História Sangue Real - Eu vou te matar seu desgraçado!

"A justiça é a vingança do homem em sociedade,como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem."

Epicuro

...

Aline Cavelli.Madrid - Espanha.Hotel Silken Puerta America.Quinta-Feira.12/03/2015.

Sentada sobre a cama,com os olhos fixos na porta de madeira maciça,meu braço doía,mas nada que tirasse minha curiosidade sobre quem havia acabado de chegar.Me ajeitei na cama,e me estiquei para observar,e nada.Pensei em me levantar,porém talvez isso seria deselegante da minha parte.Me esgueirei ainda mais,e mesmo assim foi em vão.Percebi que Lucas tentou fechar a porta,mais foi interceptado,fato que me deixou preocupada e só assim me levantei.Lucas percebeu que eu estava de pé,e fez sinal para que eu voltasse a me sentar,apontando a cama com o dedo.Não me sentei,e fui até o seu lado.Meus olhos automaticamente se arregalaram,e eu me senti surpresa.

Surpresa e feliz,não pensei duas vezes e me joguei nos braços de Willian,que sorriu abertamente ao me ver.Sentia falta dele,de seu carinho e de sua presença sempre confiante ao meu lado.Ele foi um amigo que levaria para sempre,e mesmo que não se desse bem com Lucas,nada mudava.Com certeza o desentendimento entre eles não fazia com que eu gostasse menos de nenhum deles.

-Aline,você poderia nos deixar conversar um minuto?-Lucas perguntou e sua voz parecia controlada de mais,logo depois que soltei do abraço com Willian.

-Fique aqui com a gente.-Willian falou e sorriu.-Senti muito sua falta.

-E é por isso que você veio para Madrid?-perguntei e ele apenas sorriu de lado.-Eu estava morrendo de saudades!

-O que você acha de darmos uma volta?-Willian perguntou esperançoso e eu sorri.

-Ela não vai.-Lucas falou em um tom autoritário.

-Claro que eu vou!-falei encarando Lucas que parecia tenso.-Faz muito tempo que nós não nos vemos.

-Então vamos Aline?-Willian perguntou estendendo o braço para mim e eu fui na direção dele,porém fui interrompida por Lucas que segurou minha mão.

-Você não vai com ele.-Lucas falou decidido e eu me irritei.

-Vou sim,e você não manda em mim.-falei já aborrecida e me virei para Willian.-Vamos?

-É para isso que eu vim.-ele disse sorridente.

-Me desculpe,-Lucas falou e segurou meus braços me puxando para trás,dentro do quarto contra a minha vontade,me fazendo remexer de dor e de contradição.-Mais você não vai.

-Me larga,está doendo e você está me machucando!-praticamente berrei e ele não me soltou e continuou me puxando para trás.-Me solta Lucas!

-Eu vou leva-la você querendo ou não.-Willian falou aparecendo na minha frente e pegando meus ombros com força,me puxando para frente.

-Não encosta nela!-Lucas falou e foi para minha frente,me largando em cima da cama.

-Você não tem medo de morrer mesmo não é?-Willian indagou e tirou um revólver do cinto apontando na direção de Lucas.

Meus olhos automaticamente se arregalaram e meu coração acelerou,o medo que tomava conta do meu corpo me fazia tremer e sabia que naquele momento estava passando por um estado de choque.Lucas recuou finalmente,dando dois passos para trás,atrapalhando quase que completamente minha visão,já que estava atrás dele.Não conseguia acreditar no que estava acontecendo e tudo não parecia passar de uma pegadinha,uma brincadeira de muito mal gosto.

-Willian,o que é isso?-perguntei quase sem voz.

-Uma arma,não está vendo?-ele perguntou furioso e olhou para mim,tremendo.Sabia que ele não era aquele monstro,ele não poderia ser.O Willian que conhecia era uma pessoa admirável,um profissional excelente e não aquele homem sem escrúpulos que estava demonstrando ser.Seu olhar para mim,chegou a ser doce e por um momento reconheci a sombra da loucura em seus olhos.-Você está com medo de mim,não está meu amor?

