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História Santuário - Quando a consciência não responde


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 13 - Quando a consciência não responde


Ele caminhava aborrecido por causa de outra discussão com a Mônica. nem tinha sido exatamente uma discussão, mas foi tão desagradável quanto. Depois que a moça lhe falou dos problemas que eles estavam enfrentando, ela pediu.

– Puxa, Cê, a gente tá no mato sem cachorro! Será que você não consegue ter nenhuma idéia aí não? Qualquer plano deve servir!

Não foi possível. Mesmo várias idéias tendo passado por sua cabeça, ele não conseguia superar o rancor que tinha contra Nina. O jeito foi dizer não.

– Por favor, vai! Se não quer fazer isso por ela, então faça por mim!

Aquela tinha sido a parte mais difícil para ele. Seu olhar suplicante, os olhos marejados, o rosto triste... Cebola teve que sair correndo dali antes que acabasse mudando de idéia. Mesmo querendo ficar do lado da Mônica, mesmo querendo ajudar, ele não conseguia vencer aquela aversão a Nina. Aquilo era demais para ele. Só que aquele não era exatamente seu dia de sorte porque enquanto corria, ele deu de cara com Ângelo que o esperava de braços cruzados e uma cara de quem não estava nem um pouco satisfeito.

– Cebola, precisamos conversar.

– Agora não, tá? Eu acabei de ter uma discussão muito chata com a Mônica!

– Não interessa. Você vai me ouvir e ponto final. Que história é essa de você não ajudar o pessoal só por causa da Nina?

– Você sabe muito bem que aquela fada do mato deixou minha irmã na mão!

Ângelo fechou ainda mais a cara.

– O nome dela é Nina!

– Tanto faz! Olha, não vem querer me encher o saco por causa disso não, tá legal? Todo mundo acha que eu tenho que fazer parte dessa luta e ninguém respeita meus sentimentos!

– E pelo visto, você também não respeita os sentimentos de ninguém. Por acaso não entende a gravidade da situação? Achei que fosse mais inteligente do que isso!

– Por que todo mundo insiste em ficar fazendo todo esse terrorismo? Já tem devastação demais pelo mundo e a humanidade não foi extinta por causa disso!

– Ainda não, mas se as coisas continuarem desse jeito, será só questão de tempo.

– Até lá a gente deu um jeito!

– E por que não dar um jeito agora?

Cebola balançou a cabeça, irritado por se sentir forçado a fazer algo que ele não queria.

– Já tem gente demais mexendo com isso. Minha ajuda não vai fazer nenhuma diferença, então me deixa em paz!

– Toda pessoa faz diferença, Cebola!

– Vem com essa não, tá? E tem outra: se é função da fada do mato proteger a natureza, então por que nós temos que defender a casa dela? Isso lá é nosso departamento? Não é trabalho nem meu e nem seu!

– É trabalho de todo mundo cuidar do planeta em que vive! Você consome, polui e usa os recursos naturais da terra. Tem obrigação de cuidar dela também!

– Eu não pedi pra nascer e não tenho culpa se as coisas estão assim!

O anjo perdeu a paciência e o agarrou pela camisa, deixando Cebola pálido e sem ação. Nunca em momento algum ele viu Ângelo agir daquela forma.

– Escute aqui, seu egoísta! Por acaso é assim que você pretende ser dono do mundo?

– Eu... eu... – o rapaz tremia com medo da expressão furiosa que estava no rosto do amigo. Ele nem parecia mais o anjo calmo e tranqüilo que sempre fora.

– Pois fique sabendo que agindo dessa forma, você só servirá para deixar o mundo pior ainda!

Cebola não respondeu nada e continuou tremendo. Ao se dar conta do que estava fazendo, Ângelo o soltou na hora, surpreso consigo mesmo. O que tinha dado nele? Definitivamente, ele não estava em seu juízo perfeito.

– Pense bem no que você tá fazendo, Cebola. Pense muito bem para não se arrepender depois!

