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História Saudade - Explicação em Tintas Borradas


Escrita por: Faela2

Notas do Autor


Olá! Eu nem demorei dessa vez.
Quero dizer que eu senti bastante esse capítulo e gostei muito dele. Quero agradecer ao comentários que ando recebendo, muito obrigada mesmo por isso.

Desculpe pelos erros.
Boa leitura.

Capítulo 19 - Explicação em Tintas Borradas


— Qual o tamanho do ódio que sente por mim?

Ela está aqui. Eu a esperava, eu sabia que ela viria, que me encontraria. Eu sabia que sua voz me atravessaria como a primeira vez. Minhas recusas em acreditar o que está estampado em minhas páginas me apavoram. Fecho os olhos para não chorar. Me sinto tão cansada da dor, do meu peito apertado. Me sinto cansada por ainda estar tão terrivelmente apaixonada.

Puxo o ar sentindo a ardência do desespero exaustivo.

— O que você quer, Regina? – Pergunto sem olha-la.

— Você me odeia?

— Não sei o que eu sinto por você.

Ela engasga, não sei exatamente o que ela esperava ouvir. Eu sei o que eu sinto por ela, mas não posso me entregar como todas as outras vezes. Não posso me ver caminhar para portões dourados e depois ser chutada para longe do meus desejos.

— No dia que estava no meu apartamento..

— Não! Por favor, eu não preciso disso. – Eu não consigo gritar, esbravejar ou demonstrar tudo que senti. Fecho o livro, o coloco do meu lado. Passo a mão em meus cabelos. Volto a puxar o ar e o solto devagar, meu gesto traz a ilusão que conseguirei expirar a onda de negação que me afoga. – Por que ainda está aqui, Regina?

Nos olhamos tentando entender como toda essa droga aconteceu. Me pergunto como eu fugi largando meus amigos, me pergunto o porquê dela estar aqui me olhando da forma que nunca me olhou, da forma que sempre quis que me olhasse.

É tão injusto ver isso nela, depois de ser quebrada em partes que não conto mais. Depois das noites olhando um telefone que nunca tocou. Uma porta que nunca se abriu. Olhando clientes procurando por alguém que tocou meu teto e me jogou em um chão gelado.

Não consigo aceitar seus olhos agora. Não depois de tudo. Desvio meu olhar para o mar, tento encontrar uma saída inexistente. Eu sei que preciso encarar meus demônios.

— O telefone tocou. Era o Robin.

Volto a fechar os olhos sentindo aquele nome evaporar minhas células.

— Não faça isso comigo. – Minha voz sai sussurrante, não tenho forças para contestar.

— Eu te deixei para buscá-lo no aeroporto.

— Você veio aqui me contar isso? Veio me lembrar de tudo que tentei superar? De tudo que eu fugi?

— Naquela noite, eu tomei uma decisão.

— Chega, Regina! – Eu deveria me levantar e correr, fugir, me esconder. Meu corpo pesa em uma densidade descomunal me prendendo em uma grama fina.

— Eu escolhi você naquela noite.

As lágrimas fogem e me bagunçam. Não quero acreditar nisso, mesmo vendo uma verdade sincera em seus olhos tristes. Não posso aceitar isso. Eu acreditei naquela noite.

— Você não me escolheu. – Uso minha manga para secar minha fraqueza. Estou desabando para a última pessoa que poderia me ver desabar. Não quero que ela veja o poder que tem em mim, em meus olhos. Não quero que ela veja meu corpo tremer por ela.

É tarde demais.

— Eu escolhi você. – Ela repete e nego balançando a cabeça insistentemente, sinto minha revolta crescer. Consigo me desprender dos braços do choque. Começo a me levantar, preciso sair daqui. Ela percebe e me impede com uma frase - Eu prometo ir embora se você me ouvir.

Meus movimentos param, eu tenho uma chance de acabar com tudo isso de uma vez. Tenho a chance de voltar a viver sem as batidas que ela me causa.

— E não volta mais?

Vejo seus pensamentos se agitarem pela proposta. Arrisquei uma jogada que não sei ser capaz de ganhar. Seu maxilar se enrijece. Uma gota negra rola sendo engolida por suas palavras.

