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História Saint Seiya: Sob o Sangue do Escorpião - A Morte que Espreita


Escrita por: Draconnasti e Katrinnae

Notas do Autor


Antares encontra aqueles a quem deveria resgatar e se depara também com seus algozes. Ela está confiante de suas habilidades, mas será que isso bastará?

Capítulo 9 - A Morte que Espreita


A entrada da caverna era larga o bastante para que uma pessoa comum passasse por ali sem dificuldades, mas alguém como Nyctimus precisaria se curvar para fazê-lo. E ele certamente não o faria de forma tão submissa, a menos que estivesse desacordado. Ou talvez morto, ela deduziu, buscando quaisquer sinais que indicassem quem estaria por trás daquele desvio.

O cheiro de podridão era cada vez mais intenso ali dentro, obrigando a Amazona a desamarrar a faixa vermelha que trazia na cintura e prendê-la ao rosto, por cima da máscara. Não havia qualquer fenda ou fonte borbulhante que justificasse aquilo. O rastro de sangue seco pelo chão estava sendo mais que o suficiente para conduzi-la. Marcas de que alguém fora arrastado.

A formação natural seguia adiante, tendo raízes de diversos tamanhos visíveis, como se segurassem a estrutura. Havia pouquíssima luz, vinda de discretas piras no chão, que se encontravam em brasa viva naquele momento. Para Antares, aquilo era mais que o suficiente para poder enxergar alguma coisa sem precisar recorrer tanto ao tato. Esperava estar chegando perto, pois o odor só piorava.

Caminhava curvada como um predador que acabara de visualizar seu alimento. Seus passos eram tão cuidadosos que ela mal podia ouvi-los. Resultado de anos de um rigoroso treinamento baseado em encontrar, mas não ser encontrada. “Se não tiver certeza do poder de seu inimigo, torne o elemento surpresa o seu maior triunfo.”, disse seu mestre certa vez.

Era um treinamento ao ar livre, mas estavam afastados do Santuário, em uma viagem com o intuito de mostrar à jovem aspirante algumas possibilidades com as quais teria de lidar. E, naquele dia, Scorpio tinha decidido que ela teria que abater a refeição dos dois usando apenas as mãos. Nenhuma pedra, nenhuma flecha, nenhum cosmo. Apenas as mãos nuas. E, para isso, iria precisar chegar bem perto do alvo sem ser notada. Se falhasse, os dois ficariam com fome até o dia seguinte.

E, segundo relatos que ouvira aos sussurros amedrontados dos servos do Templo de Escorpião, fazer seu tutor ficar faminto por muito tempo era uma péssima ideia.

Foi desgastante, mas a ajudou a compreender que, as vezes, precisaria fazer achar que era apenas um fantasma, ou que era o fruto da imaginação de alguém.

Sons de vozes que pareciam próximas chegaram aos seus ouvidos, ecoando pelas paredes, e a tirando de suas recordações. Devagar, continuou seguindo em frente, esperando que não houvesse qualquer bifurcação para tentar confundi-la.

✶~~✶✶✶~~✶

Haimon não conseguia parar de contemplar a sorte que tinha até aquele momento. Uma sacerdotisa de Athena e um Cavaleiro de Bronze, capturados e trazidos até ele. O sacerdote de quase trinta anos considerava aquilo um sinal divino: Seu Deus queria um sacrifício, e o teria na forma de uma graciosa acólita de Athena com longos cabelos castanhos e olhos azuis como os da Deusa. Mas antes, ele tentou extrair alguma informação daqueles dois. Ao seu lado, o Espectro de Morcego (01) lambia os dedos com grande satisfação após torturar mais uma vez um dos prisioneiros.

Nyctimus trazia o rosto inchado, com o nariz quebrado e sangrando em abundância. Estava completamente atordoado dos golpes recebidos, ouvindo a luta de Dóris, para se libertar das amarras que a prendiam. Devia ter desconfiado daqueles dois aprendizes. Estavam se comportando de forma muito diferente da que estava acostumado a ver.

