História Sands Love - Ressaca e "tentar de novo" - Parte 2

Kankuro bocejava exausto enquanto caminhava a duras pernas em direção a sala de televisão do Kazekage pois, não queria voltar para seu quarto e encarar aqueles enxeridos de seus amigos, que o bisbilhotava nas sombras. Porém, para a surpresa do ninja da Areia, a porta da sala estava semi aberta e a televisão estava ligada, emitindo um burburinho pelo corredor vazio.

_ Será que o Gaara ficou até mais tarde preenchendo relatório de novo? Ser Kage não é nada fácil..._ disse para si mesmo, empurrando a porta do cômodo a fim de verificar a razão de o aparelho estar ligado a aquela hora da madrugada.

Mas, para a surpresa de Kankuro, não era seu irmão que estava ali, e sim Shikamaru, sentado no chão com uma fina taça nas mãos, encarando a tela brilhante com um olhar vazio.

O jovem Nara bebericava o vinho enquanto sua mente viajava para horas atrás, quando ele e Temari estavam jogando travesseiros e almofadas um no outro. A memória de ter a abraçado, circulando seu corpo com seus braços e a puxando para si permaneciam vívidas em sua mente, como se de alguma forma sua pele resguadara o calor do corpo da moça.

O tímido gesto de Temari de repousar sua mão nas costas dele enquanto observavam as estrelas na sacada também marcara sua memória. Fora algo simples mas, para Shikamaru, aquele ato indicava uma espécie de carinho que a moça da Areia cultivava por ele. Ao pensar nisso, um pequeno sorriso brotou em seus lábios e, quase não reparou na figura de vestes negras que o encarava.

Kanku: Cabelo solto...nossa nem sabia que ele tinha um cabelão assim, só vive com aquele abacaxi na cabeça...e camisa aberta, amassada, tomando vinho...e olha essa cara de safado! O que esse cara andou fazendo com minha irmã!? Vou dar uma sova nele, a se vou!

Shika: Eita, o que aconteceu com ele? Tá com essa touca brega colocada de forma tosca na cabeça, cabelo desgrenhado… e essa maquiagem hein? Por que tá tudo borrada, principalmente na altura dos lábios e do queixo..hmmm...o que esse cara andou fazendo?

_ Ei..._ falou Shikamaru se virando para o mestre das marionetes _ Você já se olhou no espelho?

_ Mas que po...tá me chamando de feio é, seu moleque! Eu vou te quebrar em dois!

_ Não, só olha cara..._ respondeu o ninja da Folha, apontando para um espelho que pendia na parede da sala.

Kankuro fitou o espelho e observou o estrago. Parecia que tinha acabado de acordar pois, seus cabelos castanhos espetados brotavam em tufos por sobre a touca, que estava colocada torta sobre sua cabeça. No rosto a situação não era das melhores, a forma geométrica com formato de “T”, que contornava suas bochechas e queixo, estava toda borrada, como se tivesse tentado limpar com um pano úmido, não tendo êxito em tirar a tinta. Um pequeno corte era visível em sua bochecha, resultado da queda após ter sofrido o golpe de Tenten.

Shikamaru sorria zombeteiro, enquanto via a expressão de Kankuro desesperado ao encarar seu reflexo no espelho.

Kanku: Merda, ele deve tá pensando um monte de coisa sobre mim agora. Tenho que inventar algo aqui da minha cabeça hmmm…

_ Isso é bem eeer...eu lutei contra um urso no deserto e…

_ Urso? Tem urso no meio do deserto, Kankuro?_ perguntou Shikamaru, se controlando para não gargalhar da tosca resposta dada pelo irmão de Temari.

Kanku: Que merda, Kankuro! Tanto bicho para falar você foi pensar logo em um urso!

_ Mas que saco, não me importo com o que você faz ou não faz. Quer um pouco?_ falou o Nara, oferecendo a garrafa de  vinho e um copo para o recém chegado.

Kankuro concordou com um leve aceno de cabeça e se sentou ao lado do ninja da Folha. O irmão de Gaara suspirou pesado, retirou sua toca com o emblema da aldeia da Areia e passou um pano úmido no rosto, se livrando de suas típicas pinturas roxas. Shikamaru o observava de canto de olho, com um misto de desinteresse e divertimento.

