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História Sala VIP - Quem caralho é Liam Payne?


Escrita por: JaxTom

Capítulo 2 - Quem caralho é Liam Payne?


Fanfic / Fanfiction Sala VIP - Quem caralho é Liam Payne?

Por que será? Me diz, por que será?
Que a gente cruza o rio atrás de água
E diz que não está nem aí
Nem aí
Finge que não está nem aí

(Engenheiros do Hawaii, 10.000 Destinos)

    Sábado de manhã na família de Louis costumava ser entediante, pois ele era forçado a passar pelo menos parte da tarde com seus pais, porque era o “momento em família”. Mas aquele dia, ele nem estava ousando reclamar, estava até se esforçando para mostrar que não via problemas em estar ali. Porém, logo depois do almoço, sabia que sua mãe estava trancada na biblioteca com seu pai contando tudo que viu na noite anterior: Louis estava em seu quarto apenas esperando o momento de descer e ter que se explicar.

    Geralmente, ele não era o tipo de garoto muito rebelde, mas também passava longe de ser bonzinho. Era um adolescente um tanto quanto agitado e mimado, porém sabia reconhecer quando estava errado, mesmo que ele não fosse nenhum exemplo de maturidade. Seu quarto estava organizado pela primeira vez naquela semana e ele apenas mexia no celular, digitando rapidamente, trocando mensagens com Niall, explicando que provavelmente estaria em problemas e poderia dar adeus às férias de verão. Tinha planos de viajar com Niall e alguns amigos para o litoral sul da Europa - passariam um tempo em Ibiza e Barcelona - mas aparentemente nada daquilo iria se concretizar e Louis sabia bem.

    A empregada bateu na porta e assustou Louis por um segundo. Ele tirou os olhos do celular para ir atender e sentiu um frio na barriga.

    - Senhor, seus pais estão esperando no escritório do primeiro andar. - Ela disse e Louis confirmou com a cabeça antes dela se retirar. Ele voltou ao quarto e pegou o celular que tinha jogado em cima da cama e respirou fundo.

    Ele desceu as escadas sem muita pressa, não sabendo muito bem o que esperar. A casa estava tão silenciosa que era até incomum para o fato de Louis estar em casa, já que o garoto eventualmente colocava músicas altas ou estava constantemente recebendo amigos no final de semana, para jogar video-game ou tênis, na quadra que tinham no quintal da mansão.

    A porta do escritório estava aberta e ele entrou, vendo sua mãe encarando a janela e seu pai atrás da mesa grande de mogno.

    - Bom dia. - Ele disse num tom baixo, enterrando as mãos nos bolsos do jeans preto assim que entrou no local. Passava das onze da manhã, mas aparentemente ninguém havia dormido bem.

    - Sua mãe me contou algumas coisas, Louis. - Troy começou mais paciente do que Louis esperava. Ele bebia uísque e sentou-se confortavelmente na poltrona de couro. - Quero saber o que tem a dizer sobre o que aconteceu aqui na noite passada.

    - Eu estava… - Louis começou, sem olhar o pai. Johannah prestou atenção na conversa assim que o filho começou a falar. - Eu estou… Ficando com Niall.

    - Niall Horan? - Troy reforçou apenas para ter certeza. Louis confirmou com a cabeça. - Há quanto tempo?

    - Ah sei lá, pai… A gente não está namorando firme, só… Ficamos às vezes… - Louis respondeu sentindo-se um pouco apreensivo. Pensou melhor sobre a frequência com que ficava com Niall, e resolveu mudar sua resposta. - Sempre na verdade.

    - Você é gay, Louis? - Johannah perguntou séria. Louis confirmou com a cabeça novamente. - Por que não nos contou?

    - Se eu fosse hétero, teria que contar também? - Louis ironizou mesmo que não fosse uma boa hora pra aquilo, mas simplesmente escapou de sua boca e ele recebeu um olhar severo da mãe. - Quer dizer, não achei que fosse necessário especificar.

    - Louis, não iremos reprimí-lo por causa de sua condição sexual. - Troy disse levantando-se. - Não estou dizendo que eu gosto disso, porque eu não gosto mesmo. - Ele foi honesto e Louis mordeu a parte interna da bochecha. Já sabia que seu pai não iria pular de alegria ao saber daquilo, mas estava até surpreso que ele não estava encarando de maneira agressiva ou que estivesse decepcionado com ele.