Ele saiu dali rapidamente, deixando o rapaz ainda tremendo e confuso com aquela situação. Aquilo tinha sido muito assustador.

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Logo cedo, todos viram que a situação estava ficando crítica quando uma grande quantidade de máquinas, equipamentos e materiais de construção começaram a ser levados para o lugar. |

– Nina, eles trouxeram muitas máquinas e a gente não vai conseguir dar conta de tudo! – Tália falou, muito preocupada. Um gnomo também falou, coçando sua barba.

– Os humanos falharam. Eu sabia que a gente não podia contar com eles!

– Também não é assim, eles fizeram todo o possível. Tudo foi culpa daquele sujeito arrogante que quer destruir nossa casa!

– Dá no mesmo. Esses humanos são as criaturas mais ingratas que existem na terra! A gente se desdobra para cuidar do planeta e além de não reconhecer, eles ainda atrapalham!

Os outros elementais concordaram, também muito zangados com o pouco caso que as pessoas faziam daquele problema. Se a casa deles fosse destruída, eles não teriam para onde ir. Sem o lago para recarregar as forças, as ninfas ficariam impossibilitadas de continuarem lutando contra os monstros até encontrarem outro local. E locais como aquele estavam ficando cada vez mais raros na terra.

Nina ficou olhando para os operários que trabalhavam como autômatos, sem se darem conta de que estavam prestes a destruírem um lugar de grande importância. E se eles soubessem o que estavam fazendo? Então algo lhe ocorreu. E se aquele homem fosse conscientizado sobre a verdadeira importância do Santuário? E se ele soubesse que eles precisavam do Santuário para poderem continuar a proteger a natureza? Talvez aquilo pudesse fazer com que ele mudasse de idéia e os deixassem em paz.

– Gente... eu acabei de ter uma idéia.

– Que idéia? – eles perguntaram interessados. Quando Nina contou seu plano, as opiniões ficaram divididas. Uns acharam que fazia sentido, outros acharam que poderia ser perigoso. E se aquele homem tentasse machucá-la?

Alguém que era capaz de destruir a natureza sem consciência nenhuma poderia também ser capaz de machucar uma pessoa. Mesmo assim Nina decidiu tentar o quanto antes. Na falta de idéia melhor, ela achou que estava na hora de arriscar. Talvez ainda houvesse alguma bondade naquele homem.

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Ela observava o homem que tomava uma aspirina atrás da outra. Ele achava mesmo que aqueles analgésicos iam resolver seu problema? Que humano burro!

“Ele não entende, não entende mesmo!” a dor dele tinha passado por enquanto, mas ela sabia que era só questão de tempo até aquele problema se tornar grande demais para ser ignorado. Então seria tarde para ele. Se aquele homem pelo menos despertasse, se acordasse para o que estava acontecendo, ainda teria grande chance de continuar vivendo uma vida longa e feliz.

De repente sua atenção foi atraída para algo bastante inusitado que fez seus olhos arregalarem. Aquilo não era algo que se via todos os dias!

Vladmir estava examinando alguns papéis quando percebeu uma sombra sendo projetada em sua mesa. No início ele não deu atenção e levou um susto quando ouviu batidas na janela, algo que não deveria ser possível considerando que seu escritório ficava no oitavo andar do edifício. Ele virou-se e por pouco não soltou um grito ao ver uma garota com vestido longo e cabelos brancos flutuando (flutuando? FLUTUANDO???) em frente a sua janela.

– Mas o que é isso? Que truque idiota é esse? – o homem chegou mais perto imaginando que ela devia estar sendo sustentada por cabos de aço. Assim que abriu a janela, ele olhou para todos os lados e viu que não tinha nada a sustentando no ar.

– Por favor, eu preciso falar com o senhor! É urgente!

Assustado com aquilo, ele afastou-se da janela e por pouco não caiu no chão quando ela entrou em seu escritório ainda flutuando, mostrando claramente que não estava sendo sustentada por nenhum cabo de aço.