— Não me faça prometer isso.

Eu não consigo explicar os cacos que flutuam ao nosso redor. Nosso silêncio tão machucado por uma história que nunca vivemos, por um sentimento que nunca demonstramos tão avidamente. Nosso diálogo restrito cheio de significados e palavras escondidas consegue ser a conversa mais difícil e torturante que já tive.

— Você não pode aparecer e achar que tudo ficará bem, Regina. – Falo baixo, não pela calmaria, mas pela exaustão do fato.

— Eu não estou te pedindo isso, estou pedindo que me escute. Só me escute. Depois eu vou embora e ....

Ela não consegue completar a frase. A mulher decidida e imponente por quem me apaixonei, está tão vulnerável agora, tão desesperada para ser ouvida. Cruzo as pernas e olho para o chão com a derrota de uma batalha que nunca travei. Ela insistiria até eu ceder, até ser ouvida. Eu estou tão cheia disso.

Respiro fundo, seco o fim das lágrimas do início de uma explicação infundada. Minha respiração traz o controle que preciso. Me recomponho e aceito.

— Então explique, mas não fará diferença.

Ela para de respirar por alguns segundos. Eu vejo a reunião de sua sanidade. Nossa conversa vai começar. Após um ano, após eu ter fugido e ela ter me encontrado.

— Naquela noite eu te escolhi e estava decidida a isso. – A mesma frase me machuca como a primeira vez dita. “Escolha”. Ela nunca me escolheu. – Brigamos naquele noite. Brigamos por eu não querer vê-lo, por eu não aceitar seus toques, por eu ter recebido alguém. Brigamos pela indiferença que ele viu que eu sentia. Eu senti raiva dele. Eu senti raiva por ele ter me feito te levar embora. Eu queria você no meu apartamento, não ele.

Eu estou tremendo por um frio que não sinto. Meu suor de desespero, nervosismo é insuportável. Ela para olhando para suas mãos. Ela está nervosa, tanto quanto eu. Meus sonhos realizados são massacrantes no momento. Ter o desejo que sempre quis me destrói. Vejo seus olhos se fecharem por alguns segundos e ela continua.

— Alguns dias depois, houve o assalto.

— Assalto? – A interrompo pela surpresa.

— Robin foi assaltado e no calor do momento, ele reagiu, ele levou um tiro. - Meu mundo escureceu. Eu não imaginava, eu não esperava. Eu esperava dúvidas, dez anos, escolhas, casamentos. Eu não esperava assaltos ou tiros. Arregalo os olhos e minha respiração se descontrola. Sinto vontade de gritar, de chorar. Quero acordar das palavras de um pesadelo. – Foram dias difíceis, ele perdeu os movimentos das pernas. Zelena insistia para eu te procurar e contar, eu queria te contar, mas não consegui. Eu não consegui olhar para você e dizer que ele precisava de mim.

Uma lágrima rolou por seu rosto. Ela estava se esforçando tanto para não desmoronar. E olhando minha ruína, só sinto vontade de abraçá-la.

— No dia em que você foi ao meu escritório. Eu me senti em um sonho branco, enevoado. Eu precisava te contar, mas eu não sabia como. Eu escolhi as palavras erradas, Emma, mas foram eficientes. Eficientes até demais. – Ela sorri das próprias palavras, das próprias atitudes. – O copo..

“O copo”

— Aquele copo estava no meu escritório desde o primeiro dia, desde a primeira vez que entrei no George’s. Desde o primeiro macchiato, desde o primeiro sorriso, desde a primeira vez que vi o encanto nos seus olhos. Aquele copo estava lá desde a primeira vez que eu te vi. Aquele copo era você.

Eu não consigo falar. Eu tento inspirar, mas só sinto uma fumaça densa em meu peito e como dói. Respiro rápido com breves soluços. Sinto que minha pele se rasgará e que meu corpo se abrirá por feridas já cicatrizadas. Eu não consigo falar, estou entalada pelas dúvidas esclarecidas.