    - Bobby e Maura  sabem o que está acontecendo? - Johannah perguntou referindo-se aos pais de Niall. Louis negou com a cabeça.

    - E o que você pretende fazer com esse relacionamento? - Troy voltou a tomar a palavra. - Isso é sério? Porque eu não quero saber de desfile de homens nessa casa, Louis, especialmente dormindo aqui. - Ele continuou e Louis arregalou os olhos.

    - Eu não faço isso! - Louis defendeu-se. - E se fosse meninas, aposto que o senhor iria achar o máximo. - Ele continuou novamente não segurando o sarcasmo.

    - Muito menos! - Troy ergueu um pouco a voz. - Se fossem meninas, eu não ia permitir nem que fosse uma namorada sua. Só o que me faltava aparecer uma garota de escola grávida de você! - Troy dizia e Louis sorriu de canto, não resistindo.

    - Louis, você estão usando proteção…? - Johannah não sabia exatamente como perguntar aquilo.

    - Não, não usamos. - Ele foi honesto e viu sua mãe perder a cor do rosto. - Mãe, pelo amor de Deus, você acha o que? Que eu saio transando por aí e o Niall também? - Louis disse um tanto indignado. Respirou fundo antes de continuar, estava constrangido de falar daquele tipo de coisa com seus pais. - Nós… Perdemos a virgindade juntos ano passado e… Não transamos com mais ninguém. - Louis terminou a frase sentindo seu rosto um pouco quente.

    - Certo. - Troy sentia-se igualmente como o filho, embora soubesse que aquela conversa precisava acontecer. - Eu prefiro que vocês transem aqui do que na rua. - Ele disse e Louis arqueou as sobrancelhas surpreso com a aprovação dos pais. - Mas não nos esconda mais nada, Louis.

    - E por favor use a própria cama. - Johannah disse entre dentes e Louis mordeu o lábio pra não rir. - Estou falando sério, Louis.

    - Tá bom, mãe, tá. - Ele disse um tanto impaciente. - Desculpem por mentir. - Ele disse olhando para os próprios pés. Não era um grande fã de se desculpar.

    - Certo. - Johannah disse após um suspiro. Sentia-se aliviada que aquela conversa havia se saído melhor do que ela pensava.

    - Então… Tudo bem eu viajar nessas férias? - Ele tentou e seu pai apenas sorriu de volta, como se sentisse um certo prazer em responder.

    - Mas é claro que não. - Troy disse e Louis não estava surpreso, porém não custava tentar.

    - Tudo bem, se meu castigo é ficar três meses mofando em casa, beleza. - Ele disse revirando os olhos, seu sarcasmo era quase incontrolável.

    - Não. - Troy disse aproximando-se do filho. - Você vai trabalhar. Consegui um estágio pra você.

    - O que? - Louis disse incrédulo, olhando para a mãe como se buscasse alguma resposta, mas ela claramente estava tomando o partido do marido.

    - No Times UK. - Ele explicou e Louis relaxou os ombros. - Você vai estagiar na redação do jornal, ontem mesmo falei com Liam Payne.

    - Quem caralho é Liam Payne? - Louis torceu o nariz.

    - Olha essa linguagem, Louis… - Johannah repreendeu.

    - O novo dono e CEO do jornal. Ele é editor-chefe de lá. - Troy explicou. - E vai ser bom não só pra você aproveitar o verão de maneira produtiva, mas vai te ajudar a entrar em Oxford.

    Louis ficou um pouco confuso com o que pensar daquela ideia. Realmente tinha uma certa paixão pela escrita e um certo respeito por jornais impressos. Queria muito seguir naquela carreira, sabia que era uma oportunidade incrível. Por outro lado, não sabia se sentia-se bem desperdiçando o verão trabalhando enquanto seus amigos todos seguiam para o litoral europeu ou para as baladas nos Estados Unidos.

    - De nove às cinco. - Troy continuou diante do silêncio do filho. - E você trate de ser um bom garoto, hein moleque! Faça tudo que o Liam mandar. - Troy reforçou e Louis revirou os olhos. Já imaginou que ter um chefe que era amigo de seu pai não poderia ser um pesadelo maior.

    - Fico feliz que não haja objeções. - Johannah disse rindo, sabendo que Louis sequer tinha um bom argumento para negociar aquilo, sequer perguntaram se ele queria, estava em desvantagem ali, não podia simplesmente fazer pirraça dizendo que não iria trabalhar e que sua viagem já estava toda planejada.