Shika: Esse cara fica muito diferente sem aqueles negócios na cara…

Kanku: O que a Temari viu nesse magricela eu até hoje não sei. Olha como é metido, cheirando o vinho antes de beber…

_ Tá olhando o quê, perdeu alguma coisa aqui?_ perguntou o Nara, percebendo que o outro o encarava com uma expressão curiosa.

_ Eeer nada não. Quer suco de hortelã?_ falou o mestre das marionetes, todo sem graça, se valendo da garrafa que trazia consigo.

Serviu uma parte para Shikamaru num copo e o resto bebeu com vontade pois, apesar das noites do deserto serem gélidas eram secas, ressecando a garganta.

_ Nossa...esse negócio é forte..._ disse Kankuro tossindo, sentindo o líquido lhe queimar a garganta.

_ Isso não é suco, acho que é saquê… _ falou Shikamaru, tomando um grande susto ao observar o irmão de Temari beber o vinho com avidez.

_ Nossa, que bom, estava morrendo de sede!

Shika: Isso vai dar merda…- pensou, já sentindo sua visão ficar turva por causa do álcool.

Kanku: Eita, tá tudo estranho...o que tinha nesse suco? Alucinógenos?

Os dois amigos ficaram em silêncio, fitando a televisão. A tela exibia um programa desinteressante sobre leilão de bois, onde os narradores falavam os valores de forma rápida, sendo incompreensível entender o que diziam. 

_ Vou colocar um filme, coisa chata da desgraça isso aí!_ exclamou Kankuro, elevando a voz,  pegando o controle da televisão e fazendo Shikamaru ter um sobressalto.

O ninja da Areia mudava de canal rapidamente, quase deixando Shikamaru tonto devido as piscadas luminosas da tela. Nara percebera que o irmão de Temari não falava coisa com coisa, cutucando ele toda hora, como se fosse uma criança mimada querendo a devida atenção.

_ Olha lá Shikamaru a roupa do cara ó...parece uma tigresa hahahahahaha muito bom muito bom!_ dizia o escandaloso Kankuro, puxando incessantemente a manga da camisa do amigo, lhe mostrando um apresentador de reality show com uma vestimenta um tanto exótica.

Shika: Fase 1, o bêbado alegre demais.

_ Vou botar nesse filme aqui ó _ continuou o irmão de Temari, puxando novamente a manga da camisa de Shikamaru _ se chama “Em algum lugar do passado” *, deve ser de viagem no tempo com ação, suspense e mistério. Bora ver? Bora, bora, bora!

_Tá, que seja! _ rosnou Shikamaru se afastando do amigo, já com a face vermelha por causa do álcool.

O filme era  de romance, lento e cheio de conversas, fazendo com  que Shikamaru abrisse a boca para bocejar inúmeras vezes. Porém, mesmo entediado por causa do filme, o Nara agradecia mentalmente pois só assim fez o Sabaku parar de importuná-lo com cutucões e conversas escandalosas. O irmão de Temari parecia fascinado pelo filme, encarando a tela atentamente, sem parecer piscar. Uma triste melodia era entonada, enquanto o filme exibia sua última cena. Shikamaru bufou, não queria admitir mas o filme era extremamente triste. Ainda mais com essa valsa deprimente e linda ao fim, com um suave dedilhar de um piano tocando, que fazia até o mais durão dos corações amolecer como gelatina.

_ AAAAAH SHIKAMARU PORQUE VOCÊ COLOCOU ESSE FILME? TO CHORANDO AQUI, QUE MERDA CARA!_ gritou um choroso Kankuro, abraçando Shikamaru e deitando a cabeça sobre seu ombro. Mais uma vez, ele parecia uma criança assustada.

_ Ei, sai pra lá, tá me estranhando cara!?_ rugiu o ninja manipulador das sombras, empurrando o Sabaku com violência.

Kankuro se assustou com a violência de Shikamaru e, com um gesto desajeitado, lançou no Nara um pouco de vinho que ainda estava no copo. O líquido arroxeado caiu na camisa branca de botões perolados do rapaz.

_ Seu idiota, sujou minha camisa de vinho!_ reclamou e, como estava bêbado, a inteligência de Shikamaru pareceu falhar e, num gesto infantil, jogou o conteúdo restante de sua taça nas vestes pretas no ninja da Areia.

_ Olha o que você fez, seu maldito! Me sujou todo!

Shikamaru e Kankuro ficaram incomodados por vestirem camisas embebidas numa mancha úmida de vinho. Como se fossem o espelho um do outro, tiraram as vestes sujas e ambos ficaram sem camisa.

