História Save ME - Época de Teste

Jimin entrou na tenda passando por mim, um cameraman entrou logo atrás dele e ficou filmando Kim Hye maquiando ele a todo momento, rapidamente eu coloquei o leque na direção do meu rosto. Sentia que não ia me acostumar com aquilo. Vários pensamentos “anti-kpop” surgiram no meu cérebro, e perguntas como “O que eu estou fazendo aqui?”, também vieram, mas logo pensamentos como “Preciso do dinheiro” e “É só por um curto período de tempo” tomaram conta. Apenas deixei-os pairar nos neurônios e me foquei em Kim Hye e suas mãos ágeis. Sim, ela era praticamente uma máquina de maquiar, se isso existir realmente. Ela tinha pincéis nas mãos, quase um em cada dedo, ela revezava entre um em outro de acordo com que passava nele. Jimin, por outro lado, estava agitado, ele falava para a câmera e depois ficava quieto, e o cameraman filmando tudo.

Rapidamente Kim Hye terminou com ele, Jimin passou por mim, mas agora não como antes, ele me encarou até sumir saindo da tenda. Ele tinha uma expressão esquisita sempre que me olhava, algo como medo. Talvez ele tivesse medo que eu contasse para alguém sobre ele e sua tentativa de suicídio. Logo todos os membros foram sendo maquiados um a um. Um dos membros com nome de Kim Namjoon se apresentou para mim, ele era o único dos sete que não havia me conhecido. Ele fez reverência e me parecia muito simpático, sempre com um sorriso no rosto, o que fazia seus olhos sumirem e as covinhas nas suas bochechas se acentuarem.

Como comandado por Kim Hye eu fiquei apenas com a parte do leque, e sim, estava um calor do deserto do Saara, JiWoo até me emprestou os óculos escuros dela. Eu me sentia estranha usando àquilo. Entretanto, foi necessário por que meus olhos já estavam começando a arder. Durante as fotos, os garotos faziam poses atrás de poses sem parar. Jimin parecia uma pessoa feliz, tinha um sorriso no rosto e uma áurea tranquila, nem parecia aquele menino vestido de preto com lágrimas nos olhos perdido na vida. Encarei ele o suficiente para saber que ele não era aquilo que passava ser. Por outro lado, os outros membros faziam poses e pareciam confiantes, mas Jimin chegou a pausar o photoshoot diversas vezes para correr para uma tenda onde ficava seus pertences. As pessoas estranharam e pela quinta vez já estavam começando a se estressar, reclamaram com ele e depois disso ele não parou mais.

Depois de horas tirando fotos, todos se arrumaram e fomos embora. Já devia ser 4 PM quando isso aconteceu. Entramos nas vans e logo estavam na sede da BigHit. JiWoo disse que tinha mais algumas coisas a se fazer e eu caminhei sozinha até a estação. Tinha os fones no ouvido e o pensamento longe, paguei a passagem, entrei no metrô e em um piscar de olhos estava em casa, não necessariamente em casa, mas sim no meu dormitório. Logo quando cheguei tomei um banho daqueles que remove parte da alma e deitei na cama tombando em um sono profundo.

Naquela noite eu sonhei, o que novamente não chegou a ser um sonho, mas sim um pesadelo. No sonho/pesadelo eu era como uma idol, parecia que estava em uma premiação porque havia fotógrafos por toda parte. Eu era o centro das atenções, flashes acompanhavam todos os meus movimentos, eu estava brilhando, tudo parecia perfeito até... Atrás dos fotógrafos um homem surgiu, ele estava vestido de preto e tinha o capuz do casaco cobrindo sua cabeça, ele estava longe, mas ainda podia ver seu rosto através da escuridão do casaco e o contraste dos flashes. Ele era Park Jimin. Ele tinha o rosto tão magro que havia formado funduras na região das bochechas, e tinha olheiras roxas profundas abaixo dos olhos, ele parecia quase uma caveira. Aquilo me deu uma espécie de medo; repulsa; desespero; e nervosismo inigualável. Na posição eu não sabia o que fazer, foi quando nossos olhos se encontraram e ele disse na minha mente com uma voz afiada como faca:

- Me salve. Por favor, me salve. Se você não me salvar eu não irei aguentar. Por favor. Me salve pela última vez...

