Mais uma vez a chuva tamborilava por todos os lugares. Gotas cristalinas contra o vidro da janela deixavam rastros como lagrimas em um rosto entristecido. Mesmo com janelas e portas fechadas, o cheiro de terra molhada e umidade ainda estavam no ar, bastava respirar fundo que o odor enchesse meus pulmões com um pouco de calmaria.
Bati o cigarro no cinzeiro posto no braço da poltrona, a fumaça em minha boca saiu em rodopios pela sala, infestando o ar com o cheiro de canela-adocicado. Continuei nisso, tragando e ouvindo a chuva cair, mudando sua intensidade ora ou outra.
Quando o cigarro terminou, me levantei e parei em frente ao piano em um dos cantos da sala. Sentei-me no pequeno banco estofado, em frente as teclas pretas e amareladas pelo uso; meus dedos tão hábeis e calejados resvalaram nas primeiras teclas, enchendo o lugar com sons duros.
Forcei-me lembrar de todas as notas da música que costumávamos tocar juntos em dias chuvosos. Havia sempre uma harmonia entre os pingos e gotejo com a do dedilhar das teclas.
Talvez fosse algo místico às diversas sensações que eu estava sentindo durante todo o dia ou, talvez, fosse apenas a consequência de uma noite chuvosa: saudade.
Quando me dei conta, já estava tocando a parte final da melodia. E eu sentia como se fosse o meu próprio fim.
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