Outrora valentes e entusiasmados, naquele dia em que partira em viagem, mais pareciam inquietos e alertas. Lobo achou a princípio que aquilo era apenas uma forma de tentarem se mostrar eficientes, contudo, se enganou de modo grosseiro. Ainda se perguntava como não tinha percebido a mudança em seus Cosmos imaturos.

Deitada sob um altar de pedra e ossos, os pulsos e braços da sacerdotisa há muito traziam feridas em carne viva, de tanto se debater. Nos poucos momentos em que estava quieta, rezava em silêncio, pedindo a Athena que a tirasse de lá ou que lhe desse uma morte rápida e honrosa.

– Não adianta lutar… Logo esse seu sofrimento chegará ao fim quando seu sangue for ofertado ao meu senhor… – Dizia o Espectro tocando o rosto da mulher com suas unhas enegrecidas e sujas de sangue. Sorriu ele, voltando-se para o outro prisioneiro. – E quanto a você, Cavaleiro… sua carne servirá de alimento a Cérberos, sendo digerido por mil anos sem morrer.

E afastou-se, gargalhando ruidosamente, chamando os Esqueletos que estavam naquela câmara para terminarem a preparação daquele ritual. Dóris gritou em plenos pulmões por ajuda, mal conseguindo transpor a voz do Espectro que achava aquilo divertido.

– Não grite… Veja que sua vida será ofertada a um Deus. O que será de sua alma, isso somente Sua Majestade Minos poderá dizer… – Haimon murmurou calmamente para a jovem. – Mas você, minha querida, encontrará o seu fim como uma honraria. Que maior júbilo um mortal poderia ter?!

As gargalhadas do Morcego cessaram e logo ele sinalizou para que o acólito fizesse o mesmo. Parecia subitamente atento, como se tivesse percebido alguma coisa errada.

– O que foi, Espectro? Algo o incomoda? Logo deixarei apreciar mais do sangue desse Cavaleiro… – Falava o sacerdote, estranhando aquilo.

– Não… Temos visitas! – Sorriu o agente de Hades.

O som de ossos sendo esmagados e um corpo pesado sendo arrastado pelo chão rochoso arranhou os ouvidos dos presentes. O sorriso do Morcego aumentava na medida em que o barulho se aproximava. Sabia dos soldados rasos que estavam nas proximidades e, a julgar pelo que escutava, eles seriam facilmente destruídos.

O corpo de um Esqueleto, cuja cabeça fora destroçada, foi arremessado diante de seus olhos. Exultou com a possibilidade de ser mais um sacrifício valoroso para sua divindade. Se tivesse sorte, poderia ser um semideus, ou algum outro Cavaleiro de baixa patente querendo impor terror em servos de Hades.

O sorriso do Espectro morreu lentamente ao ver aquela vestimenta dourada sair em meio à escuridão. Por um momento, todos os presentes ficaram confusos com aquilo que viam.

A Armadura de Ouro, dos orgulhosos Cavaleiros de Athena, trajada por uma mulher já era algo inesperado. Contudo, para Morcego, era estranho ver aquela em especial, sabendo quem havia sido seu antecessor.

– Que interessante… – Comentou o Espectro olhando aquilo, rindo de modo contido. – Então o Escorpião passou seu manto… a uma mulher?! Pensei que o Exército de Athena não admitisse mulheres em escalões dos Cavaleiros de Ouro – E lambeu os lábios. – Vejamos o quanto é divertida. Talvez seu sangue seja o que preciso para reanimá-lo após o que aquele homem fez ao meu irmão.

Antares ergueu uma sobrancelha por debaixo da máscara, alheia do que seu oponente queria dizer. Ergueu o braço direito, exibindo as unhas longas e vermelhas, prontas para retalhar seu alvo.

– Oh! Parece tão impaciente quanto o outro… Não esqueça que ainda temos uma sacerdotisa e um Cavaleiro a nossa mercê. – O Espectro apresentou os dois amarrados e devidamente presos. Um leve som com a boca e chamou inúmeros morcegos, de tamanho grande, e começaram a rondar aos prisioneiros. – Um aviso meu e eles avançam contra a carne deles e derramarão o sangue em nossa pira tal como nosso senhor gostar. Quer arriscar? – E sorriu.