— Eu vim aqui, eu te procurei para te explicar. Eu preciso que você saiba de tudo. Eu te magoei, eu sei disso. Eu... – Ela para novamente e respira três vezes. – Eu só quero que você saiba o motivo, mesmo sendo imperdoável tudo que eu fiz você sentir.

Eu perdi o controle do meu corpo, meu estarrecimento me impede de ações necessárias. Eu não sei o que dizer. Não consigo entender a veracidade das atitudes, eu não sei se meu fugir foi justo, se seu esconder foi correto. As questões bagunçam meu raciocínio, não consigo escolher uma para me perguntar e me esclarecer. Estou mergulhada em um líquido denso demais para me mover. Estou cega pelo brilho do esclarecimento. Estou absorta por vozes dizendo o que não imaginei.

Eu não me lembro de como se respira. Olho para minhas mãos trêmulas e uma lágrima molha minha palma. Me sinto em um sonho com suas tintas borradas, não consigo distinguir as formas ou imagens a minha frente. Os verdes e castanhos estão desfocados e minha realidade se foi. Passei muito tempo tentando me encontrar no meio daquela conversa. Eu escuto uma voz ao longe.

— Eu vou embora, como eu prometi.

Regina levanta e se afasta devagar. Eu ainda estou sentada absorvendo tudo que ouvi. Toda raiva que eu senti se transforma.

— Por que agora, Regina?

— Porque eu não aprendi a viver sem você.

— Nós não tivemos nada.

— É engraçado não conseguir viver sem algo que nunca tive. Demorei muito tempo para perceber isso.

Ela sempre conseguiu arrancar minha capacidade de falar ou responder. A vejo me deixar. A vejo se afastar e a impressão que eu tenho, é que minha felicidade não conquistada, está se esvaindo a cada passo dela. Está evaporando a cada metro aumentado. Estou imóvel por uma atitude que não consigo ter, tenho medo de ter.

“Eu estou sonhando”

Começo a pensar nos delírios que sempre tive, nos sonhos, nas fantasias, com tudo que deixei de lado por um ano. Não deixei de lado, eu os escondi para fingir uma vida que não tive. Fingindo uma superação falsa. Tentei dar passos por um caminho de mentiras descabidas. Eu tentei negar tudo que ainda sinto, ela veio aqui para me mostrar toda minha impotência em esquecê-la. Ela veio me lembrar sua existência em mim.

“Assalto”

Essa palavra martela minha consciência.

“Copo”

Aquele copo era tudo. Eu me culpo, eu a culpo e a confusão está instalada. Grito na noite estrelada. Choro para o mar consolador.

“Não sei o que fazer”

Bagunço meu cabelos tentando organizar as informações, tentando me organizar. Abraço os joelhos, os pressionando contra meu peito que bate forte. Tento respirar devagar, tento acalmar meus sentidos.

“Ela vai embora”

Eu quero que ela vá embora?

Eu quero que ela volte?

Não consigo me responder. Hoje, nada me responde.

A madrugada chega e as horas, como em Boston, não são percebidas. Ando com o peso da derrota. Não sei para quem eu perdi, acho que para mim. Minhas botas se arrastam pelas ruas pacatas. Como eu amo as noites em Camden, com seu silêncio e sua solidão. Avisto meu prédio e suspiro calma. Meu abrigo me espera, minha segurança. Subo as escadas e dessa vez Regina não me espera, os sentimentos de decepção e alívio se misturam. Não posso negar meus desejos em vê-la atravessando uma avenida movimentada ou se sentando em um banco de parque.

As chaves no bolso direito saem tremendo. Minha dificuldade quase bêbada de abrir minha porta me irrita. Quando a abro, folhas estão jogadas pelo chão. Eu estreito os olhos e as reconheço.

Minhas folhas.

Momentos de uma paixão platônica. Delírios de uma mente carente. Folhas cheias de Regina. As folhas estão aqui, ela esteve aqui. Inspiro forte em um ato involuntário tentando absorver seu perfume antigo.

Ela sabe de tudo. Ela sabe tudo que escondi em mim. Tudo que guardei a cada pedido.

Deixo minhas folhas cobertas de batons vermelhos e casacos coloridos. Eu preciso de uma banho. Preciso me lavar de tudo que recebi hoje. Apoio as mãos em azulejos brancos, deixo a água deslizar pelo meu corpo e penso em toda a confusão que ela me traz.