Shika: Isso tá estranho. Era para eu ter passado a noite com a irmã dele e não com ele! Sabaku errado, Shikamaru Nara!

Kanku: Por que esse cara tá me copiando? Eu hein! Que magrelinho hahahahaha!! Temari, minha irmã, você merece homem melhor.

Shika: Eita, ele  é forte! Como assim, pensei que ele fosse gordo! Por que ele usa muita roupa hein? Deve ser uma catinga danada aí isso sim…- Shikamaru era o ninja mais inteligente da aldeia da Folha, se estivesse sóbrio com certeza não teria nem pensado nada desse tipo. Porém a mistura exótica de saquê com vinho deram xeque mate nele.

_ Não sei como você consegue se manter nesse “shape” se a única coisa que você faz nas lutas é ficar parado controlando aqueles “Toys Story” com os dedos hein?

_ Ei, não é “Toys Story”! É marionete! E olha quem fala, você também só tem um jutsu! Faz aquela pose tosca e ganha das pessoas! Assim ó, muito hackeado!_ falou Kankuro, tentando debilmente imitar a pose que Shikamaru fazia quando estava concentrado em bolar uma estratégia para derrotar seu inimigo.

_ Pelo menos eu ganho de você...do que adianta ser fortão e não ter cérebro hein?

_ Tu tá me chamando de burro, seu merdinha! Sai na mão comigo para ver se tu não leva uma sova!

_ Não, obrigado. Prefiro gastar minhas estratégias com oponentes mais interessantes do que você.

_ Ora seu!_ exclamou Kankuro, se levantando abruptamente. Porém, foi obrigado novamente a se sentar pois, o chão estava turvo fazendo com que ficasse imediatamente tonto.

Kanku: Merda não vou poder lutar contra ele…

Os dois ficaram em silêncio observando a televisão que exibia um reality show de moda. O irmão de Temari suspirou pesadamente e, retirando o globo de neve que ganhara de Tenten da mochila, o colocou suavemente sobre a mesinha de centro. O rapaz apoiou a cabeça no vidro gélido do tampo da mesa, encarando os pequenos flocos de isopor que caiam no interior do globo, como se fosse a neve.

Shika: Fase 2, o bêbado melancólico. - pensou enquanto encarava Kankuro. Para o Nara, o amigo lembra um enorme Golden Retriever carente, apoiado com o focinho na janela enquanto observava os donos irem embora.

_ Eu a amo…_ falou o Sabaku com um fio de voz.

_ Quem?_ perguntou Shikamaru. O rapaz não gostava de se meter na vida alheia mas, ali embriagado pelo álcool, o relato de Kankuro parecia ser interessante.

_ A Tenten, eu a amo. Acho que por isso que chorei no filme. A parte que a moça solta o cabelo quando vê o rapaz que ela ama...eu lembrei dela.

_ Hum.._ respondeu Shikamaru, mal conseguindo conter um bocejo. Se xingava mentalmente por ter começado um assunto tão desinteressante por causa da bebida _ É só falar com ela que você a ama ué, eu já fiz isso.

_ O QUE VOCÊ GOSTA DELA TAMBÉM!? AGORA EU LUTO CONTRA VOCÊ! VEM PODE VIR!

_ Não, seu tolo! Não amo a Tenten, Deus me livre! Nem a conheço direito, po! To falando em relação a Temari. Eu amo a sua irmã.

_ Você falou pra ela e ainda está inteiro? Pensei que ela iria te varrer com o Kamatari ou algo assim. Já é uma vitória estar vivo, em se tratando de Temari Sabaku.

_ Bom...ela deu uma joelhada no meu estômago e bateu a porta na minha cara. Mas foi mais minha culpa do que dela, entende?

_ O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? Se a chateou, quem vai dar a joelhada agora sou eu!

_ Apenas fui precipitado, só isso. Aproveitei o calor do momento para traçar uma estratégia de ataque mas, falhei miseravelmente no processo.

_ Que estratégia, vocês estavam jogando War** ou algo assim?

Shika: Esse cara não entende nada! Ai, ai, vou ter que ser curto e grosso!

_ Eu tentei transar com sua irmã._ Falou de uma vez só, disfarçando a vergonha com um gole do fatídico “suco”.

