1. Spirit Fanfics >
  2. Sacrifício >
  3. [Originais] Sacrifício

História Sacrifício - [Originais] Sacrifício


Escrita por: GuardiaoR

Capítulo 1 - [Originais] Sacrifício


Songfic da música Give Unto Me - Evanescence

***

Sacrifício

Em algum lugar, um piano imerso em trevas e mortalhas. Suas teclas brancas sobem e descem sobre a pressão de dedos brancos.
Seus olhos lacrimosos estão semicerrados e a cor de seu vestido absorve toda a melancolia. Alheia a tudo e a todos, ela toca. Aprisionada num profundo estado de concentração e pesar.

A morbidez cinzenta permeia cada canto da rua, os céus empestados de nuvens nebulosas e imponentes. Arrogantes, elas impedem o calor e a luz de alcançar o asfalto gelado.
Ela se recosta no poste.

I've been watching you from a distance
(Eu tenho observado você de longe)
But distance sees through your disguise
(Mas a distância enxerga através do seu disfarce)
All I want from you is your hurting
(Tudo que eu quero de você, é o o seu sofrimento)

Uma figura escura surge no fim da rua, a cabeça curvada pela dor que carrega sozinho. A pálida dama sente a presença e o observa do poste.
Seu coração sangra.
Observa calada ele se aproximar, esperando em sua agonia para salva-lo embora ele não saiba seu nome. O calor que antes a esquentava desaparecera, mergulhado nas águas geladas da hipocondria de seu amor.

Ele passa por ela, mas não a nota. De olhos fechados, ela sussurra.

I want to heal you
(Eu quero curá-lo)
I want to save you from the dark...
(Eu quero salvá-lo das trevas)

Seus ouvidos não captam os sussurros gélidos e imateriais, e ele continua a mexer as pernas, obrigando-as a se arrastar mesmo sabendo que isso resultaria em mais dor.

A dor fúnebre que o esperava.

Virando-se suavemente, ela o segue. Seus pés não tocam o chão, deslizando em meio ao longo vestido negro. Seu cabelo não segue o vento, apenas as trevas que se fechavam sobre os dois e moldavam os fios.
Num instante, sua boca estava na orelha dele.

Give unto me your troubles
(Dê para mim seus problemas)
I'll endure your suffering
(Eu suportarei seu sofrimento)

A figura pálida ao piano continua a tecer sua suave melodia, alheia ao corte que brotara de sua mão, vívido e carmesim.

Place onto me your burden
(Ponha sobre mim a sua carga)
I'll drink your deadly poison
(Eu beberei seu veneno letal)

Ele continuou em seus passos lentos, incapaz de enxergar a dama que o seguia e consumia sua dor. Também não viu o homem no fim da rua, carregando uma faca e más intenções.
A lâmina brilhou e perfurou-lhe o braço, mas o sangue brotou foi da lívida dama.

Why should I care if they hurt you?
(Porque eu deveria me importar se eles te machucam?)
Somehow it matters more to me
(De alguma forma, importa mais para mim)
Than if I were hurting myself
(Do que se eu estivesse me machucando.)

Outro corte estava para vir, mas os dedos delicados e compridos se fecharam em torno do pulso cruel. Ela o empurrou para longe. Seu amado já estava a uma distância razoável, não vira seu ato ou sequer notou que quase fora morto.

A dor o cegava. A dor matava aos poucos a gentil dama.

No momento seguinte ela já estava ao seu lado, fitando-lhe sonhadoramente o rosto. Agarrou-lhe a nuca com delicadeza, e encostou os lábios em seu ouvido, esperando que a ouvisse.

Save you
(Salvá-lo)
I'll save you
(Eu vou salvá-lo)

O rosto do amado escapou pelos seus dedos. Mais uma vez sua tentativa de comunicação falhou e ele continuava seu trajeto fúnebre, ignorando aquela que o salvaria.
Um corte profundo marcou os dedos da pianista. O sangue deslizou e ocupou os espaços entre as teclas de mármore.

Give unto me your troubles
(Dê para mim seus problemas)
I'll endure your suffering
(Eu suportarei seu sofrimento)
Place onto me your burden
(Ponha sobre mim sua carga)
I'll drink your deadly poison
(Eu beberei seu veneno letal)

Ele avistou a entrada do cemitério, parando de súbito. As mãos brancas pousaram de forma reconfortante em seus ombros.

Ela sentiu seus olhos enevoados fitarem tristemente os portões. Estavam convidativamente abertos, deixando escapar por entre as grades a essência da morte. Respirando fundo, ele se desprendeu dos braços dela, entrando abalado no cemitério.

A dama o seguiu, o desespero surgindo-lhe no rosto. Ela teria de tentar mais... Teria...

No instante seguinte estava no portão do cemitério, vendo-o andar em sua direção. Principiou a suplicar suas palavras novamente.

Give unto me your troubles
(Dê para mim seus problemas)
I'll endure your suffering
(Eu suportarei seu sofrimento)

Ele passou direto por ela, acentuando a máscara de tristeza que ela usava. Um corte profundo se abriu em sua face macia. Seus passos evitavam a terra pútrida do cemitério, seguindo os passos derrotados de seu amado.

Outro corte espalhou sangue em seu pescoço fino quando seu amado avistou seu objetivo.

O túmulo, abrigando uma única vela maltratada. Sua chama era forte, embora o vento lutasse para apagá-la.

Ele caiu de joelhos, sangue escapou pelos cantos dos lábios da dama.

Finalmente ele desabou por completo, deixando que uma lágrima escapasse por seu olho direito, carregando consigo a mais profunda hipocondria.

A dama o envolveu com seus braços, nutrindo-o com uma camada protetora de ternura. Estremeceu ao sentir o grande sofrimento que emanava de sua pele fria, mas agüentou firme, fitando a vela. Sussurrou em seus ouvidos, suplicante.

Place unto me your burden
(Ponha sobre mim sua carga)
I'll drink your deadly poison
(Eu beberei seu veneno letal)

A lágrima no rosto dele principiou a secar, de baixo para cima. Parecia retornar aos seus olhos, aliviando-lhe de o sofrimento. Ele não notou que ao mesmo tempo em que sua lágrima retrocedia, uma grossa lágrima de sangue brotava do olho direito da dama.

O líquido carmesim e o líquido transparente nos olhos dos dois eram iluminados pela evanescente chama, que lentamente se rendia ao vento cruel.

As palavras fracas e úmidas de despedida não chegaram aos ouvidos torturados dele.

Fear not the flame of my love's candle
(Não tema a chama da vela do meu amor.)
Let it be the sun in your world of darkness...
(Deixa-a ser o sol no seu mundo de trevas...)

Os dedos da dama perderam suas forças e muito, muito suavemente deslizaram pelos ombros do amado. Ele arregalou os olhos, pela primeira vez sentindo o toque gelado.

O corpo suave da dama tombava, seu tempo de queda reduzido pelas trevas, que a envolviam ternamente em seu berço frio e impediam que a corrupção daquele solo impuro manchasse a sua pureza pálida.
A chama da vela se apagara.

Toda a dor dele havia evaporado, deixando-o confuso. Sentiu o suave baque do corpo caindo atrás de si e se virou assustado.

Ela jazia deitada e protegida em seu leito de trevas. Apesar de todo o sofrimento, um sorriso de satisfação enfeitava seu rosto. Pois fora bem-sucedida.

Morrera para livrar o amado de seu sofrimento.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...