– Q-quem é você e o que quer comigo?

– Falar sobre o Santuário.

– Que Santuário? Eu não tenho nada a ver com religião nenhuma!

– Não se trata de religião, senhor. Estou falando da nossa casa!

– Que casa?

– A minha e de outras ninfas e seres mágicos.

– Como é que é?

D. Morte balançou a cabeça, um tanto desanimada com a dificuldade que aquele homem tinha em entender a situação. Mesmo sendo muito inteligente, ele era um cético ferrenho e aquela ninfa ia ter muita dificuldade em enfiar alguma coisa na cabeça dele.

– O senhor quer construir um parque aquático no nosso Santuário e isso irá destruir a nossa casa!

Após pensar um pouco, suas idéias se clarearam.

– Você deve estar falando do Recanto do Paraíso...

– Sim, é o nome que vocês dão ao nosso Santuário.

– Agora faz sentido... estou entendendo tudo agora!

– Mesmo?

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– Como é que é? Ela fez o quê? E vocês deixaram??? – Ângelo faltava pouco arrancar os cabelos e as penas das asas de desespero. O que tinha dado na cabeça dela para fazer aquele tipo de coisa?

– Ela acha que conversando com aquele homem irá resolver as coisas. – Tália esclareceu. – Só que eu não sei se podemos confiar nele. E se ele for perigoso?

– Isso eu não sei, mas ainda assim ela não devia ter feito isso, ainda mais sozinha! Eu tenho que ir até lá agora!

– Vá mesmo, por favor! Eu estou preocupado com a Nina, às vezes ela é inocente demais!

Ângelo saiu dali voando a toda velocidade, torcendo para que aquele homem não fizesse nenhuma grosseria com ela. Do contrário, ele não ia conseguir responder por si mesmo.

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Ele passou as mãos nos cabelos, nervoso com a situação.

– Você deve fazer parte daquele grupo de desocupados que são contra a construção do parque aquático, não é?

– Eu? Não, eu moro no santuário junto com outros seres mágicos e...

– Ah, sei. Aposto que devem ter duendes, elfos, fadinhas... – ele falou sarcástico. – vai ver você é uma fadinha também, acertei?

– Na verdade eu sou uma ninfa.

O homem disparou a rir e depois voltou a olhá-la muito sério.

– Garotinha, eu sou um homem muito ocupado e não tenho tempo para essas brincadeiras de mau gosto.

– Não é brincadeira, senhor! Eu estou pedindo que poupe nossa casa! Aquele lugar é muito importante e precisamos dele para continuarmos protegendo a natureza!

Ela tentou explicar seu trabalho, dizendo que era no lago do Santuário onde ela recuperava suas forças depois das lutas contra os monstros. Vladmir ouviu tudo em silêncio, ora fazendo careta ora balançando a cabeça.

– Então você acha que a poluição e desmatamento são monstros?

– Sim, são monstros terríveis que...

– Pois eu vou lhe dizer quem são os verdadeiros monstros, mocinha: os monstros de verdade são a fome, a miséria e o desemprego. Esses sim são monstros terríveis que assombram as pessoas no mundo real. E meu parque está aqui para derrotar um pouco esses monstros, entende?

– Mas... se destruírem o Santuário...

– São esses os verdadeiros monstros que assombram a humanidade! São esses os monstros que nos fazem mal de verdade, não essa sua choradeira de poluição, lixo e queimadas!

– Eu sinto muito que vocês enfrentem essas dificuldades, mas deve ter outro jeito!

– Que jeito? Não tem jeito, garota! Nesse mundo, só os mais fortes sobrevivem! Para que uns possam viver, outros têm que ser sacrificados. Não tem o suficiente para todos, então alguns sacrifícios tem que ser feitos. Ou a raça humana domina a natureza, ou morre de fome. Não dá para ter a as duas coisas e francamente, eu fico com a sobrevivência da raça humana.

Ela se indignou.