Kanku: Safado, agora tá explicado o porquê dele ter comprado o envelope 69 na farmácia!

_ Bem, acho que de fato somos irmãos hein...aconteceu algo parecido comigo…

_ O quê aconteceu? A Tenten fugiu de você?_ riu Shikamaru, imaginando a cena em que Tenten dava um fora bem dado naquele imbecil.

_ Não...eeer...bem...no meu caso...fui eu que fugi dela hehehehe!_ respondeu Kankuro, coçando a nuca e com um sorriso amarelo no rosto.

Shika: Essa Tenten, digamos que...tem gostos peculiares. O que ela viu nesse cara, eu hein! Mulheres, tão problemáticas!

_ Bom, não me interessa o que vocês fizeram ou não. Tô com sono e vou dormir. Boa noite.

Shikamaru desligou a televisão e deitou sobre o tapete macio que se estendia pela sala, deitando sobre algumas almofadas que pegara do sofá. Já Kankuro deitou no sofá e encarou a claraboia no teto, onde era possível ver um pedaço de céu negro salpicado de estrelas.

_ Sabe de uma coisa, Shikamaru? Eu acho que minha irmã também ama você. O jeito que ela te olha, que ela fala de você, tudo leva  a isso. Admito que de início te achava  um preguiçoso imprestável mas, se você é o cara que minha irmãzona escolheu amar, eu torço para que ela seja feliz ao seu lado e, que você também seja feliz.

Shika: Fase 3, o bêbado conselheiro.

_ Profunda essa hein? Bom se me deseja sucesso, nada mais justo que eu te desejar sucesso também. Se é a Tenten que você quer, faça ela feliz, cuide dela com carinho e amor. Pelo menos você ta fazendo isso né, já que ela quis algo a mais com você! Mas não fuja, Kankuro! O medo faz parte da vida mas, não temos que fugir dele. Temos que ter ao nosso lado, como um forte aliado.

_ Mas eu fiquei pensando um monte de coisa, sabe? O que eu faria se os anciões ou o Baki ou alguém da guarda me visse?Isso que me deixou preocupado… aí resolvi dar um chega pra lá nela.

Shika: Claro Kankuro, um bando de velhos caquéticos estaria no meio do deserto às duas da manhã espionando a relação sexual alheia aham, faz total sentido…

_ Mas hein, Shikamaru..._ continuou o mestre das marionetes, se ajeitando confortavelmente no sofá _ Pelo menos no seu caso, você tem sorte que vai ter uma segunda chance com a Temari lá nas Termas né? Já eu, nem sei mais quando vou voltar a vê-la…

_ Desencana cara, outra oportunidade vai aparecer. É que nem no Shogi, é só bolar uma estratégia eficiente que se conquista a vitória.

_ Ok né..._ respondeu Kankuro que não fazia ideia alguma de como se joga Shogi _ Espero que você esteja com razão, eu quero uma segunda chance… para tentar de novo!

_ Vai dar certo sim...

Após alguns minutos de total silêncio, os amigos adormeceram mergulhados em pensamentos. Shikamaru sentia o tecido de sua calça pinicar suas pernas por causa do tapete macio abaixo de si. Aquilo o estava incomodando demais, como se tivesse minúsculas agulhinhas perfurando sua pele, fazendo com que o rapaz não conseguisse dormir. Mesmo se revirando sobre o tapete, Shikamaru chegou a conclusão de que teria que tomar uma medida drástica para acabar com aquilo: dormir sem a calça.

O Nara percebera que Kankuro adormecera profundamente, pelo pesado som da respiração dele, tirou a calça e ficou apenas com a cueca box preta, novinha em folha, da marca da Calvin Kunai***.

Shika: Poxa Temari, olha o que você perdeu! Primeira vez que uso essa box. - pensou, se confortando nas almofadas e adormecendo logo em seguida.

Kankuro abriu os olhos vagarosamente e fitou o céu escuro pela clarabóia. O rapaz passou a mão pela têmpora encharcada de suor, sentindo uma leve pressão na cabeça causada pelo álcool. Mesmo com as temperaturas rigorosas do lado de fora do palácio, o interior da sala estava abafado e nem mesmo o velho ventilador que rangia no teto estava conseguindo espantar aquele bafo de ar quente que impregnava no ambiente. Como estava usando suas costumeiras calças pretas de um tecido pesado, resolveu subitamente tirá-las ao perceber que Shikamaru dormia num sono profundo. O mestre das marionetes  jogou a peça de roupa de qualquer jeito num canto da sala, adormecendo logo em seguida, vestindo apenas uma box vermelha com detalhes pretos, a cor de seu time do coração, os SunaSuna.