    - Liam pediu que esteja lá segunda de manhã. Esteja minimamente apresentável, Louis. - Troy disse um tanto severo e Louis respirou fundo.

    - O que eu tenho que fazer lá? - Louis referia-se à sua função no jornal.

    - Isso é o Liam quem vai te explicar. - Troy respondeu pegando seu jornal da mesa e preparando-se para sair.

    - Posso sair com meus amigos hoje a noite pelo menos para aproveitar meu último dia antes da escravidão? - Ele pediu, seu pai apenas deu uma sonora gargalhada.

    - Escravidão… - Troy repetiu irônico. - Dá pra ver mesmo que tomei a decisão certa em te arrumar um emprego, você está ficando muito mimado, moleque. - Ele continuou e Louis revirou os olhos. - Acho que você já tem até demais, vai ser bom pro seu crescimento pessoal.

    - Concordo. - Johannah disse, mas de um jeito mais carinhoso. Ela tocou os ombros do filho o guiando junto com o marido pela porta do escritório. - Agora vamos almoçar, termos nosso momento em família e conversar sobre esse seu relacionamento com Niall Horan.

    - Tudo bem, mas posso sair então? - Louis insistiu.

    - Desde que volte antes das três da manhã. - Johannah disse enquanto andavam.

    - Mas mãe, eu…

    - Ou então você não vai. - Ela o interrompeu quando ele tentou reclamar.

    - Tá, tá bom. - Louis concordou antes que realmente acabasse seu primeiro final de semana de férias em casa.

    Os três seguiram para a sala onde uma bonita mesa estava posta para os três almoçarem. Haviam poucos empregados na casa, a maioria tinha folga aos sábados e domingos, mas Louis particularmente não gostava do silêncio excessivo daquela casa. Pensou que talvez seria mesmo uma boa ideia trabalhar e não ficar naquele lugar exageradamente grande pra tão pouca gente durante suas férias.

x.x.x

Se você me der 3 minutos
Vai entender o que eu sinto
Eu não sou santo mas não minto
(Não vou mentir) se você me der 3 minutos

(Engenheiros do Hawaii, 3 minutos)

    Liam não era exatamente o primeiro a chegar na redação da Times UK, mas certamente não estava atrasado. Teria duas reuniões aquela manhã, gostava de estar inteirado com o que acontecia ao seu redor e estar no controle de todas as decisões principais. Ele estacionou o carro na sua vaga exclusiva na garagem subterrânea do prédio, cumprimentou alguns seguranças e seguiu para o elevador até o último andar do edifício, onde ficava sua sala. Ele alisou o terno preto assim que entrou na caixa metálica e colocou as mãos nos bolsos da calça social. Usava uma gravata discreta bordô e estava perfeitamente barbeado e com os cabelos alinhados.

    Não estava surpreso que o elevador parasse logo no primeiro andar acima do subsolo e, assim que abriu as portas, um garoto com cara de sono tinha acabado de entrar. Liam não podia dizer que conhecia todos que trabalhavam ali, mas um adolescente era realmente algo que o surpreendia. Olhou pra ele com uma certa atenção e, apesar dele estar quase dormindo em pé e piscando demoradamente, percebeu que ele tinha olhos azuis e um cabelo um tanto rebelde. Estava de terno, mas dava a clara impressão de que colocou de qualquer jeito, como se tivesse sido obrigado a vestir aquilo. Tinha uma mochila, porém a carregava apenas no ombro direito.

    - Bom dia. - Liam disse e o garoto virou-se para ele um pouco atordoado.

    - Oi. - Ele respondeu um pouco sem graça. Ele era mal humorado de manhã aparentemente. Liam lembrou-se de sua conversa com Troy Austin e teve uma vaga noção de quem poderia ser aquele garoto.

    - Como se chama? - Liam perguntou por curiosidade e para ter certeza de que era quem ele pensava.

    - Tenho dezessete anos, seu pervertido. - Louis respondeu quase num sussurro, deixando claro seu tom de impaciência. Liam sorriu para si mesmo, achou graça da situação.

    - Certo, eu começo. - Liam disse virando-se na direção de Louis que encostou-se na parede, olhando de canto para ele. - Sou Liam Payne. - Ele ofereceu seu melhor sorriso e viu Louis abrir os olhos um pouco mais desperto.

