Sangue e Pólvora.
Camilla Lopez
Amada Luíza. Se estás a ler esta carta, provavelmente ainda estamos em posse do aeroporto. Porém, creio que será a última que seu soldado lhe escreverá. Chego a pensar que aqui é o verdadeiro inferno. Infelizmente sou um cão de guerra e não posso chorar. Russos estão por toda parte, e muitos de nós cederam à pressão, e optaram por tragar a própria vida. Não os julgue covardes, mas dormir e acordar com o maldito cheiro de sangue e pólvora impregnados no seu corpo nos leva à insanidade. Estou com medo, Luíza. Todas as noites eu peço à Deus que vele a minha vida nos momentos em que me vejo cercado por granadas, enquanto eu tiro a vida de outros como eu. Minha amada. Sei que estás a apertar contra o peito aquele livro enorme chamado Bíblia. Sim, me tornei amigo desse Deus, que por durante anos eu acreditei não existir. Como fui tolo. Ontem à noite na trincheira, fui testemunha do último sopro de vida de meu comandante. Ainda posso sentir a temperatura quente de seu sangue a cobrir o verde de minha farda. Lembra do Oscar? Ele também está morto. Há três dias, enquanto caminhávamos pelas ruas de Stalingrado, vi seu corpo partir-se em dois. E eu a poucos metros atônito, com uma flor na mão e um fuzil na outra. Nossa moral não existe mais. E aqui haverá o nosso fim. Chore o que tiver de chorar, mas nunca esqueça que o único motivo que me mantém vivo é a esperança de te reencontrar e ver meu filho crescer. Mesmo que o seu verde esteja coberto pelo negro das cinzas. E sim... Eu estou chorando. Penso que já não sou tão mau.
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