História San Valentin - Chocolates.

— A nossa conversa está sendo gravada e quero pedir o total de sinceridade a ti, pode ser? — O policial que estava na minha frente falou enquanto segurava o pequeno gravador em suas enormes mãos. Apenas assenti e movi a minha posição na cadeira, aquilo era desconfortável — Preciso de uma concordância oral. — Ele falou enquanto colocava o gravador na mesa e logo após me encarava, bufei em resposta e deixei meu corpo descer um pouco mais na cadeira. 

— Claro, estou totalmente ciente que a nossa conversa está sendo gravada. — Falei enquanto retornava o olhar ao policial. 

— Então, Park, o que aconteceu na data de quatorze de fevereiro? Por favor explique com o máximo de detalhes possível. — Ditou novamente, dessa vez senti todo o meu estomago revirar e o ar começar a faltar. 

— Quinta-feira, quatorze de fevereiro, Dia de São Valentim. — Dei uma pausa e deixei meus olhos vagarem por qualquer local daquela sala cinza. — Na parte mais afastada de Maastricht, tínhamos alugado uma casa, ela era considerada grande até, mas esse não é o ponto principal, naquele local tinha um enorme jardim e a piscina ficava na parte de trás perto do bosque. Era espetacular. 

— Você pode descrever a aparência física dos outros seis garotos, vulgo Kim Seokjin, Min Yoongi, Jung Hoseok, Kim Namjoon, Kim Taehyung e Jeon Jungkook? — Perguntou apoiando as costas na cadeira, assenti. 

— Jin estava com o cabelo preto, vestia uma calça jeans clara com uma blusa branca e um suéter azul claro. Yoongi estava com o cabelo branco, usava roupas totalmente pretas, eram tipo um short folgado e uma blusa igualmente folgada —Tentei explicar enquanto mexia as mãos. — Namjoon tinha cabelos castanhos, vestia blusa de botões preta e um short jeans. Hoseok estava com o cabelo preto, usava uma blusa preta, short azul escuro e um corta-vento que não recordo a cor. Tae estava com o cabelo azul, com um suéter verde musgo e calça jeans clara rasgada. Jungkook estava todo e completamente de preto, desde o cabelo até as meias que usava nos pés — Ri soltando ar ao me recordar do Jeon. 

— Está ótimo, agora, conte-me o que aconteceu naquela noite. — Assenti e fechei os olhos, ainda não tinha processado todos os acontecimentos daquela noite. 

(...) 

Meus lábios batiam levemente, as minhas mãos possuíam uma cor avermelhada, e no final dos meus dedos predominavam a cor roxa. Os garotos estavam sentados na frente do portão da grande casa, estávamos esperando Namjoon, Taehyung  e Jin chegarem, eles estavam com as chaves da casa.  

— Será que eles pararam em um acostamento qualquer, hm? — Yoongi comentou com um sorriso jocoso brincando em seus lábios. Soprei o ar enquanto ria, sabia onde ele queria chegar.  

— Cala a boca, Yoongi. — Jungkook reclamou com um tom de voz arrastado. O garoto de cabelos platinados continuava com o sorriso brincalhão, era ótimo brincar com o manknae. — Para de olhar assim pra mim! Jimin-ssi, brigue com ele. — O de cabelos escuros pediu enquanto sentava ao meu lado.  

— Yoon, deixe-o em paz. — Falei, sorri de canto. Recebi um olhar divertido do platinado, mas ele logo tratou de deixar sua cabeça descansar contra o muro da casa. 

— O que será que eles devem estar fazendo agora? Estão demorando muito. — Hoseok bufou enquanto deixava o celular sobre a própria barriga. — Estamos sem sinal, não consigo ligar. — Fez beicinho.  

— Já devem estar chegando, vamos ter um pouco de calma. — Olhei ao redor, era um lugar calmo, longe de tudo, a única casa próxima ficava bem na entrada da pista, estávamos mais ou menos na parte do meio da pista. Uma luz branca de farol –que estava desnecessariamente alta demais, afinal, era de manhã cedo- logo invadiu, senti meus olhos arderem e escutei meus amigos urrarem de alegria, minha única reação foi cobrir os olhos e abaixar minha cabeça. — Porra, Seokjin, seu merdinha. — Gritei levantando meu dedo do meio, não consegui escutar uma resposta, pois senti um corpo cobrir o meu. O cheiro de um perfume doce era característico do meu melhor amigo, Kim Taehyung.  

