou foi você. Não gosta de receber elogios?

— Eu gosto! É só que...— Mary gostava de ser elogiada, mas de certa forma isso não lhe agregava em nada, um elogio não a faria ficar melhor ou pior, ainda mais vindo de uma desconhecida. — Espera, você disse...Jabami?

Yumeko franziu a sombrancelha ao perceber que havia cometido um erro ao dizer seu verdadeiro nome, Mary não era qualquer pessoa, ela era a líder dos arqueiros de Kirari.

— É, eu disse sim. Estou aqui para falar com Kirari, você sabe onde posso encontrá-la?

 

Olhos azuis observavam os rainhos solares que despontaram do leste e invadiam o quarto por através das cortinas, anunciando o amanhecer. A brisa quente da manhã tentava abafar o ar gelado dos dias de inverno.

Cacos de vidro, sangue e roupas espalhadas foram as primeiras coisas em que Kirari reparou ao acordar. Sua cabeça doía, seu corpo estava ferido, estava despenteada e nua. E no meio de tudo isso, estava Sayaka dormindo como uma criança abrigada no abraço caloroso da mãe. Um rubor surgiu nas bochechas da rainha ao se dar conta de que se encontrava totalmente exposta a general; sua pele nua e marcada havia sido vista, cada centímetro da sua alma desprotegida havia sido lido, visto e tocado pela mulher a sua frente.

Cuidadosamente ela se levantou da cama, desprendeu os braços alheios de si e estendeu uma coberta sobre Sayaka, que parecia estar com frio. Kirari calçou seus sapatos, enrolou-se em uma toalha e caminhou em direção ao banheiro, ela precisava estar pelo menos apresentável para quando Sayaka despertasse.

A água quente deixava marcas sobre a pele alva e os cortes ardiam. A maioria das cicatrizes que marcavam o corpo de Kirari eram derivados de batalhas, vistos pelos olhos dos outros como símbolos de orgulho e bravura. Já as cicatrizes que agora marcariam seus braços não seriam símbolos de orgulho e sim de fraqueza, as dores e frustrações agora lhe marcariam a pele pelo resto da vida. Kirari achou que dias melhores viriam após a liberdade, que ao se desprender do clã e suas tradições ela e sua irmã seriam felizes, finalmente livres das amarras que as mantiveram presas a vida inteira. Mas ao perder a pessoa que mais amava na vida, Kirari entendeu que as correntes emocionais que a prendiam eram mais difíceis de se romper do que pareciam, viver sem sua irmã era quase infernal, vozes atormentavam-lhe dia e noite e mesmo assim ela tinha a obrigação de parecer bem. Como ela governaria um reino inteiro, se em primeiro lugar, ela não era capaz de governar a sua própria mente? Ela se perguntava.

Seu corpo estava imerso até o pescoço, a banheira não era funda mas era o suficiente para que ela sentisse seu ar começar a faltar aos pulmões no momento em que mergulhou inteiramente. "Vá" uma voz dizia em sua mente. "Vá" repetia. Ela ia, simplesmente ia, seus pulmões queimavam implorando por ar, Kirari negava da maneira mais cruel. Naquele momento ela amaldiçoou à Ririka por todas as suas mentiras. "Voltarei viva", "você nunca estará sozinha", "para sempre nós". Isso nunca foi o suficiente, palavras nunca seriam o suficiente.

A essa altura ela já estava embaixo d'água por completo, apenas as madeixas prateadas boiavam na superfície da banheira. Ela se sentia cada vez mais pesada, a ardência que havia se instalado em seu sistema respiratório era quase insuportável agora, Kirari Momobami de anos atrás provavelmente odiaria a atual Kirari Momobami, "você enfraqueceu", ela diria.

Olhos violetas lhe vieram na mente, o cheiro de lavanda - o cheiro de Sayaka - entrou por suas narinas sem pedir permissão, ela se lembrou do abraço, do toque que ela não sabia que tanto precisava e que agora havia se tornado parte dela. Ela não podia ir, não agora que havia descoberto algo que lhe atraía profundamente, ela não iria sem sentir aquele toque suave em sua pele uma última vez que fosse. Kirari tentou se levantar mas parecia estar travando uma batalha contra si mesma, seus pulmões precisavam de ar mas ela não conseguia mexer um só músculo se quer.

 "Eu preciso de você, volte, por favor." Ela imaginou essas mesmas palavras sendo pronunciadas pelos lábios rosados da Igarashi. Ela não podia ir, ela não podia deixar Sayaka sozinha, não agora. Ela se levantou com dificuldade, a sensação de ar entrando por seus pulmões era prazerosa, ela se sentia realmente viva pela primeira vez em meses. 


Notas Finais


Eu sei que prometi um capítulo grande, eu sei. Vou tentar trazer capítulos maiores assim que eu entrar de férias.


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