Sua voz se foi me fazendo acordar no desespero, eu tinha a respiração pesada e o reflexo das árvores no teto me fizeram tomar outro susto. Eu dei um pulo olímpico e fiquei sentada na cama com o coração acelerado e com falta de ar. Estava claro, olhei o relógio era 8 AM, fiquei encarando o relógio até ouvir meu celular tocar. O peguei em cima da escrivaninha e olhei para ele encarando a chamada de JiWoo, sai do transe e atendi:

- Holaaaaa!!! - disse ela com uma voz animada em espanhol.

- Oi. - disse, ainda tinha a voz de Jimin na minha cabeça, ecoava como filme de terror.

- Tae? Você está bem? - sua voz ficou séria e me fez voltar.

- Sim, sim. Só tive um pesadelo e fiquei meio desnorteada, mas nada que você precise se preocupar.

- Hmm... Okay então... - ela tinha uma voz de “você está estranha”, mas não me incomodei - Já saiu de casa?

- Não, na verdade acabei de acordar. - disse forçando não parecer com voz de sono.

- Ah okay. Enfim... Preparada para o trabalho hoje?

- Hmm... talvez. - disse receosa.

- Já falei com Kim Hye e nossa noona querida já disse que você está dentro. - avisou ela voltando com a animação - Agora você tem a carteira assinada Tae. Grite, beba Soju, pode comemorar!

- Eu não irei beber Soju por um bom tempo a partir de agora, ainda mais que foi por causa dele que eu entrei nesse emprego. - disse andando pelo quarto e indo até minha arara de roupas e pegando uma calça jeans escura e uma blusa amarela de manga comprida.

- Ah Tae não seja ingrata, você está nesse emprego para pagar sua mensalidade e ele não é tão ruim assim. - defendeu JiWoo.

- Okay, não vou ser hipócrita. - sai do meu quarto e fui até o banheiro, entrando nele e trancando a porta - Ele está me saindo bem, mas eu só fui um dia, não sei se tenho certeza que irei continuar nele pelo resto das férias, se eles pagarem bem eu-

- Park Taeyeon! - chamou JiWoo do outro lado da linha com uma voz séria. Arregalei os olhos surpresa - Para de palhaçada! Você vai continuar no emprego sim, você tem ideia de hoje em dia quantas pessoas querem o seu posto naquele lugar? Eu não falo pela Coréia não, eu falo pelo MUNDO. Quantas pessoas no MUNDO querem o teu emprego, você tem noção?

- JiWoo, eu não faço questão quanto a isso, estou apenas em um emprego, não sou fã do Kpop e nem faço questão de ser. - disse colocando minhas roupas pregadas em um gancho na parede.

- Sim, sim, eu sei disso. Mas vamos ver pelo lado de que-

- Okay JiWoo, você pode tentar tudo para me convencer a ficar lá, mas EU que tenho que ver isso okay. Estou apenas na época de “teste”. Obrigado pela ajuda, mas agora eu vou me arrumar para outro dia de “emprego”, até logo.

- Okay... - sua voz diminuiu e ela desligou.

Retirei minha roupa e entrei no chuveiro, quando a água quente tocou meu corpo rapidamente eu tinha uma sensação de ter feito algo errado. “Será que fui muito grossa com JiWoo? Será que ela ficou triste?”, pensamentos como estes tomaram meu cérebro. Eu sempre fui uma pessoa de impulso, eu fazia as coisas e depois, às vezes, BEM depois, eu ia ver que eu havia feito errado. Nunca fui sortuda quanto a isso e grande parte das vezes não dava nada certo depois. Se eu me arrependia? Sim, todas as vezes. Mas tentava me controlar ao máximo e por muitas vezes eu não tinha isso. Depois que sai do banho, eu prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e vesti a roupa, voltei ao meu quarto e peguei meu velho tênis All Star preto acinzentado, peguei minha mochila e calcei o tênis saindo do meu apartamento e trancando a porta bem trancada.