Nenhum som foi emitido. Em um instante mais breve que o piscar de olhos, mais rápido que um Espectro daquela patente poderia acompanhar, ela havia passado por ele. Morcego pensou em gracejar e tentou dizer qualquer coisa, porém sua voz não saiu. Percebeu que sua Surplice estava ficando molhada com algo, fazendo-o levar a mão ao pescoço, percebendo-o severamente cortado.

“Maldita…!”, pensou ele, tentando estancar o ferimento de alguma forma e caindo no chão. Dali, não mais se levantou, deixando uma imensa poça de sangue escuro crescer. O sacerdote ficou a olhar aquilo, assustado. Sacou a adaga do cinto e posicionou na garganta da jovem, pressionando com força a ponto de marcá-la.

– N-Não deveria ter feito isso… – Ele rosnou aterrorizado, apertando a lâmina contra a mulher, que chorava. – Você cometeu um grave erro!

Ainda em silêncio, a Amazona voltou a máscara fria, de pinturas vermelhas em sua direção. Talvez o medo tivesse lhe causado uma alucinação, pois tivera certeza de ter visto um reluzir escarlate nos olhos da peça metálica.

Uma brisa morna passou por Haimon, se dando conta de que a jovem guerreira havia parado bem a sua frente. Seu braço explodiu em dor, fazendo com que ele se afastasse aos gritos, enquanto o sangue jorrava do braço grosseiramente amputado. Um jorro pintou o rosto de Dóris de rubro, fazendo-a gritar de susto e medo. Gotas escarlates respingaram em sua máscara, próximas da boca, conferindo-lhe um ar ainda mais assustador.

– Nenhum sangue será derramado aqui, se não o de vocês, seres imundos. – Ela murmurou com uma nota de êxtase em sua voz.

O Cavaleiro buscava se soltar, mas em vão. O acólito também gritava de dor e choque pelo o que aconteceu, tentando investir contra a Amazona em seu desespero.

Agitava o braço ainda intacto sem rumo certo, enquanto lutava para se manter consciente. O sangue se esvaia rápido do ferimento, onde as lascas de ossos podiam ser percebidas. Precisava manter aquela escorpiana longe para poder tentar fugir. Que ficassem com a sacerdotisa e o Cavaleiro, sua vida valia muito mais que isso.

Embora fosse mais alto que sua oponente, Haimon sentiu a mão da jovem tomar sua face. Seus dedos finos e alongados se fecharam, fazendo com que as unhas carmesins tocassem sua carne e provocando a sensação de que estava sendo queimado. Tentou lutar para se soltar, contudo fora subjugado pela força inumana dela, que o fez se dobrar para trás, até cair.

– O quão valente os homens são quando não percebem estar diante da morte. Imaginei que mesmo os devotos do Imperador Hades não temessem àqueles, cujo ofício é equivalente ao do senhor Thanatos. – Antares sibilou, apertando seus dedos, até sentir os primeiros estalos do crânio.

Nyctimus a olhava com surpresa e espanto. Nunca imaginou que uma garota como aquela, cujo corpo parecia ser tão delicado, pudesse ser capaz de tamanha brutalidade em combate. Já a sacerdotisa parecia recitar uma prece muda, tentando se manter alheia ao que acontecia.

– Precisamos sair daqui…! – Disse Lobo ofegante, buscando, ainda, soltar-se das cordas que mais parecia apertar cada vez que colocava mais força. – Logo mandarão mais Espectros para cá…!

Em um gesto rápido, a Amazona terminou de esmagar a cabeça do sacerdote contra o chão e o largou ali, indo até o Cavaleiro de Bronze. Ergueu as garras acima da cabeça e as desceu contra as cordas, arrebentando-as e deixando-as com uma marca cauterizada. O mesmo fizera com mulher que viera resgatar.

- Como você... como evitou o golpe atordoante dele?! – Ele perguntou atordoado, enquanto a jovem o examinava com algum cuidado.

- Não o deixei usar. – Antares respondeu sem qualquer emoção, ignorando a informalidade com a qual lhe dirigira a palavra. – Consegue andar sozinho, Lobo? – Perguntou Antares, olhando-o com alguma atenção, em busca de ferimentos graves.