    - Nossa, que merda. - Tomlinson sussurrou, pensando no quanto estava ferrado por dizer aquilo. Lembrava muito bem daquele nome.

    As portas do elevador se abriram e Liam saiu primeiro, logo seguido de Louis que não sabia exatamente o que dizer. Para Liam, aparentemente, aquilo iria mesmo ser um desafio, ele achou graça naquela postura num primeiro momento e não estava surpreso com a atitude, afinal, não podia esperar muito de um garoto que tinha Troy Austin como pai.

    - Senhor Payne… - Louis tentou alcançá-lo mesmo que Liam andasse mais depressa, cumprimentando pessoas no caminho, e indo até sua sala. - Me desculpe pelo que eu falei, eu não sabia que era o senhor.

    Liam não respondeu, abriu a porta de seu escritório e fez um gesto sutil com a mão para Louis entrasse. O garoto, um pouco sem graça, entrou na sala e logo Liam fechou a porta. Ele olhou ao redor e viu a mesa com tampão de vidro enorme, tudo era branco, incluindo a base de sua mesa, as poltronas, um sofá grande, o tapete e as flores, que quebravam a estrutura apenas pelos caules e folhas verdes. A janela mostrava a vista para a Ponte de Londres e o vidro era inteiro, do chão até o teto, dando um ar até mesmo aterrorizante para aquilo. Louis olhava mas não se atreveu a chegar muito perto.

    Liam observava o jeito de Louis olhar tudo enquanto sentava em sua poltrona e checava os recados deixados por sua secretária, bem como alguns relatórios do departamento financeiro do jornal.

    - Sente-se. - Liam disse e o garoto fez o que lhe foi pedido. Não lembrava realmente do nome dele. - Agora que você sabe que não sou um pervertido, poderia me dizer seu nome? - Aparentemente Louis tinha alguém pra competir com seu sarcasmo.

    - Louis. - Ele respondeu sentando-se na poltrona e tentando não demonstrar que estava sem graça.

    - Louis Tomlinson. - Liam lembrou-se automaticamente de ter ouvido aquilo na festa.

    - É, meu pai mandou eu vir. - Ele disse sem precisar apresentar quem era seu pai, obviamente as pessoas sabiam, especialmente Liam.

    - Mandou? - Liam entrelaçou os dedos colocando as mãos em cima da mesa. - Então você não queria estar aqui?

    - Até queria, mas não agora. - Louis foi honesto. Tentou esconder um bocejo, mas ficou claro demais. Ele tinha ido dormir tarde na noite anterior, pois ficou na casa de Niall. - É verão, eu queria viajar com meus amigos e não fazer estágio.

    - Entendo. - Liam sorriu e olhou para o garoto jogado na poltrona de qualquer jeito, sem postura e passando uma das mãos nos cabelos como se quisesse arrumá-los, mas ele jamais ficariam no lugar depois de terem secado de qualquer jeito depois do banho. O nó da gravata estava mal feito e a mochila jogada no chão.

    - E o que eu tenho que fazer aqui? - Louis perguntou suspirando.

    - O que gostaria de fazer? - Liam perguntou curioso, até pra saber as aspirações dele ali dentro.

    - Gostaria de fazer jornalismo investigativo. - Louis disse e Liam arqueou as sobrancelhas. - Descobrir os podres das pessoas. - Com essa conclusão, Liam realmente não foi capaz de segurar o riso.

    - Entendi. - Liam disse e Louis pareceu não gostar muito do outro ter rido dele. - Vou te colocar no setor da Maggie. Quero que você escreva mil palavras sobre qualquer coisa que queria e me entregue. Quero avaliar sua escrita e seu senso crítico. - Liam pegou uma caneta e começou a escrever o número da sala e o nome de Maggie, uma das colunistas do jornal.

    - Sobre o que eu quiser? - Louis quis ter certeza quando pegou o papel das mãos de Liam. Payne apenas assentiu com a cabeça. - Vai ser publicado?

    - Claro que não. - Liam riu. - Você tem muito chão pra percorrer até ter algo seu publicado nesse jornal. - Ele concluiu e Louis não estava surpreso em ouvir aquilo. - Eu tenho uma reunião em cinco minutos, você pode ir, Louis. - Liam dispensou-o educadamente e Louis levantou-se andando até a porta devagar.