Saio do banho que não me trouxe nenhuma solução. Abro a geladeira com metade de uma pizza de dois dias – vai servir – me sento no sofá com uma taça de vinho que comprei no mercado. As folhas ainda estão jogadas, começo a ler as linhas de uma Emma distante. Me sinto tão diferente da época em que a Mulher de Casaco era um ser quase divino e completamente inalcançável. Meus parágrafos cobertos de insegurança, hoje são lembranças realizadas. Eu sonhei cada letra e toquei cada vontade.

Aproximo minhas folhas e sinto seu cheiro. Ela as leu incansavelmente. Seus dedos quase marcam as folhas amareladas. 

Será uma noite longa. Será uma noite de Boston.

*******************************************************

Nesse ano, a frequência dos meus pensamentos encasacados diminuíram. Eu media minha superação pela quantidade de Reginas pensadas. Quanto menos eu pensava, mais eu vencia. Hoje eu estou perdendo feio. Volta a minha mania de olhar para as esquinas a espera de encontrá-la. Entro na lanchonete observando cada par de olhos a procura dos castanhos brilhantes.

O barulho dos sinos chamam minha atenção com a esperança que havia perdido a tempos. A decepção do Não volta. A tristeza dela não entrar. Toda a aquela maldita expectativa volta.  O sino toca e todos entram, menos ela. Começo a sentir uma irritação que não deveria ter.

Irritante!

O sino toque e Lily entra, igual a todas as manhãs.

Lily! Droga!

Eu deveria a esquecer com tanta facilidade?

Ela toca meus lábios e me chama de amor. Tudo mudou, eu não queria que mudasse. Minha vida estava sendo suficiente. Lily fazia parte de uma fase que busquei, de uma superação que acreditei ter encontrado. Olho no fundo dos olhos da minha namorada e não me encontro lá. Não vejo meu lugar.

Saio dos olhos de Lily e entro nos de Regina. Ela está parada do lado de fora, decidindo entrar ou não. Nosso olhar se encontrou por vidro limpo. Vejo o carro que já passeie parado na porta do Granny’s, à sua espera. Ela me vê e anda para partida.

Ela vai embora. Ela prometeu.

Contorno o balcão como um obstáculo, me esqueço dos corpos que me olham, me esqueço da mulher que estava me encarando segundos atrás, da mulher que eu chamo de "Minha Namorada". Me esqueço dos motivos de estar em Camden. As pessoas me impedem de passar, minha gentiliza se vai pela pressa. Abro a porta com violência, posso ouvir sua maçaneta bater na parede protestando a indelicadeza.

— Regina! – Não sei o tamanho de sua dor, mas sei o tamanho do meu ódio. Me lembro da pergunta dela. Agora eu sei.

Ela me olha e vê. Ela vê toda a confusão, ela vê o motivo da minha pressa, ela vê meu medo. Ela vê o pavor de uma recordação. Eu não digo mais nada, e mesmo assim ela ouve. Seus olhos me percorrem procurando a certeza. A certeza de uma fagulha a faz sorrir. O sorriso que várias vezes desejei ser meu, hoje ele é.  No meios das chances que ela viu, mas que eu não sei existir, diz a frase de uma primeira vez.

— Até a próxima, Swan.

Ela vai com meu desejo do retorno. Penso nas atitudes que preciso tomar.

“Eu preciso tomar alguma atitude?”

Eu tenho a tranquilidade e a calmaria de dias beges.

“Eu quero a tranquilidade? Eu quero a calmaria?”

E se eu ainda quiser os olhares reveladores?

Os pedidos diários com desejos escondidos?

Os domingos acompanhados?

Os vinhos adocicados?

O mar esverdeado?

Os beijos aguardados?

E se eu ainda quiser os saltos barulhentos?

As avenidas movimentadas?

As manias ensaiadas?

As surpresas forjadas?

A saudade decorada?

E se eu ainda quiser Regina Mills?


Notas Finais


É isso aí.
Espero que tenham gostado.
Até o próximo.
Bjos


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