– Não se preocupe comigo… – O guerreiro replicou, com a cabeça levemente baixa. – Cuide dela! Precisamos sair daqui! – E avançou, buscando farejar algo.

Dóris estava encolhida, com todo o corpo tremendo e olhando assustada para a jovem de Armadura Dourada. Sentia o corpo paralisado, mal conseguindo raciocinar direito. Agia apenas de modo mecânico.

– O que procura? – A escorpiana quis saber, colocando a refém nos braços. – Os Esqueletos que faziam a guarda estão todos mortos.

– Aqui ainda é território deles. O que os impede de mandar mais alguém após tudo isso? – Nyctimus apontou ainda temeroso. – Vamos! – E ganhou à frente, olhando a sacerdotisa ainda assustada, estremecendo.

– Não irão chegar tão cedo. – Falou a jovem Amazona, acompanhando-o. – E mesmo que o fizessem, ferido como está, não deveria seguir na frente.

– Vamos por aqui. – Disse o Cavaleiro de Bronze, ignorando suas palavras. – É o caminho mais rápido até o templo.

Antares estreitou os olhos de modo perigoso, mas não discutiu. Não era o momento mais propício para aquilo, embora Nyctimus estivesse dando sinais claros de insubordinação. Como medida para aquele instante, apenas orientou para que sacerdotisa recostasse a cabeça em seu ombro e fechasse os olhos. Não deveria abri-los antes de chegarem ao lado de fora.

Não demorou para que corpos de Esqueletos fossem encontrados com gargantas dilaceradas e cabeças decepadas. O próprio Lobo havia tropeçado num dos corpos, olhando toda aquela carnificina e engolindo a seco.

– O que aconteceu aqui? – Ele murmurou.

– Isso é o que costuma acontecer com quem me subestima... – Ela devolveu com um sibilo, passando a frente. – Agora vamos.

O Cavaleiro apenas piscou, olhando para Escorpião, com os olhos arregalados, e sentiu um frio na espinha. Obedeceu sem mais nada dizer.

✶~~✶✶✶~~✶

O sol começava a despontar acima das montanhas quando os dois Cavaleiros puseram, enfim, seus pés na Acrópole. Nyctimus estava exausto e pálido por conta das torturas constantes, sofridas naqueles últimos dias. Já Antares prosseguia sem olhar para trás, confiante de que ninguém seria louco de segui-los. Entregaram a sacerdotisa Dóris ao seu templo, onde fora recebida pelas outras acólitas e pela Sumo-Sacerdotisa, para que pudesse se recuperar do choque e dos ferimentos sofridos.

Como recompensa, foram oferecidas acomodações para os dois, onde poderiam descansar um pouco e recompor as forças para fazerem o caminho de volta para o Santuário. No entanto, a Amazona de Escorpião recusou gentilmente aquela oferta, ainda que diante do olhar incrédulo e queixoso de Lobo. Aceitara apenas um pouco de frutas e que enchessem seus odres com água fresca, e enfatizou bem aquele último item. Nada de vinho.

Puseram-se novamente a caminhar manhã adentro, rumo ao seu destino final.

– Daqui ao Santuário são mais… pelo menos… até o fim da tarde. Podemos descansar um pouco… – Disse o Cavaleiro de Bronze, secando seu odre tão logo cruzaram os muros de Athenas, quando viu a Amazona passar por ele.

– Vamos direto! – Rebateu Escorpião, de maneira incisiva. – Não estamos longe demais. E se bem me lembro, mais cedo você disse estar bem o bastante para tomar à frente quando o alertei, não? – Quanto mais cedo chegarmos, melhor. – E seguiu adiante.

Ele a olhou sério, cerrando os dentes e fechando os punhos a ponto de estalar os dedos. Atirou seu odre vazio no chão, de tão revoltado que ficara ao ouvir aquilo. Nada mais fez, senão acompanhá-la, em silêncio.

Os figos que receberam e o pão eram insuficientes para matarem a fome, mas a jovem não reclamou. Estava acostumada com privações e, se quisesse, até mesmo poderia caçar alguma coisa. Entretanto, não estava nem um pouco disposta a fazer algo do qual o Cavaleiro de Lobo pudesse usufruir. Aprendera, ainda em treinamento, que insubordinação não era algo apreciado por aqueles que entregavam a vida às batalhas.