    Liam apenas observou o garoto andar lentamente, como se realmente fosse uma afronta, Payne sentiu que, de alguma forma, sabia que aquele garoto lhe daria trabalho. Não por ser mimado ou rebelde, mas porque certamente parecia determinado e com um gênio forte. Sua personalidade mostrava perspicácia e, depois do breve encontro no elevador, Liam teve certeza que Louis não tinha papas na língua e provavelmente era honesto em suas opiniões - mesmo que talvez ninguém tivesse perguntado.

x.x.x

Se eu tivesse a força que você pensa que eu tenho
Eu gravaria no metal da minha pele o teu desenho
Feitos um pro outro, feitos pra durar
Uma luz que não produz sombra

(Engenheiros do Hawaii, 3x4)

    Louis demorou um pouco para encontrar o caminho que deveria seguir. O lugar era grande demais e ele realmente não estava acostumado a fazer as coisas sozinho - todo mundo sempre estava fazendo as coisas pra ele. Andando pelo corredor, ele olhava o número e nomes nas salas, até que encontrou quem queria, Maggie Simons, Colunista Social.

    Ele viu uma moça com os cabelos na altura dos ombros, crespos e pretos, com um óculos pendurado no pescoço. Estava bem vestida, mas a sala não era muito grande e ela parecia no telefone com alguém. Viu Louis na porta e fez um sinal com a mão pra quele entrasse logo em seguida que colocou o telefone de volta no gancho.

    - Você deve ser Louis. - - Ela disse colocando os óculos e o estudando com mais atenção. - Sou Maggie, como está, querido?

    - Estou bem. - Louis sorriu de canto, sentiu uma certa simpatia por aquela mulher que até segurou seu sarcasmo de responder honestamente que estava era morrendo de sono.

    - Entre, por favor. - Ela disse sorrindo, parecia fazer as coisas com certa pressa.

    - Com licença. - Louis sussurrou baixinho e entregou a ela alguns papéis que tinha dentro da mochila. - Eu não sei pra quem devo entregar isso. - Ele referia-se aos documentos que tinha em mãos para seu primeiro emprego. Horários da escola, identidade e duas fotos 3x4.

    - Pode deixar que eu levo no RH. - Ela disse pegando os papéis das mãos dele. - Obrigada, querido.

    Ela pôs os papéis de Louis em cima da mesa e logo atravessou a sala com ele, chegando até uma mesa que ficava atrás da dela, num canto até um pouco escuro do local. Louis franziu o cenho, achou o lugar um pouco apertado demais, mas tinha alguns papéis na mesa, canetas, lápis, um computador simples e uma cadeira que ao menos parecia confortável.

    - Essa será sua mesa. - Maggie disse explicando com uma certa pressa, obviamente que ela tinha muito o que fazer. - Senhor Payne comentou que iria escrever mil palavras sobre qualquer tema para que ele avaliasse, então, pode começar a hora que quiser. - Ela disse colocando os óculos novamente. - Vou entregar seus documentos, mas logo volto, fique a vontade. Qualquer dúvida, pode me esperar que eu já venho.

    - Obrigada, senhor Simons. - Louis disse não muito empolgado, jurava que teria uma sala só para si.

    - Pode chamar só de Maggie. - Ela disse já na porta, sorridente. - E de nada. - Ela saiu apressada deixando Louis com seus pensamentos sobre a precariedade daquela mesa e daquele computador.

    Deu de ombros e, sem cerimônia, simplesmente abriu a mochila novamente e tirou seu MacBook de dentre, afastou o teclado do computador de sua mesa, deixando-o de qualquer jeito na mesa para dar espaço a seu próprio computador, muito melhor que aquele. Ligou o aparelho e apenas esperou iniciar, deixou seu celular de lado e começou a pensar sobre o que escreveria.

    O silêncio não era absoluto naquela empresa, Louis mesmo de sua sala podia ouvir outras pessoas conversando, impressoras funcionando e o abrir e fechar constante de portas. Não era exatamente como Louis imaginava, mas não era também tão estranho. Pensou que talvez seria algo mais glamouroso, sentia-se um pouco idiota por estar tecnicamente bem vestido e percebeu que se estivesse usando seus Vans com jeans e camiseta estaria bom o suficiente.

    Seu computador estava iniciado e ele abriu um arquivo de texto qualquer e apenas ficou encarando o travessão piscando antes de começar a escrever. Não fazia a menor ideia do que queria escrever, especialmente quando colocado na pressão daquela forma - sim, ele queria mesmo impressionar Liam Payne, talvez pra compensar o encontro do elevador, já que Louis sentia-se desconcertado só de lembrar da cena.