— Jiminnie. — Sussurrou no meu ouvido, senti o cheiro de bebida alcoólica. Murmurei um longo “ahn” em resposta. — Senti sua falta. — Falou manhosamente, senti o aperto dele ficar mais fraco, mas logo senti um peso a mais no meu colo. — Taetae ama Jiminnie muito. — Ele estava definitivamente alterado.  

— Sai daí, Tae, nós precisamos entrar. — Reconheci a voz grave como a de Namjoon. Tirei os fios de cabelo do meu amigo, que atrapalhava minha vista, da frente dos meus olhos. Os meninos já estavam todos em pé em frente a porta, apertei a cintura do Kim, e o puxei para cima.  

— Caralho, o que vocês deram para ele? — Yoongi perguntou enquanto ria e guardava as chaves do próprio carro na mochila de Seokjin.  

— Ele bebeu algumas e fumou um pouco, sei lá. — Namjoon respondeu. Senti meu amigo agitar em meus braços, logo senti ele se desvencilhar do meu toque. Seguindo-o com os meus olhos notei o momento exato em que ele prendeu o garoto de cabelos platinados e sorriso sarcástico, em um abraço, escutei a risada contida de ambos e logo estavam contra a parede.   

(...)  

— Naquele dia todos estavam alcoolizados? — Perguntou enquanto o corpo grande e robusto se inclinava um pouco sob a mesa. Movimentei a minha cabeça para um lado e para outro, negativo. — Apenas o jovem Kim Taehyung? — Ergueu a sobrancelha em um claro questionamento, neguei novamente. — Quais estavam sob efeitos alcoólicos?  

— Apenas me recordo que eu e o Yoongi bebemos duas doses de whisky. — Fiz uma pausa, aquela sala parecia estar fria demais. — Poderia desligar o ar-condicionado? — Perguntei passando minhas mãos por meus braços. O homem que estava na minha frente bufou e fez um sinal em direção ao vidro daquela sala, provavelmente eu estava sendo observado.  

— E os outros restantes? Você me contou que tinha dividido o carro com mais outros dois garotos, além do jovem Min Yoongi.  

— Hoseok negou, acho que ele estava com algum problema na garganta, não me recordo bem. — Balancei minhas mãos tentando explicar. — Jungkook não quis beber, afinal, ele sempre tinha treino nas sextas, ele não podia beber. —  Expliquei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Ele era um garoto muito responsável, oficial...? — Franzi as sobrancelhas perguntando silenciosamente o nome dele. O mesmo falou um audível “Mark”. — ...Mark... Como eu estava falando, o Yoongi toca sempre piano para mim e para Tae. — Abaixei a cabeça e funguei baixinho, tudo doía, o meu corpo, a minha mente, o meu ser. — Taetae tem uma peça na quarta da próxima semana, ele não pegou o personagem principal, mas prometeu que logo conseguiria... — Continuei falando com meus braços presos ao meu corpo. 

— Park? — Me interrompeu. Olhei em sua direção e dessa vez a expressão do rosto dele não era mais questionador e sim algo bem parecido com pena. Ele sentia pena de mim. — Caso você não esteja pronto agora, nós podemos continuar com isso uma outra hora.  

— Não, precisa ser agora, Mark, prometo que serei mais breve. — Falei ajeitando minha postura na cadeira e deixando minha voz mais firme. — Preciso voltar para casa.  

(...)  

Namjon ria enquanto prendia-me em seus braços. Nós estávamos brigando para escolhermos quem ficaria na cama de casal daquele quarto. O quarto era lindo, tinha suas paredes da cor palha e nos cantos destacava-se a madeira da casa, o chão era de madeira, mas não um desconfortável de andar, pelo contrário, o chão parecia ótimo até para dançar. A cama que possuía no meio do quarto era grande e espaçosa.  

Namjoon continuava com os braços ao redor do meu corpo, eu estava tendo uma crise de riso.  

— Vamos, Jiminie, deixe essa cama para mim, você nem precisa de algo tão grande assim, você é tão pequenininho. — Ele falava com um tom brincalhão.  

— Mas, Nam, eu entrei no quarto primeiro. — Falei com um tom manhoso e um biquinho em meus lábios, talvez eu conseguisse persuadi-lo. — Deixe o Jiminie aqui, moni? — Perguntei manhosamente, abaixei minha guarda, mas esse foi um erro, pois senti mãos apertarem minha cintura puxando meu corpo para que ficasse com os pés longe do chão. Senti meu corpo cair na superfície macia da cama, mas minha visão foi totalmente preenchida pelo o homem grande que continha covinhas fofas.  