– E quando os recursos do planeta se esgotarem, o que vocês irão fazer? E quando não tiver mais nenhuma arvore, nenhum rio e nenhuma terra fértil para plantar?

– Teremos o progresso e a tecnologia para dar um jeito em tudo. Por acaso você esqueceu por que nós somos a raça dominante desse planeta? Porque podemos, somos inteligentes e poderosos!

– A Mãe Terra é mais poderosa e um dia pode se cansar de vocês!

– Não fale comigo nesse tom, quem você pensa que é?

– Eu sou alguém que se sacrifica todos os dias para limpar a sujeira que vocês fazem!

– E eu com isso? Não mandei ninguém fazer nada por mim! Por que você não procura um marido rico para casar e pára de perder tempo com essas besteiras?

Sem ser vista por ninguém, D. Morte acompanhava a discussão tendo muita pena da ninfa. Por um instante ela até chegou a pensar que os apelos daquela moça pudessem sensibilizar aquele homem. Mesmo remota, ainda era uma possibilidade. Para sua tristeza, a teimosia dele era invencível e sua arrogância assumia um patamar absurdo.

– Muito bem, mocinha. Você tomou demais o meu tempo. Melhor você sair agora mesmo antes que eu chame a segurança!

Nina assumiu uma postura desafiante.

– O senhor não sabe o que está fazendo! Vai prejudicar milhares de pessoas se destruir o Santuário!

– Deixe de bobagem! Esse parque irá criar empregos que irão beneficiar milhares de pessoas, isso sim! Agora saia do meu escritório! – ele falou segurando o braço dela.

– Ei, me solta!

– Só vou te soltar quando você estiver fora daqui! – ele falou apertando o braço dela mais ainda, fazendo-a gemer um pouco de dor.

– Solta ela agora mesmo! – outra voz falou e Vladmir levou mais um susto quando viu um rapaz com asas de anjo voando em frente a sua janela. Será que as aberrações tinham tirado o dia para atormentá-lo?

– Quem é você e como se atreve a invadir meu escritório?

– O que foi, nunca viu um anjo em sua vida?

– Anjo? Que piada! Isso não existe.

– Ah, tá. E como você explica essas asas?

Ele não soube o que responder. Quando criança, Vladmir acreditava em anjos. Sua mãe lhe falava sobre os anjos da guarda que protegiam as pessoas. No entanto, ele nunca foi protegido da pobreza e em sua cabeça, aquela era a prova de que anjos simplesmente não existiam.

– Saiam vocês dois do meu escritório, agora! Eu não quero ouvir besteiras de mais ninguém hoje!

– Vamos, Nina. Esse aí tem a cabeça mais dura que pedra, não vai entender nada mesmo.

Mesmo a contra gosto, ela o acompanhou e os dois saíram pela janela mesmo. Vladmir continuou alterado por vários minutos, tomando analgésicos misturados com calmantes. D. Morte observava seus movimentos se perguntando se aquele homem achava que tudo se resolvia com comprimidos.

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– Nina, você se arriscou muito! E se ele tivesse ficado violento?

– Eu tinha que tentar alguma coisa, Ângelo.

– Parece que aquele idiota não tem consciência mesmo.

– Acho que não. Pensei que fosse uma boa idéia...

– Talvez fosse melhor você voltar ao Santuário.

– Não. Eu ainda tenho trabalho hoje.

– Você vai ficar bem?

Seu rosto suavizou-se e ela procurou dar um sorriso para acalmá-lo.

– Claro que vou ficar bem, não se preocupe. Isso não foi nada. Preciso ir agora, ainda tenho muito trabalho para hoje.

Ela despediu-se dele e foi voando para longe enquanto Ângelo apenas a observava até perdê-la de vista. Um longo e triste suspiro escapou do seu peito e ele tomou a direção oposta feliz por aquele sujeito não tê-la agredido, do contrário ele teria feito alguma bobagem e comprometido suas asas seriamente.



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