    - Certo, Louis. - O garoto falava baixo consigo mesmo. - Vamos botar pra foder agora. - Ele concluiu ajeitando as mãos sobre o teclado e deixando a escrita fluir naturalmente sobre a primeira coisa que lhe vinha na mente.

x.x.x

Eles querem te vender, eles querem te comprar
Querem te matar... De rir!
Querem te fazer chorar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

(Engenheiros do Hawaii, 3ª do Plural)

    Já era hora do almoço quando Liam terminou sua segunda reunião. tinha tantas coisas na cabeça depois de tudo aquilo que finalmente sentia que seu trabalho estava cada vez mais real e sua volta para Londres não era mais adaptação. Ele agora precisava tomar conta de todo aquele império e não se tratava mais apenas de algumas assinaturas. Decisões sérias precisavam ser tomadas e ele tinha algumas mudanças em mente. Ajeitava os papéis em cima da mesa da ampla sala do Times UK, conhecida como “Sala VIP”, onde apenas os “tubarões” se reuniam para abordar quais notícias eram realmente significativas - e convenientes - para que saísse no jornal.

    Payne levantou-se quando todos deixaram sala, com exceção de um deles, seu melhor amigo e colunista econômico do jornal, Andy Samuels.

    - Estou errado ou tem um adolescente na sala da Maggie? - Andy disse quando o último executivo bateu a porta, deixando ele e Liam sozinhos.

    - Tem um adolescente na sala da Maggie. - Liam disse rindo, colocando todos os papéis dentre de um envelope. - Filho de Troy Austin.

    - O que? - Andy riu ao ouvir o nome tão conhecido. - Está se vendendo por quanto, Payne? - Ele brincou e Liam olhou orgulhoso para o amigo, seu sorriso praticamente brilhou.

    - Minha conta bancária me avisou que estou um milhão de libras mais rico. - Liam disse vendo Samuels gargalhar.

    - Está de brincadeira, cara. - Andy disse incrédulo. - Tudo isso apenas para um estágio para o garoto?

    - Com Troy Austin uma mão lava a outra, e você sabe muito bem disso. - Liam dizia enquanto se encaminhava para deixar a sala acompanhado do amigo. - Mas estou realmente levando isso a sério, o garoto parece promisso. É genioso, um pouco mimado.

    - Bom, já era de se esperar vindo de quem vem. - Andy constatou e Liam não iria contra-argumentar algo óbvio. - Vai deixar ele no departamento de colunas sociais?

    - Não sei, pedi a ele apenas que escrevesse mil palavras sobre o que quisesse, acredito que isso vá me dar uma luz sobre onde encaixá-lo. - Liam respondeu enquanto os dois caminhavam a passos largos até a sala de Payne. - Eu realmente acho que ele vai acabar percebendo que o trabalho jornalístico tem bem menos adrenalina do que ele pensa. - Liam concluiu e, ao passarem por sua secretária, ela levantou-se.

    - Senhor Payne. - A moça loira com um coque alto nos cabelos parecia um pouco sem graça com o sorriso forçado. - Sei que não gosta que entrem na sua sala, mas eu tentei impedir, mas o garoto simplesmente entrou dizendo que o esperaria lá.

    - Louis? - Liam disse não muito surpreso.

    - Ele disse que precisava entregar um texto e esperaria lá, eu não soube muito bem o que dizer. - Ela ajeitou os óculos de armação preta, demonstrando um certo receio.

    - Está tudo bem, eu mesmo explicarei a ele. - Liam disse olhando para Andy em seguida. - Você pode ir. - Ele riu sabendo muito bem que Samuels queria mesmo era entrar junto para conhecer o tal garoto.

    - Liam, qual é… - Ele riu sabendo que Payne havia percebido.

    - O garoto vai ficar se achando celebridade, por favor, Andy. - Liam explicou e seu amigo sabia que era bem verdade. - Numa outra oportunidade vou apresentá-lo a algumas pessoas, mas você sabe que não é bom alimentar o ego de meninos ricos.

    - Você que o diga, não é? - Andry brincou e Liam apenas arqueou as sobrancelhas. - Saio pra almoçar em meia hora, se quiser te espero.

    - Eu gostaria sim. - Payne concordou ao ver o amigo se afastar e só então rumou para sua sala um pouco ansioso para ler o que Louis tinha feito.