Ela esteve atenta aos passos incertos de Nyctimus que os atrasavam naquele retorno. O céu estava começando a escurecer quando finalmente chegaram ao Santuário. A expressão dele era séria, para não dizer carrancuda, sobre a postura da Amazona de Ouro, a qual remoía.

Ela realmente optou seguirem direto, com pouca água e comida, fazendo-o esgotar-se mais a cada passo apressado da mesma. O forçou a seguir marcha pelo caminho, ignorando sua sede e seu cansaço.

– Vou me apresentar ao meu superior… – Ele falou com tom indisposto, sem nem mesmo dirigir-se à ela diretamente.

– Primeiro, irá se apresentar à senhora Athena. – Antares rebateu com um tom que não aceitava contestações.

O Cavaleiro de Bronze respirou fundo, voltando-se para a Amazona.

– Gostaria… ao menos… de estar… apresentável… à senhora Athena…! – Disse ele, entredentes, injuriado com ela. – Posso?

– Sabe que a senhora Athena dispensa essas vaidades quando necessário. – Escorpião rebateu, fingindo não perceber sua revolta.

Lobo ficou a fitá-la ainda por longos instantes antes de continuar a segui-la, em total silêncio. Não a olhava diretamente, simplesmente a seguia, enquanto pensava no que diria ao seu superior. Quando subiam os Templos Zodiacais, ele parou em Leão, parecendo buscar alguém, mas o Cavaleiro estava ausente. Seguiu adiante, passando pela Amazona, retardando somente quando próximo à entrada zodiacal do próximo, seguindo assim, até Escorpião.

Antares seguiu adiante, tomando nota mentalmente de cada ação do Cavaleiro de Bronze. Cada ato, mesmo que discreto, de sua desobediência.

No Templo de Aquário, tal como nas anteriores, aguardou ela tomar à frente e a seguiu, mas estava longe de se mostrar um subordinado. Demonstrava bastante seu descontentamento em deixá-la seguir na frente. Ganimedes surgiu após sentir presença na Casa, pairando seus olhos sobre o bronze que já buscava tomar à frente.

– Como Cavaleiro de Bronze, não deveria vir atrás de seu superior…? O aquariano questionou, mas logo lançou um olhar para Antares. – Ou melhor... superiora?

Aquela chamada de atenção apenas serviu para deixar Lobo ainda mais furioso que já estava. Nunca agradeceu tanto por estar escuro o bastante para ninguém ver seu rosto. Já a Amazona não escondeu o sorriso maldoso por debaixo da máscara, mas conteve-se o suficiente para não deixar transparecer o quanto aquilo estava divertindo-a.

– Estamos indo para o Templo de Athena, para reportar os acontecidos, senhor Ganimedes. Peço que nos deixe passar, pois as notícias não são boas. – Falou a jovem, com seu tom mais formal.

– Passagem concedida… Amazona de Ouro de Escorpião. – O troiano enfatizou bem aquelas últimas palavras.

A jovem ouviu aquilo e aumentou o sorriso em seu rosto, algo do qual o Guardião do Décimo Primeiro Templo podia imaginar perfeitamente. Prosseguiu o seu caminho, junto com o contrariado Nyctimus, que agradeceu a todo o Panteão por ver que o Templo seguinte estava vazio. Tão logo pisaram no último Templo, a Amazona anunciou em voz alta a sua necessidade de ter uma audiência com a Deusa.

– A senhora Athena já os aguarda. – Uma Saintia respondeu, surgindo no portão vigiado. – Queiram me acompanhar.

A escorpiana seguiu na frente, seguida pelo Cavaleiro de Bronze que seguia calado, com cara de poucos amigos. A dama de companhia e alguns guardas os levaram até o Salão, onde a Deusa devia estar a sua espera.

Encontraram-na de pé, diante do trono, e ao lado do Oráculo de Virgem e Pegasus. Pareciam discutir algum assunto, quando as portas se abriram, revelando aos dois Cavaleiros recém-chegados.

