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História Sábado de Manhã - Términos e Chocolates Quentes;


Escrita por: Pjkamiseroshin e beyt

Notas do Autor


prepara que lá vem bomba (depois de alguns meses sem dar sinal de vida, mas pelo menos eu voltei)

Capítulo 22 - Términos e Chocolates Quentes;


Seis meses haviam se passado. O frio de Dezembro corria pelas ruas e alguns vestígios de neve caíam do céu em pontos específicos da cidade. O clima natalino pintava cada detalhe urbano dos prédios, lojas, casas e todo tipo de construção em tons de vermelho, verde e branco. Pisca-piscas iluminavam cada esquina e a noite nunca fora tão iluminada quanto naquele momento. 

A cidade irradiava alegria e esperança. Causava borboletas no estômago de Denki, que abraçava as alças da mochila contra o corpo encasacado enquanto se deslocava por entre as ruas iluminadas. No seu fone, a música "Baby Don't Hurt Me", em uma versão mais desacelerada, tocava e preenchia sua mente com cenários de amor com uma pessoa muito específica.

Sim, ele estava pensando em Shinsou Hitoshi. Não de um modo simplório — nada era simplório quando estava falando do seu falso namorado —, mas sim, de um modo extravagante, exagerado e apaixonado. Esse costumava ser o resumo de seus dias: pensar em Shinsou. E estudar, claro. 

Havia finalmente dado um fim ao ensino médio com as melhores notas que já havia pontuado em toda a sua vida. Claro que todos os créditos iam diretamente a Shinsou pelas horas a fio que ele passou junto a Kaminari, o ajudando a entender as matérias, desde as mais fáceis até as que ele mais tinha dificuldade em aprender. As noites em claro estudando com Shinsou em sua casa de vez em quando o faziam ter que ir para a escola sem nenhuma hora de sono, mas com a matéria fresca na cabeça, o que era uma bela estratégia para notas bem acima da média. 

Pegar o diploma em mãos fez com que a guerra interna mais intensa de sua vida tivesse um fim calmo e aliviante. Por mais que soubesse que dali para frente as coisas poderiam piorar e muito, era um peso a menos saber que não teria que voltar para aquele cenário nunca mais: o bullying, a pressão dos professores, os cochichos pelos corredores, entre muitos outros detalhes que fizeram de seu ensino médio um verdadeiro inferno. 

A escola havia acabado e todos os alunos estavam de férias, menos ele. Agora tinha um curso extensivo e preparatório para o vestibular todos os dias da semana no período da tarde. Ainda que não soubesse exatamente o que iria cursar — tinha dúvidas em inúmeros cursos —, queria dar o máximo de si no vestibular e se orgulhar de si mesmo como havia feito ao decorrer do ano. 

Além de que, Kaminari estava em um estágio de meio-período na mesma empresa de seu pai na parte das manhãs. Ou seja: sua cabeça estava tão ocupada que ele mal conseguia respirar direito. Mas era uma boa maneira de não se apegar mais às coisas que lhe faziam mal há alguns meses. E tinha, então, uma estabilidade financeira pela primeira vez em tanto tempo. 

Tudo estava dando certo em sua vida. 

Menos sua relação com Shinsou. 

Não é como se ela estivesse desmoronando — calmo e metódico como o falso namorado era, Kaminari achava difícil isso realmente acontecer —, porém, já não era mais a mesma coisa de algumas semanas atrás. A paixão continuava crescendo no âmago de Denki enquanto ele e Shinsou acabavam se afastando por inúmeros motivos: os estudos — tanto de Kaminari quanto de Hitoshi, que estava no estágio mais difícil do curso de Psicologia —, a distância agora que eles não estavam mais morando juntos, e principalmente, a insegurança de Denki quanto aos seus sentimentos e a falta dos de Shinsou. 

Kaminari inconscientemente foi quem afastou Hitoshi de sua vida. O falso namorado vivia o chamando para algumas saídas — um restaurante, ao cinema, entre outros —, mas Denki vivia recusando pelo simples fato de ter um medo enorme de se apaixonar ainda mais pelo de cabelos roxos, e acabar se machucando no final de tudo isso. Só que de nada adiantava: seus sentimentos continuavam crescendo freneticamente, por mais que a todo momento ele estivesse tentando contê-los. 

Acabou jogando tudo para o alto naquele dia. Shinsou havia o chamado de manhã, quando ainda estava resolvendo algumas pendências na empresa do pai — ele trabalhava em um escritório só para ele, com um computador só para ele, e até com um crachá que tinha uma foto sua e seu nome completo —, dizendo que queria conversar consigo sobre algo importante. Aquela simples mensagem foi o suficiente para Kaminari passar o resto do dia em uma ansiedade que mal cabia em si. Agora ele se dirigia até o endereço que Hitoshi havia marcado: em uma cafeteria perto do centro da cidade que ele já havia ido algumas vezes junto com seus amigos depois da aula. 

Apertou seu próprio corpo contra o moletom preto, tentando conter o frio que fazia seus ossos tremerem. As bochechas chegavam até a estarem quentes e vermelhas. 

Quando finalmente chegou no estabelecimento e abriu a porta, tendo um sininho chiando acima de sua cabeça, seu corpo foi abraçado por um clima quente e aconchegante, que quase o fez gemer de alívio. Além do cheiro de café que inundava o local, tão parecido com o aroma de Shinsou… 

Pensando no dito cujo, procurou pelos arredores a figura de cabelos roxos e logo a avistou sentada em uma das mesas vagas e rente à janela que dava vista à rua movimentada da cidade. Se aproximou com o coração batendo forte. Fazia alguns dias que não conversava pessoalmente com Hitoshi, se limitando a apenas responder algumas mensagens em que ele perguntava como estavam as coisas — o curso, o trabalho, a nova rotina.