Quando entrei no elevador eu peguei meu celular e coloquei os fones colocando em um álbum de músicas antigas tradicionais coreanas. Eu amava aquele álbum e ouvia ele quase todo dia, sempre que tinha a oportunidade. Quando chegou no térreo, sai do elevador e cumprimentei o porteiro, ele fez reverência, mas ainda tinha aquele clima tenso no ar, isso tudo depois daquela cena lamentável de eu e o garoto de cabelo preto saindo correndo do prédio. Ele agora era desconfiado de tudo, principalmente de mim. Sai do prédio e olhei o tempo, era um sol claro e o dia ia ser quente, olhei para minha blusa e pensei se ela era quente demais já que era de manga comprida. Pensei em voltar, mas uma preguiça súbita me envolveu e decidi não fazer isso.

Enquanto andava pelo campus rumo à saída eu passei pelo dormitório da JiWoo, porque ele era caminho para a portaria principal, aquele prédio alegre me trazia lembranças esquisitas, primeiramente sobre a fotografia de JiWoo e o garoto de cabelo preto. Na época eu não entendia nada, mas hoje em dia, ela deve ser sido tirada porque JiWoo é staff e ele o “chefe”. Era quase que certo que companheiros de trabalho tirassem fotos juntos, até aí não havia problema, o único problema era a expressão de JiWoo naquele dia fatídico, ela tinha ficado séria realmente pela primeira vez e parecia meio preocupada. “Será que eu havia, de novo, feito algo errado? Será que ela gostava dele?”, esse último pensamento eu descartei totalmente. Ainda tinha os pensamentos voando quando vi JiWoo ao longe parada na frente de uma grande van preta, ela tinha o celular nas mãos e em seguida o levou a orelha, um segundo depois meu celular vibrou no bolso da calça. Peguei-o e atendi a ligação dela:

- Tae? - Você está bem? - perguntou ela em tom de receio - Você já saiu da faculdade?

- Não. - respondi - Na verdade estou aqui. - JiWoo olhou para cima e me viu, retirando o celular da orelha, eu fiz o mesmo - O que você está fazendo aqui?

- Bom dia para você também, Park Taeyeon. - disse ela batendo de leve no vidro da porta da van, ela automaticamente abriu-se um segundo depois - Antes que eu pudesse falar você havia desligado. Eu havia ligado para avisar que a partir de agora você não precisa pegar ônibus e metrô para ir ao trabalho. Você participa da Equipe BigHit agora, e todos da equipe ou tem veículos próprios ou a própria empresa disponibiliza vans para o transporte. Como não temos veículos próprios temos essa van aqui toda para nós.

- Ahhhmmm... Não sabia disso não. - entrei na van seguida de JiWoo.

- Preparada para outro “terrível” dia de trabalho? - perguntou ela levantando uma sobrancelha com um sorriso sarcástico entre os lábios.

- Yeah. - afirmei olhando para através da janela o campus da faculdade.

Não só o dia como o resto da semana foi uma agitação total. Eu não sabia muito o que fazer na maioria das vezes, mas em duas semanas errando, finalmente aprendi algo. Tudo graças à Kim Taehyung, que sempre simpático, me ofereceu seu rosto por muitas vezes como tela para a obra de arte que era uma maquiagem minha. E em vez de ficar furioso com meus erros, ele apenas tirava uma foto (ou selca como eles dizem) de si mesmo para mostrar minha “evolução”. E ele fazia questão de postar isso na sua conta no Fancafe (outra coisa que eu não entendia muito bem), ele dizia que era divertido e suas fãs interagiam muito com ele comentando, criticando e também elogiando meu progresso. Eu ficava feliz com essa interação e as coisas iam cada vez melhores. Cerca de duas semanas e meia eu já sabia de coisas que pensei que não ia conseguir aprender em anos.

Estava me sentindo por vencida em mais uma meta cumprida e Taehyung feliz pela minha felicidade e também pela interação com as fãs preciosas dele, como ele fazia questão de dizer diversas vezes, fazendo eu revirar meus olhos. Todos os meninos do BTS eram pessoas simpáticas, eu não tinha certeza que quando eu saísse dali eu iria sentir a verdadeira “saudade” deles, mas um sentimento bom eu ia carregar comigo. O meu único objetivo era conseguir o dinheiro da mensalidade, havia virado meta para zerar a vida e eu não queria perder o período, questão que ia me atrasar toda na universidade se isso acontecesse. Eu ficava triste só de pensar. Eu definitivamente não queria isso.