– Aguardava por você, Antares. – Sorriu deidade, voltando-se para o Bronze que curvou-se diante dela.

No entanto, sua expressão não passou despercebido pelos presentes. Pegasus e Virgem se entreolharam, curiosos e apreensivos, enquanto Athena ganhava à frente.

– Já estou ciente de que a sacerdotisa foi encontrada com vida e que Berenike está muito agradecida por sua missão ter sido bem-sucedida. – Falou a Deusa da Sabedoria, com orgulho, e voltou-se para Nyctimus. – Tal como salvou também o Cavaleiro de Bronze, com ambos retornando seguros.

– Sou imensamente grata pelo reconhecimento, senhora Athena. – A escorpiana disse, curvando-se ainda mais diante da divindade. – Mas há um assunto urgente do qual precisamos tratar. Espectros de Hades estão caminhando próximos de Atenas, buscando por vítimas para algum ritual. – E lançou um olhar para Lobo.

– Fomos emboscados pelo Espectro de Morcego, uma Estrela Terrestre. Lamento por meu grave erro, minha senhora. – Ele se desculpou, curvando-se ainda mais, tanto como um pedido de perdão como para esconder sua cara dos olhares dos outros dois Cavaleiros na sala. – Paramos um instante para descansar e adormecemos, sem que nem mesmo percebêssemos.

– Se adormeceram sem que percebessem, significa que havia algum Espectro capaz de fazer isso... – Comentou a Deusa, voltando-se para Escorpião.

– Quando cheguei ao local, somente o Espectro de Morcego, um sacerdote e alguns Esqueletos se encontravam. – A Amazona relatou. – Certifiquei-me de enviar todos eles ao Submundo, ainda que temporariamente. Alguns Esqueletos falaram que o objetivo era realizar sacrifícios ao Imperador Hades, para trazer seu contingente à superfície. Parecem estar planejando uma invasão.

– Isso pode ser muito perigoso… – Comentou Pegasus fitando Athena. – Fazer alguém dormir sem que percebesse, principalmente um Cavaleiro como Nyctimus, sacrificar uma sacerdotisa…

– Diversas aldeias foram devastadas, segundo ouvi. Recrutando para o seu exército… – Lobo prosseguiu, repetindo o que disse a Amazona de Ouro enquanto voltavam. – Os comandantes do Submundo estão comandando frotas em diferentes regiões, mas não foi dito onde e em quantos são. Outros templos parecem ter sido profanados e sacerdotisas sacrificadas.

Na medida em que o Cavaleiro de Bronze falava, era possível perceber a ira tomar gradualmente aos olhos azuis de Athena. Uma monstruosidade atrás da outra e a razão lhe era um simples palpite do qual não se arriscaria a dizer ainda. Sua única certeza naquele momento era a de que uma retaliação era necessária.

Ou revidaria, ou perderia espaço dentro do mundo do qual fora designada para proteger.

– Se fosse um caso isolado, eu julgaria ser um sacerdote tolo querendo impressionar seu Deus. – Apontou a Deusa da Sabedoria e da Estratégia, com evidente desgosto. – Mas nessa circunstância, a mensagem é mais do que evidente… Vocês fizeram bem o seu trabalho. Descansem por hoje.

E os dispensou com um gesto.

Antares e Nyctimus curvaram-se respeitosamente e se retiraram. Uma vez atravessados os portões do Templo de Athena e se viram novamente diante das escadarias do Monte Zodiacal, Lobo iniciou o seu trajeto de volta para seu alojamento sem dizer qualquer coisa para a Amazona de Ouro. Não lhe dirigira nem mesmo um olhar.

E ela observou aquilo em silêncio, pesando o castigo do qual aquela atitude mereceria. Contudo, deixaria para pensar nisso quando se encontrasse com a cabeça mais descansada. Um banho quente e perfumado, junto com um copo de chá era tudo o que mais precisava naquele momento.


Notas Finais


01 – O Espectro de Morcego é uma Estrela Terrestre, aparentemente é patente mais baixa do exército de Hades. Tomei a liberdade de considerar que, em geral, eles têm um poder equivalente ao de um Cavaleiro de Bronze ou Prata. Claro que pode haver exceções.


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