História Sarapintado (ShinKami) - Prólogo

O clima por ali não estava dos melhores, o luto por um de seus companheiros os deixou mais quietos. Denki era o que mais lamentava, era seu leal colega de equipe afinal. O garoto loiro com quem conviveu sempre foi tão gentil e presente que agora sentia até um vazio o consumir.

Estava sujo, imundo na verdade. A cara triste o deixava com um estado cada vez mais acabado. Eijirou apertou o ombro do amigo que estava em pé ao seu lado e sorriu para o mesmo, o tentando passar algum tipo de conforto. A situação estava sendo difícil para todos, mas Kaminari deveria estar realmente abalado já que era a pessoa mais próxima do homem que agora residia a palmos do chão como todos os outros, com a família chorando em seu túmulo mal feito. Ele só se juntou a milhares de mais homens e mulheres que batalharam ferozmente naquela guerra, tanto interna quanto externa daquele povo que sabia que estava condenado, contudo, não ousavam abrir a boca pra falar a mais pura verdade.

Os soldados começaram a se agitar quando um deles entrou pela porta da frente do grande saguão e avisou que o comandante estava vindo. Na verdade, os comandantes. Todos ficaram em formação, as mãos para trás e colunas eretas. O loiro sentiu um frio na espinha quando ouviu os passos dos mais famosos guerreiros passarem pela entrada do cômodo arejado e não ousou olhar para algo que não fossem as costas de quem estava à sua frente e os pés dos seus superiores. O coração gritava dentro do peito, a angústia de mais cedo se misturando com a ansiedade de agora. Sentiu os lábios secos e passou a língua por eles, engolindo em seco depois.

— Soldados. — ouviu a voz rouca de um dos grandes comandantes

— Sim, senhor! — um coro de vozes misturadas o respondeu

— Podem relaxar, sei que estão cansados.

Naturalmente, depois do pedido, os soldados descansarem as costas e alguns suspiros aqui e ali puderam ser ouvidos. Denki tomou uma mínima coragem e ergueu os olhos, enxergando o comandante de seu esquadrão: Shota Aizawa. Era um homem alto, moreno e de cabelos longos e desgrenhados, além de sua expressão cansada natural. Os fios negros estavam presos em um coque justo, a face tão acabada quanto a de todos ali.

Além dele, ao seu lado estavam Nemuri Kayama, uma mulher de porte desejável, porém, detinha a força de três grandes homens juntos. Sua face bonita escondia o quanto era poderosa, além de sua personalidade extremamente estranha e peculiar na opinião de Kaminari. Do outro lado estavam mais dois homens: Sekijiro Kan, um homem alto, de cabelos muito loiros e uma expressão impotente; e Toshinori Yagi, extremamente alto, loiro e de olhos fundos e muito azuis, uma face estranha e desnutrida.

— Na batalha de hoje perdemos várias pessoas. — Shota começou de novo e todos se calaram — Foram muitas mortes. A maioria de soldados, algumas de civis.

Denki sentiu uma gosto amargo ao pensar em todas as casas que foram massacradas porque não puderam proteger os inocentes, aquelas famílias que não tinham nada a ver com isso. Provavelmente o resto sentiu o mesmo. Pensou em Ojiro, o seu colega querido e gentil, que não estava mais entre eles.

— Porém, infelizmente, não poderemos ficar de luto por muito tempo. A guerra não tem pausas e sabem que ela não acabará, assim como suas mortes, até uma das partes erguer a bandeira branca. Sabemos que eles não desistirão tão facilmente, mas os faremos recuar ao ponto de não ter mais opção. Nós nunca vamos declarar derrota, nunca. Também sabem o porquê disso.

Alguns assentiram, outros só continuaram em silêncio.

Aizawa analisou todos ali, desde os de trás aos da frente, dos mais novos até os mais velhos e então, puxou de seu bolso um papel de pergaminho e Denki pôde reconhecer mesmo de longe o selo real estampado em cera vermelha na superfície lisa. Os outros ficaram curiosos sobre o conteúdo do papel.

— Como disse, perdemos vários parceiros — o moreno falou —, e por isso mesmo, eu e todos os outros comandantes de elite, designamos soldados dos outros distritos, que então se juntando e marcando cada vez mais confiança com a família real.

Burburinhos começaram, todavia, eles se calaram diante do olhar do comandante. Este pigarreou antes de continuar.

— Esta — indicou o grande pergaminho — é a lista de reposição. Ainda continuaremos com nosso sistema de duplas, que independente do nível em batalha ou inteligência trabalharão em grupo e se daram bem acima de tudo. — deu ênfase a essa parte — Vou dizer os guerreiros que irão repor o meu esquadrão e assim também será com os outros comandantes.

E aí, começou a ditar as duplas reconstituídas. Não perderam tantos homens daquele esquadrão, e por isso, uma parte de Shota estava orgulhosa. Eles tinham crescido bem.

Enquanto os nomes iam passando, Denki se sentia cada vez mais culpado por não ter protegido o parceiro. Assim, não teria de ter a vergonha que era o comandante falando seu nome e o de outro homem ou mulher que iria substituir Ojiro. Se sentia um inútil, e tudo piorou quando ele falou o seu nome como todos os outros.

— Denki Kaminari e... Hitoshi Shinso.

Os olhos de Denki se arregalaram minimamente e já pôde ouvir os murmúrios dos outros enquanto olhavam para sua pessoa. Aizawa sentia raiva daquele barulho, no entanto, novamente só pigarreou e continuou a ditar os nomes.

E Denki só tinha certeza de uma coisa. Sua vida iria virar de cabeça para baixo.

Ou em outras palavras, vai dar merda.