-Você não é assim Willian,o que aconteceu com você?-perguntei paralisada pelo medo.

-Desde que você me tratou eu sou um novo homem.-ele falou e sorriu.Minha visão era apenas por trás do corpo de Lucas,porém pude perceber que seus olhos estavam marejados.-Eu não sou mais aquele jogar que me lesiona fácil,eu realmente mudei.Seu sorriso hoje para mim é o mais importante,e eu nunca faria com o Lucas o que ele fez com você.-Willian parecia tentar me convencer a algo.-Vem comigo,vamos voltar para o Brasil.Eu sei que lá você será feliz,eu te farei feliz.Só eu sou capaz de te fazer bem.

-Willian,fica calmo.Vamos conversar.Abaixa essa arma e vamos conversar.-eu gesticulava com as mãos tentando o manter tranquilizado.

-Você me ama?-ele perguntou e eu engoli a seco.No estado que ele se encontrava não conseguia ver outra saída a não ser concordar com tudo o que ele dizia,por isso mesmo maneei a cabeça positivamente bem lentamente,e nesse momento vi que ele sorriu abertamente.-Eu sabia meu amor,eu sabia que você me amava.Eu disse,eu sempre soube!

-Se acalma,por favor.-pedi desesperada.-Vai embora esfriar a cabeça Willian,depois nos conversamos.

-Eu só vou embora com você,sem você eu não saio daqui.-ele falou e olhou com raiva para Lucas.-Ele só te fez mal,ele não te ama como eu te amo.Vem comigo,só eu posso te fazer feliz de verdade.

-Eu não posso ir com você Willian,eu trabalho aqui,eu moro aqui agora.-falei e ele olhou furioso para mim.A arma a todo momento estava apontada para nos,e ele segurava com firmeza.

-Não importa,você tem que voltar para que assim a gente possa ficar juntos.-ele falava com o jeito mais ameno que conseguia,e mesmo assim me assustava.

-Tudo bem,eu vou...-falei porque não via outra solução naquele momento.

É difícil descrever o que estava sentindo naquele momento,mas basicamente é ter uma arma apontada na sua cabeça pelo seu melhor amigo.Eu confiava nele,eu gostava dele como se fosse meu irmão,e mesmo assim ele traiu minha confiança,e estava me fazendo sofrer.Não tinha como não pensar em como todas as pessoas que gosto me decepcionam,e como eu sempre me engano com as pessoas.Não sei se isso só acontece comigo,porém,tenho a sensação que não posso confiar em ninguém,porque só me basta acreditar na pessoa,que vejo quem ela realmente é.Aconteceu com Bernard,que em algumas vezes se demonstrou um babaca,com Lucas,que foi a pessoa que eu mais sofri,e agora com Willian,e com ele realmente eu não esperava,muito menos que ele chegaria a tanto.

Me esgueirei pela cama,e Lucas continuava na minha frente,sem se quer se mexer,sabia que ele estava pensando em alguma coisa,porém não queria que ele reagisse.Com um arma na mão,Willian era fatal,e eu sabia disso.Sabia que ele não estava brincando,porque se ele chegou a tão longe,poderia muito bem chegar a ponto de matar.Coloquei as pernas fora da cama lentamente,e percebi um movimento discreto de Lucas,me levantei da cama e fiquei na frente de Willian,que finalmente abaixou a mão e sorriu abobalhado.

Em um movimento rápido,Lucas pegou em cima da arma de Willian,a segurando com força.

-Se esconde,Aline!-foi a ordem que recebi que Lucas,e então me afastei.Não consegui fugir,porque o choque era mais forte que eu,e mal conseguia me mover.