Matsuri e Yukata andavam pelos corredores do palácio sonolentas pois, o trabalho começa cedo ali na Areia. O relógio marcava sete horas da manhã quando as amigas se depararam com a porta da sala de estar do Kazekage semi aberta, com o leve chiado do ventilador quebrando o silêncio dos corredores.

_ Yuka, será que o senhor Kazekage já acordou? Ai, sou doida para dar um beijo de bom dia nele!_ falou Matsuri espiando por entre a fresta da porta.

Porém, para a tristeza da jovem não era Gaara que estava ali, mas sim Kankuro e Shikamaru, jogados de qualquer jeito naquela sala, usando apenas cuecas. A garrafa de vinho e a de saquê estavam dispostas sobre o chão, com nenhuma gota de líquido em seu interior.

Antes que as amigas tivessem qualquer reação, Baki surgiu no corredor juntamente com Guy e os ninjas da Folha sonolentos, que traziam com eles as bagagens de viagem pois, iriam embora naquela manhã.

_ Matsuri e Yukata, vocês viram o Kankuro? Aquele irresponsável me deve até hoje os relatórios da guarda! Já tem três dias que não me responde! O chefe tá reclamando!

_ Ele tá ali..._ responderam as amigas juntas, apontando os dedos trêmulos para a porta semiaberta.

Baki entrou na sala junto com os outros ninjas e as meninas da Areia e quase caiu para trás, ao se deparar com Kankuro largado no sofá com uma box vermelha, enquanto um outro rapaz que viera com Guy, cujo nome ele esquecera, dormia sobre o tapete, abraçado a uma almofada,  vestindo apenas uma bo preta..

_ POSSO SABER QUE MERDA QUE ACONTECEU AQUI, SENHOR KANKURO SABAKU?_ Rugiu Baki, fazendo todos ali estremecerem.

_ Hmmm...malditos anciões reptilianos ...hmm..._ resmungou Kankuro, se virando no sofá ainda deitado.

_ Aaah não mãe, ainda são duas da tarde...mas que saco..._ chiou Shikamaru, apertando a almofada com mais força em seu peito.

_ Kankuro, Shikamaru!_ gritou Guy sensei, com sua voz potente e intimidadora. O eco de seu grito pareceu ser ouvido por toda a aldeia.

Como se tivessem levado um choque, os dois amigos levantaram-se de súbito, com as cabeças latejantes devido ao excesso de álcool. Quando encararam o grande grupo que os fitava com expressões de constrangimento estampadas nos rostos não entenderam o que estava acontecendo ali. Porém, quando um olhou para o outro perceberam o motivo da aura pesada que se instalou ali no cômodo.

_EI, NÃO É NADA DISSO QUE VOCÊS ESTÃO PENSANDO! CALMA, EU EXPLICO!_ Gritou o mestre das marionetes desesperado, só conseguindo visualizar o rosto severo de seu ex sensei o fuzilando com um olhar nada amigável.

Shika: Sabia que isso ia dar merda!

Kanku: Quando foi que esse cara ficou só de cueca? Por isso que odeio bebida, só consigo me lembrar de ter visto o filme triste e… cacete, Kankuro! Não aconteceu nada, não aconteceu nada….

_ Eu tenho uma pergunta, hm!_ falou Deidara, surgindo no meio dos ninjas da Folha, com a mão levantada _ Quem foi o ativo e o passivo?

_ O passivo foi o Kankuro, certeza!_ falou Kiba, que estava quase passando mal de tanto rir daquela embaraçosa situação.

_ Não é aquele rapaz que a Temari gosta?_ perguntou Yuka sussurrando para Matsuri _  O Kankuro  furou o olho da irmã! Sabemos que você não presta, Sabaku!

_ Não importa “ quem comeu quem”! _ falou Baki severo, fazendo Kankuro e Shikamaru desejando estarem mortos naquele momento e arrancando mais gargalhadas de Kiba _ Kankuro, a partir de hoje você vai trabalhar lá na Grande Barreira! E vai me entregar todo dia trinta relatórios! Não quero saber!

_ Amo a baixaria ai ai hm!_ falou o ninja da Akatsuki, quase perdendo o ar de tanto rir.