— Oi! — disse, animado e nervoso, se sentando à frente de Shinsou e logo reparando em sua silhueta trajada com uma jaqueta jeans que ele já bem conhecia. Estava com tanta ansiedade que nem sequer deixou o outro responder, logo emendando com uma pergunta: — Você já pediu? 

— Não — disse com um sorriso ladino que quase desmontou a sanidade de Denki. — Você quer alguma coisa? Eu pago. 

Kaminari corou por tamanho cavalheirismo que Shinsou tinha consigo. Quase gritou para que ele parasse de ser perfeito e garanhão imediatamente. 

— Deixe de ser bobo. — Riu e coçou a nuca tentando disfarçar seu nervosismo. — Agora eu trabalho, posso pagar. — Quando viu a atendente loira se aproximar deles e perguntar o que iriam pedir, Kaminari respondeu: — Vou querer um chocolate quente. E você, Shinsou? 

— Não vou querer nada, obrigado. 

Denki quase franziu o cenho em resposta, vendo de canto de olho a atendente se afastar com um bloquinho de notas em mãos. Será que o assunto a ser tratado seria tão rápido a ponto de Shinsou nem precisar pedir nada para beber? 

Tomado pela curiosidade — e ansiedade, acima de tudo —, Kaminari inspirou e perguntou: 

— Então, Toshi… sobre o que você queria conversar. 

Viu o corpo do outro se retorcer de maneira nervosa no banco. O nervosismo era quase palpável e cem por cento contagiante aos olhos de Denki. Era raro ver o falso namorado assim, ansioso, nervoso. Geralmente o via assim antes de alguma prova importante ou quando estava perto da data de entrega de um trabalho complexo. 

— Denki, eu vou ser franco e rápido. — Ele pôs as mãos juntas em cima da mesa. — Eu acho melhor a gente terminar.

Por incrível que pareça, Kaminari, ao ouvir, não expressou nenhuma reação. Era como se o cérebro tivesse decidido não absorver nenhuma informação. Ele apenas continuou a ouvir, crente de que ele acordaria a qualquer momento em sua cama, atrasado para ir à empresa do seu pai porque dormiu demais. 

— Quer dizer, não que a gente realmente tenha algo a terminar, mas vamos considerar que sim — Shinsou continuou, a voz rápida e parando de vez em quando. — No fundo, nós dois sabíamos que esse dia chegaria, certo? Acho que já adiamos demais o inadiável. Você tem que viver, Kaminari, e comigo na sua cola, como um namorado de mentirinha, você não vai conseguir seguir sua vida. Eu fiz essa escolha para o seu bem. Tá na hora de você procurar um namorado ou namorada de verdade, que não seja só uma fachada. Esse relacionamento só serviu para algo que já está resolvido. — Um suspiro profundo escapou de sua boca, aliviado como se um peso tivesse pulado para fora de suas costas. — Espero que possamos ser amigos depois disso. 

A mente de Kaminari era um borrão. As palavras iam entrando aos poucos. "Terminar". "Inadiável". "Namorado de mentirinha". "Fachada". Ele sabia o que estava acontecendo ali. Só não sabia como reagir. 

Deveria estar feliz? Sim. Mas então por que um vazio tão grande tomava conta de si naquele momento? 

Esse dia tinha que chegar. Esse dia logo chegaria. E esse dia estava ali. Só não sabia como processar. 

— Denki? — Sentiu Shinsou tocar em sua mão, que estava repousada em cima da mesa, e um choque percorreu seu corpo, o fazendo despertar. 

Kaminari, então, fez o máximo possível para sorrir. 

— Eu… eu concordo com você, Shinsou. E tá na hora de você procurar alguém que goste de você também.

Hitoshi retribuiu o sorriso, porém, Denki conseguia ver algo claro e nítido em seus olhos: com certeza algo o incomodava, não estava o deixando feliz. Se Kaminari estava com um vazio em seu peito, Shinsou estava com um ainda maior. Havia uma sombra em seus olhos. Ou talvez fosse algo da cabeça de Denki. Quer dizer, tinha que ser algo da cabeça dele. 

Afinal, por que Hitoshi estaria triste com seu término? 

Viu o corpo do falso namorado se levantar da mesa e apertar seu ombro antes de ir embora. 

— Feliz natal, Kaminari. 

Um sininho soou acima da porta, petrificando a saída de Shinsou. Talvez não apenas do estabelecimento, mas também da vida de Kaminari, que continuava ali, sentado na mesa, sem reação alguma. Sem saber o que fazer em seguida. 

Sua rotina tinha Hitoshi em quase todos os estágios. 

Shinsou estava a todo momento em sua cabeça. 

Como simplesmente aquilo havia acabado em um dia qualquer de Dezembro? 

Como esqueceria daquele garanhão de cabelos roxos assim, do nada, se ele já fazia parte de sua vida? 

A atendente se aproximou de sua mesa, meio hesitante ao perceber sua solidão e estado melancólico, deixando um copo de vidro decorado em cima da mesa com delicadeza. 

— Aqui seu chocolate quente. Espero que goste. 

Denki apenas agradeceu com um movimento da cabeça. 

A atendente com certeza não sabia o tamanho da confusão que tomava sua mente naquele momento. 



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