— Eu deixo o Jiminie dormir aqui, mas eu terei que dormir junto, certo? Vou proteger o Jiminie dos monstros do mal, hm? — Perguntou enquanto firmava mais suas mãos em minha cintura, o rosto dele estava bem próximo do meu, ele tinha um sorriso divertido nos lábios e o seu cheiro era de uma junção de alecrim e lavanda.  

 — Moni. — Puxei seu nome enquanto ria. — Não gosto de dividir algumas coisas. — Falei virando meu rosto para o lado, segurando o riso. O acastanhado apertou mais minha cintura e se colocou entre minhas pernas. — Mas... dessa vez eu posso abrir uma exceção, afinal, nunca se pode negar uma proteção, correto? — Perguntei olhando para o rosto dele, ele apenas murmurou um “uhum”, virou o meu rosto e encaixou seu rosto em meu pescoço. — Você sabe, eu tenho medo do escuro. — Novamente ele fez um barulho de concordância, senti ele deixar pequenas mordidas no meu pescoço. Deixei escapar um arfar. Ele sorriu naquela área e voltou a fazer o que estava fazendo antes. — Eu também tenho medo de borboleta, você sabia? — Mas foi aí que o homem que estava sobre o meu corpo despencou para o lado em uma risada alta.  

— Borboletas, sério? — Falou sofridamente quase sem ar, estava rindo muito.  

— É um trauma, okay? — Falei com um bico nos meus lábios. Namjoon parou de rir depois de um tempo e puxou meu corpo para ficar mais perto do seu.  

— Ei, vocês dois não querem comer na- — A voz grossa de Yoongi ecoou pelo quarto, assustando-me e Namjoon junto. — Ah, desculpem-me- — Falou sem graça colocando a mão direita na nuca. Eu apenas ri, o acastanhado que estava com as mãos rodeando minha cintura também acabou rindo.  — Parem de rir de mim e venham comer! — Exclamou irado enquanto saia de quarto e batia a porta.  

— Vamos, Nam, nós precisamos ir comer. — Falei enquanto retirava suas mãos delicadamente do meu corpo. Ele apenas fez um barulho em concordância e sentou-se na cama. 

— Hobi, você comprou biscoitinhos de gengibre para dar a alguém? — Taehyung perguntou preguiçosamente, ele estava sentado em uma cadeira da grande mesa, tinha uma xicara de café em sua frente, parecia mais sóbrio.  

— Hm... não comprei, Tae. — Respondeu enquanto comia pãezinhos, provavelmente Seokjin tinha comprado. — Também não recebi nenhum. — Falou cabisbaixo, mas logo voltou-se para a mesa sorridente. — E você? Recebeu algum? — Hoseok perguntou de volta, vi meu amigo de fios azulados sorrir de canto e corar um pouco as bochechas. Ri baixo.  

— Oh... Sim. Yoongie deu para mim e para o Jiminie. — Sorriu abertamente enquanto apontava na minha direção e na de Yoongi.  

— Wuah, Yoongi, que garanhão você, logo dois? — Seokjin perguntou rindo divertidamente para mim e para Yoongi.  

Yoongi sorriu de lado e murmurou um “Todos os anos fazemos isso, somos melhores amigos”. Yoongi realmente estava falando a realidade, todos os anos ele dava biscoitos de gengibre para mim e para Tae, era quase como uma tradição. Eu também os dava para Yoongi, mas nesse ano não deu para que eu comprasse, mesmo biscoitos de gengibre no dia de São Valentin fosse uma tradição Alemã, na Holanda também acontecia. O meu amigo platinado como sempre tinha feito os biscoitos manualmente, eu não tinha a mesma paciência, muito menos Taehyung, ele sim era um desastre na cozinha.  

— Jiminie, ganhou de mais alguém? — Jungkook perguntou curiosamente.  

— Uhum, Tyler do curso de cênicas me deu um quando eu fui chamar o Tae na sala dele. — Falei normalmente enquanto pegava um sanduíche natural que estava na mesa. — Ele é fofinho, fiquei feliz de ele ter me dado.  

