História S W E E T - Fillie - C. Quatro : Tinta.

B R O W N

Quando a aula acabou, Zach e eu pegamos as coisas no armário pois eu iria para o clube de artes e ele para casa.

O mais novo amigo de Zach, Noah, nos abordou no corredor, perguntou se queríamos carona depois dos cursos, mas Zach explicou que ele não fazia parte de nenhum curso.

— Noah, um segundo. — puxei Zach para mais longe.

— O que?

— Você vai perder a chance de ir pra casa com o garoto que tá afim de você?

— Millie… não começa. — ele rolou os olhos.

— Você tem o que pra fazer hoje? Seus pais estão trabalhando. Zach, fica aqui… nem que você vá ver o time treinar.

Zach pareceu pensar.

Eu não culpo ele, os pais são extremamente preconceituosos, a irmã escolheu fazer uma faculdade fora do país só para não ter que conviver com eles justamente por eles serem pessoas difíceis. Zach fica sozinho a maior parte do dia, ele normalmente passa as tardes lá em casa enquanto jogamos no videogame velho do meu pai.

Olhamos para Noah que olhava para os lados enquanto batia os pés, ele estava nervoso, parecia que ele realmente gostava do Zach.

Meu amigo me olhou e soltou um suspiro acompanhado de um sorriso.

— Acho que eu não posso perder mais oportunidades. — sorri e o abracei.

— É assim que se fala! 

Voltamos até onde Noah estava e Zach aceitou a carona, contando que ele me levaria também. O que me deixou com vontade de rir, eu ficaria de vela novamente.

Zach e Noah seguiram para o ginásio e eu fui atrás de Gaten para irmos até a sala de artes.

W O L F H A R D

Jack e eu saímos do vestiário junto com os outros garotos.

Não tinham muitos interessados no time esse ano, a treinadora falou que muitos estavam com medo de tentarem e não passarem.

Joseph estava com um sorriso de orelha a orelha, aquele sorriso sempre me dava nos nervos, ou ele aprontaria ou ele já teria aprontado. E eu sei qual das duas está certa.

Noah demorou alguns minutos para aparecer, ele havia ido atrás de alguém no final da aula e demorou para se trocar.

— Ei, se importa de levar mais duas pessoas? — ele perguntou quando se aproximou de nós no ginásio.

— An… não, mas quem eu vou levar?

— Só uns amigos, valeu Finn. Te devo essa! — ele sorriu e foi para perto de Tyler para se aquecer.

— O que foi isso? — Jack me olhou.

— Acho que amor. — eu olhei para ele e caímos na gargalhada.

Jack e Noah eram as únicas pessoas que eu ainda podia contar além de mim mesmo e das minhas irmãs, éramos amigos desde o maternal e acompanhamos os dramas familiares uns dos outros.

Jack tem brigas na família, os pais discutem todos os dias e é sempre o mesmo motivo, o Sr. Grazer descobriu mais uma traição da Sra. Grazer e acaba descontando tudo em cima de Jack. Ambos já gritaram com ele, o chamaram de inútil, imprestável, infeliz, disseram que ele não dava orgulho para eles entre outras coisas que me doem só de lembrar.

Já Noah tem uma relação saudável com o pai, o homem trabalha para o governo e mal fica em casa, isso é o único problema que ele passa em casa, ele passa a maior parte do mês com a madrasta - que está mais para boadrasta -, que trabalha quase que o dia todo. Winona, a madrasta de Noah, é uma ótima pessoa, pena que mal a vemos pois ela vive dando plantões no hospital, ela é cirurgiã. O único problema da família de Noah é o número exagerado de irmãs e irmãos que ele tem devido aos casos passados do pai. E isso também ocasiona algumas brigas bestas na família.

Ele foi casado durante dois anos com a mãe de Noah, o tornando o mais velho do bando. Depois teve um caso com uma top model local e teve trigêmeos com ela, os primeiros irmãos de Noah. Depois, mais um casamento com uma moça que fazia parte do governo, com ela o Sr. Schnapp teve gêmeos. Só aí já são seis filhos. E agora, com Winona, ele teve a pequena Kaylie, que tem apenas um ano e Winona já estava grávida novamente, de dois meses. 

Sem contar que o pai dele era extremamente rigoroso, mas, quando Noah nasceu, parece que ele ficou mais calmo e têm tentado entender o lado dele. Ficou feliz quando Noah contou que era bisexual e isso era incrível para ele.

Meus pais estão separados há exatos três anos, minha mãe afundou em um poço quando ele nos deixou para ficar com uma moça de vinte e um anos no natal. Minha mãe bebe o dia inteiro e passa a noite em baladas, ela não limpa a casa, não cozinha e nem trabalha, toma remédios para dormir, tem febre constante e cinco passagens pelo grupo de alcoólicos anônimos só em um ano. Eu sou responsável por metade das coisas em casa e agradeço que temos uma condição financeira até que boa, mas mesmo assim eu penso em trabalhar para melhorar a verba.

E eu tenho a Brooklynn, minha irmãzinha mais nova, filha dos meus pais mesmo.

Ela é um amor, tem nove anos, adora desenhar e tem vontade de ser atriz quando crescer.

Apesar de tudo que nós três passamos, Jack, Noah e eu conseguimos sempre um tempo para nós e nos divertimos sempre com nossos “ amigos ” e uns com os outros.

A treinadora apitou no meu ouvido me acordando dos meus pensamentos.

— Wolfhard! Vamos lá capitão, o campeonato se aproxima! 

Enquanto eu explicava para o time o que faríamos naquele semestre, um garoto entrou no ginásio e se aproximou para falar algo no ouvido da treinadora, que apenas assentiu e voltou a atenção para nós.

**

O treino não foi nada tranquilo por causa dos novatos, amanhã a treinadora e eu iríamos fazer a lista dos que passaram para o time principal e dos que ficariam no reserva.

Depois de tudo, fomos todos para o chuveiro. 

Banho, zueiras, piadas, muita água jogada de um lado para o outro era o que resumia aquele nosso tempo entre colegas.

Chosen foi o primeiro a escorregar com a roupa do treino, o que fez todos rirem até a barriga doer, inclusive o próprio Chosen.

Quando terminamos, Noah, Jack e eu nos despedimos de todo mundo e fomos em direção ao estacionamento.

— Galera, espera! Eu vou buscar uma pessoa. — Noah correu de volta para o ginásio.

— Esqueci que vou dar carona pro cara que o Noah tá crushando. — falei rindo e Jack colocou os óculos escuros.

— Vou precisar de ouro, só assim pra virarmos um candelabro bonito…. — gargalhando mais alto.

— Já somos lindos, meu amor. — passei meu braço por seus ombros.

Ouvimos a porta do ginásio abrir e Noah saiu de lá com Zach, o garoto que Joseph zoou mais cedo.

Zach estava acompanhado de uma garota de cabelos castanhos que estavam amarrados em um coque e sua mão esquerda suja de tinta preta.

— Galera! Esses são Zach e Millie, acho que já se conhecem. — eles sorriram.

— Eu sei quem você é. — Jack disse. — Não é a garota que tentou peitar o Joseph? Você é corajosa, quer ser minha amiga? 

Jack parecia uma criança.

Eu analisava ela, o cabelo bagunçado e o rosto suado, os tênis surrados e o moletom amarrado na cintura mostravam que ela estava em um dos clubes de artesanato.

A garota sussurrou algo para Zach e me olhou rindo.

— Bom, vamos? Eu ainda preciso buscar minha irmã na escola! — balancei as chaves.

continua..