Lucas e Willian começaram então uma batalha,ou seria a continuação de uma longa disputa que no fim não acarretaria nada de valioso,e sim poderia tirar algo de muito importante,uma vida.Meu medo era esse,que algum deles se ferisse,ou que coisa pior acontecesse.Nunca imaginei passar por isso,e não foi nem um pouco aquelas coisas emocionantes,tipo suspense policial que o mocinho finalmente descobre a identidade do vilão,e eles batalham para que um acabasse vivo.Normalmente quem sobrevivia era o mocinho,porém eu não queria ter que lidar com a morte de nenhum dos dois.Apesar de tudo,não queria que Willian sequer se ferisse,ele tinha algum motivo para estar daquele jeito,eu só não sabia qual.

Lucas segurava com força a mão de Willian para baixo,tentando desarma-lo,eu estava apenas estática encostada com as mãos nas paredes,meus olhos estavam completamente arregalados e meu coração batia alto e com força.Estava suando,e tinha a sensação que poderia desmaiar a qualquer momento.

-Eu vou te matar seu desgraçado!-Willian rosnou para Lucas e o mesmo estava apenas concentrado em desarma-lo.-Não adiantou nem mesmo eu jogar aquela vagabunda para cima de você...Nem assim você reagiu.

-Do que você está falando?-Lucas perguntou com a voz cansada,por causa do esforço que ele estava fazendo.

-Não lembra da Suzy?Foi eu que a mandei atrás de você naquela festa!Foi eu que te droguei com aquela bebida,mais você não deve nem se lembrar.Claro que não.-Willian falou e riu sarcasticamente e um nó se formou na boca do meu estomago.-Sempre muito bonzinho,muito inocente...Sempre foi um babaca,isso sim!

Então era isso!Foi ele!Foi por causa de Willian que Lucas ficou com aquela loira.Não foi por culpa do Lucas,foi por causa do Willian.Foi ele quem tentou acabar com a minha vida.Foi por culpa dele que o meu filho morreu,foi por culpa dele que eu me separei do amor da minha vida!Meus olhos ferveram e pela primeira vez na minha vida eu realmente senti ódio de alguém.Não era algo momentâneo.Era um sentimento negativo que me deixava cega,e fora de mim.Eu sofri,eu perdi,eu me feri por sua culpa.Eu acreditei nele e novamente fui uma idiota.Não acreditei no Lucas,o julguei,e fiz com que ele sofresse,sendo que o culpado de tudo foi o Willian.

-Cala sua boca!-Lucas gritou para Willian.

Olhei para o lado e vi o abajur,peguei a parte debaixo silenciosamente e esperei que Willian e Lucas se virassem de costas para mim.Levantei o abajur com todos os pensamentos passando mil pela minha cabeça.Desde o dia daquela tragédia,desde que comecei a maltrata-lo,desde que fui a pessoa mais injusta que poderia ser,por pura inocência,ou melhor,por pura idiotice.Porque tenho que admitir,que fui uma idiota esse tempo todo.Fui uma estúpida,e acabei sofrendo por isso,e pior,fiz a pessoa que amo sofrer por minha culpa.E novamente estava sendo burra,por estar me culpando e não culpando o causador de tudo aquilo.Quem estava realmente errado,quem realmente falhou,quem realmente fez algo pelo mal...Pelo nosso mal.Ele não pensou duas vezes,ele somente fez.Sem medir consequências,ele fez aquilo ciente que iria nos prejudicar,sabia que aquilo me faria mal e mesmo assim fez,e depois fingiu que nada havia acontecido.

Ele fingiu ser um bom amigo,ele fingiu estar do meu lado e eu acreditei que ele realmente queria o meu bem.

Me enganei amargamente,e fui muito infeliz ao julgar quem era o certo,e quem era o errado daquela história toda.História podre e sórdida.

Minhas mãos tremiam,mas eu não pensava em mais nada,somente no ódio que sentia.Soltei um berro,alto e forte e então abaixei a o abajur com força.Praticamente joguei o objeto em sua cabeça,e com ele todo o ódio que sentia.Meus olhos estavam marejados e uma corrente elétrica passava por todo o meu corpo.Senti uma dor alucinante no peito,bem no meu coração.Revirei os olhos e minhas pernas fraquejaram,bambeando e ficando mole,escorreguei até o chão e senti meus joelhos no piso do quarto,bem na hora que ouvi o disparo.