História Run - Minho Jong

Seul, Coréia do Sul. 2007

-Mais um vez, mas agora tenta acertar. -Disse minha mãe sentada na poltrona ao meu lado enquanto eu praticava Piano. Ela mal se mexia, olhando apenas para os meus dedos nas teclas. -Mais uma vez.
Aos quatorze anos de idade eu era uma criança prodígio, tocava mais de dez instrumentos, falava cinco línguas diferentes, sabia dançar, era o filho dos sonhos de qualquer mãe. Mas para a minha eu era apenas um instrumento. Me inscrevi um várias agências de entretenimento naquele ano e precisava da certeza de que passaria.
Triim... Triim...
-Um minuto, o telefone. -Minha mãe saiu da poltrona finalmente, respirei. -Alô... Pois não... Sim... Entendi...(depois de um longo minuto) OK, obrigada.
Ela não disse nada e voltou para a poltrona, se sentou e ao invés de olhar para os meus dedos, olhou nos meus olhos. Por  um momento pensei em ter feito algo errado sem ao menos perceber.
-A audição da SM, conseguimos uma vaga. -Disse sem rodeios, acho que ela deu um sorriso, mas quase não deu pra notar. Já eu, fiquei com uma cara que não sei explicar, todas as sensações me atingiram ao mesmo tempo. Mas não queria mostrar que estava muito feliz em finalmente conseguir agradá-la.
Naquela semana estava tudo passando muito rápido, a escola, as aulas de canto e de dança, como se a meta da minha vida fosse essa audição. Eu queria muito isso, queria uma vida nova, um pouco de aventura, conhecer coisas, pessoas e lugares, sair da minha rotina.
Na manhã da audição, acordei cedo para ensaiar mais uma vez tudo o que iria mostrar. No caminho a única conversa que tive com a minha mãe foi sobre treinos, a empresa SM e como os pães que compramos estavam fresquinhos naquela manhã. Nossos pensamentos estavam totalmente voltados ao futuro.
Chegando lá entreguei meus documentos e aguardei até chegar minha vez de apresentar, minhas pernas tremendo.
-Minho Jong. -Uma mulher usando um boné me chamou, meu coração batendo mais forte. -Por aqui por favor.
Entrei na sala, onde haviam três pessoas em três cadeiras, não reconheci nenhuma delas.
-Boa tarde, meu nome é Minho Jong e eu vou cantar Ordinary People.
Um dos jurados fez um sinal com a mão para que eu começasse. Respirei fundo e dei o meu melhor. O mesmo homem fez outro sinal para que eu parasse.
-Esse... É o seu melhor? -Disse ele ajeitando o óculos sem levantar os olhos.
-Eu...
-Obrigado. -Interrompeu ele, apontando a saída.
-Espera, eu...
-Próximo, por favor. -Ele chamou a mulher de boné enquanto os outros escreviam sem parar em pranchetas.
Saí dali depressa, sem saber o que pensar. Não tinha mais nada a fazer. O que diria para a minha mãe? E na escola? Era isso ou nada.
Sai pela porta da empresa e vi minha mãe encostada no nosso carro, com um sorriso esperançoso que desapareceu assim que ela viu minha expressão. Entramos no carro, chegamos em casa, me deitei, sem dizer uma palavra. Cansei, de tudo. Fiquei olhando para um ponto fixo no teto do meu quarto enquanto lágrimas começaram a descer até eu senti-las no meu cabelo. Senti um aperto no peito, uma sensação horrível, nada passava pela minha mente.