_ Não Baki, por favor!_ reclamou Kankuro, colocando a calça todo atrapalhado.

_ E trate de se arrumar e ir agora, entendeu? Já!

O mestre das marionetes saiu da sala xingando Shikamaru de todos os nomes possíveis. Odiava ficar na Grande Barreira, era extremamente quente e o chefe da guarda berrava de um em um segundo nos ouvidos de todos os subordinados ali.

_ Pelo menos os dois estavam “protegidos”, hm?_ falou Deidara para Kiba.

_ Só falta a Tenten ter passado a noite com a Temari..._ falou Shino.

Shikamaru se sentou pesadamente na cadeira para tomar café da manhã, mordiscando um pedaço de pão enquanto sentia vários pares de olhos sobre ele, pensando coisas erradas a seu respeito. Shino e Kiba sussurravam com Deidara algo sobre ele, apontando timidamente dedos acusatórios. Já do outro lado da grande mesa, sentia que as duas jovens amigas faziam o mesmo, desviando timidamente os olhares quando o ninja manipulador das sombras olhava na direção das duas. Aqueles incessantes cochichos, juntamente com calor abrasador e a incômoda enxaqueca lhe afligiam,  era com certeza o sinônimo de estar no inferno para ele.

A porta do grande salão de refeições se abriu revelando Temari e Tenten. As jovens estavam tão acabadas que pareciam serem as personificações da exaustão. Temari praguejava consigo mesmo, massageando a testa por causa das fortes dores de cabeça causadas pelo excesso de álcool ingerido no dia anterior. Já Tenten lutava para ficar com os olhos abertos, a jovem daria qualquer coisa por mais algumas horas sono.

Ten: Ué, o Kankuro não tá aqui. Po será que ele ficou tão chateado comigo que nem quis me ver de manhã?

Shika: Ai, ai a Temari tá me olhando feio… - pensava consigo enquanto encarava os olhos verdes lhe lançando um olhar impiedoso por sobre a mesa.

Tema: Já não bastasse a enxaqueca ainda tenho que sentar aqui de frente pra ele? Merda, parece que o universo tá afim de me sacanear…

_ Vamos zarpar, jovens!_ Exclamou Guy sensei, quebrando a aura pesada e desconfortável daquele fatídico café da manhã _ Vamos usar nosso poder da eterna juventude para percorrer o infindável deserto de areias brancas para poder, finalmente,  pisarmos novamente em nossa grama verde e sagrada!

_Sim, Guy sensei!_ exclamou seu fiel aluno _ Já estou de café tomado e pronto para percorrer as infinitas milhas do país do Vento!

_ Vou dar um crédito a vocês, hm?_ falou Deidara, se esparramando pela cadeira e colocando os pés sobre a mesa de forma relaxada _ vamos voando, pode ser?

Minutos depois, o grupo da Folha juntos com Deidara se encontravam no portão da vila, por sob a grande muralha de pedra que serviam como fortaleza da vila da Areia. Somente Gaara e Temari vieram se despedir do grupo pois, Kankuro estava ouvindo intermináveis sermões do chefe da guarda, em algum dos diversos cômodos daquela muralha de rocha maciça que protegia a vila.

_ Obrigado a todos por virem, mesmo sendo poucos dias aqui conosco, eu como Kazekage, juntamente com toda a população do país do Vento esperamos que vocês tenham aproveitado da melhor forma possível sua estadia.

_ Sim, senhor Kazekage! Vamos voltar mais vezes, com certeza!_ respondeu Guy, fazendo uma reverência respeitosa.

_ Mas da próxima vez, tem que ter piscina!_ murmurou Tenten reclamona pois, até agora estava indignada pelo fato de não poderem se refrescar na piscina em meio ao calor ardente do deserto.

_ Valeu por tudo, Gaarinha! É sempre bom ver você hm!_ falou Deidara, lançando um sorriso travesso para o Kazekage _ Quero ver vocês ficarem de queixo caído perante  a minha arte agora, hm!

O ninja da Akatsuki lançou uma pequena amostra de argila no ar que explodiu numa nuvem de fumaça, dando origem a um enorme dragão feito de uma argila branca, que agitava suas poderosas asas, balançando uma cauda longa.

_ Vamos voar nisso!?  Que demais!_ Falaram os amigos juntos, menos Shikamaru que, coçava a nuca e olhava para Temari meio sem jeito.