    Assim que abriu a porta, para sua surpresa, Louis estava com o olhar compenetrado nos quadros que Liam tinha na parede. Fotos com pessoas famosas e seu certificado de Oxford estavam entre os quadros. Payne apenas observou a gravata já frouxa do garoto e a camisa pra fora da calça também, dando um estilo extremamente rebelde a ele, nada que Payne já não estivesse esperando. Foi a primeira vez que olhou pra ele dos pés a cabeça, com atenção e viu que ele usava um All Star azul escuro, no que parecia ser um jeans desbotado.

    - Espero que não crie o hábito de entrar na minha sala quando eu não estiver. - Liam disse ao bater a porta e chamar a atenção de Louis finalmente.

    - Eu avisei sua secretária. - Louis se explicou colocando as mãos nos bolsos da calça social.

    - Você não tem que “avisar”, tem que “pedir permissão”. - Liam insistiu e mal podia acreditar na petulância do outro ao revirar os olhos quanto ao que tinha acabado de ouvir. - Fez o que eu pedi? - Ele suspirou e simplesmente resolveu ignorar.

    - Fiz. - Louis disse ao mesmo tempo que andava até a mesa de Liam e pegava as folhas de papel que havia impresso suas mil palavras. A fonte estava errada, o espaçamento das linhas também e inclusive o alinhamento. Mas Liam resolveu que iria avaliar apenas o conteúdo.

    Apesar de estar um pouco amassado, o texto parecia bem organizado e com uma contagem de parágrafos correta. Liam apenas correu os olhos sobre algumas linhas, reparando na pontuação e no vocabulário e tinha que confessar que estava surpreso com o tema.

    - Política? - Payne tirou os olhos do texto e olhou para Louis. Deixou o envelope que trouxe da reunião em sua mesa e viu o garoto sorrir, passando a língua pelos lábios como se realmente soubesse que tinha conseguido impressionar. - Estou surpreso.

    - Por que? - Louis perguntou se aproximando dele. - Achou que eu ia escrever sobre esporte, música ou fofoca de celebridade? - Tomlinson concluiu olhando nos olhos castanhos do outro a uma distância que quase invadia o espaço pessoal dele. Liam apenas sorriu com um canto da boca e, novamente, olhou Louis dos pés a cabeça.

    - Você pode ir. - Ele disse colocando o texto de Tomlinson sobre a mesa junto com o envelope.

    - Como assim? Você não vai ler? - Louis perguntou ficando sério.

    - Vou, mas não agora. - Liam disse afastando-se e circulando sua mesa até sentar em sua poltrona. - Tenho coisas importantes para fazer, mas assim que eu ler, te mando um e-mail com um feedback.

    Louis apertou os olhos e franziu o cenho. Era mesmo difícil pra ele ser tratado daquela forma, como um simples funcionário como de fato ele era, ele era acostumado a regalias, a tratamento diferenciados, fosse por causa de seu dinheiro, ou fosse por causa de seu pai. Mas Payne não parecia ser do tipo que iria dar a Louis qualquer tipo de privilégio. Ambos olhavam um para o outro e Liam realmente não estava entendendo porque Louis ainda estava lá.

    - Alguma coisa a mais que você precise, Louis? - Liam disse colocando as mãos sobre a mesa e entrelaçando os dedos. Sua expressão era no mínimo curiosa.

    - Eu só gostaria que você lesse agora e me dissesse o que acha, estou curioso. - Louis insistiu mordendo o lábio inferior quando acabou de falar. seus olhos estavam mais azuis que o normal.

    Liam geralmente ficaria irritado com aquele tipo de insistência, mas era um tanto engraçado ver Louis daquela forma, suas feições juvenis e aquele traço quase infantil de alguém que realmente queria que sua vontade fosse feita. Liam sequer tinha planos de ter filhos, mas provavelmente achou que seria exatamente como se sentiria naquele momento se fosse pai: um filho adolescente tentando chantageá-lo com aqueles olhos de cãozinho perdido na mudança, de quem desesperadamente buscava por aprovação mesmo que nem soubesse disso.

    Ele não respondeu, apenas ficou com os olhos fixos em Louis por alguns segundos e, um tanto inconscientemente, pegou novamente as folhas de papel em sua frente sem tirar os olhos de Louis.

    - Tudo bem. - Liam disse por fim e viu um sorriso tímido formar-se nos lábios de Tomlinson. - Sente-se.