— O senhor Park Jimin é bem concorrido pelo visto. — Namjoon brincou enquanto apertava sua mão em minha coxa. Sorri em sua direção. — Yoongi-ah deve morre de ciúmes. — Namjoon comentou despretensiosamente. Quase todos da mesa riram, menos o baixinho de cabelos platinados.  

— Yah, Namjoon-ah! — Gritou irado, batendo as mãos na mesa. — A sorte do universo é eu e o jiminie não namorarmos, pois seria muita beleza visual para ser vista! — Falou fazendo todos da mesa rir mais, eu ria balançando meu corpo.  

— Yoongi! — Tae repreendeu alto, todos da mesa pararam de rir. — Não roube meu namorado! — Tae exclamou tentando deixar a voz mais rouca do que já era, logo a casa novamente caiu em risadas altas, Tae levantou-se, puxou a minha cadeira pra trás e sentou colocando uma perna de cada lado da minha cintura. — Jiminie é somente meu. — Gritou em um tom falsamente irado.  

Eu amava estar com eles.  

(...)  

— Então, você tinha algum tipo de relação amorosa com alguém do grupo? — O policial perguntou calmamente.  

— Não, eu sou solteiro. — Respondi com o tom de voz normal. A sala estava bem abafada, estava fazendo calor hoje. De manhã, quando eu olhei a previsão do tempo dizia que faria um pouco de calor. — Mark, poderia ligar o ar-condicionado?  

Dessa vez ele assentiu em direção ao vidro daquela sala e o ar-condicionado tinha sido ligado.  

— Então, qual era sua ligação com o Kim Namjoon? — Perguntou cruzando os braços e olhando calmamente na minha direção.  

— O Namjoon é um homem lindo e incrivelmente inteligente. — Sorri minimamente, minha cabeça estava baixa e eu mexia meus dedos. — Eu o conheci bem no início do meu intercâmbio, ele já morava aqui na Holanda, desde adolescente. No dia em que eu o conheci, eu estava voltando da minha aula de dramaturgia da dança, e ele estava totalmente perdido procurando o prédio de biologia. Ele acabou esbarrando em mim e acabou aproveitando para me pedir informação, eu o dei, depois disso viramos amigos. — Então quando eu olhei para cima novamente eu consegui notar que a minha visão estava completamente embaçada e as gotas quentes transparentes desciam violentamente por minhas bochechas cheinhas.  

— Você ainda consegue? — Perguntou olhando na minha direção. Limpei meu rosto agressivamente com a minha blusa preta. Assenti. — E qual era a sua relação com Min Yoongi e Kim Taehyung?  

Sorri.  

Meu corpo começou a balançar violentamente na cadeira, minha respiração estava pesada, meu corpo despencava para frente, outros policiais entravam na sala. Tudo meu doía, tudo.  

— O garoto não está em condições, Mark, vamos deixar isso para outro dia. — Alguém gritou, tinha muitas vozes naquela sala.  

Senti mãos passarem pelo meu corpo, alguém tentava me puxar para cima, eu tentava empurrar todas aquelas mãos, eu estava sem ar. Alguém imobilizou meus braços, eu gritei alto, eu gritava o nome dele. Eu queria correr.  

— Se ele continuar assim nós não teremos uma testemunha verdadeira, não poderemos encontrar o culpado ou algo a mais assim. Ele está sendo inútil agora. — Alguém falou, tudo estava confuso, mas eu infelizmente conseguir ouvir aquilo.  

— Eu não sou inútil! — Gritei mais alto do que todas aquelas vozes, continuava tentando soltar meu corpo. — Yoongi, não deixe eu e o Taehyung! — Supliquei, eu sentia minhas lágrimas, suor e o sangue que escorria do meu nariz. — Jungkook, o Hyung quer te ajudar. — Segredei baixo. — Tae, não vá. — Então todas as mãos soltaram o meu corpo. Cai no chão, puxei minha blusa para o meu rosto para tentar limpar aquela bagunça, puxei minhas pernas para mais perto do meu corpo.  

— O jovem Yoongi deixou vocês? Por quê? — Algum policial perguntou, ele estava próximo do meu corpo. Me encolhi mais.  

— Não o faça pergunta para ele quando ele estiver nesse estado. — Escutei a voz grave de outro policial. — Isso é desumano!  

— Nós não podemos esperar ele para sempre. Temos um fugitivo, ele precisa ser útil.  

— Eu quero ser útil — Gritei enquanto tirava a blusa do meu rosto e via aquela bagunça.  

— Então nos ajude.