_ Eeer...Temari...eu..._ Tentou falar mas, tropeçava nas palavras e sua mente inteligente parecia ter sido totalmente entregue  a ressaca do dia anterior, não conseguindo raciocinar direito.

_ Bom...tchau, Shikamaru._ falou a jovem, curta e grossa virando as costas e se afastando dele.

_ Tchau, Temari..._ respondeu o Nara, observando a menina percorrer o longo caminho entre os dois muros elevados indo em direção à aldeia.

Se Shikamaru tivesse poder para ver através das coisas, ele conseguiria visualizar o tímido sorriso gentil, juntamente com um leve rubor nas bochechas de sua amada Temari.

Os amigos subiram nas costas largas do dragão que bateu suas enormes asas e alçou voo pelo céu índigo do deserto, acenando para o Kazekage que lhes sorria, retribuindo o aceno.

_ Muito bom voar com essas torrentes que se formam no fim da primavera hm!_ exclamou Deidara, aproveitando o voo tranquilo, deixando seus longos cabelos loiros soltos ao vento.

_ Po Deidara prende essa cabeleira aí, tá batendo aqui no meu olho!_ reclamou Kiba, espantando os fios loiros que fustigavam sua face.

_ Não! Deixa eu me sentir a Beyoncé em paz, seu chato hm!

_ Guy Sensei, comprei pilhas para colocar no rádio!_ exclamou Lee, entregando um pequeno radinho de pilha para seu velho mestre.

_ Muito bom, meu pupilo! Sintoniza uma rádio aí para voarmos pelo deserto ouvindo uma belíssima canção. _ Falou Guy e, imediatamente Lee já buscava por alguma musica no rádio chiado.

Tenten e Shikamaru observavam a Grande Barreira da Areia até que desaparecesse completamente no horizonte, imersa num interminável mar de dunas gigantes. Os dois estavam absortos em seus próprios pensamentos e preferiam ficar em silêncio, não se envolvendo nas animadas conversas de seus amigos sentados nas costas do animal de argila. Como se fosse um filme, a melodia do rádio de Lee ecoou pelo ar atingindo seus ouvidos em cheio.

“ Primavera se foi e com ela meu amor

Quem me dera poder consertar tudo que eu fiz…” ****

A ninja das armas e o manipulador de sombras foram recebidos por um golpe daquela música carregada pelos ventos, fazendo com que os dois absorvessem cada letra daquela canção.

 Perceberam como se encaixava  perfeitamente com a fatídica aventura que eles vivenciaram ali na Areia. A mente de ambos criavam pensamentos a respeito de seus dois amores: Kankuro e Temari.Permaneceram em silêncio, ouvindo atentamente ao rádio que continuava a cantarolar:

“E o olhar que eu guardo na lembrança

Ainda traz a esperança

De te ter ao meu ladinho

Numa próxima estação” 

Kankuro estava na sala apertada e fétida junto com um homem arrogante e chato, o seu chefe da guarda, que gritava sem parar, jogava objetos no chão e distribuía cascudos gratuitos em um grupo de gennins  atrapalhados que faziam a faxina seu escritório.

_ Isso vai ser um saco..._ reclamou o Sabaku, observando com total desânimo a pilha de relatórios que tinha que preencher até o final do dia. Sua cabeça latejava de dor, que apenas piorava à medida que o homem estridente berrava ordens sem sentido para  um grupo de guardas que passava pelo corredor distraídos, se encolhendo sob o olhar rude do chefe. _ Será que ele não consegue formular uma frase sem gritar para tudo?

Aproveitou que o velho arrogante saira da sala, bufando como um cão raivoso, e foi observar o céu azul lá fora, que trazia um pouco de alegria para aquela sala hostil através de uma pequena janelinha. As brisas daquele início de manhã, faziam finos riscos de areias voarem em cambalhotas pelo céu, como se os minúsculos grãos de areia estivessem dançando. Toda a atenção de Kankuro foi desviada para uma enorme criatura de argila branca que se ergueu imponente, batendo as grandes asas com vigor.

O rapaz observou a escultura de argila se distanciar até desaparecer completamente no horizonte longínquo.

_ Adeus meu amor..._ murmurou para si, repousando suavemente os dedos em seus lábios, como se de alguma forma pudesse sentir o calor daqueles beijos conservado no triste sorriso que surgiu em sua face.