    O garoto obedeceu e agora sentia-se ansioso e um pouco nervoso. Ele não tirava os olhos de Payne naquele momento, queria ver sua expressão a cada palavra que lia e Liam conseguia sentir a curiosidade e expectativa de Louis no ar. Direcionou seus olhos para o texto e, lendo rapidamente, percebeu-se rapidamente compenetrado, atraído pela forma como Louis conseguia fazer alguém prender-se àquilo. Haviam problemas de concordância, o vocabulário dele não era tão bom e, certamente, ele ainda tinha muito o que aprender sobre estrutura, mas não estava nem de longe tão ruim quanto Liam pensou que estaria.

    O texto de Tomlinson abordava os problemas enfrentados por países ameaçados a deixar a União Européia por conta de dívidas, como era o caso recente da Grécia. Liam jamais imaginou que um garoto de dezessete anos, ligeiramente petulante, iria se interessar por aquele tipo de coisa. Mas sim, aparentemente Louis sabia - e muito bem - o que estava acontecendo no mundo a sua volta por aqueles dias. Suas opiniões não eram apenas concretas por serem firmes, mas por serem embasadas em teorias racionais, sociológicas e que, mesmo sem deixar muito óbvio, até alguns valores pessoais que ele sabia ser do tipo que se aprende em casa.

    Naquelas mil palavras, Louis não apenas demonstrou que era um garoto informado, que lia jornais e realmente sabia um pouco sobre economia e acordos internacionais, mas que também sabia pensar, sabia ser imparcial e usava de todos os meios para deixar claro sua noção de que as histórias sempre tinham dois - ou mais - lados.

    Liam não levou mais do que cinco minutos para ler e reler, com uma caneta em mãos, fazia anotações e circulava frases e palavras, não fez comentários verbais, apenas escrevia no papel e, por mais que Louis tentasse esticar o pescoço, não conseguia ler.

    - Confesso que está melhor do que eu pensava. - Liam disse devolvendo os papéis a Louis e voltando a guardar a caneta no bolso interno de seu paletó.

    - Normal as pessoas me subestimarem. - Louis disse num sussurro, como se falasse consigo mesmo, mas não viu Liam sorrir ao ouvir aquilo, pois estava com os olhos voltados para o papel e as anotações feitas por Payne.

    - Fez um bom trabalho, Louis, em termos de conteúdo. - Liam disse recostando-se confortavelmente na cadeira. - Precisa melhorar a forma, organizar melhor seus pensamentos, suas ideias são muito boas, porém muito dispersas no papel. - Ele concluiu tentando não ser muito duro, mas ainda assim honesto. - Com um pouco mais de treino, certamente você tem um grande futuro.

    Louis sorriu ao ouvir aquelas coisas pois teve certeza que, ao menos daquela vez, não se tratava de bajulações. Ele sentia ao olhar nos olhos de Liam que ele, de fato, não estava apenas dizendo aquelas coisas porque queria se dar bem e usar de sua relação para puxar saco de seu pai. Payne realmente parecia fazer questão de mostrar a Louis que, sim, ele era apenas mais um estagiário dentro daquele jornal e seria tratado como tal.

    - Obrigado... - Louis disse fazendo uma pausa antes de acrescentar. - Chefe.

    - De nada. - Liam respondeu sorrindo enquanto Louis levantava-se para sair, tirando os olhos de Payne apenas para encarar o papel que tinha em mãos, andando devagar até a porta. - Ei, Louis. - Liam chamou antes de o garoto sair, ele apenas virou o corpo para encará-lo curioso. - Se continuar melhorando assim, faço questão de escrever uma carta de recomendação quando fizer sua inscrição em Oxford.

    Louis sorriu aberto, mas não disse nada. De uma última olhada ao redor da sala antes de sair e pensou que, apesar dos pesares, seu pai tinha lhe feito um grande favor colocando aquele homem em seu caminho. Ele deixou o escritório e fechou a porta, andando até sua sala, mas olhando para a caligrafia de Payne nas anotações de seu texto como se tivesse acabado de conseguir um autógrafo de algum ídolo que gostasse muito.

Não adianta reclamar do pouco tempo que nos resta
Nos resta aproveitar antes que seja tarde
Só temos uma escolha:
Um momento apenas ou a vida inteira pra se arrepender

(Engenheiros do Hawaii, 9051)



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